A incrível história de Gastão Bueno Lobo, por Jorge Carvalho de Mello

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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A incrível história de Gastão Bueno Lobo

Por Jorge Carvalho de Mello

Gastão Bueno Lobo, de acordo com Pixinguinha, introduziu o banjo no Brasil.Tal declaração pode ser encontrada no livro As Vozes Desassombradas do Museu (Museu da Imagem e do Som) organizado por Antonio Barroso Fernandes em 1970. Na página 33 deste livro encontra-se um diálogo entre Pixinguinha e um interlocutor do MIS, do qual reproduzimos abaixo um trecho:

MIS- O banjo, por exemplo, apareceu depois que vocês (Os Oito Batutas) voltaram de Paris?
Pixinguinha-Não. O banjo apareceu antes, com o Gastão Bueno Lobo. Ele tocava violão. Eu o conhecí quando veio de Paris. Foi o primeiro que veio de lá e o primeiro a tocar guitarra havaiana. Era da Rádio Mayrink Veiga. Antes, ele tocava na orquestra de Romeu Silva.

É fato que ele introduziu também a guitarra havaiana, instrumento muito em voga, em nossa pátria, nos anos 30,40 e 50 do século passado. Somente estes fatos bastavam para justificar um estudo aprofundado sobre a vida e obra deste musico e compositor. Entretanto, tal estudo revelou um universo muito mais amplo em extensão e importância para a música popular brasileira. Tal universo ainda não foi totalmente explorado, apesar de todos os esforços por mim despendidos. A inevitável frustração é compensada pela certeza que este relato estimulará novas pesquisas, que trarão luz em passagens obscuras da vida deste notável artista, que foi Gastão Bueno Lobo.

Meu interesse por este tema surgiu quando do estudo que fiz sobre outro musico, um gigante da música brasileira, Aníbal Augusto Sardinha. Este foi também um grande executante da guitarra havaiana, instrumento que aprendera a tocar em São Paulo, no início dos anos 30 do século passado. Em 1936, ele foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, integrando com Aymoré (José Alves da Silva) e Laurindo Almeida, o Conjunto Havaiano, liderado e dirigido por Gastão Bueno Lobo. Iniciei então aprofundada pesquisa sobre a vida e obra deste último.

A primeira notícia que encontrei sobre a vida de Gastão foi a de sua morte: Esta ocorrera por suicídio, em 02 de junho de 1939, após ingerir grande quantidade de veneno. Gastão saiu do estúdio na Rádio Mayrink Veiga, no dia 01 de junho, após o habitual programa, dizendo que iria à uma festa em Petrópolis. Foi encontrado morto na Estrada Rio-São Paulo, nas imediações de Vila Valqueire. O que o levara a cometer este extremo ato? Talvez uma combinação de vários fatores: Apresentava, em seus últimos tempos, fortes dores provenientes de uma úlcera, fazendo com que restringisse ainda mais suas atividades artísticas na Rádio Mayrink Veiga (Diário da Noite,03 de junho de 1939, pg 2, última edição). Nesta mesma matéria, é dito que ele retraíra-se artisticamente, limitando-se a tocar guitarra havaiana (em que era exímio) como integrante de orquestra e a tocar violão em determinados programas. Seu amigo e confidente Tito Bezerra de Menezes disse que Gastão morreu de tédio, de inadaptação ao meio (Gazeta de Notícias,11 de junho de 1939, pg 9, 2ª seção). Desilusão com o meio artístico nacional, falta de reconhecimento de suas qualidades artísticas, enfim, uma grande frustração corroía sua alma…Gastão era casado com D. Iracema e, de acordo com os vizinhos, o casal (que não tinha filhos) vivia em harmonia, sendo visto em frequentes passeios. Em declaração à polícia, sua esposa disse Gastão ultimamente apresentava “fortes sintomas de intranquilidade de espírito, em função de negócios que procurava realizar e nos quais não se saia bem”(O Jornal, 04 de Junho de 1939,pg11). Uma ação executiva hipotecária movida por Ventura Pinto contra Gastão, em abril de 1939, talvez reforce a declaração de Iracema. Gastão teve seus bens penhorados…Nos jornais, em todos eles, que noticiaram o suicídio, dizia-se que ele contava com 48 anos de idade naquela ocasião. O jornal Pranove, órgão oficial da Rádio Mayrink Veiga, em sua edição de novembro de 1938, apresenta uma reportagem especial sobre a cidade de Campos, declarando que dois integrantes de seu corpo artístico, Gastão Bueno Lobo e Jacinto Campista, nasceram naquela cidade. Estas informações eram suficientes para concluir que Gastão nascera em 1891 na cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Apesar dos avanços, nada pude apurar sobre sua família.

Duas notícias encontradas no início do século vinte, pareciam jogar por terra minhas suposições…Na edição de 10 de setembro de 1904, do Correio da Manhã, pg3, encontrei o seguinte:

“Salve 10-9-904! É hoje o dia em que as flores mais rescendem seus perfumes e os passarinhos dobram seus maviosos cantos par saudar o decimo nono aniversário do simpático Gastão Bueno Lobo, e que esta data se reproduza por muitos anos, cheia de felicidades. É o que deseja sua admiradora C.D.O”.
Por outro lado, no Jornal do Brasil de 07 de maio de 1906, encontrei, na seção forense, pg 4:
“Emancipação: Maria Isabel do Carmo, mãe do menor Gastão Bueno Lobo. Promova-se o arbitramento da causa”.

Essas duas notícias indicam claramente que Gastão nasceu em 10 de setembro de 1885 e que sua mãe se chama Maria Isabel do Carmo. Além disso, a notícia do Jornal do Brasil refere-se à uma data bem anterior.

