Promotores de Curitiba estão decretando a falência da democracia burguesa!, por Rogério Maestri

Promotores de Curitiba estão decretando a falência da democracia burguesa!

por Rogério Maestri

Talvez os procuradores não entendam o que estão fazendo, pois em última instância estão proclamando aos quatro ventos a falência da democracia burguesa, pode até parecer estranho, mas é isto que está ocorrendo de fato.

O que muitos estão com pruridos de falar é que intempestivamente os procuradores da Lava Jato estão, numa forma que acho que eles não desejam, colocando em cheque toda a forma de governança atual que está baseada num sistema de pesos e contrapesos que equilibra as forças do poder deixando longe deste sistema o povo.

Num esquema de democracia burguesa, os eleitores são chamados periodicamente nos sistemas presidencialistas e em momentos de crise nos sistemas parlamentaristas a elegerem seus políticos que os governarão. Esta estrutura de eleições com data marcada no presidencialismo ou quando há um voto de desconfiança no sistema parlamentarista, supõe que nos interregnos destes períodos o executivo e legislativo eleito e o judiciário também em parte eleito em países como os Estados Unidos e concursado no Brasil tem capacidade de autocontrolar um ao outro.

Com a derrubada da Presidenta Dilma sem um fato real que a levasse a isto, coisa que é percepção da maioria e uma minoria pretende provar ao contrário, colocou um primeiro problema no sistema de pesos e contrapesos. Agora o judiciário através dos procuradores da Lava Jato colocam um segundo prego no caixão da democracia burguesa, pois questionam a legitimidade de alguns fatos elementares tais como, um executivo que nomeia os cargos que ele deve nomear ou a intenção de um partido no poder de tentar se perpetuar no poder.

Pensam estes procuradores que poderíamos fazer um executivo somente com ministros e demais membros “concursados”, ou seja, esquecem os mesmos que cargos concursados servem para seguir ordenamentos perfeitamente claros e decisões impostas de baixo para cima.

Talvez não tenham notado, porém a discussão que estão levantando põe em dúvida a capacidade destes membros eleitos de representar os seus eleitores, pois acusam não uma pessoa ou um partido, mas sim um sistema.

Se o discurso de inviabilidade da democracia burguesa fosse levantado por um partido de esquerda não reformista, mas revolucionário no sentido de propor a mudança do regime como um todo, este discurso faria sentido, porém o que fica implícito no discurso destes promotores que os mesmos estão levantando a possibilidade de um sistema autocrático de direita governado sem a presença do povo, ou seja, uma ditadura clássica.

Sem se perceber esquecem que propostas autocráticas em países desenvolvidos estão sendo realizada por burocracias estatais, como a da Comunidade Europeia ou por burocracias advindas diretamente da iniciativa privada, como nos Estados Unidos, através de leis, tratados e normas que são negociados e emitidos não por políticos tradicionais, mas por burocratas.

Nestes países mais desenvolvidos, a legislação imposta por esta burocracia concursada que começa a substituir os políticos tradicionais, podem até certo momento florescer até determinado ponto, pois a formação desta elite advinda de escolhas de uma meritocracia acadêmica conta com um espectro um pouco mais amplo das classes sociais que a formam. Este ponto de tolerância da governança imposta por burocracias estatais está sendo claramente refutado tanto pelos europeus de esquerda e de direita, como pelos norte-americanos.

Em países como o Brasil, onde imensa parte da população enxerga nestes burocratas seres estranhos ao seu convívio social, com origem em pequenos estratos da população, a formatação de um governo “meritocrácito”, burocrático e concursado num primeiro momento poderá ser aceito, porém logo a se ver excluída da formação desta burocracia diretora, a maioria desta população reagirá contra isto. Porém a reação da população contra a imposição das burocracias estatais, que já é violenta na Europa, deve em países como o Brasil ser mais violenta ainda, pois enquanto um discurso de prosperidade capitalista permitiu a emergência ao poder das burocracias estatais nos países desenvolvidos, no Brasil esta proposta será feita com claros princípios de diminuir a capacidade econômica das classes mais baixas.

A criação de uma legislação em movimento, que satisfará a cada momento a necessidade das elites locais, pode em médio prazo levantar a questão que se direitos são retirados do povo para bem de algo maior, no discurso a nação, na realidade as classes dominantes e oligárquicas, por que não inverter o sentido de quem paga pela nação?

