Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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A trágica normalidade da América Latina e a desconfiança, por Aldo Fornazieri

A trágica normalidade da América Latina e a desconfiança

por Aldo Fornazieri

Antes das ciências sociais a literatura latino-americana tenha sido a primeira a constatar o caráter trágico na América Latina e a normalidade e naturalidade que essa tragédia adquire entre nós. Nos importamos e nos impressionamos com as tragédias dos outros, não com as nossas. Aqui “tudo é normal”, registraram os escritores. Essa normalidade nos conduziu a três condições excepcionais no mundo e sequer as percebemos ou as tratamos com seriedade. A América Latina é a região mais desigual do mundo, a mais violenta do mundo e a que tem o nível mais baixo de confiabilidade interpessoal do mundo. Certamente, as três condições estão relacionadas entre si e a desigualdade é a raiz das outras duas.

Na história da humanidade, as diversas histórias singulares e significativas mostraram que os grandes empreendimentos, as grandes e pequenas lutas pela liberdade, a conquista da glória, formaram acontecimentos que sempre tinham por base relações de confiança, um sentimento de comunidade e de pertencimento fundado numa noção de igualdade. Foi assim entre os cidadãos de Atenas antiga, entre os hebreus que buscaram a terra prometida, entre o popolo romano antigo que conteve os abusos da nobreza, entre os colonos que libertaram os Estados Unidos, entre os citoyens que derrubaram a tirania, entre os camaradas e companheiros que fizeram revoluções, entre os soldados nos campos de batalha entre os trabalhadores modernos que lutaram e lutam pelos seus direitos. Formar uma vontade coletiva e uma organização que reúna os esforços de vários indivíduos isolados é condição para o êxito da luta seja ela econômica, política, ideológica, religiosa, nacional etc. Essa vontade coletiva só se forma se houver confiança interpessoal e nas lideranças.

Sem confiança não há construção comum de qualquer projeto de futuro. A confiança implica que os outros ou as instituições ajam de acordo com o que se espera delas: o governo deve governar com eficácia e produzir o bem comum, a polícia deve proteger o cidadão, o deputado deve representar os interesses dos representados de forma honesta, o partido deve defender causas justas e éticas; o motorista deve parar no sinal vermelho, os fabricantes devem produzir produtos de qualidade e que não prejudiquem o consumidor, o sistema de saúde deve atender os necessitados com zelo e perícia, o vizinho deve ser cordato e solícito, o colega de trabalho deve ser solidário e assim por diante. Sem essas relações de confiança a vida social se torna muito difícil.

Desigualdade e desconfiança na América Latina

O Instituto Latinobarometro, sediado em Santiago do Chile, vem promovendo uma inestimável pesquisa sobre a democracia na América Latina há 20 anos, completados em 2015. Dentre os vários itens pesquisados um é o da “confiança”, tanto na sua dimensão da relação dos indivíduos com as instituições políticas, sociais e privadas, quanto na dimensão das relações pessoais.

Pois bem. As pesquisas do Instituto Latinobarometro mostram que a América Latina não funciona com base em relações de confiança. A violação das leis e das normas, a puxada de tapete, a lei de Gerson, o jeitinho, a fraude social, os atestados falsos, a compra e venda de documentos, o engodo político, a demagogia e a falta de solidariedade, de compromisso e de responsabilidade social são condutas generalizadas na região.

Desconfiança e baixo nível de organização e de participação social são consequências diretas dessa situação. Esses comportamentos não são exceções. A ação visando o melhor proveito pessoal, em detrimento do coletivo ou dos outros é regra. Proveito pessoal, todos querem. Mas o que se trata aqui, segundo o estudo, é do proveito pessoal adicional, obtido pela fraude social.

As ciências sociais mostraram que na América Latina a democracia sempre foi um mal entendido, uma ideia fora do lugar, um sistema de privilégios, um instrumento de promoção da desigualdade e da violência das elites latino-americanas contra os mais pobres. A consequência foi essa violência social generalizada, o agravamento das desigualdades, essa trágica normalidade. O pior é que não há muitas esperanças. A situação parece regredir.

A média da confiança interpessoal nos 20 anos de pesquisa é de apenas 17%. Uruguai, Argentina e Panamá lideram o ranking com 22% de confiança entre as pessoas. O Brasil aparece em último lugar com apenas 7%. Quanto às instituições da democracia, os resultados de 2015 mostram que os governos aparecem com uma média de 33% de confiança; os Congressos com 37%; o Judiciário com 30% e os partidos com 20%.