De fato, consultando a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, deparei-me com uma série de cartas abertas publicadas em O Paiz, entre os dias 10 e 14 de abril de 1896, nas quais o sr Eugenio Pinto Vieira, tutor dos menores Antônio e Gastão Bueno Lobo, filhos do Capitão-Tenente Antônio José Bueno Lobo, e o advogado contratado pela mãe dos meninos, um acusando o outro…Sem entrar no mérito da questão, em que o tutor era acusado de usar a quantia do montepio em proveito próprio, obrigando a que a mãe arcasse com as despesas de educação, no Colégio Abílio, e de vestuário dos menores, o que nos interessa é que agora descobrimos a família de Gastão Bueno Lobo, tendo por pais o Capitão-Tenente Antônio José Leite Lobo e Maria Isabel do Carmo e Antônio Bueno Lobo como irmão.

Antônio José Leite Lobo, engenheiro especializado em hidráulica, seguiu carreira militar, chegando a Capitão-Tenente da Marinha. Uma brilhante carreira foi interrompida por uma enfermidade mental, tendo Leito Lobo sido reformado por volta de 1886. De acordo com o jornal A Época, Leite Lobo vivia há alguns anos com Maria Isabel do Carmo na rua do Hospício nº 240, com quem teve três filhos menores. No dia 28 de fevereiro de 1888, Leite Lobo chegou em sua residência à noite, mais alterado que de costume. Ele discutiu com Maria Isabel, chegando a ferir nas costas o pequeno Gastão, fazendo uso de um canivete. Ela então disse a Leite lobo que o chamavam na porta. Assim que ele saiu, ela trancou a porta, deixando-o do lado de fora. Enfurecido, Leite Lobo começou a arremessar garrafas em direção a sua casa e a vociferar ferozmente contra ela. O policial que fazia a ronda, chamou então outros policiais para deter o transtornado Leite Lobo, que pelo uso da força, entenda-se socos, pontapés e pranchadas, o levaram para a cadeia. Pela manhã o Tenente-Coronel Luiz de Baudepaire Rohan, seu tio, foi até para soltá-lo e acabou sendo desacatado. A prisão brutal de Leite Lobo e o desacato a Baudepaire Rohan causaram indignação nos meios militares. Uma reunião secreta no Clube Naval, para tratar desse caso, contou com o apoio do Exército, na figura do Marechal Deodoro. O caso Leite Lobo, como ficou conhecido o episódio, contribuiu para aumentar o descontentamento das forças militares com o Império. Em 13 de janeiro de 1889, Antônio José Leite Lobo faleceu aos 46 anos, na Casa de Saúde Dr. Eiras, onde estava internado. Em 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República. Sobre esse assunto, o leitor interessado pode consultar o artigo de Luiza das Neves Gomes, disponível na internet, com o título: “O Clube Naval e a Proclamação da República: Ideologias e sentimentos republicanos dos Oficiais da Marinha entre 1884 até 1889”.

Dos três filhos de Maria Isabel do Carmo e Antônio José Leite Lobo, encontrei referencias somente à Antônio e Gastão. Enquanto Antônio estudou no Colégio Militar e depois formou-se em Medicina, Gastão seguiu numa vida de aventuras, viajando mundo afora. As informações sobre Gastão no período 1905/1925 são muito escassas, de modo que divulgarei aqui o pouco que consegui apurar, seguindo apenas ordem cronológica. Assim, por exemplo, é noticiada a vista do Grupo da Boa Ideia à redação do jornal Gazeta de Notícias, nos festejos do carnaval de 1909 (Gazeta de Notícias, 22/02/1909, pg 2):

“Nhozinho cantou coisas interessantíssimas, com uma voz excelente, acompanhado ao violão por Gastão Bueno Lobo, que é um mestre neste instrumento, e por Fontenelle, um flautista de mão cheia”.
Em seu livro “Samba, sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores” (Funarte, Rio de Janeiro,1978,2ª edição), Orestes Barbosa, diz, ao falar sobre o violão, que:

“O violão teve se apogeu tocado pelo extraordinário Quincas Laranjeiras, por Jacomino(Canhoto), Arthidoro da Costa, Grey e Ernani Figueiredo. E estão aí em pleno sucesso: Brant Horta, Castro Afilhado, João Pernambuco, Rogério Guimarães, Tute, Jacy Pereira (Gorgulho), Pereira Filho, Glauco Vianna, Josué de Barros, Gastão Bueno Lobo, Carlos Lentini, Ernesto dos Santos (Donga), Miranda, Mozart Araujo e J. Medina, só para citar alguns”.

Do acima exposto, fica evidente que Gastão era conhecido e reconhecido por suas habilidades no violão.
Uma multa de transito aplicada à ele pela Inspetoria de Veículos, em 03 de junho de 1911, revela que até esta data Gastão Bueno Lobo esteve no Rio de Janeiro (O Paiz,04/06/1911). Outro fato interessante da mesma época: Gastão Bueno Lobo e sua esposa, vindos do Rio de Janeiro pelo paquete Bahia, chegaram em Belém, PA, no dia 27 de setembro daquele ano (Estado do Pará, 27/09/1911) e embarcaram no navio Rio Negro com destino a Lisboa no dia 04 de outubro (Estado do Pará, 04/11/1911-pg 3, Notas Comerciais/Passageiros). Seria essa sua primeira viagem internacional? Seu amigo dos últimos anos, Tito Bezerra de Menezes, a quem já nos referimos (Gazeta de Notícias-11/06/1939-pg9), disse que Gastão triunfara, além da Europa, no Japão, em Nova York e na Broadway. É provável que ele tenha estado nesses lugares nessa viagem, assim como é provável que ele tenha aprendido a tocar guitarra havaiana com os nativos no Havaí. A próxima notícia sobre ele é a de sua chegada no Porto de Santos, SP. Em 26 de agosto de 1915, atracaram naquele porto os seguintes navios: Frisia, holandês, procedente de Amsterdam, Vestris, inglês, procedente de Nova York e os nacionais Itaperuna e Itaquera. O Correio Paulistano, na sua edição de 27 de agosto de 1915, dá a relação nominal dos passageiros desembarcados no Porto de Santos, sem especificar em qual navio eles estavam. Desta relação geral, consta o nome de Gastão Bueno Lobo. Somos tentados a acreditar que ele tenha vindo no Vestris, de Nova York. Entretanto, não encontrei evidencias em número suficiente para afirmar que ele tenha ficado no exterior de novembro de 1911 até agosto de 1915, assim como desconheço inteiramente o caminho que trilhou e em quais lugares se apresentou. Também não encontrei notícias de Gastão no período de 1915/1925…

