Nietzsche e o eterno retorno da “branquidade” na política, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Friedrich Wilhelm Nietzsche não é meu filósofo preferido. Mas há algo de autoria dele que realmente faz tremer qualquer brasileiro que vê e reflete sobre estas duas fotos justapostas:

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Refiro-me ao mito do eterno retorno.

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: “Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”

A negra vestida de branco é um detalhe importante na foto. Evoca a poesia de Cruz e Souza, ele mesmo um negro hostilizado em razão de ser livre, poeta e abolicionista:

SONHO BRANCO 

De linho e rosas brancas vais vestido, 
Sonho virgem que cantas no meu peito!… 
És do Luar o claro deus eleito, 
Das estrelas puríssimas nascido. 

Por caminho aromal, enflorescido, 
Alvo, sereno, límpido, direito, 
Segues radiante, no esplendor perfeito, 
No perfeito esplendor indefinido… 

As aves sonorizam-te o caminho… 
E as vestes frescas, do mais puro linho 
E as rosas brancas dão-te um ar nevado… 

No entanto, Ó Sonho branco de quermesse! 
Nessa alegria em que tu vais, parece 
Que vais infantilmente amortalhado! !

A mortalha referida por Cruz e Souza no contexto atual pode ser o uniforme da babá negra que segue os passos dos ancestrais dela ao seguir os passos dos ancestrais dos donos dos ancestrais dela. Mas também pode ser a mortalha de um país cuja elite branca que se recusa a aceitar o resultado das eleições que atribuíram o poder a um partido de mestiços pobres. No perfeito esplendor indefinido…  do Brasil aqueles que acreditam simbolizar e ser  “…as rosas brancas…” que darão ao país “…um ar nevado…”  querem exercer um poder político que não tenha fundamento na “soberania popular”.

O branco da mortalha poética, da babá e da República é aquele que veste os médicos que rejeitam o governo porque não conseguiram derrotar o Mais Médicos. É também a indumentária de gala dos soldados das PMs que matam pobres pardos e negros nas periferias das capitais de vários Estados brasileiros:

As manifestações de domingo, em que predominaram brancos vestidos de verde amarelo, não olham para o presente ou para o futuro do Brasil. Elas invocam no presente o passado do país para construir um futuro em que somente o passado terá lugar.

O sonho do “branqueamento da população” mediante a importação de matrizes camponesas européias (política de Estado na virada do século XIX para o século XX) se torna assim o pesadelo do “branqueamento da política” mediante a destruição das urnas no princípio do século XXI. Não é a toa que os manifestantes exigiram o retorno dos militares e rejeitaram as eleições. A maioria da população não é branca, nem vota necessariamente nos brancos que possuem “branquidade” (a quintaessência fundamental ao novo país que os inimigos do PT querem construir).

A um observador estrangeiro deve causar estranhamento o fato de a elite branca brasileira rejeitar Dilma Rousseff de forma tão virulenta. A presidenta eleita pelos brasileiros é branca de origem européia. O problema de Dilma Rousseff deve ser, portanto, outro. Suponho que, por apoiar e expandir políticas públicas que incluíram a população mestiça (Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteiras, etc…), ela seja odiada porque não tem “branquiadade”. Ela traiu sua cor e, portanto, é pior do que os mestiços que representa.

Geraldo Alckmin e Nero Richa, por outro lado, são indubitavelmente homens brancos com elevado teor de “branquidade”. A PM de um mata negros e pardos na periferia de São Paulo com uma regularidade industrial. A PM do outro espancou ferozmente estudantes e professores que ousaram acreditaram ser possível construir um país em que os governantes de raça pura atendem as demandas sociais dos mestiços.   

A questão nietzschiana que se coloca diante de nós neste momento é singela: 

É possível um futuro sem o eterno retorno ao passado colonial?  