Em 1995, quando a pesquisa começou a ser feita, os governos apareciam com 44%, os Congressos com 38%, o Judiciário com 37% e os partidos com 27%. A partir de 2010 passou-se a incluir o Estado como um item especívico, que aprecia com 42% e hoje aparece com 34%. Outro dado interessante se refere aos sindicatos: eles apareciam com 35% e hoje têm 29%. Mesmo as instituições mais confiáveis como Igreja, Forças Armadas, Imprensa etc., todas apresentam quedas nos índices de confiança que inspiram. As empresas privadas aparecem numa faixa intermediária entre essas instituições melhor avaliadas e as instituições da democracia.

Os números mostram que de cada 10 latino-americanos, 6 não confiam nas instituições da democracia. As alternativas politicas de direita, centro-liberal e esquerda não conseguiram produzir resultados expressivamente diferentes umas das outras, o que mostra que a região está mergulhada em grave crise de perspectivas em relação ao futuro. As diferentes alternativas parecem mover-se na lógica de produzirem resultados razoáveis quando ascendem ao poder para acabar em crise. Os novos ciclos de governos de alternativas que se alternam não são capazes de romper a trágica normalidade. O Uruguai é a única exceção, pois vem conseguindo aumentar os índices de confiança em todas as instituições da democracia com o passar dos anos.

O advento da Internet não conseguiu melhorar a confiança dos latino-americanos. A debilidade das redes sociais, das organizações da sociedade civil e dos valores de solidariedade e de comunidade resultam da disseminação da cultura de que apenas o esforço individual, mesmo que através da burla e da fraude social, é o caminho mais adequado para melhorar de vida. A profunda desigualdade da região gera violência e desconfiança. A conclusão do estudo indica que os níveis de confiança só crescerão com o avanço da democracia. A democracia só avançará se as desigualdades econômicas, sociais e de poder forem reduzidas. O desmantelamento das desigualdades requer luta solidária e empreendimentos sociais coletivos.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

21 Comentários

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  1. Na música Que País É Esse, do

    Na música Que País É Esse, do Legião Urbano, há um trecho que pra mim explica o maior paradoxo do Brasil = “Ninguém respeita a consituição, mas todos acreditam no futuro da nação”  Uma forma concreta de ver essa falta de confiança do brsileiro para com outro brasileiro é o número altíssimo de mortos e feridos no trânsito brasileiro. E aí não dá pra culpar os de sempre, os cunhas , os renans, os collors os lulas, os fhcs. Não precisa ser gênio pra saber que não se deve passar o sinal vermelho. 

  2. O eterno fluxo para fora da região

    “Nos importamos e nos impressionamos com as tragédias dos outros, não com as nossas. Aqui “tudo é normal”,

    A rigor, nos importamos e nos impressionamos pelo que a mídia divulga. Os correspondentes estrangeiros das cinco empresas familiares de mídia, no Brasil, encontram-se em Nova Iorque, que parece ser a capital do mundo global. Os noticiários locais acabam sempre como alguma bobagem, do tipo “o primeiro dia na escola do filho do príncipe da Inglaterra”. Noticias locais são tendenciosas e pejorativas, começando com algum apelido do desafeto, do tipo: “o cocaleiro Evo Morales…”, “o ditador Chaves …..” e etc. Aqui tudo é normal, pois se não aconteceu na rede Globo é porque nada acontece.

    “Sem confiança não há construção comum de qualquer projeto de futuro”.

    Fornazieri enumera ações que fazem perder confiança, desde governantes até motoristas na rua. Todas essas ações nascem de uma principal: as elites não se sentem como pertencentes à América do Sul e, na primeira oportunidade, migram para o exterior. As nossas elites ainda mantém o espírito colonial, de chegar aqui para ficar um tempo e partir (diferentemente dos EUA, por exemplo, onde os colonos foram – e ainda chegam – para ficar). Os habitantes da América Latina ainda jogam lixo na rua e, diferentemente dos Japoneses (apenas como exemplo), parecem viver permanentemente em “casa alugada” e não em casa própria (exemplificando a nação).

    “O Uruguai é a única exceção, pois vem conseguindo aumentar os índices de confiança em todas as instituições da democracia com o passar dos anos”

    O Uruguai sempre foi um país relativamente “arrumado”. O país cativa juventude e progressistas, por conta do exemplo maravilhoso – recente – do seu Presidente Mujica e, pelo outro lado, Uruguai é um paraíso fiscal tupiniquim, que arrasta riqueza das elites dos seus vizinhos, ou seja, a falta de credibilidade aqui se converte em maior credibilidade lá, num banco Uruguaio.