A destruição da democracia burguesa, levantada na prática e não na teoria pelos promotores de Curitiba, pode ir numa direção completamente contrária a direção desejada, pois simplesmente não haverá por sua parte de uma classe política com peso para levar adiante o seu programa, os partidos de direita que abraçam estas medidas são distantes do povo e se sustentam por medidas populistas e ilusões que no momento que o projeto da criação de uma burocracia exógena a grande parte de população, não encontrará ninguém com capacidade política de provar o improvável, que a morte da democracia burguesa com uma substituição por uma autocracia burocrata trará benefícios a população!

Redação

10 Comentários

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  1. Muito bem observado…

    …Desde o início e principalmente agora, a Lava Jato quer firmar-se como o quarto poder, que sem ter que passar pelo inconveniente da Democracia. Esses pretenciosos creem que, somando-se ao poder de hipnose dos meios unâmimes da Mídia tradicional, certa Magistratura e a porção da PF que gosta de usar roupas de camuflagem em frente a apartamentos, são imbatíveis. Quando a autofagia começar vão ver os porquês de uma República Democrática.

    Como disse em comentário anterior muitas esperanças e alívio no presente por conta das cabeçadas desses patetas.

  2. Esta crença é antiga

    No Brasil, é antiga a crença de que a burocracia (judicial, executiva ou militar) poderá nos fazer saltar etapas e nos equiparar, quase que instattaneamente, ao patamar dos países centrais do capitalismo.

    Começa com a proclamação da república e seus lemas (sem conteúdo) positivistas impressos em nossa bandeira (ordem e progresso), passa pelo tenentismo e pelo golpe de 64.

    Estamos agora no golpe de 2016 e os “doutores” evangélicos-puritanos-classe média acreditdam que podem purificar o Brasil da corrupção-de-esquerda (eles não querem ver a da direita) com a caneta.

    Aliás, querem purificar o Brasil da própria esquerda (que identificam com a corrupção) e principalmente de “operários-nordestinos que não sabem o seu lugar e por não saberem devem ser colocados no tronco como os pretos que não sabiam seu lugar”. Eles tem ódio desse operário nordentino e de todos os outros marginalizados (putas, pretos, pobres, bichas, sem terra, sem teto, “vagabudos” de toda ordem…) que ele simboliza.

    Mas os doutores (e a classe média que os idolatra) não sabem do seu ódio social, não podem saber, senão o monstro do ódio dentro deles seria insuportável de se olhar.

    Então eles mentem para si mesmos que o que combatem é a corrupção do lulopetismo. Mas no fundo no fundo eles sabem que não é, que sentem mesmo é ódio de todos os excluídos, principalmente dos que querem deixar de sê-los.

    É aí que mora o perigo, neste “no fundo eles sabem que sentem ódio”, pois o que está “no fundo” é a sombra junguiana, o reprimido freudiano louco para vir à tona e que precisa ser negado, continuar reprimido, ocultado nas sombras.

    Aí, então, o ódio redobra suas forças (pois o reprimido é um animal aprisionado) e volta ainda mais forte como desejo de punição do “outro corrupo”, bode expiatório no qual o ódio é projetado: “prendam o Lula, o Bandido-mor, que ele mofe/morra na cadeia, expulsem a vaca da Dilma, os vagabundo do MST, os aborteiros, os defensores dos direitos dos bandidos”.

    O problema é que este outro representado pelo Lula (a relé, os pretos, as bichas etc) também sente ódio, mas projetam este ódio do rejeitado/marginalizado uns nos outros, pois não conseguem compreender que o seu verdadeiro algoz é o sistema em que se criaram.

    Então os pobres querem linchar os bandidos e banir as bichas. Os bandidos sentem um desejo ireffreável de torturar e matar suas vítimas. Os evangélicos querem queimar macumbeiros, bichas e petistas. Os flamenguistas querem o sangue dos vascaínos e vice-versa. Há pobres brancos que odeiam pretos, pretos que odeiam bichas, bichas que odeiam pretos e/ou pobres etc etc.