Somente a maioria da população brasileira pode responder esta pergunta. Se ela se encolher diante das manifestações de domingo veremos o retorno dos palanquins odiosos, dos chicotes dolorosos, das senzalas nauseabundas e dos aldeamentos indígenas mistos desprovidos de soberania. Se a onda vermelha varrer o país no dia 18 de março o futuro poderá ser diferente do passado. 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

19 Comentários

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  1. A força da mobilização

    Sim, a saída é a mobilização e organização popular. Nada podemos esperar dessa “justiça”, de nossa polícia “federal” ou de nossa carcomídia (globo e seus penduricalhos).

  2. O mais hilário foi a defesa do cara, no facebook

    Porque ele trabalha no Flamengo e pode pagar quatro funcionários.

    Nem parece que a cartolagem não tem corrupção. Clubes vendem jogadores por milhões e estão sempre quebrados, com dividas trabalhistas e pedindo perdões ao governo federal. Cade a investigação da FIFA atingindo a CBF, sendo que os dirigentes estão até evitando sair do Brasil para não serem pegos pela Interpol/FBI?

    É hipocrisia demais meu Deos!!!

    1. Mais do que isso, Bruno. Ele

      Mais do que isso, Bruno. Ele é ou foi da diretoria da Brasif, que dispensa apresentações, né?

      PS: Sou flamenguista e digo que esse cara não me representa. Mas também tem o fato de que torcer para qualquer time pressupõe tampar o nariz para seus cartolas

      1. Pois é, alguem tinha que

        Pois é, alguem tinha que perguntar para ele como é que se faz para ser contratado como pesquisador de preços na BRASIF, a função paga um dinheirão e ainda te põe para morar na Espanha, deve ser um dos melhores empregos do mundo.

  3. Boa sacada

    Boa sacada, Fábio.

    Ademais, eu acho incrível que a situação não contraponha um dado também singelo a respeito dessas manifestações: o Brasil tem em torno de 200 milhões de habitantes; em torno de 150 milhões de eleitores…

    O que significa colocar “nas ruas” 500 mil, 1 milhão, dois, dez, vinte, 50?!

    Ora, significa que quem perdeu a eleição continua sem aceitar; e que paralisar tudo por capricho é coisa de criança mimada.

    Ou melhor: de “coxinha mimado”!

    1. Zygmunt Bauman

      Isso mesmo, o tamanho dessas manifestações não é parâmetro para se medir a aceitação popular de um impeachment, assim como as pesquisas. Abaixo, uma interessante análise da crise atual, que se encaixa perfeitamente no atual quadro brasileiro, apesar de direcionada para a situação global, reproduzida no site outraspalavras:

      Bauman examina crise da internet e da política

       

      Zygmunt Bauman, citando Gramsci: “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”

      Redes sociais criaram redomas de pensamento único. Democracia é devastada por poderes globais. Há saídas, mas vivemos a “hora mórbida”

      Zigmunt Bauman, entrevistado por Alessandro Gilioli, no L’espresso | Tradução: Antonio Martins

      Zygmunt Bauman, o grande sociólogo teórico da “sociedade líquida” tem dedicado parte de suas reflexões recentes à internet – em particular, às redes sociais, acusadas de criar redes afetivas na verdade inexistentes. Nesta entrevista, feita durante o Fórum do Futuro, organizado pela Câmera de Comércio da cidade de Udine, na Itália, ele parte deste tema – porém, estende-se para a atualidade política, os chamados “partidos anti-sistema” (de esquerda e de direita) e as eleições primárias norte-americanas.

      Professor Bauman, a sua crítica à internet é existencialista?

      A internet torna possíveis coisas que antes eram impossíveis. Potencialmente, dá a todos acesso cômodo a uma quantidade indeterminada de informações: hoje, temos o mundo na ponta de um dedo. Além disso, a rede permite a qualquer um publicar seu pensamento sem pedir permissão a ninguém: cada um é editor de si mesmo, algo impensável há poucos anos.

      Mas tudo isso – facilidade, rapidez, desintermedição – traz também problemas consigo. Por exemplo, quando você sai de casa e se encontra na rua, num bar ou num ônibus, interage – queira ou não – com as pessoas mais diversas, as que lhe agradam e as que lhe desagradam, as que pensam como você e as que pensam de modo distinto. Não pode evitar o contato e a contaminação, está exposto à necessidade de confrontar a complexidade do mundo. Esta própria complexidade não é uma experiência prazerosa e obriga a um esforço.

