Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Um Ministério ao centro e um período de conflitos, por Aldo Fornazieri

Do perfil dos ministros do segundo mandato do governo Dilma é possível estabelecer quatro conclusões: 1) Dilma está dando mostra de que mudou e que seu segundo mandato será diferente em relação ao primeiro; 2) o novo ministério terá um perfil mais de centro; 3) o novo ministério tem nomes mais representativos, mais experientes e mais autônomos; 4) o novo ministério será mais plural em termos partidários, com o enfraquecimento relativo do PT e do PMDB. Pode-se dizer que, de modo geral, as escolhas de Dilma tiveram um sentido geral correto e que ela terá mais chance de terminar o segundo mandato melhor do que o primeiro, embora o comece mais enfraquecida, em meio a fortes turbulências e com um ano de dificuldades pela frente. Claro que tudo dependerá da disposição de Dilma dialogar com os diversos setores políticos, sociais e econômicos e do grau de autonomia que dará aos ministros, principalmente aos da área econômica.

As evidências de que Dilma mudou vêm de duas direções, ambas positivas. A escolha da equipe econômica sinaliza que a presidente convenceu-se de que o desenvolvimento econômico não depende de discursos apelativos do crescimento, mas da gestão macroeconômica, com o controle da inflação e com a saúde fiscal do Estado. Um Estado com as contas desorganizadas é a receita para o fracasso. Por outro lado, Dilma foi capaz de escolher nomes que não lhes serão subservientes: Joaquim Levy e Cid Gomes são símbolos desse novo perfil.

O novo ministério, inequivocamente, tem um perfil mais técnico e politicamente se situa mais ao centro. A equipe econômica é a expressão desse perfil técnico, embora setores do PT considerem Joaquim Levy um representante da direita. O PT perdeu dois postos fundamentais que colorem o matiz político e ideológico do governo: o comando da Fazenda e da Educação. Por outro lado, Jaques Wagner, Cid Gomes, Eduardo Braga (ex-governadores), e Edinho Araújo, Gilberto Kassab (ex-prefeitos), Eliseu Padilha (ex-ministro) e Katia Abreu (presidente da CNA), entre outros, conferem mais representatividade política e social ao governo e mais experiência administrativa. Por esse mesmo perfil e  experiência de vários ministros fica claro que não será um ministério do amém às ordens de Dilma.  Isto significa que a própria presidente está disposta a mudar seu estilo de relacionamento com os ministros. Com maior descentralização e menos controle burocrático, o governo poderá ganhar em agilidade e eficiência.

Ao colocar Joaquim Levy (independente) na Fazenda, Cid Gomes (PROS) na Educação, Gilberto Kassab (PSD) nas Cidades, Dilma confere um caráter mais plural ao seu ministério pelo peso que esses três ministérios representam. Relativizará o peso do PT e do PMDB. Ao PT cabe comandar a área política, na qual não se mostrou competente no primeiro mandato. Ficou também com a Saúde e a área social, mas com escassa presença na política econômica. Para o PMDB, o que conta é o Ministério das Minas e Energia. Os demais ministérios que o partido  comandará estão num segundo plano. Em relação a Kassab, a presidente terá que administrar o problema de não cevá-lo como um possível  inimigo de Haddad em 2016.

Um Período de Conflitos

Os três mandatos presidenciais petistas se caracterizaram por uma certa paz social – rompida com as manifestações de junho de 2013. Os ventos que conformam a nova conjuntura prenunciam um cenário de maior turbulência política e social. Os movimentos sociais, com destaque para o MTST, estarão mais aguerridos. Com um ano de ajustes, aperto monetário, baixo crescimento e inflação alta, os sindicatos terão que defender os interesses de seus filiados.

No plano político a oposição será mais aguerrida e contundente no combate ao governo. A própria iniciativa do PSDB de contestar o mandato de Dilma no TSE – uma espécie de golpe institucional – sinaliza o tom belicoso, principalmente por parte de Aécio Neves, que parece não conformar-se com a derrota. As ruas ganharam uma militância de direita, que tende a manter-se ativa em 2015.

No Congresso, Dilma deverá enfrentar um grau maior de infidelidade de sua base. Com a presidente enfraquecida politicamente tendo que lidar com o escândalo da Petrobras, os partidos aliados tenderão a exasperar suas demandas com a tradicional chantagem política. Para atenuar e reduzir conflitos, Dilma terá que colocar-se ela mesma no centro da articulação política, coisa que recusou no primeiro mandato.

O próprio PT vê-se na contingência de fazer um jogo ambivalente para reposicionar-se junto à sociedade. Por um lado, tem a obrigação de apoiar o governo. Mas por outro, o partido precisa recuperar seu ativismo e seu protagonismo junto à sociedade. Acomodado às benesses do poder, desgastado com a imagem de partido corrupto, estigmatizado pelo antipetismo, o PT terá que lutar por uma plataforma reformadora que, não necessariamente, coincidirá com aquilo que o governo pretende fazer.

