Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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A Venezuela e a irresponsabilidade de Aécio Neves, por Aldo Fornazieri

Na semana passada, o senador Aécio Neves deu mais uma prova de que não está preparado para ser presidente da República. A sua investida na Venezuela foi típica a de um aventureiro, que não mede as consequências de seus atos, desde que estes lhes aufiram dividendos políticos pessoais. Um político sério deve guiar-se sempre pelo princípio da responsabilidade, pressupondo e perscrutando sempre as previsíveis consequências de suas ações. Não foi isto que Aécio e os senadores que o acompanharam à Venezuela fizeram.

Acossado pelo lançamento da candidatura presidencial do governador Geraldo Alckmin, incapaz de unificar e de dirigir politicamente o PSDB, Aécio vislumbrou na Venezuela a possibilidade de teatralização de uma ação inconsequente para aparecer como um arauto da liberdade. Na prática, esteve na iminência de provocar um incidente diplomático grave. De forma oportunista, serviu-se do episódio da Venezuela para gerar intrigas com o Itamaraty e para atingir o governo Dilma.

A Venezuela, de fato, está imersa num conflito político grave, de desdobramentos imprevisíveis. A crise econômica e social, com descontrole inflacionário e desabastecimento, não é menos preocupante. O esforço dos países Sul-americanos, agregados na UNASUL, consiste em articular mediações e negociações visando apaziguar os ânimos e impedir que o conflito desague em derramamento de sangue. Dado esse risco, toda a ação política que se baseia na sensatez, no bom senso e na responsabilidade deveria consistir na busca de uma saída negociada. Ou seja: é preciso estimular o funcionamento dos mecanismos democráticos para que o povo venezuelano encontre, de forma pacífica, uma saída para a sua crise sem interferências externas.

Aécio Neves e os senadores que o acompanharam estavam desprovidos de qualquer propósito de mediação e de neutralidade no conflito venezuelano. Pelo contrário, adotaram uma postura provocadora, acirraram os ânimos e optaram por um dos lados do conflito. O grupo de senadores brasileiros não teve nenhum compromisso com a responsabilidade política, pois o que se trata, neste momento, é evitar que a Venezuela ingresse num momento de conflito político armado, justamente quando o governo da Colômbia e a guerrilha das FARC estão num processo de finalização de um acordo de paz depois de mais de cinco décadas de guerra. Garantir que a América do Sul seja uma zona de paz política é uma condição necessária para que a região encontre soluções para os seus outros desafios como a desigualdade, a pobreza, a violência social, o narcotráfico e o baixo desenvolvimento.

As Mentiras e a Falta de Decência Política de Aécio e seu Grupo

Aécio e o seu grupo destoam e contrariam dos objetivos dos demais governos sul-americanos em relação à Venezuela, que consiste em buscar uma saída mediada e negociada para a crise política daquele país. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o líder oposicionista e governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, duas vezes candidato à presidência da República, testemunha o esforço do governo Dilma e do Brasil para mediar o conflito. Afirma que foi procurado pelo então chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo para ter um canal direto de comunicação com o governo brasileiro e que conseguiu participar da reunião dos chanceleres da UNASUL porque o Brasil garantiu sua presença. Com estas afirmações, Capriles evidencia que Aécio e seu grupo de senadores estão mentindo em relação ao que se passa na Venezuela e à postura do governo brasileiro.

Outra mentira de Aécio e seu grupo se relaciona à conduta da embaixada brasileira em Caracas. Os senadores foram informados de que o embaixador brasileiro os receberia no Aeroporto e se despediria do grupo na hora da partida, já que não poderia acompanha-los até o presídio por conta das implicações diplomáticas óbvias. Ao chegarem a Caracas, os senadores afirmaram que eram compreensíveis as razões do embaixador para, depois do incidente com os manifestantes, acusa-lo, sem pudor, de tê-los abandonado.

As bravatas midiáticas de Aécio e se exército não pararam por aí. Em solo brasileiro afirmaram que irão pedir a exclusão da Venezuela do Mercosul, que apresentarão a convocação do embaixador brasileiro na Venezuela e que acionarão a presidente Dilma no Supremo Tribunal Federal por suposta violação da cláusula democrática. Dê-se novamente a palavra ao oposicionista Capriles sobre esse aspecto da exclusão da Venezuela do Mercosul: ele afirma que quem sofreria com isto seria o povo venezuelano. Meça-se a partir desse metro a pequenez política e moral de Aécio Neves e seu grupo. O oportunismo midiático do senador tucano e de seus companheiros não leva em consideração os interesses de Estado, tanto do Brasil, quanto da Venezuela, os interesses dos dois povos, as empresas e os empregos que estão envolvidos nas relações comerciais entre os dois países. Afinal de contas, a Venezuela é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na América do Sul.