A próxima notícia que encontrei, após um longo tempo, é datada de 07 de setembro de 1926(Gazeta de Notícias, 07/09/1926-Gazeta Theatral), informando que:

Após se exibir em teatros de S Paulo e Santos, está atualmente no Rio o duo Les Loups.São dois eximios guitarristas os nossos patricios Gastão Bueno Lobo e Oscar Moreira.

Em S Paulo, onde foram acolhidos com simpatia pelo público, realizaram no Apollo um espetáculo em benefício da Associação Brasileira de Imprensa. Devem apresentar-se proximamente ao público do Rio.

Fiquei surpreso com isso, pois pensava que eles tivessem usado Les Loups após a ida à Europa…

A nota acima fornecia bons indícios para aprofundar a pesquisa sobre o duo. De fato eles se apresentaram em S Paulo no mês de junho entre os dias 1 e 18 com a Companhia Brandão/Palmeirim, no Apollo (Correio Paulistano. 01-03-18/06/1926-Seção Theatros). Após essa temporada é provável que tenham ido se apresentar na cidade de Santos para então chegar ao Rio de Janeiro.

Já na então Capital da República eles se apresentam no Cine Theatro Central, dividindo o palco com Ferreira da Silva, cômico conhecido por seus quadros caipiras, Les Plastons e La Soberana, dentre outros (Correio da Manhã- 09/10/1926, pg 6. Telas e Palcos: Central). Naquela época os cinemas apresentavam espetáculos na tela e no palco: Na tela, o filme a ser exibido e no palco artistas exóticos apresentavam números bem variados. Assim no dia 12 de outubro naquele mesmo cineteatro aparecia como cartaz na tela o filme Um Demolidor Original, com Reed Howes e no palco Les Loups, os reis do violão e guitarra havaiana; Ferreira da Silva com suas criações caipiras e Olga e Remo, equilibristas excêntricos (Correio da Manhã-12/10/1926, pg 16. Anuncio: Cine Theatro Central; Jornal do Commercio-12/10/1926, pg 24- Cinema Theatro Central). Ainda em outubro eles se apresentaram na mesma casa, nos dias 16 e 17, dividindo o palco com a Troupe Plus Ultra, a cantora lírica Luiza d’Altaville e Halifax com seus cães amestrados (Correio da Manhã- 16 e 17/10/1926- Anuncios).

Duas incursões em programas radiofônicos foram feitas em outubro, ambas na Rádio Club. Na programação desta emissora para o dia 15 constava que (Jornal do Brasil-15/10/1926-Radiotelephonia: Radio Club do Brasil):

Das 21 horas em diante. Transmissão de músicas leves pela Orchestra da Radio Club e Les Loups, guitarristas hawayanos.

A outra apresentação deles ocorreu no dia 20, na mesma emissora (Jornal do Brasil-20/10/1926-Radiotelephonia: Radio Club do Brasil.

No cartaz do Cinema Theatro Central do dia 26 de Outubro de 1926, Les Loups eram apresentados como celebres violonistas (Jornal do Commercio-26/10/1926, pg 24- Cinema Theatro Central), e esta foi a última apresentação deles que encontrei naquele ano na cidade do Rio de Janeiro. Uma apresentação do duo Les Loups em Salvador, BA, em 24 de novembro de 1926, indica que o duo partira em excursão. No cartaz do Theatro Guarany encontrava-se em destaque (A Capital, Salvador, Bahia-24/11/1926):

Sensacional sucesso dos célebres guitarristas Les Loups, mestres consumados no violão e na guitarra.
Ao mesmo tempo, apresentava-se em Salvador, a troupe de variedades Plus Ultra, cuja estreia se deu em 14 de novembro, no Polytheama Bahiano. A troupe lá se apresentou até o final de novembro. Eles chegam em Recife em 01 de dezembro, e a imprensa local anunciava (Jornal do Recife.30/11/1926):
Plus Ultra é o título de uma troupe de variedades esperada nesta cidade na próxima quarta. Da Plus Ultra, que se acha trabalhando na Bahia, fazem parte doze mulheres, inclusive um grupo de girls que tem feito o maior sucesso.

A chegada da troupe gerou comentários na imprensa (Jornal do Recife.02/12/1926):
Do sul da República, onde conseguiu extraordinário êxito, chegou ontem a esta cidade a troupe de variedades Plus Ultra, que estreia amanhã no Heveltica. Do elenco, destacam-se Angeles Luli, cantora hispano-Argentina, Pablo Palos (Palitos), cômico excêntrico, Rosita Ayala, primeira bailarina e Les Loups, guitarristas internacionais.

Não é possível afirmar que o duo Les Loups tenha se integrado à Plus Ultra ainda no Rio de Janeiro, mas é bem provável que sim, já que no mês de outubro eles atuavam no mesmo lugar, no Cine Theatro Central. A temporada da troupe no Recife estendeu-se até 24 de dezembro de 1926. Ainda em Recife e agora não mais se apresentando com a Plus Ultra, o duo participou de um concerto em benefício da viúva e filhos do Dr Armando Gayoso, organizado pelo tenor Reis e Silva, contando também com o violonista e compositor Alfredo Medeiros, no dia 04 de janeiro de 1927, no Theatro Santa Isabel. O ponto alto foi, sem dúvida, o concerto realizado em benefício do próprio duo Les Loups, realizado em 07 de janeiro daquele ano, no mesmo teatro. Participaram os tenores Reis e Silva e Della Valle, o bandolinista Luperce Miranda e o violonista Alfredo Medeiros. Em um dos números, Oscar Moreira (o violonista do duo) apresentou um solo de violão, e no último número da apresentação, todos os violonistas executaram músicas nacionais (Jornal de Recife. 07/01/1927).

