Feliz aniversário II
O gole d’água empurra os dois grãos amargos
garganta abaixo como em um desjejum.
E na boca, o resíduo amaro,
despertador dos que não têm tempo que fruir,
avisa que é preciso sair à rua e ir
alcançar o com o que viver por mais um dia
em busca do sono, essa pequena morte diária,
com a qual nos acostumamos e pagamos
a derradeira morte em prestações cotidianas.
Com o tempo quitamos a dívida
e, assombrados de medo,
corremos a pagar os juros ,
a usura que nos protege de receber
o que nos foi prometido no dia do parto.
Ah, os jornaleiros dois grãos amargos,
companheiros de jornada
tanto quanto são companheiros prisioneiros
acorrentados uns aos outros caminhando
juntos rumo ao cadafalso.
E assim, dia a dia, outro dia,
outra primavera que traz o mesmo medo,
o medo que me faz ficar vivo,
nenhum outro motivo.
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