    América Latina caminhará para o seu real desenvolvimento a partir do momento em que os seus cidadãos gostem de viver, arriscar, perder, ganhar, curtir e até morrer, por aqui mesmo. Quando o rico brasileiro não fuja para Miami, quando pare a sangria de dinheiro levado para o exterior.

    Depois de acompanhar o apartamento do ex-ministro Barbosa, em Miami e, recentemente, da esposa do ministro Lewandowski, dentre dezenas de casos similares, qualquer um pode então desconfiar, até do vizinho.

    América Latina é assim porque as suas elites não acreditam que aqui possa haver algum futuro para elas e os seus filhos, muito menos se um “pobre” chegar a ser Presidente.

  3. lamentável.
    dados

    lamentável.

    dados desanimadores.

    por isso, a luta é sempre dificil, para melhorar.

    a história não muda dum dia parfa o outro…

  4. pode ser mais uma obviedasde,

    pode ser mais uma obviedasde, mas certamente concordo com a tese

    de que a grande mídia é que impõe esse clima de desconfiança na região.

    é hegemonica e age de forma semelhante em todos os países….

  5. Democracia = CORRUPÇÃO

    Meu pai sempre diz que democracia = corrupção, como a desigualdade está crescendo no planeta e a velocidade deste crescimento vêm aumentando, caminhamos firme, forte e rapidamente para um totalitarismo mundial.

    Para mudar isto só com mágica.

    Astrologia, Tarot e Geometria na veia.

    Dá  para fazer, é moleza, só saber.

  6. .

    Esta herança maldita na America Latina e particularmente no Brasil é consequência histórica de como se deu a colonização, diferentemente de como se deu nos EUA, onde as pessoas iam para construir uma nova vida baseada na família, por aqui acorriam os que almejavam conseguir riquezas atraídos pelo canto do Eldorado a ser descoberto e explorado, voltando para os locais de origem vitoriosos, onde esbanjariam a riqueza conquistada. Nunca houve no Brasil o espirito de Nação, o povo sempre foi considerado criaturas de segunda categoria, unicamente para servir as elites. Subjugados desde o principio através da força bruta, o povo se resignou com sua situação de subalternidade e jamais participou das decisões que decidem os destinos da Nação. A Nação pertence, até hoje, as elites, e é bom lembrar que as elites na América Latina não têm ideologia, cor ou preferencia politica. A região vem sendo explorada tanto pelas esquerdas como pelas direitas. Os extremos dentre o espectro politico se alternam no poder em proveito próprio, nunca pelos interesses de uma verdadeira Nação, que até hoje inexiste.

    A consequência foi essa violência social generalizada, o agravamento das desigualdades, essa trágica normalidade. O pior é que não há muitas esperanças. A situação parece regredir.

    Sem confiança não há construção comum de qualquer projeto de futuro. A confiança implica que os outros ou as instituições ajam de acordo com o que se espera delas: o governo deve governar com eficácia e produzir o bem comum, a polícia deve proteger o cidadão, o deputado deve representar os interesses dos representados de forma honesta, o partido deve defender causas justas e éticas; o motorista deve parar no sinal vermelho, os fabricantes devem produzir produtos de qualidade e que não prejudiquem o consumidor, o sistema de saúde deve atender os necessitados com zelo e perícia, o vizinho deve ser cordato e solícito, o colega de trabalho deve ser solidário e assim por diante. Sem essas relações de confiança a vida social se torna muito difícil.

    Como tentar alguma coisa que equacione estas necessidades na atual conjuntura politca?

    Talvez… Uma Assembleia Constituinte?