Tudo somado, o fato é que se a existência de prisioneiros políticos na Venezuela é algo a ser condenado, não é jogando gasolina no fogo ou acendendo fósforo num paiol de pólvora, como disse Marco Aurélio Garcia, que se resolverá o problema. É preciso usar o bom senso, o equilíbrio e a mediação. Se existem prisioneiros políticos como Leopoldo López e Daniel Cabellos, existem também oposicionistas governando estados, como é o caso de Henrique Capriles. Tanto no governo, quanto na oposição existem aqueles que querem saídas não democráticas.

O golpismo de setores oposicionistas é histórico na Venezuela. Assim, o senso de responsabilidade consiste em promover o entendimento entre os setores do governo e da oposição que acreditam que a saída da crise é pela via da democracia, pela via do voto. Aécio e seus acompanhantes em nada contribuíram para isto. Parecem mais dispostos a estimular o golpismo e a radicalização do que a democracia e a paz. Depois de semear o ódio político no Brasil, Aécio parece propor-se, em seu despreparo e em seu aventureirismo, a exportá-lo para os nossos vizinhos. A conduta de Aécio Neves confere cada vez mais credibilidade a militantes tucanos de São Paulo que nunca confiaram no senador mineiro por considera-lo superficial e irresponsável.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

19 Comentários

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  1. A solução para a Venezuela

    A solução para a Venezuela como para qualquer nação que tenha uma classe dominante que se acha proprietária do país para usar em benefício próprio suas riquezas e o trabalho do resto da população é a mesma: jogar toda esta gente nos porões de algum navio negreiro e abandona-la -sem meios de comunicação- em alguma ilha deserta. Uma laranja podre contamina todo o cesto.

  2. Irresponsabilidade não,

    Irresponsabilidade não, molecagem. Ele e meia dúzia de senadores patetas foram cumprir uma suposta missão de direitos humanos, coisa que nunca fizeram na vida deles; usaram avião militar, gastaram dinheiro público, e retornaram ao Brasil ante ao primeiro obstáculo, para claramente fazer carnaval, molecagem mesmo com um país irmão, que tem autonomia e merece respeito. Num país sério, o que está longe ser o caso do Brasil, estes senadores deveriam prestar contas ao povo e renunciar aos seus mandatos por terem envergonhado o Brasil e desrespeitado o povo de outro país. Mas, aqui, recebem aplauso da mídia e até mesmo do governo federal, do congresso, enfim, desta palhaçada que virou o Brasil institucional nos últimos meses.

    1. Irresposabilidade

      Concordo plenamente contigo. Usaram um avião da FAB com consentimento do Ministério da Defesa, alugaram condução em Caracas com dinheiro do contribuinte brasileiro, para quê? Para o moleque senador Aécio Neves e seu bando irem tirar o Maduro do poder, tentativa ridicula que que deve ter causado muita rizada dentro do próprio PSDB. Acho que alguém deve cobrar desses patetas as despesas desse vexame.

  3. De e Para Coxinhas

    A ação imbecil foi planejada.

    Desde a mentirosa informação de que a Venezuela teria impedido o vôo dos senadores idiotas. Ou seja, desde o início, antes de acontecer, as manchetes já estavam prontas e divulgadas.

    Para garantir a cobertura jornalistas do Globo, da Tv Globo e da Globonews estavam embarcados no mesmo vôo e na mesma van urilizada pelos senadores. Tudo feito em conjunto e seguindo um roteiro.

    O restante da imprensa brasileira, a reboque da Globo, apenas engrossou o caldo coxinha..

    Os fatos reais não interessam, o que se divulgou foi apenas a versão mentirosa de alguns senadores, que seguiam o script farsesco e novelesco da Famiglia Marinho em sua cruzada anti-bolivariana.

    Como para coxinha meia palavra não basta….