1927 foi, sem dúvida alguma, um ano de grandes acontecimentos na música popular brasileira, fervilhando de eventos significativos, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. O concurso O Que é Nosso, patrocinado pelo Correio da Manhã deu a partida, mobilizando o público através de intensa propaganda. Existia um cunho nacionalista expresso no próprio nome do evento! Vários concursos foram realizados, destacando-se o de violão que teve três vencedores: Manoel Lino, violonista cego e integrante do conjunto Turunas da Mauricéa, Americo Jacomino, o canhoto e a então menina Yvone Rebello, filha e discípula do conhecido Zé Cavaquinho. Sambas, emboladas, choros, maxixes e cateretês desfilavam ao longo daquele ano e novos artistas se apresentavam ao lado de outros já consagrados. Nomes como Quincas Laranjeiras, Melchior Cortez, Levino Albano da Conceição, Américo Jacomino, João Pernambuco, Catullo da Paixão Cearense apresentavam-se renovados ao lado de artistas novos como Rogério Guimarães, Lourival Montenegro, Henrique Brito, Luperce Miranda e o cego Manoel Lino. Foi nessa atmosfera densa de eventos artísticos que o duo Les Loups se apresentou antes de seguir para a Argentina e depois para a Europa.

Pois em meio a esse turbilhão, Les Loups continuava a se apresentar em cineteatros, estreando em 25 de janeiro (1927), fazendo um ato variado entre as sessões. No palco, a Companhia Juvenal Fontes encenava a revista Cocktail e na tela era apresentado o filme Ouro sem Dono, estrelando Tom Mix (Gazeta de Notícias-25/01/1927(pg 8) e 27/01/1927(pg 5). Anuncios)

Em fevereiro e março não encontrei rastro deles nas programações radiofônicas e de cineteatros, reaparecendo o duo em abril, em grande estilo. Trabalhando junto a Companhia Tangará, que encenava a peça Rabo de Palha, eles se apresentaram no Cine Teatro Glória nos dias 18 e 19 (abril). A crítica não poupou elogios às apresentações do duo (O Paiz, pg 4-18 e 19/04/1927-Artes e Artistas: Cine Teatro Gloria):

Despertaram intermináveis aplausos da plateia as músicas executadas ao violão de maneira realmente magistral, por dois executores raros.

Na semana seguinte, no dia 24, a Companhia Tangará aparecia no Cine Odeon, dentro da Semana Portuguesa, encenando a peça Teia de Aranha, com música de Sinhô (O Paiz, pg 10- 24/04/1927. Semana Portuguesa no Odeon). Na tela o interessante filme Asas de Portugal em Águas da Guanabara, sobre a chegada do avião Argus. Os pilotos Sarmento de Beires, Manoel Gouveia e Jorge Castilho atravessaram o Atlântico num vôo noturno. No palco, além da peça, estavam Les Loups tocando fados, como seria de se esperar dentro de um evento com aquele nome…

Novamente a crítica se desmanchou em elogios (A Manhã, pg 6- 24/04/1927. A Semana portuguesa no Odeon):

Les Loups, esses extraordinários guitarristas que estão trabalhando com a Companhia Tangará, executarão números de fados, encantadores.

Um grande feito da aviação brasileira foi a travessia do Oceano Atlântico pelos aviadores Newton Braga e João Ribeiro de Barros, a bordo do Jaú. Uma das muitas homenagens feitas aos bravos pilotos, que contou inclusive com S. Ex. o Sr Presidente da República foi a realizada no dia 8 de julho (1927) no Teatro João Caetano. Foi encenada a revista 1002 de Henrique Pongetti e Leda Rios, com ato variado em que participaram Vicente Celestino, Pinto Filho, Palmeirim Silva, Les Loups e os Oito Batutas, dentre outros (A Manhã- 08/07/1927, pg. 4. Anuncios).

O título da peça de Marques Porto e Luiz Peixoto era uma clara alusão ao Presidente Washington Luiz, e transformou-se num grande sucesso da Companhia do Recreio (Teatro). Esta peça foi representada também em 21 de junho, integrando a festa do tenor Artur de Castro, ocorrendo também dois atos variados com Ivete Rosolen, Henriquieta Brieba, Elza Gomes, Alda Garrido e Artur Castro acompanhado pelo duo Les Loups (Arthur Castro e sua festa artística. Artes e Artistas. O Paiz, 20/07/ 1927, p 4).

No dia 2 de agosto Les Loups estrearam no Cine Teatro Central com grande sucesso (Correio da Manhã, pg 14- 02/08/1927-Anuncio)e lá ficaram ao longo daquele mês, apresentando-se no palco ao lado de acrobatas, bailarinos e sapateadores ( Correio da Manhã- Telas e Palcos,pg.6. 31/08/1927).

Neste mês de agosto ocorreu um evento interessante, em que muitos artistas se mobilizaram para produzir um grande espetáculo cuja renda foi destinada para a compra de um busto do empresário J. Stampa (O Paiz, pg.22-14/08/1927-Anuncio: Trianon). O evento realizado no Trianon no dia 15 daquele mês,consistiu de uma apresentação da peça A Ceia dos Coroneis e de um extenso ato de variedades com a presença de Alda Garrido, Lia Binatti, Itala Ferreira, Catullo da Paixão Cearense, João Pernambuco, Levino Albano da Conceição e Les Loups.