    1. Atavismo improvável…

      Não acredito em sina ou pre-determinação do destino das sociedades humanas. Acredito que essas crenças, sim, são produzidas e fomentadas na população de países para que se forme a atitude de resignação diante de um destino inevitável de dependência. Eu não sei a credibilidade desse instituto que faz as pesquisas mencinadas mas não é raro no processo de dominação promovido pelas nações mais ricas sobre as mais pobres a construção e estruturação para produzir dados que atestem as teorias de dependência que os sistemas de comunicação, também alinhados aos interesses estrangeiros, se encarregam de consolidar no senso comum da população do protetorado que se pretende controlar. Esse é um processo de dominação que, segundo o jornalista José Augusto Ribeiro, Getulio Vargas, ainda em tenra idade, já via como alvo a ser combatido e denominada de “…acuação da história”. As classes dominantes dos países colonizados são tem que ser cooptadas para serem os instrumentos de dominação da população. O primeiro passo é garantir o controle dos sistemas de comunicação de massas.Tanto que as classes dominantes locais, representantes no Brasil dos interesses estrangeiros, reagem vigorosamente sempre que qualquer movimento político sinaliza abertura para estimulo de participação popular nas decisões de governo, ensaia políticas de redução da desigualdade, experimenta projetos de valorização da mão de obra, produtos e produção nacionais, desenha planos de melhoria da educação da população e abre canais de politicas de relações internacionais multilaterais. Esses sinais dão o alerta para intervenção para que tudo mude e volte a ser como sempre foi. Aí o problema não é a procedência histórica portuguesa, ou africana ou de onde quer que seja. A questão é a sina geográfica e não histórica que atormenta também o México e toda a América Latina. Estar tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos.

      1. Teoria conspiratória

        Outro sintoma dessa nossa anomia e conformismo é a propensão de inventar teorias conspiratórias que joguem a culpa em algum agente externo, e assim fiquemos dispensados de qualquer ação corretiva. A culpa não é das nações dominantes nem das classes dominantes. Essa mentalidade está disseminada pot toda a população, e não rara é vista com leniência pelos intelectuais que deviam combatê-la, mas passam a mão na cabeça do “brasileiro cordial”.

    2. Muito pertinente seu

      Muito pertinente seu comentário. Em relação ao que você disse sobre a colonização do Brasil, poderíamos extender e dizer que até hoje ocorre a mesma coisa: quem está no poder, os políticos imitam os  colonizadores e usurpam o que podem do patrimônio público. Como aqueles, estes só tem um interesse, a saber, o seu próprio interesse : pegar a riqueza e usufruir dela.não pensam na nação que nunca existiu. O povo, sempre abandonado pelos poderosos, mão confia no próximo, tem que sobreviver e e dá nó em pingo d’água.
       

    3. Outra constituinte?

      Mas já não tivemos suficientes contituições em nossa História? Se não conseguimos cumprir nem essa que está aí, adianta fazer outra?

      Não há solução milagrosa. O que pode ser feito é o que já está sendo feito: investigar, prender, punir.

  7. ptralha

    essa petralhada é que f…. tudo. Se não fosse por eles, não teriamos este comunismo generalizado !!!!

     

    (Ah, como é bom o cinismo eheh)

  8. Desconfiar desde criancinha…

    Pra ficar so na questão da desconfiança geral, podemos pegar um gancho na psicologia: como seria confiar nos outros, esperando que eles façam aquilo, que eu mesmo não faço?

  9. Contradição

    Você diz que no Brasil ninguém confia em ninguém, e termina propondo que o remédio é a luta solidária e empreendimentos sociais coletivos??

    Mas se ninguém confia em ninguém, como vão se unir nesses tais empreendimentos coletivos? Onde não há confiança mútua, a tendência é as pessoas ficarem cada vez mais individualistas!

    O motivo da notória falta de espírito público do cidadão latino-americano típico é a persistência, aqui, de formas de organização social orientadas a clãs familiares em detrimento do estado-nação. Assim é o homem cordial, que preza mais as ligações afetivas que o interesse comum. O corrupto nada mais é do que um sujeito que quer ajudar seus parentes e honrar os compromissos com seus aliados políticos. Não se trata de uma peculiaridade latino-americana: notem que no sul da Europa as ligações familiares são muito mais valorizadas, e também a corrupção é muito maior do que no norte rico. O homem cordial é, por excelência, o habitante de países atrasados, e o cidadão de primeiro mundo é aquele que rompeu as barreiras dos clãs familiares e estabeleceu laços com o estado-nação.

    Não adianta culpar as elites. A diferença entre a elite e o resto da população é apenas a renda, pois de resto são assemelhadas cultural e psicologicamente. Não há nenhuma razão lógica para supor que o povo em geral é mais honesto e confiável que a elite.

    A solução? Mágica não existe. A solução é mesmo educar pela punição, um trabalho de formiguinha. É claro que é necessário um número enorme de prisões para que a mentalidade comece a mudar, coisa que felizmente já começa a acontecer.

