Acordo Ortográfico de 1990, a fórmula do desastre, por Fernando Venâncio

Sugestão de Gilberto Cruvinel

do Público.pt

AO90, a fórmula do desastre

por Fernando Venâncio

Este Acordo surgiu da ingénua convicção de que a grafia do português europeu era ordenável a nosso bel-prazer. Não é. Mas podem, e devem, atalhar-se desordens maiores. Hoje. Já. Cada dia perdido, o desastre aumenta.

1. Alguma vez um anti-acordista disse sobre o Acordo Ortográfico de 1990 qualquer coisa boa, mesmo boa? Pois aqui vai uma magnífica. O AO90, ao qual se deseja uma rápida e humana morte, terá deixado um precedente deveras valioso. Pela primeira vez no nosso secular debate ortográfico, a Pronúncia é feita critério decisivo da grafia, assim destronando a Etimologia do topo do pódio, invertendo beneficamente a hierarquia. Mas foi mais sorte que esperteza, já que nunca os autores e promotores do Acordo reivindicaram o cometimento. Só que, no momento de ser aplicada a Portugal essa sã primazia da Pronúncia, as coisas correram mal. Já lá iremos.

2. Houve um momento, por 1990, em que fomos colectivamente patetas. Ou, em versão atenuada, deixámos a patetice à solta. Tínhamos tido, é certo, o discernimento de rejeitar sem perdão o Acordo Ortográfico de 1986. Era um produto desconchavado, a pingar óleo por todos os lados, um absurdo de alto requinte. Mandava, pois, a mais singela chispa de inteligência que lembrássemos bem alto, a quem de direito, que nem um só dos artífices da façanha pensasse em propor mais o que quer que fosse. Quem concebera o monstro de 86 jamais seria de confiar. Sabe-se o que aconteceu. Aos mesmos exactos e impreparados senhores foi estendida de novo a passadeira vermelha, só se lhes pedindo, por deferência, que apresentassem qualquer coisinha menos repugnante. Pagámo-lo como se viu.

3. A coisa ortográfica é, hoje, gerida por duas instituições de que não se conhecem mútuos entendimentos: o ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional), encarregado pelo Estado de definir as formas a adoptar, e a ACL (Academia das Ciências de Lisboa), que se declara instância competente para “elaboração e publicação” do Vocabulário Ortográfico do idioma. As suas propostas divergem, às vezes do modo mais arbitrário. Dois exemplos por recente consulta online.

Ambos os institutos admitem as grafias (e pronúncias) perfeccionismo, perfeccionista, perfectível, mas só o ILTEC patrocina perfecionismo, perfecionista, perfetível. Os dois dão a cara por conceptista, conceptual e conceptualizar, os dois negam a variante concepcional, mas conceptualmente e conceptível admitem-se só no ILTEC e conceptivo só na ACL.

4. Não resolvendo nenhum real problema, o Acordo veio agravá-los. Mais alguns exemplos, sempre em estrito cenário europeu.

O vocabulário do ILTEC e o da ACL avançam conectar como forma única (excluindo portanto conetar). Mas, surpreendentemente, permitem conectividade e conetividade, conectivo e conetivo, conector e conetor. Não existirá, então, conetar? Os bem informados dicionários online da Priberam e da Porto Editora acham que sim, e neles figuram conectar e conetar.

Para nos orientarmos neste sombrio mundo, tomamos o Dicionário da ACL, organizado por João Malaca Casteleiro (um “dicionário de autor”, no fino dizer de Ivo Castro), que fornece pronúncias e se pretende “normalizador”, publicado em 2001, com o AO90 já no terreno. Aí achamos, sempre com som k, só conectar, conectivo, conector.

Agora em movimento contrário, pesquisamos os casos de séptico e asséptico. O dicionário de Malaca Casteleiro grafa-os assim, mas só em séptico o p aparece audível. A ACL de hoje apadrinha asséptico e assético, mas só inculca séptico. O oficial ILTEC, esse, avaliza todas as grafias (e portanto pronúncias): séptico e asséptico, sético e assético.