A última referência ao duo Les Loups pro mim encontrada data de 29 de setembro: Eles se apresentaram na terceira parte de uma festa oferecida pela Sra Antoine Cassal, num concerto no qual também tomaram parte o violinista Henrique Fernandes, o tenor Machado Del Negri e o barítono Roberto Vilmar (Jornal do Commercio-27/09/1927-Theatros e Música:Diversas Notícias).

A única pista que encontrei sobre Oscar Moreira, foi publicada no jornal Correio Paulistano, em sua edição de 06 de fevereiro de 1921, pg 3, Theatros: Audição de violão:

Uma interessante audição foi a que nos proporcionou ontem `a noite, no salão nobre desta folha, o menino Oscar Moreira, um pequeno trigueiro de seus dez anos de idade que, acompanhado de seu pai, Sr. Jorge Moreira, executou programa musical ao violão.

Oscar Moreira, que revela decidida vocação para a música, executou em um instrumento bastante deficiente, um interessante programa em que figuravam várias composições de sua lavra. Oscar Moreira, cuja família reside em Catanduva, neste estado, pretende exibir-se nesta capital, tendo já fechado contrato com um empresário.

Mais informações sobre Oscar, pude obter no excelente documentário “Oscar Alemán, vida com swing”, de Herman Gaffet(2002): http://youtu.be/H56EdW1f0_w

Outra fonte interessante sobre ele: http://oscar-aleman.blogspot.com

Oscar Moreira foi registrado como Oscar Marcelo Aleman, nascido em Resistencia, Chaco, Argentina, em 20/02/1909. Ele foi o quarto filho do casal Jorge Alemán Moreira e Marcela Pereira, de origem humilde.

Lutavam com extrema dificuldade, trabalhando na lavoura, até Jorge decidir, em 1915, tentar a sorte em Buenos Aires com sua família, apostando nas habilidades musicais de seus filhos, e lá formam o Sexteto Moreira, que apresentava músicas típicas. Com o nascimento de Herminia e Henrique e a morte do filho mais velho Rodolfo, a situação econômica deles complica-se ainda mais, já que a atividade musical por si só não prove o seu sustento. Jorge obtém uma representação de vendas de algodão e tabaco, e ruma para o Brasil, deixando em Buenos Aires sua esposa Marcela e seus filhos menores Herminia e Henrique. Parte do dinheiro ganho no Brasil seria enviado para ela e os pequenos. Infelizmente, o plano fracassa inteiramente, pois o conjunto musical formado por Jorge, Carlos, Jorgelina, Juana e Oscar não obtém o êxito esperado, e mesmo a venda de produtos não atinge resultados satisfatórios. Para agravar ainda mais a situação, Jorge é informado que o dinheiro que enviava para Buenos Aires não chegava até sua esposa Marcela. Ele vai até lá, encontrando sua esposa morta e seus filhos pequenos num orfanato. Jorge retorna ao Brasil, já corroído pela depressão e se entrega ao álcool. Tenta ainda estimular a carreira artística do mais musical de seus filhos, o jovem Oscar, mas não resistindo ao sentimento que lhe atordoava a alma, comete suicídio em 1921, jogando-se de uma ponte. Com mais esta tragédia, cada um dos filhos segue seu próprio caminho e Oscar vê-se entregue à própria sorte, e passa a viver como menino de rua na cidade de Santos, SP, lustrando sapatos e vendendo jornais. Do pouco dinheiro que consegue, passa a guardar uma parte. Tem uma meta: comprar um cavaquinho! Quando consegue juntar quantia suficiente, pede à um luthier daquela cidade que fabrique um cavaquinho para ele. No ano de 1923, ainda na cidade de Santos, encontrou Gastão Bueno Lobo que, reconhecendo o talento do menino e sensibilizando-se com a situação em que o mesmo se encontrava, resolve preparar Oscar para a vida artística, ensinando-lhe os segredos que muito bem conhecia do violão. Em 1926, com Oscar muito bem preparado, eles formam o duo Les Loups (Os Lobos), numa alusão ao sobrenome de Gastão. A tragédia vivida por Oscar certamente influiu na atitude tomada por Gastão, que deve ter se lembrado de sua própria tragédia familiar…

De acordo com o documentário sobre Oscar, baseado em relatos do próprio, seu aprendizado musical deu-se com o cavaquinho, surgindo o violão quando de seu encontro com Gastão Bueno Lobo e por influência dele. Entretanto, a notícia dada pelo Correio Paulistano em 06 de fevereiro de 1921, mostra que Oscar já dominava inteiramente os segredos do violão…Algumas imprecisões de datas, quando comparadas às notícias publicadas em jornais, são notadas naquele documentário.

Após a temporada no Brasil, já descrita em detalhes linhas acima, o duo Les Loups seguiu para Buenos Aires, onde chegaram no final de 1927.

O duo atuou com sucesso no Teatro Casino, depois no Chantecler e Tabarís. Eles foram contratados pela Victor, tendo gravado os seguintes discos na Argentina:

Discografia Les Loups (Extraido de http://oscar-aleman.opweb.nl/tune1.htm#1927)

Gravado em 10 dezembro 1927 Gravado em fevereiro 1928

Gravado em 02 maio 1928 Gravado em 08 agosto 1928

Gravado 30 agosto 1928 Gravado 08 agosto 1928

Gravado 26 setembro 1928 Gravado 17 dezembro 1928

Gravado 08 agosto 1928

Discografia Trio Victor ( Extraido de http://oscar-aleman.opweb.nl/tune1.htm#1927):
O Trio era formado por Gastão Bueno Lobo, Oscar Aleman e Elvino Vardano, famoso violinista argentino.
Gravados em 17 de janeiro de 1929…………………………………………….

Gravado em 1929.