  10. A trágica intelectualidade da America Latina

    Me parece que a sociologia continua lendo a Teoria da Dependência. Sintomático que este estudo Chileno, apareça agora quando questionam tanto os governos que fizeram polítics sociais.  Eu de fato discordo.  Levantadores de dados e de questionario de pesquisas já concluiram que o mal da alemanha eram os judeus ( loco depois de Goebbels)  e que  os negros eram inferiores. É  preciso desconfiar de obras pretensamente cientificas.

    Me desculpe Aldo Fornazieri, mas depois de derrubar um regime militar , depois de criar um movimento sindical , depois que este movimento se organizou como partido , depois que este movimento chegou ao poder e  levou a erradicação da fome, mudou  as condições de vida de mais de 30 milh~oes de brasileiros   que fez um marco na história do Brasil e do mundo com suas políticas sociais.  Que criou organizações populares,  e subiu a auto estima deste povo me aparece este estudo com uma pretensa legitimidade acadêmica  jogando tudo isto no lixo. Para mim este estudo é tendencioso e é mais uma das tentativas  de  destruir a história recente da américa latina.  Não acredito neste estudo, ´e mais um dos estudos sociológicos defendendo um suposta maldição que nos levaria  a sempre nos submeter. Mais uma Teoria da Dependência. Estatisticas e percentuais não legitimam a ma fé intelectual . Este estudo projeta sim o que uma determinada pensa. E no momento ela desconfia muito da população, pois sabe que a população é testemunha .

     

    1. sabra arad

      Não há dúvidas que a atual linha de governo fez muito. Mas também cometeu inúmeros erros, tanto na economia quanto na polarização política populista a que levou o país e na administração pública. Esses erros fizeram com que muitas das vitórias que você mencinou fossem postas a perder. É preciso reconhecer os erros para melhorar e não repeti-los. No entanto, o PT tem uma dificuldade inacreditável para lidar com qualquer crítica ou auto-crítica. Impressionante…

      1. Alguns reparos.

        Felipe 

        Com certeza houve erros, mas não na polarização política, pois esta foi criada e estimulada pela mídia e pela oposição. A oposição criou o slogan , nós e eles, e como sempre imputou esta polarização ao PT. O estimulo ao ódio de classes fica patente nas manifestações contra o governo.

        A administração publica é um tema muito amplo, mas eu diria que  medidas criadas , como a CGU , portal da transparência e muitas outras trabalharam na luta contra a corrupção e geraram políticas de Estado, que permanecerão .

        Eu diria que  nas universidades que fazem parte da  administração publica, nunca tivemos tantas obras e tanto dinheiro.   professores e  pesquisadores  e estudantes tiveram muito  incentivo durante estes ultimos governos e também muitos resultados científicos relevantes. Nunca se criou tantas Universidades e tantas Escolas Técnicas. Tanto nas publicas ou através do  FIES, vai-se gerar uma verdadeira revolução dentro de  em alguns anos neste país. O número de jovens nas universidades brasileiras  é incomparávelmente maior do que o que se tinha.  Não sei o que farão, mas com certeza isto  trará mudanças profundas . Na saude, localidades sem médicos os tiveram pela primeira vez. Isto apenas para citar algumas coisas da administração publica. 

        Agora vamos para a economia. Os empresários que ora gritam tanto contra impostos, tiveram durante o governo DIlma a maior desoneração e os maiores incentivos fiscais, para estimular a produção. Os estimulos de financiamento, através dos bancos publicos , foram tão grandes que tornaram os bancos publicos, um tremendo estorvo para os o bancos privados. Estes por sua vez se entupiram de dinheiro, mas não gostaram nenhum pouco do crescimento dos Bancos Publicos. É este o setor que mais trabalha para a paralisia da economia  jogando boa parte do capital produtivo de volta a ciranda financeira.  A carga na mídia é incrível, e hoje alem da previsão do tempo o jornalismo  voltou a fazer a previsão da bolsa.  O nosso empresariado na figura de Skaf, ( político travestido de presidente da FIESP)  não compreende a diferença de interesses entre o capital produtivo e o capital financeiro. 

         Os empresários, parecem segundo o jornal, não empreender nada. Reclamam todo o tempo da presença do estado, mas querem garantias  do estado ( a que chamam de credibilidade) para poder investir. Me parece que nossos empresários não gostam de riscos E assim esperando eles paralisam a economia e  nada propõe. Isto é , apenas de forma oportunista apostaram na chance , oferecida por certos políticos ,de  menos impostos e menos direitos trabalhistas, terceirização etc…. E obviamente existem interesses externos  defendidos pelos de sempre.

        Isto é muito pouco para uma classe que se diz tão importante.  O país jogou 30 milhões no mercado de consumo, e os empresários preferem voltar a um mercado de 20% da população .  