Situações destas multiplicam-se por dezenas. E recordemos que o panorama brasileiro (que o leitor português frequenta, mesmo quando só lhe cai sob os olhos) está longe de coincidir com qualquer destes. Que teria feito, pois, gente sensata? Não teria feito nada. Manter-se-ia longe deste vespeiro, e nunca certamente se meteria a esgaravatar nele.

Tudo isso se fez invocando uma “pronúncia culta”, outra novidade conceptual do AO90, não decerto disparatada, mas de aplicação factualmente leviana. A simples realidade é esta: o sistema português das consoantes etimológicas encontra-se, desde há séculos, em profunda instabilidade, digamos tudo, em estado caótico, e não se lhe vislumbra melhoria. Podemos lamentá-lo, podemos tentar abrir aqui e ali corta-fogos, mas a instabilidade veio para ficar. E que fez este AO? Tirou-nos duma situação em si suportável, e introduziu-nos, sem ganho nenhum, num emaranhado de perplexidades.

5. A indecisão da nossa pronúncia não pára no articular de consoantes. As vogais, também elas, e sobretudo o a, podem comportar-se caoticamente. Veja-se o caso da primeira vogal do prefixo para- no vocabulário do ILTEC. É aberta em para-brisas, para-choques, para-raios, para-sol, mas fechada (e repare-se na grafia) em paraquedas. O fechamento em paramédico ou paranormal, podendo explicar-se, continua da ordem do especioso. Também as vogais que precedem consoantes etimológicas vêm sendo historicamente afectadas. De modo lento, decerto pontual, mas irreversível, mostram um processo de fechamento (de elevação, dizem os linguistas), também ele de tipo caótico. Pronunciamos àtor, mas âtuar e crescentemente âtriz. Dizemos olfáto mas olfâtivo, exáto mas exâtidão. O próprio dicionário de Malaca Casteleiro ensina as pronúncias àção e àcionamento, mas âcionado, âcionar, âcionista. Mas há mais extraordinário ainda. Mesmo quando articulamos a consoante, a vogal precedente pode, contra toda a expectativa, fechar-se. Assim, a nossa pronúncia “culta” pede (são meros exemplos) lácteo mas lâcticínio, càpturar e càptura mas câptar, bàctéria (ou já bâctéria?) mas bâcteriano, fácto mas fâctual. É, de novo, o caos em todo o esplendor. Pois bem, num raro pronunciamento público, os fabricadores do AO mostram-se aqui triunfantes. “Estão a ver? As consoantes não fazem serviço nenhum”. É uma elaborada forma de cinismo. Em vez de reconhecerem que em sistemas caóticos, ou não se interfere, ou se o faz com tino, apenas esfregam sal na ferida, numa satisfação alarve.

6. Como se tudo isto não bastasse, a aplicação do AO entrou numa dinâmica perversa. Mal informados, desorientados, os utentes refugiam-se no excesso de zelo, cortando consoantes a torto e a direito, em patéticas violações do Acordo em nome do próprio Acordo. De dezenas de casos documentáveis, citem-se atidão, cócix, helicótero, núcias, oção, óvio, rétil, sução, tenológico. Nem faltam as soluções invencivelmente criativas como “os fatos consumados”, “em idade proveta”, “travagem abruta”, “pato com o diabo” (em reedição de Saramago), “catação de investimento”, “o entusiasmo elipsou-se”, “a mulher latente”. E que fazem os procriadores do Acordo? Encolhem os ombros, sorriem distantes, não é com eles. Há-de passar. Hipercorrecções sempre as houve e haverá. Tirando isso o Acordo é um sucesso. Não lhes ouvimos um público e curial “Não foi isto o que quisemos!”, como se até isso os humilhasse.