No final de 1928, o dançarino norte-americano Harry Fleming, com sua orquestra formada por 16 músicos, chega em Buenos Aires, onde apresenta o musical Hello Jazz. Fleming contrata o duo Les Loups, convidando-os para uma tournée pela Europa.

Em janeiro de 1929 eles deixam Buenos Aires, e já no dia 24 de janeiro apresentam-se em Montevidéu, no Teatro 18 de Julio. Em fevereiro partem para a Europa, apresentando-se inicialmente na Espanha e depois Portugal, Bélgica, Suissa, Holanda, Alemanha, Itália e novamente Espanha, em Barcelona e Madrid, em maio de 1931. Estima-se que por esta época, o duo Les Loups tenha deixado a troupe de Harry Fleming. Informações mais detalhadas sobre este período podem ser obtidas em:

A partir daí, as informações sobre o que motivou o fim do duo Les Loups são ainda mais imprecisas. Em alguns lugares, como no documentário, é dito que Gastão Bueno Lobo descobriu que estava com uma doença incurável, provavelmente um câncer, e por este motivo decidiu voltar ao Brasil, deixando que Oscar Aleman seguisse carreira solo. Em outros lugares, como no blog sobre Oscar, relata-se que Josephine Baker, que procurava um guitarrista para sua orquestra, foi procurada por Gastão Bueno Lobo, que viajara de Madrid à Paris, para preencher a vaga. Entretanto, os músicos de músicos de sua orquestra pediram que ela contratasse o outro, que ficara na Espanha! Preferiam a Oscar…De acordo com Rainer Lotz, em artigo (Harry Fleming: Der dandy aus Harlem), citado no blog acima mencionado, Gastão Bueno Lobo, desesperado e deprimido, voltou então ao Brasil. Seja qual for a versão escolhida, encontra-se que um Gastão deprimido e decadente volta ao Brasil, enquanto que um exuberante Oscar inicia uma carreira gloriosa como guitarrista, chegando a ser comparado a Django Renheirt.

Já de volta ao Brasil em 1932, Gastão reaparece no cenário artístico no mercado fonográfico, como compositor e intérprete. Pela Columbia, ele grava em solo de guitarra havaiana, o disco nº 22.119 com os tangos Confesión (E.S Discepolo/ Luís Cesar Amadori) e La Cumparsita (Gerardo H. Mattos Rodrigues), duas músicas do repertorio dos Les Loups. Ainda pela Columbia ele grava como intérprete, o disco nº 22.170, com a valsa Sonho que Passou (Gastão Bueno Lobo/ Jacy Pereira”Gorgulho”) e o choro “Luizinha” (Henrique Vogeler). Em ambas as faixas, o acompanhamento ficou a cargo dos Quatro de Ouros, cujos componentes ignoramos. Uma curiosidade: Em seu livro Gente da Madurgada (Guaravira ed, 1982,pg 170), o compositor Bororó ao se referir a boemia na Lapa antiga, falando das mulheres da noite, cita “Luizinha de Andrade, do Gastão Bueno Lobo”. Seria aquele choro uma homenagem à sua musa?

Em 09 de abril de 1932, o conjunto Namorados da Lua gravou a rumba Pampeira, de Rogerio Guimarães e Gastão Bueno Lobo, no disco nº 33.549-b da Victor. Ainda no mesmo ano o cantor Castro Barbosa gravou duas composições de Gastão Bueno Lobo: a valsa Noite Azul, com letra de Valdo Abreu, e o choro Macio, no disco nº 22.140, da Columbia. Em ambas as faixas, acompanhamento de guitarra havaiana (feito por Gastão) e violões (não identificados).

Em dezembro de 1932 foi lançado o disco nº 22.162 da Columbia, com o cantor Moacir Bueno Rocha interpretando o fox-canção Olhos Passionais, de Gastão Bueno Lobo e De Chocolat. A valsa havaiana A Abelha e a Flor, de Guilherme Pereira e Orestes Barbosa completa o disco. Em ambas as faixas, acompanhamento de guitarra havaiana por Gastão Bueno Lobo.

Gastão integrou-se imediatamente à vida cultural da cidade, participando de vários eventos, como no recital da cantora e atriz Laura Suarez, realizado em 02 de julho de 1932, no Theatro Casino, que despertou grande expectativa na imprensa. Na primeira parte do recital, Laura interpretou músicas tipicamente brasileiras, enquanto que na terceira parte apresentou canções havaianas, certamente com auxílio de Gastão Bueno Lobo. A segunda parte contou com a cantora Elisa Coelho de Andrade, o cantor Silvio Caldas e Gastão, em solos de guitarra havaiana (Beira Mar, 25/06/1932, pg 2). Em 11 de agosto, numa comemoração no Fluminense F.C, Gastão Bueno Lobo forma um duo com o violonista Jacy Pereira “Gorgulho”, tal como fizera com Oscar Aleman. Ainda neste espetáculo, apresentou-se Stefânia de Macedo, em canções brasileiras ao violão (Correio da Manhã, 11/08/1932, pg 5). Ainda em agosto, na última semana, ele atua no ato variado no Cine Odeon ao lado de Sonia Barreto, Olga Jacobina, Moacir Bueno Rocha, Octaviano Romero e Rodolfo Prando. Nos acompanhamentos, a Orquestra Columbia, dirigida por Napoleão Tavares, sendo Gastão um de seus integrantes (Diário da Noite, 23/08/1932, pg 5 e A Noite, 27/08/1932, pg 5 e Diario Carioca, 21/08/1932, pg5). O espetáculo A Canção no Brasil,organizado por Bento Gonçalves e realizado no Trianon ao longo de agosto de 1932, tinha lotação esgotada em todas as apresentações. De acordo com o jornal A Batalha (21/10/1932, pg 4), tal sucesso era devido ao elenco, em que se destacavam Zoraide Aranha, Lilian Paes Leme, Malena de Toledo, Sonia Barreto, Irmãos Tapajós, Luperce Miranda e Tute, Gastão Bueno Lobo e Luis Americano (Diário de Notícias,13/08/1932, pg 8). Nos dias 27,28,29 e 30 de outubro, Patricio Teixeira organizou as Noites Brasileiras no Cine-Teatro Imperial, em Niteroi. Para este evento, Patricio convidou Pereira Filho e seu Regional e o duo Gastão Bueno Lobo/Jacy Pereira “Gorgulho”.

