Primeiros 200 pesos, por Gunter Zibell

Observei a história eleitoral recente (30 ou + anos) para câmara de deputados de três paises: Canadá, Alemanha e Chile. E há muita coisa em comum.

Primeiros 200 pesos

por Gunter Zibell

Eu observei, até com certo detalhe, a história eleitoral recente (30 ou + anos) para câmara de deputados de três países: Canadá, Alemanha e Chile. E há muita coisa em comum.

1 ) Oscilação de quem detém a maioria. Há ciclos, de 8 a 16 anos, em que centro-direita e centro-esquerda se alternam.

(No Chile é levemente diferente, pois o centro Democracia Cristã aliou-se sempre com a centro-esquerda. Então, desde a redemocratização, nunca a soma de partidos explicitamente de direita passou dos 48% obtidos em 2021. Que, por sua vez, não são tão mais que os resultados de 2001 e 2009. Mas fica claro que há uma oscilação da dimensão dos gaps.)

2 ) A pulverização da Centro-Esquerda. Novamente explicando pelo Chile: em 1993 teve 5 partidos mais votados, mas o mais centrista deles (DC) obteve 43%. Já em 2021 foram 9 partidos com mais de 100 mil votos cada, e o maior deles (o de Boric) obteve 25%.

Mas, se excluirmos o DC da conta, os partidos mais à esquerda foram de 2433 mil votos (430 mil do PC) para 3120 mil (465 mil para PC). “Esquerdizou” levemente, indo de um equilíbrio de DC + social-democratas para cerca de 70% de social-democratas. Mas os social-democratas de hoje são “rosa”, o que os faz defender mais ou menos o mesmo que o mix anterior. A maior diferença em 28 anos é que agora o PCChile fará parte do governo e voltou ao senado (com 2 senadores em 50.) E o discurso de estado de bem-estar social recuperou força (mas o que é diferente da Alemanha ou Canadá dos Anos 1980?)

3) Radicalização da Direita. A Ultra-direita estreou no parlamento alemão em 2017, no canadense em 2019 e agora no Chile. Mas em nenhum caso passou de 13% dos votos. E, em todos os casos (como em outros grandes países europeus e EUA, na forma de facção dos Republicanos) sempre canibalizou os votos dos conservadores convencionais.

De certo modo é um espelho do que ocorre com a centro-esquerda. É evidente que o receio com reacionarismo é pertinente, já que a pauta dos ultras em todo o Ocidente é reverter conquistas sociais das décadas anteriores. Mas, até o momento, a reação é muito mais uma inconformidade justamente com o conservadorismo não ter conseguido impedir os avanços. E, por ser algo ilógico e anti-histórico, já há sinais de refluxo do entusiamo das massas com o “populismo de direita”.

4) O fim do bipartidarismo efetivo provocado pelo voto distrital. Em muitos mais casos que não, os políticos desses partidos com discurso mais reacionário são dissidências dos conservadores. E que levam alguns anos para ultrapassar barreiras em sistemas distritais. Nisso há uma marcada diferença em relação ao grande (e mundial) movimento fascista dos Anos 1930. O FSC e o PDG do Chile e o People’s Party do Canadá são formados principalmente por egressos insatisfeitos dos partidos de direita que já ocuparam o poder (o mesmo ocorre com os equivalentes na França, Espanha e Itália.)

(Eu posso estar equivocado, mas parece que as maiores conquistas do movimento ultra no Ocidente foram a redução do IRPJ nos EUA e a reforma da previdência no Brasil.)

Ou seja… Os 55,9% de Boric frente a Kast não são significativamente diferentes dos 55,2% de Aylwin (Democracia Cristã) frente à centro-direita de 1989. Os eleitores são os mesmos (ou filhos dos mesmos), os programas são os mesmos (ampliação ou reversão de ampliação de direitos sociais). E os parlamentos também mudam pouco com o tempo.

O que muda muito é o marketing político, mais messiânico hoje em dia. Mas isso porque ocorreu também algo bom: as pessoas querem soluções mais rápidas para crises econômicas e questões de inclusão.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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