7. Ao fim de anos e anos de queixas, denúncias, ataques, implorações, os inventores do AO continuam, pois, a festejá-lo. Nunca, porém, a protegê-lo. A sério: jamais se viu defenderem materialmente o seu produto. Não existe um simples artigo em que o AO90 veja defendidas as suas concretas opções, esclarecidas naturais dúvidas, expostas vantagens. Em horas de aperto, vêm promessas de não se negar uma revisãozinha, não senhor, mas só com todas as ratificações no bolso. É a mais transparente das chantagens. Se o empenho numa revisão deveras existisse, o racional seria oferecê-la desde já em troca das ratificações em falta. Mas a questão não se lhes põe sequer. Os guardiães do AO sabem que a mais ténue fresta conduziria à implosão do edifício. Chamem-lhes parvos.

8. Hoje, e de há muito, a eficaz resistência ao Acordo é devedora a autores, a tradutores, a jornalistas e, sim, também a editores. É devedora a ensaístas como António Emiliano (O fim da ortografia, 2008) e Francisco Miguel Valada (Demanda, deriva, desastre, 2009), mais o saudoso Vasco Graça Moura, que puseram em crua luz os abismos de absurdo a que, em matéria de economia linguística, este AO conduzirá. É devedora a professores, gente na primeira linha de fogo, e a muitos, muitos cidadãos. É devedora a activistas na rede como o tradutor João Roque Dias e o colectivo “Tradutores contra o Acordo Ortográfico”, que vêm cartografando desmandos, incongruências, arbitrariedades. É devedora ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, que, mesmo acordizante, se fez repositório de quanto sobre o AO se publica.

Este Acordo surgiu da ingénua convicção de que a grafia do português europeu era ordenável a nosso bel-prazer. Não é. Mas podem, e devem, atalhar-se desordens maiores. Hoje. Já. Cada dia perdido, o desastre aumenta.

Redação

16 Comentários

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  1. reformas ortográficas absurdas

    Para o Brasil, as últimas reformas ortográficas, incluindo a aplicação do tal acordo, destruíram muitas qualidades de nossa ortografia, sem ter acrescentado nenhuma vantagem, a não ser para editores de dicionários. Incorporamos a moda alemã de juntar palavras, quase abolimos o hífen, abolimos o trema, fazendo nossa cidadezinha de Pariqüera-Açu virar parikera, preisaremos recorrer aos espíritos para saber que a pronúncia de ideia é diferente da de candeia, e outras barbaridades. O resultado é a dificuldade da compreensão dos textos, mais exigências de decoreba para as crianças, que antes só precisavam ver o acento para saber a pronúncia. 

    A subserviência do Brasil perante a minúscula população dos que não emigraram é mais um exemplo de nosso complexo de vira-lata. Os custos e a confusão ficam por nossa conta, e nunca teremos uma língua unificada, nem é interessante que haja essa camisa de força. Os falantes de inglês se dão muito bem com diferenças de pronúncia e ortografia, mesmo no próprio país. 

    Uma medida inicial seria abolir pelo menos as duas últimas reformas, retornando um pouco à racionalidade.

     

  2. acordo lingüístico ou econômico?

    Esse acordo é um lingüístico, realmente? Ou meramente econômico, para facilitar a vida das editoras, ampliando ou unificando assim seus mercados sem gastos de revisões?

  3. É bom não esquecer…

    Esse AO foi contestado (e ainda o é) em toda Portugal !

    E não se trata, apenas, de conservadorismo. 

    É bom ler com cuidado o artigo do Fernando Venâncio e buscar as causas nos debates, durante todos esses anos, em Portugal. Sobre a pronúncia, parece que o articulista acerta em cheio !

     

  4. E que cortem o cordao umbical, tchau Portugal

    Sou grato por finalmente achar palavras de consolo em minhas reflexoes internas, lido esporadicamente com traducoes.

    No meio de conhecidos e amigos sou quase motivo de chacota, nao fosse o respeito, pois nao digo portugues do brasil…digo lingua brasileira. Nao eh a toa que os cursos de linguas na europa oferecem cursos de portugues e de brasileiro com respectivos materiais ditaticos.