      A internet é o contrário: permite não ver e não encontrar todos os que são diversos de você. Eis porque a rede é, ao mesmo tempo, um remédio contra a solidão – você se sente em contato com o mundo – e um lugar de “confortável solidão”, onde cada um está fechado na sua network, da qual pode excluir quem é diverso e eliminar tudo o que seja menos prazeroso.

      Há, contudo, movimentos políticos que nasceram na rede e se difundiram graças a ela. As primaveras árabes, por exemplo, mas também o Podemos, na Espanha e o Movimento 5 Estrelas na Itália…

      É uma questão rica de ambivalências. Em geral, porém, as pesquisas sociais mostram que a maior parte das pessoas usa a internet não para abrir a própria visão mas para fechar-se dentro de cercados, para construir “zonas de conforto”. Um pouco como condomínios distantes do centro das cidades, circundados por muros, guardas armados e câmeras em circuito fechado, onde as pessoas vivem num tipo de mundo imaginário, sem controvérsias, sem conflitos, sem se expor às diferenças.

      É claro que, graças à rede, pode-se hoje convencer as pessoas a ir às ruas manifestar-se contra qualquer coisa ou qualquer um, mas a incidência sobre o real destas mobilizações nascidas nas “zonas de conforto” é outro assunto. Você acaba de citar as primaveras árabes. Não me parece que tenham conduzido a um verão.

      Portanto, segundo o senhor, não há uma relação entre a difusão da internet e os protestos anti-sistema?

      Sim, há, mas a internet não é a causa, é só um veículo. As causas dos partidos anti-sistema relacionam-se, na verdade, com a crise de confiança na democracia. E esta crise, por sua vez, deriva do fato de uma contradição. Vivermos num planeta globalizado e com enorme interdependência – mas os instrumentos de que dispomos para gerir esta nova condição são os mesmos que herdamos de nossos avós e do Estado nacional. Naquele tempo, uma decisão tomada numa capital realizava-se no território daquele país e não valia cinco centímetros adiante.

      Agora, ao contrário, a interdependência é mundial e os Estados nacionais são incapazes de geri-la. Por isso, hoje os governos estão sob dupla pressão. De um lado, devem responder aos eleitores, que reivindicam dos políticos realizar o que prometeram; de outro, a realidade global interdependentes – os mercados as bolsas, a finança e outros poderes jamais eleitos por ninguém – impedem que estas promessas sejam mantidas. A crise de confiança nasce desta dupla pressão. Sentimos todos que agora as democracias não mais funcionam, mas não sabemos como ajustá-las ou com o quê substituí-las.

      É disso que nascem os movimentos anti-sistema?

      Diria, melhor, que é disso que nascem os sentimentos anti-sistema. Cuidado ao falar de movimentos. São um conceito sociológico, enquanto o sentimento é um conceito psicológico.

      E estes sentimentos não se traduzem em movimentos?

      As pessoas compartilham reações emotivas nas redes sociais e às vezes organizam-se, a partir dali, para ir às ruas e protestar. Gritam todas os mesmos slogans, mas na verdade têm interesses diversos e expectativas difusas. Depois, voltam para casa contentes pela fraternidade com os demais que se criou, mas é uma solidariedade falsa. Chamo-a de “solidariedade carnaval”, porque me lembra aqueles eventos nos quais, por quatro ou cinco dias, coloca-se a máscara, canta-se e dança-se junto, fugindo por um tempo limitado da ordem das coisas. Estes protestos permitem a explosão coletiva de problemas diversos, e de demandas individuais, por um lapso breve de tempo, como no carnaval – mas a raiva não se transforma em mudança compartilhada.

      Alguns partidos, que ao menos canalizam estes sentimentos, são muito distintos entre si. Que pensa a respeito?

