As contradições insolúveis do golpe, por Rafael Pizzato Vier

 
 
As contradições insolúveis do golpe
 
por Rafael Pizzato Vier
 
 
Outra análise interessante de se fazer sobre o momento atual é a contradição atávica desse golpe.

Preliminarmente, algumas considerações sobre esse processo.

Ele se deu sobre duas razões aparentes e duas evidentes.

Nas razões aparentes estava a luta contra a corrupção e a luta contra o “gigantismo estatal” – menos impostos, estado mínimo, etc.

As razões evidentes eram a crise das commodities e a perda relativa do padrão de consumo e status da classe média. Assim, havia um baixo crescimento econômico combinado com uma inflação de serviços e a necessidade da classe média ter que dividir e/ou disputar espaço nas universidades, aeroportos, etc., a partir da ascenção social de milhões de pobres.

Repare que, discursivamente, a causa aparente se sobrepõe à evidente.  

E aí está uma das contradições na origem do golpe e que acaba de eclodir com a “greve dos caminhoneiros”.

Porque, mais mercado e menos estado, significou combustíveis mais caros, além de menos crescimento econômico por conta da inação do Estado para destravar a crise.

E a segunda contradição, que está por eclodir, é que menos impostos representam menos recursos para pagamento de juros.

Logicamente, alguém pode dizer que o recurso orçamentário para pagamento de juros não está contingenciado, ao contrário dos recursos de custeio e investimento. Porém, com um bolo orçamentário menor, mantendo o mesmo patamar de juros, sobram menos recursos para sustentar a máquina do Estado e investir (para romper a crise), produzindo assim uma espiral descendente que, conforme já foi dito, uma hora explode.

E, quando isso acontece, como agora, coloca-se na rua a força policial para reprimir a “classe média” e coloca-la de volta no seu devido lugar.

Agora repare. Grande parte desse mesmo grupo social que ontem foi às ruas para derrubar o governo, contra a corrupção e a favor do “Estado mínimo”, se mobiliza novamente (ideologicamente orientados pela mídia e por grupos de interesses operando via redes sociais) para pedir “menos imposto nos combustíveis”.

Assim, da mesma forma que ontem a reivindicação de “menos Estado” e “mais mercado” produziu, hoje, gasolina mais cara; a reivindicação de hoje por “menos imposto nos combustíveis” produzirá amanhã, quando ,o Estado colapsar, menos recursos para pagar juros.

Desta feita, antes do segundo colapso (nos serviços públicos que vai pressionar para o não pagamento de juros), a “classe média” (e boa parte da “remediada”) juntamente com a turma da bufunfa e seus porta-vozes da mídia deveriam afinar o discurso. Porque, ou eles defendem menos Estado e menos juros, ou essa conta não vai fechar. Afinal, quarenta por cento dos impostos vão para pagamento de juros da dívida interna. Ou seja, se a “turma do mercado” abrir mão de seus juros, dá até para reduzir em quarenta por cento a carga tributária no Brasil. E, aí sim, embora a crise econômica se mantenha, porque diante dela vai faltar a alavanca do Estado para mover o crescimento, pelo menos haverá um pouco mais de coerência entre o discurso e a realidade econômica. Pois, do contrário, a conta não vai fechar e esses sabichões levarão o Brasil para uma segunda crise, ainda pior.

O mais engraçado é ver esse pessoal da classe média e da bufunfa se batendo ao ver o bolo diminiur. E o pior, é que preferem morrer afogado na sua ideologia, sem querer dar o braço a torcer, do que reconhecer que a melhor saída é voltar a política anterior, isto é, de inclusão social e ação estatal para fazer o bolo voltar a crescer. Vai até sobrar um pouco para pagar um jurinho. Porque, do contrário, acho que nem para isso. Vide Odebrecht e os bancos que ela deve.

 

 

Redação

5 Comentários

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  1. “Ou seja, se a “turma do

    “Ou seja, se a “turma do mercado” abrir mão de seus juros, dá até para reduzir em quarenta por cento a carga tributária no Brasil.”

    Vou usar o exemplo da CEF para expor como o país está refèm dos rentistas que ajudaram a derrubar o governo anterior e colocar no poder um bando de ladrões.

    O mesmo acontece em todos os bancos.

    Para os rentistas pouco importa a corrupção, importa mesmo são os lucros. Todo o resto, que foda-se.

    A CEF é um banco 100% estatal e conforme divulgado semana passada, bateu record de lucros no primeiro trimestre de 2018.  Bateu também o record de lucros no ano de 2017. Porque?

    Quando a Dlma foi presidenta a selic chegou a 6,75% a.a. em outubro de 2012, se não me engano. Hoje, está a 6,5% a.a.

    Há uma diferença fundamental de lá para cá.

    Lá a selic estava a 6,75 a.a.  e o crédito rotativo da CEF estava a 4,27% a.m. na sua faixa mais alta. Mesmo assim e acho que estava alto tendo em vista inflação em torno de 6% a.a.

    Hoje, o governo se gaba da selic mais baixa da história a 6,5% a.a.

    Ocorre que o mesmo crédito rotativo da CEF está hoje a 13,3% a.m.. Uso o CROT como referência mas o mesmo acontece com todas as taxas de todas as linhas de crédito. Tiveram aumentos assustadores.

    Hoje a inflação, segundo o governo está a 2,5% a.a. o que torna a selic muito alta mesmo a 6,5% a.a. O juro real está mais alto que no governo Dilma mesmo com inflação mais baixa.

    A inflação está baixa porque não há demanda e talvez não haja um pouco mais de demanda porque os juros estratosféricos estão carreando recursos que poderiam estar no consumo para o bolso da banca.

    Por isto lucros recordes mesmo em banco 100% do governo. O mesmo record de lucros ocorre na banca privada.

    Desde o início acreditei que este foi um dos principais motivos pelos quais a Dilma foi derrubada. Ela ousou baixar UM POUCO os lucros do rentismo e isto foi imperdoável.

    De nada adianta selic a 0% a.a. se os bancos continuarem com juros abusivos. Isto é um saque a todos os outros setores da economia,

    Por isso concordo que se baixasse os juros bancários para niveis civilizados a economia poderia dar uma recuperada e mais a frente a carga tributária poderia ser diminuída, desde que o governo fizesse com que os mais ricos pagassem IRPF e acabasse com a isenção fiscal sobre dividendos.

    Também poderiam pensar em imposto sobre herança e fortunas.

     

  2. As…

    Esquerdopatas estão totalmente perdidos. Eles não representam nada, fora eles mesmos. Onde está esta tal Direita nestes 40 anos Redemocráticos? Em OAB e Elite da USP, dentro de Fefelet’s que produziram os dois partidos hegemônicos das últimas décadas? OAB de Temer, temer de OAB, agora são o antagonismo a ser combatido? Não foi o alicerce político, criado por Ditador, para calar Urnas Livres e facultativas? O Brasil é de muito fácil explicação. 

  3. Quero ver é quando faltar a

    Quero ver é quando faltar a verba do auxílio moradia e auxílio sei lá o que do Barroso e do Moro. O governo vai manter o padrão de vida da casta ou pagar os juros?

    Se bem que esses dois aí devem ser acionistas da Petrobrás!

  4. Quero ver quando a malha rodoviária se transformar numa cratera

    A arrecadação de tributos vai se reduzir ainda mais. Com menos impostos arrecadados, as estradas do Brasil, que já estão com péssima qualidade, se transformarão numa cratera única.

    Alguém consegue ver algum vagalume no fim do túnel?

    Eu não consigo nem sequer enxergar o túnel.

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