    Com o passar do tempo pude ver que nao so por conta da confusao do acordo mas ele aplicado em varias traducoes ao longo dos anos fazem de medicos, engenheiros e informaticos que nao dominam uma lingua estrangeira para poder ler no original, os mais completos alienados pois nao sabem explicar o porque determinado objeto ou conceito é representado por aquele simbolo (p.ex. por uma pessima opcao do tradudor). Para determinados textos tecnicos contemporaneos, pesquisas etimologicas sao de pouca ajuda.

    Antes só do que mal acompanhado, dizia minha mae.

    Como ja vivi na europa, sei que o acordo ortografico ainda tem uma funcionalidade politica e outra economica. Politica pq eh a afirmacao institucional de que “somos” parte das colonias destes que nos olhos dos nordicos nao passam dos “favelados”, mendigos e dos nao produtivos da europa. Ou seja, ja pecamos politicamente por ignorancia ou ingenuidade quando assumimos e vestimos a caimsa de que provavelmente nao sairemos do buraco, seguindo a risca os ensinamentos dos proprios colonizadores.

    A funcionalidade economica vem na forma de barreira de mercado para servicos genuinamente brasileiros que sao feitos por portugueses. Ha uma demanda bem razoavel para traducoes para o pt-br na europa. Mas quando se pede um visto de trabalho para uma vaga em que seja determinante o uso do pt-br, exclusivamente para o mercado brasileiro, nao se considera que o brasileiro eh o nativo do “pt-br” de forma que, experiencia propria, nega-se visto de trabalho para brasileiros para tanto sob pretexto de que a EU da preferencia a pessoas dentro do seu mercado interno “igualmente qualificadas e capazes” para exercer essa mesma funcao. Ha inumeros exemplos o ultimo que me vem a mente é esse site de comentarios o Disqus.

    Como se nao bastasse o desprezo dos portugueses para com os brasileiros em geral na terra deles, mais o desastre linguistico tao acentuado como propoe o autor e que concordo plenamente, imagine o desastre cultural, politico e economico para os brasileiros que nao teimam em nao cortar o cortao simbolico umbilical com a metropole. Ate pq formalmente portugal vive negando a descencia para milhares de brasileiros com as desculpas mais esfarrapadas do universo e os piores e mais mal educados atendentes de consulados e embaixadas do mundo.

    ps. Os portugueses podem migrar para o Brasil com facilidade e inclusive fazer concurso publico.

  5. Deveras “caóptico”

    Como explicar para um estrangeiro, estudante de português, ou mesmo para uma criança, que “linguiça” e “preguiça”,  “frequente” e “apoquente” ou ainda “ambiguidade” e “antiguidade” possuem pronuncias distintas?

    Como pronunciar uma palavra que desconhecemos quando temos exemplos como os de acima?

    E como interpretar as seguintes manchetes: “Vaia para atleta” ou “Remédio para respiração”? Tudo bem, concordo que uma ligeira modificação na forma de escrevê-las dirime as dúvidas. Mas o redator distraído pode nem perceber a ambiguidade.

    1. A morfologia não é tudo!

      Toda discursividade é contextual. Inteligência linguística é aquela que funciona em contexto.

      Quanto ao trema, apesar de todos os brasileiros que o usavam antes acharem mais confortável sua manutenção, seu uso já havia sido abolido no português europeu (exceto para palavras de origem estrangeira) pelo Acordo Ortográfico de 1945, que jamais chegou a ser oficialmente implementado no Brasil.

      Em Portugal essa abolição foi ainda mais radical que a dos grupos “gu” e “qu”, pois lá o trema era usado sobre as vogais “i” e “u” que, em encontros vocálicos, não formam ditongo com a anterior: saüdar, reünião, depoïmento, esmiüçar etc.

      Veja, Galileo, que nesse segundo caso, os portugueses também teriam tanta razão quanto você para pedir a restauração do uso desse sinal nessa situação!