  4. Proselitismo ao estilo PT

    De fato, foi o que Aécio fez. Porém retirar a Venezuela do Mercosul pela cláusula democrática, seria corrigir o erro de te-la incluído no lugar do Paraguay no passado. Pessoalmente, prefiro manter a Venezuela lá e o Brasil sair….

    A culpa do que ocorre na Venezuela reside em parte em Lula e Dilma, que respaldaram os excessos e agora, juntamente com apoiadores da esquerda, posam de solucionadores do imbróglio.

    Finalizando, Aécio conseguiu o que queria, aparecer na semana que Alckmin foi lançado por correligionários, e que o (des) governo Dilma apoia uma proposição do Serra.

    Portanto, como quiseram fazer crer (e tanto não é que acusam agora o ato de ser grave), não foi “mico”…

  5. Essa patuscada na Venezuela

    Essa patuscada na Venezuela serviu para revelar para o mundo a existência de uma nova espécie de símio, o “MICO LEÃO DROGADO”. 

  6. A Campanha de Caracas.

    Quando senadores brasileiros de oposição reafirmaram a latinoamericanidade brasileira e, desmentindo Vargas Llosa, provaram que o perfeito idiota latino-americano é um radical de direita.

    Contexto histórico.

    A Campanha de Caracas é um episódio da segunda década do século XXI que se insere no momento histórico conhecido como reação conservadora latino-americana. Com o fracasso do neoliberalismo na última década do século XX, vários governos de esquerda chegaram pela via democrática ao poder nos subcontinentes centro e sulamericano, desalojando os conservadores que governavam desde o século XVI. A reação conservadora latino-americana, figadal inimiga de tais governos, caracterizava-se pela união da mídia oligarca e da plutocracia, apoiadas por setores reacionários religiosos e da classe média, na tentativa de voltar ao poder através de golpes de Estado.

    Na chamada “Campanha da Caracas”, um grupo de senadores brasileiros de oposição tentou, através de uma invasão aérea, tomar a Cidade de Caracas, capital da Venezuela, libertar prisioneiros políticos da oposição local e unindo forças a eles derrubar o governo democraticamente eleito de Nicolás Maduro. Se obtivessem êxito, acreditavam que provocariam uma reação em cadeia que levaria a derrubada dos governos também democraticamente eleitos de Dilma Rousseff, no Brasil, e de Cristina Kirchner, na Argentina. Ferida de morte nos seus principais países, a derrota de toda a esquerda na America Latina seria uma consequência.

    A Campanha.

    Em 18 de junho de 2015, após um desembarque aéreo bem sucedido no Aeroporto Internacional Simon Bolívar, em Maiquetia, município vizinho a Caracas, o grupo de senadores brasileiros, que atuavam como combatentes estrangeiros, tomou uma viatura e tentou invadir a capital do país. Porém, a caminho de Caracas, presos em um congestionamento, provocado por uma manutenção de rotina em um túnel, acabaram cercados por uma milícia popular de cerca de menos de uma dezena de venezuelanos que de mãos desarmadas batiam contra a carroceria da viatura aos gritos de: ”Fuera”.

    Percebendo-se em desvantagem numérica, o comandante da missão, Senador Aécio Neves, determinou o recuo ao aeroporto de onde travaram uma batalha midiática através de twitters. As cenas do cerco aos senadores brasileiros são poucas, pois como informou um dos combatentes, o senador por Goiás, Ronaldo Caiado, a internet na Venezuela é muito ruim.

    Ao final da tarde, exausta e sem ter como prosseguir na luta, a força senatorial embarcou no jatinho da FAB que a havia levado até Caracas e retornou ao Brasil a tempo de dar declarações à imprensa.

    Ridicularizada na Venezuela como uma tentativa estapafúrdia de políticos desocupados de criar um incidente internacional, no Brasil, a Campanha de Caracas se insere como um evento da grandeza histórica da Batalha de Itararé.

    Os personagens.

    Senador Aécio Neves (PSDB-MG)– o Comandante. Como a missão se apoiava fortemente no poder aéreo, foi indicado para o comando devido ao seu alto conhecimento na construção de aeroportos. Aécio se distingue pela sua insubmissão a resultados eleitorais. Comandou a tentativa de impeachment de Dilma Rousseff, após ser derrotado nas eleições de 2014. Foi fonte de inspiração de Kim Kataguiri em sua “Marcha sobre Brasília”, também conhecida como “Os seis da estrada”.