De maio a junho, Gastão aparece na programação da Rádio Phillips, sempre ao lado de Carlos Lentine e Jacy Pereira “Gorgulho”.

Outubro de 1932 marca o ingresso de Gastão na Rádio Mayrink Veiga. Num programa comemorativo ao aniversário do “Esplendido Programa”, ao longo do dia 30 naquela emissora, Gastão foi uma das atrações de 12 às 15 h, ao lado de Luperce Miranda, Ary Barroso, Laura Suarez, Jacy Pereira “Gorgulho”, Silvio Caldas, Patricio Teixeira e Orchestra Jazz, conduzida por Custódio Mesquita (A Batalha, 30/10/1932, pg 3).
Em 1933, Gastão continua suas apresentações na Rádio Mayrink Veiga. A apresentação de 09 de abril dá uma ideia do elenco daquela então poderosa emissora (Correio da Manhã, 09/04/1933,pg 9):
Das 12 horas em diante: Madelou de Assis, Helena Fernandes, Castro Barbosa, Silvio Caldas, Leo Villar, Tute, Luperce Miranda, Pixinguinha, Jacy Pereira, Gastão Bueno Lobo, José Maria de Abreu, Patricio Teixeira e Custódio Mesquita.

Na Festa da Amizade, realizada em 09 de outubro de 1933 na Escola de Intendência do Exército, um verdadeiro time de cobras foi convocado para o evento: Benedito Lacerda em solos de flauta e acompanhado pelo conjunto Gente do Morro, Pereira Filho em solos de violão, Laura Suarez em canções, Castro Barbosa e Gente do Morro, em sambas e o duo Gastão Bueno Lobo/Jacy Pereira “Gorgulho” (A Noite, 08/10/1933, pg 3).
( O Malho, 16/05/1935)

Se nos anos 1932/33, Gastão procurava reeditar com Jacy Pereira “Gorgulho” o duo guitarra havaiana/violão que tanto sucesso alcançou com Les Loups, em 1934 ele se apresentou ao longo daquele ano com sua própria orquestra. Nos programas da Rádio Mayrink Veiga desfilavam então as orquestras Original, de Gastão Bueno Lobo, Danças, de Napoleão Tavares, Salão, do maestro Vivas, Típica Argentina, de Muraro e Regional, de Bomfiglio Oliveira. A atuação de Gastão naquele ano restringia-se as apresentações radiofônicas. Uma exceção foi sua participação na Festa de Arte de Custódio Mesquita, realizada em 17 de junho (O Fluminense, 15/06/1934,1ª pg). Prestaram sua homenagem ao amigo e músico os seguintes artistas: Lú Marival, Silvia Mello, Marilia Batista, Orquestra PRA-9, Bando da Lua, Patricio Teixeira, Silvio Caldas e Gastão Bueno Lobo.

Em praticamente todo o primeiro semestre de 1935, Gastão continua à frente da Orquestra Original, na programação da Rádio Mayrink Veiga. A chegada de Zezinho (José do Patrocínio Oliveira) a esta emissora em junho daquele ano estimula Gastão a organizar o Conjuncto Hawaiano, tendo ele como líder e contando com Nelson Alves, Henrique Brito e Zezinho. Já no final do mês de junho, o conjunto alcançava grande sucesso em suas apresentações na Mayrink (Gazeta de Noticias, 21/06/1935, pg 10). O Conjunto Havaiano de Gastão Bueno Lobo apresentou-se com sucesso na Mayrink até o final de 1935 e também nos três primeiros meses de 1936. Com a viagem de Zezinho à Europa em abril daquele ano, levando os músicos Laurindo Almeida (violão), Lauro Paiva (pianista), Oracy Camargo (saxofonista) e Benedito Augusto Lapa (baterista) (Diario de Pernambuco, 18/04/2936), este conjunto interrompeu suas atividades. Após três meses em solo europeu, a dupla Zezinho/Laurindo retorna, mas por breve tempo, pois já em julho estavam seguindo para Buenos Aires, contratados pela Rádio Belgrano, retornando ao Brasil em setembro. No dia 10 de setembro, o jornal Gazeta de Notícias assim publicou, em sua coluna Rádio, na página 8:

Os meios radiofônicos festejam hoje a data de aniversário de Gastão Bueno Lobo, que integra o Conjunto Regional da Mayrink Veiga.

Inúmeras serão as homenagens prestadas ao querido musicista, tão grande é o seu prestígio e as admirações com que ele conta.

Ainda na mesma página, no anuncio do suplemento musical da Hora do Brasil organizado pela Mayrink Veiga, feito pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, o Conjunto Havaiano de Gastão Bueno Lobo executou a valsa Noite Azul (Gastão Bueno Lobo) e o choro Lábios Rubros, de Aldo Taranto.

O cartaz acima mostra o programa do concerto realizado no Salão Leopoldo Miguez, do Instituto Nacional de Música, em 24 de novembro de 1936. O Conjunto Havaiano de Gastão Bueno Lobo atua na terceira parte com sua nova formação: Gastão Bueno Lobo, Laurindo Almeida, Garoto e Aimoré, estes dois últimos recém contratados pela Mayrink Veiga. Eles atuam com grande sucesso naquela emissora até o final do ano de 1936.