      Não foi a queda do trema lá, onde se usava, que fez algum português deixar de dizer “saudar” para dizer “sáudar”; deixar de dizer “esmiuçar” e passar a dizer “esmíuçar”, mesmo que, para muitos no Brasil sempre haja dúvida entre “gratuito” e “gratuíto”… e, como dizia Guimarães Rosa a respeito de um personagem seu: “ele gostava dos pastos bem separados: o que é bom, bom; o que é ruim, ruím” (e Rosa, propositadamente, usou o acento aí, mas por imperativo prosódico, e não ortográfico).

      Vale lembrar que o Acordo Ortográfico de 1945, produziu muito mais impacto na grafia do português que o atual. Note-se também que ele foi zelosamente implementado por Portugal, enquanto que o Brasil, apesar de firmá-lo, jamais o implementou, preferindo manter a sua reforma de 1943, que suprimia várias das consoantes mudas que continuaram sendo usadas na forma escrita do português de Portugal.

  6. Mais ao mar! Nem tanto à terrinha.

    Esse artigo parece tomar o Acordo Ortográfico apenas como pretexto para exageros sensacionalistas.

    A despeito do que o artigo sugere, e bem diferente do francês, por exemplo, o timbre das vogais em português não tem tanta relevância fonética (os nordestinos, que “abrem” todas as vogais, que o digam). Portanto, isso não entra no campo de debates do Acordo, que, reconhecendo criteriosamente a tradição, é orientado, fundamentalmente, por uma perspectiva fonética (e não fonêmica), como se faz hoje em dia para estabelecer ortografias para línguas sem escrita, em particular as línguas indígenas do continente americano.

    Claro, à diferença das línguas europeias, essas outras não incorporam tradição alguma na escrita, por isso, a redução fonética pode ser mais radical (“escrever como se fala”, para nos aproximarmos dessa ideia, apesar de não ser isso, porque tudo é permeado por convenções), mesmo assim sob intensa negociação entre particularidades idiomáticas de grupos locais.

    No entanto, o que esse artigo acaba por fazer é advogar pela tradição vista pelo horizonte do absoluto, ainda que disfarçado de tolerância. No fundo, sua argumentação acaba engolindo o próprio rabo, porque sua falta de medida acaba chancelando aquela intolerância que quer naturalizar a convencionalidade.

    Parece, até mesmo, que o mar infinito já não é mais português.

  7. É um artigo conservador

    Acho importante contrapor à opinião acima algumas frases de Evanildo Bechara:

    “A partir de 1º de janeiro passam a vigorar, definitivamente, as novas regras do acordo ortográfico. O Brasil está pronto para ele?

    Ortografia é só a vestimenta das palavras. Quando se faz um acordo ortográfico, não se mexe na língua, se mexe apenas na roupagem das palavras. Desde 1911, Brasil e Portugal tentam aproximar seus sistemas de grafar palavras. Tivemos quatro anos para nos adaptar e eles foram suficientes. Principalmente, graças à imprensa, que abraçou o novo sistema.

    Mudam poucas coisas e, nessas mudanças, o Brasil teve de ceder muito mais do que Portugal. Dos seus hábitos de escrita, os portugueses só foram obrigados a abandonar a consoante não articulada, aquela que se escreve, mas não se pronuncia. No novo sistema, o que não se pronuncia não se escreve.

     

    Quais são os benefícios do novo acordo para o Brasil?

    O benefício do novo acordo não é só para o Brasil. Quando o sistema ortográfico começou a ser estudado, a preocupação era apenas facilitar a escrita, portanto o movimento de simplificação ortográfica ajudava a pedagogia da língua. Há também um fator de maturidade. Uma língua não pode ter duas ortografias oficiais – como acontece hoje, em que temos a do Brasil e a de Portugal.”