O governo Dilma será um governo de arrumação da casa e de manutenção de conquistas. O PT terá que apoiá-lo, mas precisará apontar para uma nova agenda. O fato é que o PT deixou de lutar por reformas capazes de remover as condições estruturais da desigualdade, tais como a reforma tributária que estabeleça a justiça fiscal e combata a sonegação, a taxação das grandes fortunas, a regulamentação econômica das comunicações, a reforma urbana, a reforma política que proíba o financiamento empresarial das campanhas e reduza o peso econômico na configuração dos legislativos etc. Em suma, o PT terá que renovar-se não só politicamente, mas reconquistar a juventude que é a potência política do futuro. O desafio maior do PT, contudo, será o de apresentar uma nova forma de financiamento do desenvolvimento do Brasil, com a manutenção e o alargamento das conquistas sociais. O atual modelo apresenta sinais de fadiga e aponta para o fim de um ciclo.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política. 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

10 Comentários

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  1. de centro?

    o ministério é de ‘centro’? como?

    quem são os contrapontos de esquerda a katia abreu, g. kassab, e e. padilha?

    quem são os representantes, quando muito, de centro esquerda neste ministério a contrapor-se a cid gomes e e. braga de centro direita?

    j levy é ‘independente’? o quê isso significa no espectro ideológico?

    finalmente … ‘enfraquecimento relativo do … pmdb’?

    não há como concordar com o ilustre cientista político.

  2. Passa esse artigo para Dilma.

    Passa esse artigo para Dilma. Ela vai ficar feliz e chorar menos, achando que foi pressionada a colocar um pastor nos esportes.

  3. Ministério mais técnico que político.

    Vamos concordar, que uma vez impossibilitada(por razões de compromissos políticos com os partidos aliados) de escolher nomes eminentementes petistas, e com o país necessitando urgentemente de dar uma guinada à direita(economicamente falando) a Presidenta teria que escolher nomes mais técnicos que políticos, em prol da plena governabilidade, ou correr o risco de não ter nada aprovado, das suas propostas ?

  4. centro???!

    e quanto mais se força a barra pra justificar o injustificável, pior fica. reconheçamos, os apontamentos pro  ministério são grandes desapontamentos pra quem votou. centro, nem que a vaca tussa! direita retrógrada e fisiologismo, essa sim a cara desse ministério.

  5. Estranhamento

    Nosso querido Aldo vai desculpar a crítica a seu texto, mas…pode ser que eu esteja enganado, por isso a prudência me indica esperar um pouco mais, porém a primeira impressão que tive do segundo ministério Dilma foi de estranhamento ! Se o presidente fosse o Fidelix, ou mesmo Aécio, não ficaria tão surpreso. Esperava um ministério equilibrado, de centro, vai…mas que minha primeira reação foi negativa, não consigo esconder. Vou dar o benefício da dúvida.

  6. Ministério de Dilma 2.

    Com um ministério mastodôntico desses, a presidenta, se dedicar uma hora por dia a cada ministro, esgota sua semana de trabalho. Os tais ministros  “independentes” e não “subservientes” provavelmente quererão governar, o que criará um problema, pois ninguém votou neles. PT, de tanto querer apenas ser governo, corre grande risco de não mais vir a sê-lo; Dilma corre grande risco de virar Rainha da Inglaterra. Do artigo, só se aproveitam as nuvens escuras no horizonte que eu vislumbro a partir dele.

  7. Ministério de

    Ministério de centro-direita. 

    Ninguém da esquerda digeriu, nem poderá digerir, a entrega de dois ministérios importantíssimos para um avanço social no Brasil, para o combate a desigualde, ao DEM. 

    Agricultura e Cidades são ministérios importantíssimos e estão nas mãos de quem não tem nada a ver com povo. Estão nas mão dos mais legítimos representantes da elite.

    Contra esse governo de centro-direita está se formando a frente da esquerda, inclusive com participantes petistas, sob o comando do Boulos. O único personagem político hoje capaz de entupir a Paulista, a Presidente Vargas e outras avenidas Brasil afora de gente.

    E parece que depois dessa reunião do dia 15, com 40 líderes e pensadores de esquerda do Brasil, promovida pelo Boulos, a coisa vem forte.

  8. Vá lá que o Levy e a Katia

    Vá lá que o Levy e a Katia Abreu, entre outros, poderiam estar no ministério de um governo Aécio. Mas isso não quer dizer que seria tudo a mesma coisa. O que conta mesmo é a orientação e o comando geral da presidenta. Concordo com o articulista que a tendência é que esse ministério tenha mais autonomia do que o do primeiro mandato, que segundo o Nassif eram todos do “sim senhora, presidenta”. Mas nem tanto, todos terão que seguir uma diretriz geral traçada por Dilma.

    Minha preocupação nem é essa. É a questão do conflito de egos entre o Mercadante e o Jaques Wagner. Pois o governo precisa de um articuladro para ontem. Dilma não dá conta sozinha, nem que resolva fazer mais política como sugere o autor. E claro, o inexistente Zé Cardoso, com a Lava a Jato aí para fazer tremer as estruturas da república. Isso é que me preocupa

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