Para sociólogo, saída para Dilma é reagrupar base social

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Na visão do cientista político e sociólogo Antonio Flávio Testa, se a presidente não der uma “guinada qualitativa”, não haverá defesa nas ruas em caso de impeachment

Jornal GGN – Na semana passada, quando jornais e lideranças de oposição decidiram subir o tom das ameaças de impeachment, a equipe de Dilma Rousseff anunciou uma série de ajustes nas contas e programas sociais, na tentativa de virar a página e criar condições de governabilidade. Mas será que criar impostos, desidratar o Minha Casa, Minha Vida e aumentar a dependência em relação a emendas parlamentares para injetar recursos em áreas essenciais são a solução para a crise do governo?

Na visão do cientista político e sociólogo Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília, a presidente está trilhando um caminho perigoso. Sem garantias de que os parlamentares aliados conseguiriam frear um processo de impeachment no Congresso por crime de responsabilidade, por exemplo, ela erra quando deixa de lado ações para agradar a base social que ajudou a reelegê-la.

“Tudo que Dilma está fazendo não está surtindo efeito. Só dá mais poder ao PMDB. Pessoalmente, a única saída que vejo para ela, hoje, é manter políticas sociais e enfrentar o sistema financeiro. Fazer um trabalho que ela disse ter feito a vida inteira, que é de enfrentar um sistema que privilegia poucos. Acho que ela deve dar uma guinada qualitativa. Chamar a população e dizer qual é a situação, dizer que ela melhorou de vida nos últimos 12 anos a um custo, e fazer os ajustes sem esquecer que o que sobra é articular com a base popular”, disse.

“O desafio é esse: decidir entre enfrentar o sistema financeiro ou agradar a base política. Um bom trabalho para o Brasil seria enfrentar a questão da dívida pública. No orçamento da União, mais de 40% dos recursos são para só os juros disso. Não vejo ninguém na mídia falar de dívida pública, com exceção do PSOL. É preciso renegociar isso. É claro que o assunto é muito mais complexo, mas a decisão seria estratégica e política. Mudaria o jogo”, sugeriu.

Na visão de Testa, se Dilma não “sair pela esquerda”, em caso de o processo do impeachment ser deflagrado, não haverá apoio ao governo nas ruas. “Tem algumas pessoas que acham que haverá uma reação social imensa se Dilma começar a cair hoje. Na atual conjuntura, não acredito nisso, porque ela não tem como ampliar programas sociais que sustentam a base. Pelo contrário: ela reduziu. As reações dos movimentos durariam uma semana. Vindo um novo governo, renegociariam todo o apoio. O jogo é muito pragmático. É um jogo de interesses. Dilma é muito ruim de timing. E ainda tem o problema da grande mídia, que vai ver como fazer essa sedução”, apontou o cientista político.

Conjuntura do impeachment

Para o professor da Universidade de Brasília, as chances de Dilma renunciar são pequenas. Mas o impeachment é questão de o PSDB convencer mais peemedebistas insatisfeitos com o governo a encampar o processo. Essa aproximação poderia ocorrer com mais intensidade em caso de o Tribunal de Contas da União rejeitar as contas de 2014 do governo, porque, dessa maneira, a oposição teria um motivo para tentar dar um jeito de afastar Dilma do poder.

Testa observou, contudo, que hoje não há razões legais para sustentar o impeachment. E mesmo uma decisão negativa do TCU poderá ser revertida – ou sequer analisada – no Congresso, pois a análise do parecer deve ser feita por ambas as casas do Legislativo. Depende, portanto, da vontade de Renan Calheiros (PMDB) em pautar o assunto, “o que lhe confere muito poder de barganha”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Crise – estado terminal ou

    Crise – estado terminal ou coragem de mudança

    DADOS E SAÍDA

    Ou Dilma dá uma grinada – e já – de 360 gráus ou naufraga de vez e, quiçá, arrastando com ela o sonho de esperança do “sem medo de ser feliz”. O governo está se tornando indefensável e popularmente insustentável. Case-se esta (1) previsão do DIEESE com as observaçõe (2) de Renato Meirelles do DataPopular (Instituto de Pesquisa das Classe C,D e E):

    1) DIEESE PREVÊ DESEMPREGO PRÓXIMO DE 14% NA GRANDE SP ATÉ FINAL DO ANO

    São Paulo – A trajetória do mercado de trabalho neste ano indica que o Brasil chegará ao fim de 2015 em uma situação ruim. Com a recessão, o corte de postos de trabalho deverá ficar em torno de 1 milhão de vagas formais, refletindo que neste ano a queda de braço entre capital e trabalho termina com o pior saldo para os trabalhadores. Esse resultado reverteria, em parte, uma tendência positiva dos dois mandatos do governo Lula e da primeira gestão Dilma, que juntos criaram mais de 20 milhões de postos de trabalho formais.

    Na região metropolitana de São Paulo, um dos principais termômetros do mercado de trabalho no país, o contingente de desempregados, que segundo dados do Dieese e da Fundação Seade era de 1,169 milhão de pessoas em setembro de 2014 – quando a crise começou a se agravar –, em julho deste ano subiu para 1,514 milhão, um incremento de 29,5%.