      Também estes partidos encontram-se diante da crise da democracia da qual falávamos. E a esta crise respondem tanto os que buscam reforçar a democracia quanto os que propõem, em vez disso, um “homem forte”, ou qualquer forma de fundamentalismo político-religioso. De resto, se as democracias não são capazes de realizar as expectativas, não surpreende que se busque alguém a quem atribuir uma função salvadora, o homem “de pulso” que parece capaz de realizar o que as democracias não sabem cumprir.

      Um exemplo recente é Donald Trump: hoje, muitos eleitores norte-americanos seduzem-se por quem ataca as instituições democráticas e zomba de sua representação. Além disso, o bilionário Trump representa uma transferência de consensos, da liderança à gerência. A liderança é a capacidade de fazer as coisas certas, “to do right things”, enquanto a gerência é simplesmente a capacidade de fazer as coisas bem, “to do things right”. É uma grande diferença.

      Esta ruptura de confiança na democracia explica também a característica “populista” que tem sido atribuída aos movimentos anti-sistema? O senhor está de acordo com esta definição?

      “Populistas”, na política, são sempre os outros, os adversários. Na verdade, qualquer bom partido deveria ser “populista” – ou seja, escutar o que pensam e o que pedem as pessoas comuns, os cidadãos. No entanto, no debate político a palavra é usada em sentido pejorativo. Não me preocupa a suposta ameaça do “populismo”, mas a possível resposta autoritária à crise da democracia.

      Mas por que em alguns países, como na França, o protesto anti-sistema derivou à direita e em outros, como a Espanha, à esquerda?

      Porque estamos num interregno, para citar Gramsci. Ele dizia que “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”. Hoje, os velhos instrumentos não funcionam mais; mas os novos ainda não existem. Direita e esquerda eram conceitos plenos de significado há poucas décadas, mas são muito menos na complexidade policêntrica do presente.

      Em que consiste esta complexidade policêntrica?

      Depois da queda do Muro de Berlim, alguns pensadores levantaram a hipótese do fim da História, do fim dos conflitos políticos, no interior de um sistema liberal-capitalista pacífico e definitivo. Erraram. O planeta é muito mais dividido e conflituoso que antes, cheio de choques locais mais difíceis de compreender, se comparados com os que ocorriam entre os dois blocos. Pense no que ocorre na Ásia Central, onde árabes muçulmanos matam outros árabes muçulmanos. Este policentrismo complexo está também na polícia, onde entrelaçam-se instâncias desconectadas entre si e difíceis de classificar com “de direita” ou “de esquerda”. Antes, o confronto era entre conservadores e progressistas, entre quem queria uma sociedade baseada no lucro e quem a queria assentada na cooperação. Hoje, os conflitos são até maiores, mas menos simples e menos puros.

      E os sinais aparentes de “volta da esquerda”, como Jermy Corbyn, na Inglaterra, e Bernie Sanders, nos Estados Unidos. São apenas miragens?

      Sanders representa um fenômeno novo e interessante, mas há países em que a esquerda não existe mais, como no leste europeu. Em geral, o problema contemporâneo da esquerda é sua constituição, seu bloco eleitoral. Em certa época, foi a classe dos trabalhadores, que a esquerda defendia. Mas hoje, quando as capitais movem-se velozmente de um país a outro, também os instrumentos com os quais se protegiam os interesses das classes populares estão entre o que não funciona mais – a começar das greves. Se os trabalhadores cruzam os braços, um segundo depois o capitalista transfere a produção para um país onde encontra pessoas contentes por ganharem um par de dólares por dia.

      Neste contexto, muitos políticos herdeiros da esquerda apavoram-se com a ideia de irritar as bolsas, os mercados, a finança – em suma, os poderes que podem colocar um país de pernas para o ar em um dia. Por isso, mudam de tema. Por exemplo, autodefinem-se de esquerda os políticos favoráveis ao casamento homossexual. Bonito, justo, de acordo, mas o que tem a ver com o significado de esquerda? O que tem a ver com a justiça social, que era a razão de ser da esquerda.

