Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A super embaixada de Alberto Fernández em Washington, por André Motta Araújo

Além de ser o novo embaixador argentino nos Estados Unidos, Jorge Arguiello vai comandar as delegações do país junto à ONU, OEA, FMI e ao Banco Mundial

Jorge Argüello, o novo embaixador da Argentina nos Estados Unidos. Foto: Reprodução/Wikipedia

A super embaixada de Alberto Fernández em Washington

por André Motta Araújo

O Presidente da Argentina. Alberto Fernandez, enviou como Embaixador em Washington um dos mais experientes diplomatas argentinos, Jorge Arguiello – que já foi antes Embaixador em Washington, Lisboa e junto a ONU.

Arguiello terá superpoderes: além de chefiar a Embaixada, irá comandar as delegações argentinas junto à ONU, à OEA, ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial. Será um super Embaixador.

Assim que chegou a Washington na última semana, Arguello visitou o Departamento de Estado, onde tem ótimas relações, e está já está coordenando uma visita do Presidente Trump a Buenos Aires e de Fernandez à Washington.

O Departamento de Estado tem grande interesse em estreitar relações com o governo Fernandez por uma razão prática, que atende pelo nome VENEZUELA, como veremos em seguida.

A QUESTÃO VENEZUELANA

Não estando na mesa uma alternativa militar para tirar do poder o grupo de Maduro, considerado no State como uma espécie de Saddam Hussein da América do Sul, resta como único caminho: a NEGOCIAÇÃO para a saída de Maduro, o State não vê outro caminho.

É bom registrar que ao contrario do que a mídia dá a entender, as relações dos EUA com a Venezuela AINDA são normais, há Embaixadas dos EUA em Caracas e da Venezuela em Washington funcionando, a Venezuela tem seu maior investimento no exterior nos EUA,
a grande refinadora e distribuidora de combustíveis CITGO, a 3ª maior rede de postos americana e os EUA ainda são o maior parceiro comercial da Venezuela.

Trump não cogita de uma ação militar e, portanto, só resta o caminho diplomático para resolver essa critica situação que incomoda os EUA em um grande e importante Pais latino americano, que desde 1920 foi um “protetorado” dos EUA, onde os Rockefeller criavam gado de raça e a influência americana era tão grande que o esporte nacional é o baseball não o futebol, como é em toda a América Latina – com exceção de Cuba, outro ex-protetorado americano de 1898 a 1960 e hoje ligado a Venezuela.

Como o atual governo brasileiro se desqualificou completamente como árbitro de qualquer questão com a Venezuela porque tomou lado, por sua vez a vizinha Colômbia tem antagonismo secular com a Venezuela (desde os tempos de Bolivar). Resta como um grande País que pode fazer o meio de campo desse conflito a Argentina e, especialmente, o Presidente Fernandez, um ótimo negociador e aceito pelos dois lados, com cara e coragem.

O BRASIL NO CENÁRIO

Se a Argentina se colocar bem em Washington com essa super Embaixada, o papel de liderança do Brasil no continente, que já é fraco, diminui consideravelmente. Segundo bastidores venenosos de Washington, o Brasil se colocou mal ao bajular Trump: ele, como negociador de bazar, respeita mais quem faz cara feia como fazem Putin, Erdogan, o Kim
coreano.

Com o Brasil não há o que negociar: o Brasil entrega tudo de graça, a base de Alcântara, a isenção de vistos, a importação de etanol sem tarifa, enquanto o nosso etanol TEM tarifa nos EUA; a saída da OMC sem garantia alguma de entrada na OCDE… Tudo isso não criou nenhum capital com Trump, que opera em outra galáxia de jogo duro.

Se Fernandez conseguir alguma coisa na Venezuela – o ideal seria uma saída negociada de Maduro – seu crédito em Washington será enorme e o Brasil vai valer muito pouco.

Mas tudo são hipóteses. Enquanto isso, temos em Washington uma Embaixada chefiada por um interino, sem a estatura que normalmente todos os países conferem à Embaixada em Washington, geralmente o posto final de uma longa carreira em Embaixadas importantes.

Só para citar meu amigo Roberto Abdenur: antes de ocupar o posto em Washington, foi
Embaixador em Viena e junto a Agencia Internacional de Energia Atômica, depois foi Embaixador na Alemanha, e por oito anos Embaixador em Pequim. Só depois chegou ao posto final nos EUA.

Outros Embaixadores importantes também tiveram longas carreiras antecedentes, como Rubens Barbosa, Rubens Ricupero,  Sergio Correa da Costa, Sergio Amaral; uma Embaixada inaugurada por Joaquim Nabuco, e onde brilharam pesos pesados da politica como Oswaldo Aranha, Juracy Magalhaes, Roberto Campos, Paulo de Tarso Flecha de Lima, muitos deles ex-Secretarios Gerais do Itamaraty, grandes estrelas da diplomacia brasileira.

Já o indicado Embaixador tem como capital politico anterior a amizade com Olavo de Carvalho e nenhuma Embaixada previa, um caso quase único na historia do posto, não só na historia diplomática brasileira mas na historia diplomática de todos os países com Embaixada nos EUA, onde a regra é mandar um peso pesado da politica ou da diplomacia para a Embaixada mais importante entre todas.

Isso conta muitíssimo em Washington, e o Brasil se diminui e quase ofende o país anfitrião ao colocar como Embaixador um júnior. Diplomacia é forma e protocolo desde o tempo de Talleyrand e Metternich, e as sinalizações são fundamentais. Qualquer Pais sabe disso, mas o Brasil deve ter esquecido.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

3 Comentários

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  1. Quando o país se livrar dessa insanidade imposta por gente de quinta, a música que retratará a vergonha, que será a única herança desse período ( que chamo de uma até agora disfarçada Trogloditadura) é a música E o Mundo não se Acabou, do genial Assis Valente. Será um período em que o país terá que se retratar com o mundo.

    Adriana Calcanhoto – E o mundo não se acabou
    https://www.youtube.com/watch?v=03hIiKMzBQs

  2. Caro, xará Joel, para nós acabou, sim, ao menos para os que estão vivos ou nascerão nas próxima decada. Governos iguais ao nosso desertificam o futuro, devastam um século à sua frente. Somos, do ponto de vista econômico e geográfico, grandes demais para encontrar a cura na farmácia da esquina. Somos imbecis para sair do ideário da idade média.

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