        Uma análise mais acurada do problema da petrobŕas, vai mostrar que  o problema dela é o preço da gasolina e não o famigerado petrolão. Veja que não estou querendo aliviar para os corruptos, mas com certeza tudo isto poderia ter sido feito sem prejudicar  a petrobrás.Veja que com tudo isto a petrobras foi a empresas mais inovadora e que mais aumentou sua produção no mundo. Mais do que isso ela barateou seus custos  e hoje  retira um barril  de petroleo na área do pre-sal por apenas $9. Isto é, mesmo com  o preço atual, o pre-sal é rentável. Veja que a rentabilidade não diminui o problema do mercado de petroleo, mas nos dá perspectiva.

        Em Davos esta semana o Brasil aparece como sendo o sexto país nos interesses de investimento. Isto é,  parece que  mesmo em crise acreditam mais em nós do que nós mesmos. Me parece que neste frenesi político fica dificil fazer uma análise menos parcial. 

        Sim o governo, dentro desta terrível crise política, retrocedeu quando não devia e trilhou caminhos que também não devia. Mas culpar o governo pela ação temerária desta oposição política, pela   a fraqueza da classe empresarial,pela   ganância do capital financeiro  pela  crise  economica  mundial  que ora recrudesce, é um pouco demais. Alem disto afirmar desde já que tudo está perdido é um equivoco, . Tudo isto  me diz que a oposição  sim criou o nós e eles  e também não aceita os proprios erros..

  11. Excelente post

    Porém discordo das soluções propostas pelo autor.

    Realmente, aqui a desconfiança dominou os corações. Nada de se estranhar, após décadas de governantes traindo o povo.

    Plano collor, onde o governo mentiu dizendo que não mexeria na popupança, e no primeiro dia confiscou…

    Dilma, que mentiu descaradamente, se elegeu com discurso de esquerda, e governa com política cada vez mais neoliberal…

    País sem leis, e quando são aplicadas, servem apenas à elite…

     

    O problema na minha opinião não é reduzir a desigualdade. Países com tanta desigualdade quanto a nossa, tem mais confiança entre si.

    O problema é a falta de leis, ou de severidade correta nas leis. digo correta, pois quando o país tenta aplicar severidade incorreta surgem os “dominios do fato”, empreiteiros vendo suas empresas destruidas sem provas, só por causa de uma delação. Tudo isto mina a confiabilidade no estado, em suas leis, e sua justiça.

     

    E a falta de confiança inter pessoal decorre desta falta de leis.

    Imagine se na austrália um homem mexe com uma mulher na rua, assobia, o que aconteceria… Poderia ser processado severamente, aqui no Brasil não dá nada.

    Imagine na Arabia uma pessoa roubar, engravidar uma moça solteira, violar ordem pública, pixar muros… As punições seriam severíssimas, aqui no Brasil, muitas vezes as punições para isto são irrisórias.

    Teve uma brasileira que foi para a Inglaterra e disse que não precisava apresentar documentos onde ela ia, se fosse no Brasil, a cada repartição publica , ou empresa que se vai temos de apresentar dezenas de documentos. Por que lá basta a palavra, uma vez que mentir na Inglaterra é crime, logicamente, ninguém pode mentir. Aqui no brasil mentir não dá nada…

     

    E a  sociedade brasileira, sobre a égide da desconfiança, vai se fechando em feudos, onde existem leis próprias, mais severas: condominios, Igrejas, etc. Onde um pequeno grupo só confia em quem está em seu feudo, e desconfia de todos os de fora…

  12. Excelente artigo

    Ainda que não muito distante do que Sérgio Buarque de Holanda já escrevia há muito tempo. Já passou da hora de pararmos de colocar a culpa nos outros, assumirmos nossos erros e com isso sermos capazes de mudar nossa postura. A vitimização da América Latina serviu somente para criar desculpas para nada aprendermos com nossos próprios erros. A nossa educação é pésssima por nossa própria culpa ou por culpa de supostos governos estrangeiros? Nossos hospitais são péssimos por má gestão pública ou por culpa do distante capitalismo internacional? Temos que pagar juros gigantescos porque incompetentemente endividamos o estado além de limite da irresponsabilidade, ou porque misteriosos especuladores nos obrigaram a torrar dinheiro público por anos sem pensar no amanhã? Será mesmo que não estamos constantemente tomando decisões erradas e depois tentando colocar a culpa nos outros?

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