      Mas, sim, há outros, como Sanders, que querem representar o protesto contra as leis globais dos mercados e candidatam-se para desafiá-las. Tenho muito respeito por eles, mas não gostaria que criassem muitas expectativas sobre o que se pode verdadeiramente fazer com os instrumentos já não funcionais próprios da era do interregno. De outro modo, o risco é desiludir-se rápido, como ocorreu com Tsipras na Grécia.

  4. Clap, clap, clapExcelente.
    Clap, clap, clap

    Excelente.

    Na veia, de forma detalhada.

    E ainda, alguns dizem, a divisão do país foi provocada pelo PT.

    Nunca mais a população deve aderir ao “faz de conta” concebido pela elite para enganar, ludibriar e esconder a verdade.

    Chegou a hora da verdade, sem enganação. E verdades só surgem em conflitos.

    Àqueles que pregam a “pax”, fazem, sem saber, o discurso do mesmismo.

  5. A foto do casal com a babá…

    …uniformizada, e num domingo, teria sido possível num país decente? Canadá, Austrália, EUA, Inglaterra, França…

    Quem já viajou ao exterior teve a chance de observar como, num país com IDH razoável, falta “criadagem abundante a preços acessíveis”.

    O que a classe média brasileira quer: viver como sinhozinhos e sinhazinhas numa sociedade de castas, numa Índia, num Canadá tropical? Ter mordomias anacrônicas, convivendo com um appartheid secular, miséria, violência e insegurança, ou ter bons serviços públicos, segurança, bons empregos para os filhos (os serviços públicos, para ser bons, terão de contratar bastante gente… por concurso)?

    O PT precisa reconquistar a classe média. Não me parece impossível.

    1. Retificando…

      Saiu com um erro de digitação. Corrigindo: “O que a classe média brasileira quer: viver como sinhozinhos e sinhazinhas numa sociedade de castas, numa Índia, OU num Canadá tropical?”

  6. Os senhores precisam entender:

    Vou dizer bem ALTO:A escravidão acabou em 2003; ela durou 502 anos, mas acabou quando elegemos Lula; ela acabou, morreu.

  7. Nietzsche é a pior referencia que se pode ter contra o racismo!

    Nietzsche é um filósofo que serve para tudo e filósofos que servem para tudo não servem para nada. A idéia do eterno retorno é profundamente reacionária, o recado é que não adianta tentar mudar nada que tudo volta a ser como sempre foi. E Nietzsche era um defensor da escravidão como mostrou o belo trabalho de Domenico Lousurdo, “Nietzsche – o Rebelde Aristocrata’. Aliás, rebelde aristocrata foi uma denominação dada por um autor de teatro dinamarques que divulgou a obra de Nietzsche naquele pais. Em uma carta ao referido autor, Nietzsche aceitava de bom grado a classificação.

    1. Você não entendeu a ironia,

      Você não entendeu a ironia, então serei didático. 

      Nietzsche, pelas razões que você mencionou, é o filósofo preferido dos varões que desejam o “branqueamento da política”.

      Cruz e Souza sempre foi odiado pelos brasileiros com elevado teor de “branquidade” por reunir em si todas as qualidades que eles detestam: ele era negro, livre, poeta, altivo e abolicionista.

      Ao dar, no meu texto, uma importância maior a Cruz e Souza (que eu citei e comentei) do que a Nietzsche (que foi citado no início e retomado apenas no final) eu fiz uma sugestão bastante evidente de que o alemão foi usado de maneira irônica e provocativa. 

      Entendeu agora?

      1. Nem eu.

        Realmente a ironia ficou tão refinada, mas tão refinada mesmo, que mentes comuns e simplórias não conseguem entender, talvez tenha que colocar uma nota:

        Isto é uma ironia.

        Está parecendo aquela fraze que os promotores colocaram no texto.

        Só uma coisa, se quisesse fazer uma ironia do tipo deverias procurar nas obras de Nietzsche algo mais compatível com a “refinada ironia” que parece que ninguém enteudeu pelos comentários expostos.

        1. Ha, ha, ha…
          Você dizer que

          Ha, ha, ha…

          Você dizer que é uma ironia refinada citar lado a lado, dando peso maior ao brasileiro, o filósofo alemão Nietzsche e o poeta negro Cruz e Souza é certamente uma ironia maior.