    Dificilmente os marginalizados projetam seu ódio contra a elite, pois aprederam desde o nascimento que são senzala e devem amar o sinhozinho e seu modo de vida. Alguém duvida? Por que o povo gosta tanto de fofoca de celebridades? Mas memso que odiassem a elite e seus doutores, estariam enganados, pois o que deveriam é lutar contra o sistema capitalista como um todo, esta fábrica de exclusão,

    Eis o país,  nu e cru, não o Brasil do homem cordial, mas o do homem raivoso construindo e sendo cosntruído pela sociedade do ódio.

    1. Excelente!
      É desse fascismo

      Excelente!

      É desse fascismo que surge a olhos vistos que pouca gente fala. É ele que exige bode expiatório. É esse monstro que ninguém vai conseguir controlar desperdiçando tanto tempo com “pose de salão”.

      1. Parece que somente tu percebeste a segunda parte do artigo!

         Parece que somente tu percebeste a segunda parte do artigo!

        Infelizmente falta até para os nossos comentaristas de plantão alguma perspectiva histórica, pois não entenderam a segunda parte do artigo: O quem pode vir depois da democracia burguesa.

        Só um cuidado, não pense que vão repetir o fascismo como saída, o capitalismo se adapta.

        Leia o que escrevi em:

         

        O que virá depois da democracia burguesa? Não será o fascismo!

    2. Parabéns! Muito bem dito. Ė

      Parabéns! Muito bem dito. Ė isso aí. Acho que só a educação  salva. Mas às vezes só a educação não salva, veja o Moro e Companhia até mestrados têm.

  3. Desculpe, Maestri, mas acho

    Desculpe, Maestri, mas acho que no bestuntinho deles tudo está claro como em uma revelação: a democracia burguesa ia muito bem, obrigado, até que grassou sobre ela o “sinistro projeto de poder petralha”. Por isso deve-se queimar o PT, o PT, o PT em praça pública; por isso deve-se jogar o PT, o PT, o PT como boi de piranha, para o pacto da nova reppública ter alguma sobrevida.

    É evidente que eles não “inventaram” essa “tioria”. É óbvio que eles tomaram como supositório essa cerebrinação parida por aqueles que perderam quatro eleições seguidas. É evidente, também, que todo o ódio ao Lula, Dirceu e companhia advem do fato de eles terem vencido quatro vezes seguidas no-jo-go-de-les; repetindo: no-jo-go-de-les . Pois esse é o sistema político; esse é o financiamento empresarial.

    Enquanto o PT estava de macacão e megafone nas portas das fábricas (como a esquerda que a direita gosta insiste ser o caminho) o bloco recionário a-do-ra-va a democracia e as eleições, tendo a esquerda como figurante.

    Aquele Montenegro chegou pontificar que o PT, o PT, o PT jamais teria além de 30% dos votos….

    Mas lá foi o PT, o PT, o PT ganhar eleições, governar  – e bem, contrariando todos os vaticínios dos “doutos e sábios” – que não aguentaram: como crianças mimadas quebraram o skate, a prancha de surfe.

    Acreditavam, mesmo, que ganhavam eleições por alguma supeririodade moral ou intelectual.

    Ficou provado que não; a única coisa que tinham a mais era dinheiro, grana.

    Essa turminha de concurseiros forma o grupo de retardatários a acreditar nisso. É assim que se acham “moderninhos”.

  4. República burguesa?

    Mas se ainda não passamos por uma revolução burguesa e o capitalismo no Braisl ainda é simplesmente uma nomeclatura, como falar em fim da República Burguesa?

  5. E o juiz moro,

    Age como um Rei, ou melhor, um CARCARÁ , que pega, mata e come. Tudo ao mesmo tempo, tal e qual um carcará de fato, sem nenhuma lei que o possa deter pois superior ele não tem,  e nós não passamos de meros coadjuvantes, sem direito à reação, pois as polícias estão aí para que? Para combater os inimigos da pátria, como nos velhos tempos ?

    Valha-me Deus ! pois o Carcará mata p/ sobreviver.

  6. Sabem, sim, o que fazem e

    Sabem, sim, o que fazem e muito bem o que querem. É o neofascismo tupiniquim. Herdeiros bem barbeados dos engravatados e turbulentos rapazes da TFP de 64.

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