    Dada a sua combatividade, Aécio Neves recebeu o posto honorífico de General de Retirada.

    Senador Agripino Maia (DEM-RN)– o Coronel. Conhecido como a “Siriema do Seridó”, dada a sua bravura em questionamentos a Ministros em audiências públicas no Senado. O segundo no comando, Agripino faz parte da história paramilitar brasileira sendo um “Coronel Nordestino”.

    O engajamento de Agripino na tropa tem um detalhe interessante. Com problemas na Justiça por corrupção, se juntou ao grupo na tentativa de demonstrar valor patriótico e com isso obter uma redução de pena em uma possível futura condenação.

    Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) – o médico. Latifundiário de Goiás e médico ortopedista. Jamais exerceu a profissão. Apaixonado por animais, mesmo sem ser veterinário, auxiliava Carlinhos Cachoeira a lidar com os problemas do bicho. Foi incluído no grupo, pois, devido aos seus conhecimentos médicos-zoológicos, seria a pessoa que deveria cuidar da saúde das mulas que compunham a missão.

    Senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) – o veterano. Militante das esquerdas revolucionárias da década de 60 do século XX. Antigo combatente da resistência armada à ditadura de 64, era conhecido como Aloysio, o vermelho.

    No fim da vida, mudou de lado e abraçou a causa da extrema-direita. Após a retirada da Venezuela, passou a ser conhecido como Aloysio, o amarelão.

    A repercussão interna.

    A Campanha de Caracas se fixou de tal modo no imaginário popular brasileiro que o termo “Caracas” passou a ser utilizado como significado de exclamação. Na Cidade de São Paulo, por exemplo, tornou-se comum a expressão: “Caracas, mano, deu merda!”.

    A repercussão internacional.

    Devido ao forte caráter humanitário da Campanha de Caracas, seus integrantes foram indicados para o Prêmio IgNobel da Paz.

     

  7. Nassif;
    Esta palhaçada foi

    Nassif;

    Esta palhaçada foi missão oficial do Senado? Se foi o renan também deve ser responsabilizado, quem cobrará estes patetas irresponsáveis ??

    Será a bancada petista no senado liderada pelo parlapatão Paulo Paim?? 

    O Requião a quem eu nutria muita admiração, nestes últimos tempos tem me decepcionado, parece irmão gemeo do nada saudoso Pedro Simom, ou será que também está participando da bancada do Paim, da Marta,  do Delcidio ??

    Alguém deve responsabilizar estes palhaços golpistas, se ninguem o fizer é melhor fechar este senado de merda.

    É inadmissível isto ficar impune. Sem esquecer daquela  ameba do Savoia, aquele funcionário do Itamarati, que é golpista reincidente.

    sds

    Genaro

     

  8. Aécio está cada vez mais

    Aécio está cada vez mais parecido com seu colega playboy de golpismo. O tal Marcelo Reis do revoltados, ou melhor, estilionatários online. Porta-se como um moleque de cinquenta anos.

    Achava que o Serra era o político mais nefasto do país. Mudei de opinião. O Aécio consegue ser ainda pior. O Brasil livrou-se de uma tragédia descomunal

  9. Conflito??

    Só gostaria de entender porque se insiste em afirmar que a Venezuela vive um conflito político.

    Ora,o que existe lá é uma direita golpista que simplesmente não aceita a derrota eleitoral e tenta todos os meios,legítimos ou não,para reconquistar o poder.Simples assim.

    Já a cretinice protagonizada por Aécio mereceria uma dura crítica tanto do governo federal quanto do PT,mas aí já é esperar demais um pouco de altivez dos dois.

     

     

  10. Cobrar responsabilidade de

    Cobrar responsabilidade de Aécio Neves em qualquer assunto é tão factível como cobrar imposto de ricaços no Brasil.

  11.  Tdos sabe que atos desse

     Tdos sabe que atos desse nível de irresponsabilidade só fazia com que a nossa Gloriosda dobrasse o nível das torturas e por fim fez que esse deixasse o poder para que  corjas de corruptos tomassem  conta de tudo quando deveria ser público. é isso que querem fazer também a coitatada da Venezuela

     

  12. Responsabilidade?

    Como cobrar responsabilidade de um cocainomano?

    Vamos para de tratar esse doente, como se fosse uma pessoa normal.

    Ele tem que ser internado para desintoxicação

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