     

    (Entrevista de Evanildo Bechara ao Estadão http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,com-o-acordo-tiramos-um-peso-dos-ombros-diz-evanildo-bechara,959220 )

     

     

     

    1. Desculpe, Urariano, mas isso é tolice

      Só serve para reforçar a idéia ERRÔNEA de que as línguas faladas em Portugal e no Brasil — e tb as faladas nos países africanos ditos de “língua portuguesa” — ainda sao “a mesma” língua, quando isso nao é mais verdade. Nao é só a pronúncia que é diferente, a pronúncia varia até entre as variedades do Brasil e de Portugal. Mas a GRAMÁTICA dessas diversas línguas já é bem diferente atualmente, e quando as gramáticas variam nao se pode mais falar da mesma língua. Bechara é um gramático normativo, ele sim conservador, que quer que nós ainda nos ajustemos à gramática do Português Europeu, que já nao é mais a nossa, especialmente no que concerne ao sistema pronominal.

      1. Gramática???

        Valha-me Chomsky!!! Gramática não é regra sintática.

        Linguisticamente, o critério convencional para reconhecer a identidade linguística é a mútua inteligibilidade entre falantes.

        Talvez seja difícil para um nordestino entender plenamente o que diga um português de Trás-os-Montes, mas nada que algumas semanas de convivência não resolva.

        Aliás, por experiência própria, basta descer o Douro que o português da cidade do Porto já fica inusitadamente parecido com o brasileiro, e eu compreendia até mesmo os vendedores de peixe do Mercado do Bolhão com a mais absoluta perfeição e o gracioso reconhecimento de maneirismos próprios, que apenas falantes de uma mesma língua são capazes de degustar.

        1. Pretensao pouca é bobagem mesmo, né?

          Tá pretendendo me ensinar o que é gramática? Vc é linguista? Eu sou. E gramática é sim regra sintática, embora nao apenas (ou seja, melhor dizendo, regra sintática é sim manifestaçao da gramática — e aliás, já que vc está citando Chomsky, para ele a manifestaçao por excelência; mas a gramática tb inclui regras fonológicas, e até textuais e discursivas, embora a inclusao das últimas na gramática varie segundo as escolas linguísticas).

          Mútua inteligibilidade pode haver até entre falantes do Português e do Espanhol… Claro que o PE e o PB ainda sao muito próximos, e relativamente intercompreensíveis; isso só comprova que o afastamento das duas línguas é recente.

          1. Nao vale a pena ter esse trabalho

            Vc pode ser cientista social. Linguista vc nao é. E vá se catar 2!

  8. O acordo é bom

    A finalidade do acordo é comercial; os livros brasileiros poderão ser vendidos em Portugal e suas ex colônias, e vice versa, os livros de Portugal e suas ex colônias poderão ser vendidos no Brasil, com grafia entendida por todos, obviamente, o Brasil leva vantagem nisto, pois tem muito mais quantidade de livros para vender, daí a revolta dos escritores portuguêses, que não gostam de concorrência.

    Países pequenos na Europa tem suas linguas ameaçadas de desaparecer, mas isto não preocupa os portugueses. Em países como Holanda, Suécia, Dinamarca, fala-se o inglês tão bem como a língua nativa, ao ponto de alguns classificarem estes países como bilingues. Ou seja, países pequenos com línguas próprias tendem a perder suas línguas para o inglês com o passar de séculos.

    Portugal está caminhando para isto, pois é um outro país onde se fala relativamente bem o inglês. (13° em proeficiencia no ranking mundial de países não falantes do inglês)  Isto é explicado, porque com a União Européia, e a liberdade para migrar e trabalhar por toda a Europa, os povos acabaram elegendo o inglês como língua comum no continente. Quando um português vai trabalhar na Alemanha ou Inglaterra, Luxemburgo ou Áustria, a língua que falará lá será o inglês e todos se entenderão, ao voltar para Portugal, muitos também que foram trabalhar nestes países saberão o inglês. Logicamente que os portugueses não se insurgem contra isto, pois precisam da União Européia, diferentemente do Brasil, o qual seu governo não depende economicamente tanto assim.

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