           

           

  8. Nietzsche é completamente inapropriado para qualquer estudo …

    Nietzsche é completamente inapropriado para qualquer estudo HISTÓRICO,

    Caro Fábio, desculpe-me, porém ao meu humilde juízo, o conceito de eterno retorno não foi gerado, e como tal não se aplica, para uma proposta de ciclicidade da história.

    O conceito do mito eterno é uma contraposição de Nietzsche ao niilismo pessimista de Schopenhauer em que a vontade é a mestra de tudo e que a necessidade, a carência em resumo o sofrimento é o destino do Homem.

    É importante destacar que tanto Schopenhauer como Nietzsche eram filósofos essencialmente niilistas, e como tal as suas preocupações com a história e a humanidade eram ultrapassadas pelas preocupações pelo indivíduo.

    Nietzsche despreza a ciência histórica claramente, conforme pode ser visto na II Consideração Extemporâneas – II Da utilidade e desvantagem da história para a vida. Dentro de um conceito niilista que liberta o homem de princípios e critérios absolutos, Nietzsche vê a história como algo que simplesmente enrijece a própria vontade.

    No livro citado, Nietzsche coloca claramente que “…Pensem o exemplo extremo, um homem que não possuísse a força de esquecer, que estivesse condenado a ver por toda parte um vir-a-ser: tal homem não acreditaria mais no seu próprio ser, não acredita mais em si, vê tudo desmanchar-se em pontos móveis e se perde nesse rio do vir-a-ser: finalmente como o bom discípulo de Heráclito, mal ousará levantar o dedo.”

    Daí continua a sua crítica clara a interpretações históricas:

    “Todo agir requer esquecimento: assim como a vida de tudo o que é orgânico requer não somente luz, mas também escuro. Um homem que quisesse sempre sentir apenas historicamente seria semelhante àqueles que se forçasse a abster-se de dormir, ou ao animal que tivesse de sobreviver apenas da ruminação e ruminação sempre repetida.”

    Ele encerra o comentário com a sua conclusão:

    “Portanto: é possível viver quase sem lembrança, e mesmo viver feliz, como mostra o animal: mas é inteiramente impossível, sem esquecimento, simplesmente viver….”

    Nietzsche diferencia o que ele chama a “história como ciência” da “cultura histórica” partindo de um conceito que atualmente encontra-se completamente defasado, exposto indiretamente na mesma obra:

    “Um fenômeno histórico, conhecido pura e completamente e resolvido em um fenômeno de conhecimento, é, para aqueles que o conhece, morto: pois ele conheceu nele a ilusão, a injustiça, a paixão cega, e em geral todo o horizonte sombrio e terrestre deste fenômeno e ao mesmo tempo conheceu, precisamente nisso, sua potência histórica…..”

    Poderia seguir mostrando até a forma equivocada como Nietzsche critica Hegel, porém como este comentário já está ficando mais parecido com um trabalho técnico, vou parar por aí.

    O ponto básico que me detenho é que Nietzsche, alguém que despreza a história como ciência, não entende o que é história e confunde narrativas ou interpretações históricas como a própria história, é alguém que não serve como base para qualquer interpretação desta, ou seja, é como tentar retirar um grosso parafuso encravado no ferro com um alicate de cortar as cutículas.

     

    Os trechos extraídos de Nietzsche, provém da tradução do texto feita por Rubens Rodrigues Torres Filho.

    1. Compreendo perfeitamente suas

      Compreendo perfeitamente suas palavras.

      Usei o mito de Nietzsche para desmantelar outro mito: o da possibilidade ou necessidade de um “branqueamento da política” brasileira tal como manifestado nas ruas.

      A indicação de que o uso do filósofo é apenas retórico foi dada pela citação de Cruz e Souza, cujo poema foi comentado levanto em conta a realidade tal como ela pode ser vista.

      O meu texto, portanto, não faz apologia de Nietzsche. Muito pela contrário. Tanto que eu dei mais importância e atenção ao poeta Cruz e Souza. Você não notou este detalhe? 

       

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