    Não fosse a histórica tendência do desemprego de crescer no primeiro semestre e cair no segundo, graças a eventos que injetam recursos na economia e aquecem o consumo, como 13º salário, festas de fim de ano e as contratações temporárias, a região metropolitana poderia chegar ao fim de 2015 com 15% de desempregados. “Eu preferiria projetar entre 13% e 14%, que já é um resultado ruim”, pondera o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, prevendo que os eventos do semestre ainda vão injetar ânimo na economia e atenuar o crescimento do desemprego, que conforme a última taxa do Dieese, de julho deste ano, está em 13,7%.

    http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2015/09/dieese-preve-que-taxa-de-desemprego-na-grande-sp-chegara-ao-fim-de-2015-proxima-de-14-1394.html/

     

    2) RENATO MEIRELLES: PT TEM QUE FALAR DO FUTURO

    (…)

    O fato de os jovens não conhecerem o Brasil pré-PT criará um abismo geracional entre a classe baixa mais velha e a classe baixa mais nova?

    Renato Meirelles –

     Sim, isso já acontece. Por que não faz sentido para a população brasileira a comparação entre a gestão de Fernando Henrique Cardoso e a de Dilma? Porque metade dos eleitores da última eleição não viveram os quatro anos do último mandato de FHC.

    Os eleitores mais novos da classe C nunca passaram fome na vida. Esta foi e eleição em que a classe C mais se dividiu, com os mais velhos votando na Dilma e os mais novos se dividindo entre Aécio, anulação e abstenção.

    Se o PT quiser se reeleger, o desafio é como falar do futuro. O partido hoje fala que está erradicando a pobreza e ajudando os mais pobres, mas 81% dos brasileiros se identificam como classe média. Não estou falando que eles são, mas que eles se veem assim. Esse cara fala “pobre não sou eu, então não estão resolvendo a minha vida”.

    A esquerda acha que todo mundo associa redução da miséria com igualdade de oportunidades. Mas redução da miséria fala para o passado e igualdade de oportunidades fala para o futuro.

    Para a dona Maria isso não é automático. Ao mesmo tempo, o brasileiro não vê mérito em ganhar uma corrida de 100m saindo 50m na frente. O discurso da igualdade de oportunidades será a plataforma do próximo presidente da República, não tenho dúvida nenhuma disso. Se ele vai vir do PSDB, do PT ou de outro partido é uma história diferente.

    Os políticos se comunicam com o jovem brasileiro?

    Renato Meirelles –

     Os políticos brasileiros são analógicos e o novo eleitor é digital. O político brasileiro está acostumado a falar, não a ouvir.

    A lógica digital é a lógica de querer ser protagonista, de quem tira selfie na manifestação. Eu quero ouvir, mas eu também quero ser ouvido.

    Os políticos são da época da televisão. A TV era uma janela para o mundo, a única forma de as pessoas saberem o que está acontecendo lá fora.

    A internet é uma vitrine para o mundo. Os políticos não entendem isso.

    Como unir o Brasil?

    Renato Meirelles –

     A mudança do discurso é fundamental. Parte considerável dos brasileiros acha que o Bolsa Família não ensina a pescar. E por outro lado os governistas gritam que quem diz isso é coxinha. Esse lado é o do dissenso.

    Mas e o lado do consenso? Um dos poucos itens que tem quase a unanimidade da opinião pública brasileira é a defesa da educação como a única forma de o Brasil melhorar.

    (…)

    http://www.conversaafiada.com.br/politica/renato-meirelles-pt-tem-que-falar-do-futuro/

    SAÍDA:

    Dilma voltar-se às bases progressista que a elegeram e, mesmo, às que estiveram às margens; voltar-se aos movimentos sociais, voltar-se às micros e pequenas empresas, à agricultura e negócios familiares e de vizinhança; voltar-se às políticas sociais, à educação, saúde e segurança publica; às reformas políticas e tributária; e abandonar o sistema de metas inflacionárias, o câmbio flutuante e a necessidade de gerar o superávit primário “que amarra toda e qualquer busca de caminhos para a superação da crise de uma perspectiva desenvolvimentista” (Paulo Kliass)

     

  2. Renunciar jamais.
    Se tiver

    Renunciar jamais.

    Se tiver que sair, que seja por golpe.

    A história fará justiça a Dilma que tem dado o exemplo máximo de Republicanismo.  

    E se acontecer o extremo do golpe branco, servirá de exemplo didático para as gerações futuras.

     

  3. É quase infantil a tese da

    É quase infantil a tese da saída de Dilma pela esquerda, com a tropa de choque que está ao seu redor. Pois para mim, já não é mais a saída de Dilma que preocupa, o que preocupa é a leviandade de desviar o foco do assunto central: o golpe. Golpe é golpe de todo jeito nessas soluções açodadas da oposição cujo objetivo é um só: retornar ao poder pela força, já que não levou a vitória nas urnas. Para mim, Dilma tem que acabar seu mandato que é legal e lhe foi dado.  O que é necessário é que todos nós tomemos consciência desse reality show midiático de “opinião pública publcada”. A mídia não vai nos governar.

  4. Está certo, só discordo no

    Está certo, só discordo no ponto em que afirmou que os movimentos sociais negociariam com o novo governo Temer. Não haveria negociação possível. O radicalismo iria se intensificar. Os movimentos alías já se articulam para confrontar um eventual governo Temer porque sabem que este seria muito mais arrochante que o da Dilma. E o novo governo “negociairia” da seguinte forma: Porrada no lombo.

     

  5.  
    Eh, a gente vai

     

    Eh, a gente vai negociando… conversando e cedendo, quando dá um passo à frente, retrocede dois pra trás. Assim a gente nunca vai, é só voltado, voltando… Foi cedendo uma perna ali…. pra economizar um sapato aculá…até que não resta mais nada pra ceder. Quando resolver abrir os olhos, já nada tem pra olhar.

    Orlando

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