(Vida Doméstica,maio 1937,pg28)

Na foto acima, o duo Gastão Bueno Lobo (guitarra havaiana) e Laurindo Almeida (violão) em ação num programa da Rádio Mayrink Veiga, em 1937. Eles atuaram em duo ao longo dos cinco primeiros meses daquele ano, com destaque para o programa organizado pela Mayrink para a Hora do Brasil, em 03 de abril, onde eles interpretaram o samba-canção Só por tí, de Aldo Taranto e a valsa de autoria do próprio Gastão, Guarda na boca esse beijo. Nos meses seguintes, ele apresentou-se na Mayrink em solos de guitarra havaiana e com sua Orquestra Típica Havaiana, além de integrar o regional daquela emissora. Este regional foi um dos mais (ou talvez o mais) importante regional de emissoras de rádio de todos os tempos, e era formado por Pixinguinha, Luperce Miranda, Tute, Gastão Bueno Lobo e Laurindo Almeida (O Imparcial, 30/05/1937-edição de aniversário).

Nos cinco primeiros meses do ano de 1938, Gastão Bueno Lobo participou de vários programas da Mayrink em solos de guitarra havaiana, além de integrar o conjunto regional da emissora.

Gastão tinha grande prestígio e era muito respeitado por seus colegas de trabalho, sendo frequentemente chamado a participar de apresentações em teatros e clubes, como na festa realizada no América Futebol Clube, em julho de 1938 (O Imparcial,16/07/1938), em que atuaram Odete Amaral, Carlos Galhardo, Moreira da Silva, Ciro Monteiro e o duo Gastão Bueno Lobo/Laurindo Almeida.

Em agosto de 1938, Cesar Ladeira recebeu homenagens por ocasião do lançamento de sua primeira peça teatral intitulada Rifa-se uma mulher. Ao término de cada uma das duas sessões apresentadas no Teatro Gloria, deu-se a apresentação dos seguintes artistas, todos eles da Mayrink: Muraro, Carlos Galhardo, Araci de Almeida, Luperce Miranda, Gastão Bueno Lobo, João da Bahiana e Placido e Cordelia Ferreira. (O Imparcial,11/08/1938, pg.14).

Gastão também participou de duas festas de Moreira da Silva, ambas no Cine-Teatro Central, em Niteroi. A primeira delas aconteceu em 27 de julho e a segunda em 23 de agosto (A Gazeta,21/07/1938 e A Batalha, 21/08/1938). Praticamente os mesmos artistas participaram em ambas apresentações, com destaque para Pixinguinha e sua Gente, João da Bahiana, Gastão Bueno Lobo e os violões de Valzinho e Valeriano.
Ainda no ano de 1938, Gastão Bueno Lobo gravou pela última vez. O disco nº11.649 da Odeon, gravado em 20 de maio daquele ano, traz duas músicas de Laurindo Almeida:

O choro Inspiração, com solo de guitarra havaiana por Gastão e acompanhamento de Laurindo e Tute, nos violões e a valsa Saudade que Passa, com solo de violão de Laurindo e acompanhamento de Gastão e Tute.
Além de exímio guitarrista havaiano e violonista, Gastão Bueno Lobo foi inspirado compositor. Segue abaixo a relação de suas composições:

1) Hawayanita. Tango (Gravação Victor 79968-a-Les Loups)

2) Criollita. Valsa (Gravação Victor 79968-b-Les Loups)

3) Guitarra que Llora.Tango (Gravação Victor 80839-a-Les Loups)

4) Nadando em Mar de Rosas. Fox-trot em parceria com Oscar Alemán (Gravação Victor 80936-b-Les Loups)

5) La Porteña es uma Papa. Fox-trot em parceria com Oscar Alemán (Gravação Victor 80960-b-Les Loups)

6) Vividor. Tango em parceria com Oscar Alemán (Gravação Victor 47006-b-Les Loups)

7) Para não rimar em dor. Valsa. Letra de Dan Malio- Música inédita em gravação. Acervo de partituras do MIS-RJ (D 3845).

8) És a areia- Sou o mar. Fox-trot em parceria com Jacy Pereira “Gorgulho”. Letra de Alberto Ribeiro. Gravada por Sonia Barreto em Discos Columbia.

9) Guarda na boca esse beijo.Valsa. Letra de Cesar Ladeira.

10) Sua voz…seu amor…Valsa. Letra de Dan Malio.

11) Pampeira. Rumba em parceria com Rogério Guimarães

12) Macio. Choro

13) Noite Azul. Valsa. Letra de Valdo Abreu

14) Sonho que passou. Valsa em parceria com Jacy Pereira “Gorgulho”

15) Olhos Passionais. Valsa. Letra de De Chocolat

16) Se recordar é viver. Valsa, parceria com Laurindo Almeida. Tanto a partitura quanto os versos desta valsa foram encontrados no paletó que Gastão vestia, por ocasião de seu suicídio.

Gastão Bueno Lobo marcou época no rádio brasileiro com sua guitarra havaiana, instrumento em que tirava uma sonoridade ímpar. Nas palavras do renomado pesquisador Ary Vasconcelos (Carinhoso, etc…,pg 30, 1984):

Ele vai introduzir na música brasileira em geral, e no choro em particular, a guitarra havaiana, instrumento que aprendera no Havai.

Dentre seus seguidores na guitarra havaiana, destacamos dois grandes nomes: Anibal Augusto Sardinha, o Garoto, e Ângelo Apolônio, o Poli.

Como uma homenagem à este grande músico e compositor, encerro este artigo com a nota da revista PRANOVE sobre a morte de Gastão Bueno Lobo. PRANOVE é o prefixo da Rádio Mayrink Veiga, P.R.A-9, emissora em que Gastão atuou em seus últimos oito anos de vida.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

3 Comentários

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  1. É só ôba-ôba textual , nada

    É só ôba-ôba textual , nada substantivo .Pura Masturbação de Frases sem sentido .É zero! .JOrge Carvalho de Mello , vá realizar um curso de Graduação em Música em alguma Faculdade .

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