O pedido de desculpas a Dilma, por um morador “das bandas” de Itaquera

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Maria do Carmo

Desculpas, dona Dilma

Por Luiz Caversan, na Folha de S. Paulo

Cara dona Dilma,

Dirijo-me à senhora Dilma Rousseff pessoa física mesmo, não à presidente do meu país, e chamando-a de dona porque foi assim que aprendi a me dirigir a pessoas do sexo feminino que já tenham uma certa idade e sejam mães ou avós de família.

E sabe onde aprendi como me dirigir educadamente a quem quer que seja, mas principalmente às senhoras?

Foi na zona leste, dona Dilma, lá mesmo pras bandas do estádio em que a senhora foi tão rude e desrespeitosamente tratada na última quinta-feira.

Tendo nascido e sido criado naquele cantão da cidade e conhecedor da índole daquele povo todo, dona Dilma, eu humildemente peço desculpas pelo tratamento que a senhora recebeu ali no nosso pedaço. E tenho toda a serenidade do mundo para lhe garantir: não fomos nós, povo da Zona Leste, que a ofendeu daquele jeito.

Ah, não foi mesmo, viu?

Sabe por quê? Porque mandar uma senhora como a senhora pro lugar onde a mandaram já resultou em muita briga e até morte pra aquelas bandas. Isso não se faz, ninguém por ali deixa barato ir xingando assim a mãe dos outros, ainda mais com a filha sentada do lado, onde já se viu?

A gente boa da zona leste, dona Dilma, não é disso, não.

Respeita pra ser respeitada.

Tampouco é um pessoal que fica adulando poderosos ou puxando o saco de quem quer que seja, não se trata disso. Se é pra protestar, o povo protesta. Se é pra vaiar, vaia.

Mas a educação que a gente recebeu em casa ensinou que não se fala palavrão para uma senhora e não é desta maneira, ofendendo a todos os que ouviram os absurdos que lhe disseram, que se vai se mudar alguma coisa, qualquer coisa.

Não, dona Dilma, não fomos nós da ZL que xingamos a senhora –eu falo nós, embora não more mais por aquelas bandas, porque meu coração nunca sairá de lá, e vira e mexe estou zanzando por ali, visitando gente amiga na Penha, Vila Esperança, Vila Granada, Vila Ré, Guaianases, Itaquera…

Também achei necessário me dirigir à senhora, dona Dilma, porque uns amigos que foram ao jogo me informaram que os xingamentos, as palavras de baixo calão vieram principalmente do setor do estádio em que os ingressos custavam quase mil reais ou as cadeiras eram ocupadas por VIPs –e milão prum ingresso não rola aqui na ZL, não, muito menos a gente é very important people pra receber este tipo de convite.

De modo que, mesmo sem procuração, falo em nome da gente boa da ZL para não apenas me desculpar pela grosseria, pela deselegância e pelas ofensas que foi obrigada a ouvir, mas também para fazer um convite: aparece de novo lá no nosso estádio!

Mas vai num dia de jogo do Timão.

Olha, pode ser até que a senhora ouça alguma vaia, viu, porque afinal é difícil separar uma mulher que tem filha e neto, e já merece respeito apenas por isso, da presidente da República – e ali a gente vota como quer, respeita opinião diferente e acredita em democracia.

Agora, garanto que com o estádio sem toda aquela gente diferenciada que tomou conta de Itaquera no jogo do Brasil, ninguém vai mandar a senhora àquela parte, não.

Porque se algum engraçadinho se atrever a fazer isso, vai acabar levando um tapa na boca.

Porque é assim que fomos educados.

Um abraço pra senhora e um beijo pro Gabriel, seu neto, que aliás tem o mesmo nome do meu.

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos ‘Cotidiano’, ‘Ilustrada’ e ‘Dinheiro’, entre outras funções. Escreve aos sábados.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Beijos da periferia para a Senhora, PRESIDENTA

     

    Fonte: Vermelho, a Esquerda Bem Informada

    14
     14 de junho de 2014 – 15p6
       
    Sérgio Vaz: Se Dilma vier aqui, iremos enchê-la de beijos
    “Se Dilma vier aqui na periferia de São Paulo nós vamos enchê-la de beijos e abraços. Onde já se viu mandar uma mulher para aquele lugar”, afirmou, nesta sexta-feira (13), na rede social Twitter o poeta e agitador cultural Sérgio Vaz.
    Isso é que exemplo de classe, cavalheirismo e educação!, destaca Vaz, um dos nomes mais respeitados da violenta (mas sempre genial e criativa) periferia de São Paulo, que se posicionou frontalmente contra a truculência dos endinheirados do Itaquerão que xingaram Dilma.

    Ele afirmou ainda que, se a presidenta vier à periferia paulistana, será recebida com “beijos e abraços”.
    O xingamento à Dilma foi um tiro no pé. A presidenta saiu humanizada do episódio. O brasileiro testemunhou, horrorizado, a falta de modos dos ricaços. E viu a sua presunção de querer impor sua opinião política na base do grito covarde contra uma senhora que estava ali representando o Brasil.

    Com informações do Tijolaço

     

     

    1. Não fomos nos!

      Dona Dilma, 

      o povo da Zona Leste não pode pagar a conta que não realizou. Pelo contrário, o povo da ZL é vítima dos mesmos preconceitos que a senhora sofreu .

      só encontro uma explicação para tamanha insensatez: a senhora infortunadamente encontrou com os que não toleram que a classe trabalhadora tenha um Estadio na sua vizinha, ou um campus de Universidade, ou um Hospital público de qualidade.  A senhora encontrou com os e as “bacanas” que queriam o povo  presente nos Estádios e universidades enquanto trabalhadores da construção civil apenas, que fossem ao aeroporto apenas para ver avião subir . Infelizmente para eles e a senhora faz parte da classe de políticos que lutou e luta para incluir o maior número de cidadãos e cidadãs num Projeto de  democracia chamado Brasil.

      Acredito que se colhe o que se planta. Estes grosseiros mal educados estão ensinado a seus filhos, netos, empregados, alunos como desejam ser tratados. Vão saber que “Quem colhe vento,colhe tempestade” . Não tardam por esperar, não e praga e apenas projeção estatística.

      Presidente, quando puder, venha tomar um café conosco, providenciaremos o pão com queijo.  Saberá como o povo da Zona Leste costuma tratar os amigos e amigas. Chegue, a casa  é sua! 

      Abraços,

      Sueli Bellato

      nasci e cresci na Zona Leste, o que muito me orgulha

       

  2. Faço minhas as palavras do representante da ZL

    Democracia é possibilidade de escolha, de manifestação, de contestação, de apoio  após informação, conhecimento, reflexão e, consequentemente, VOTO.

    De tudo que tenho visto, lido, debatido por aqui, por aí, ali, acolá VOTO DILMA e estamos conversados. 

  3. Aos que ofenderam a

    Aos que ofenderam a Presidenta Dilma, não os mando para o mesmo lugar mas pra Miami. O Brasil não precisa de vocês; podem ter certeza que não farão a menor falta.

  4. Parabéns pelo texto!Fui

    Parabéns pelo texto!Fui criado em Itaquera,exatamente na Vila Carmozina e me orgulho muito,a zona leste é lugar de gente de bem e trabalhadora.

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