Bolsonaro, Noblat, Adélio, a filosofia ocidental e o Tiranicídio, por Rogério Maestri

Aqueles teólogos que aceitam o tiranicídio não aceitam a conspirações palacianas, mas sim a voz divina orientando o executor da sua vontade.

Ilustração Paula Datti

Bolsonaro, Noblat, Adélio, a filosofia ocidental e o Tiranicídio

por Rogério Maestri

Há alguns anos, antes mesmo de Bolsonaro ser um candidato viável, tive a oportunidade de ler um excelente texto filosófico intitulado Tiranicídio (http://filosofiaunicamp.blogspot.com/2008/12/tiranicidio.html).

O texto é de quarta-feira, 10 de dezembro de 2008, logo nada inspirado na situação brasileira atual, entretanto é extremamente interessante pois coloca as posições filosóficas de importantes Doutores do Cristianismo sobre o que eles chamam o Tiranicídio.

O autor inclusive começa a falar a atualidade ou não sobe as doutrinas de morte aos tiranos, começando exatamente com frase que na época atual faz sentido:

No mundo atual existe muito pouco espaço para as doutrinas da resistência aos poderes tirânicos. Cresce o confisco da cidadania em todos os países, impostos atingem patamares desumanos, guerras são declaradas sem consulta aos povos, aumenta o segredo e some a transparência democrática. Após as experiências totalitárias e ditatoriais do século 20, sombras espessas se elevam sobre o planeta. Este, longe de ser um cosmos, como desejaram várias filosofias pretéritas, manifesta a si mesmo como explosivo. Não existe direito garantido sequer nas formas democráticas consolidadas. E tal fato evidencia a corrosão inédita do caráter, sofrida por muitos povos e seus dirigentes. A ética chegou ao ponto mais baixo quando se trata de pensar os direitos humanos coletivos e individuais. As doutrinas do monarcômacos renasce, esfacelada, nos movimentos terroristas que sucederam as revoluções falidas dos séculos 19 e 20. Proponho examinar as bases daquela forma de pensamento. Deixarei, como sempre, a conclusão para os senhores.

Não vou nem tentar resumir o texto, pois sugiro que todos leiam, a medida que o autor numa longa digressão não poupa palavras para descrever com atenção a grande maioria dos filósofos judaico-cristãos que balançam a convicção de quem odeia a violência e a morte.

Ele começa com referências do antigo testamento onde as referências ao tiranicidio são numerosas (Juízes, 3, 14-23), (Samuel, 2, 18, 14), (Reis, 1, 2), (Reis, 2, 9), (Reis, 2, 11), (Judite, 12) (faltou a referência ao versículos ou todo o 12 é sobre isso, meu conhecimento do antigo testamento é bem limitado).

No novo testamento Paulo é explícito ao respeito aos governantes, entretanto termina com uma enigmática frase em Romanos 13 que diz claramente que deves pagar e respeitar os governante, entretanto “Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra”. Ou seja, ao governante deve retribuir o que ele os dá.

Passa o autor pelos Padres da Igreja (padres neste caso são seus teólogos que lhe dão a doutrina) sendo que Santo Agostinho termina a suas considerações, que no fundo rejeitam as conspirações mas colocam na mão de um indivíduo a execução dos designos divinos, escrevendo claramente “Se Deus manda uma pessoa privada matar o péssimo dirigente, ela deve obedecer.”

Já o teólogo que se debruça com cuidado sobre o tema é João de Salisbury, também conhecido por Johannes Parvus (João o pequeno), que foi um autor inglês, filósofo, educador, diplomata e bispo de Chartres, antes da reforma (1110 a 25 de outubro de1180). Ele coloca literalmente a posição “….Não apenas é lícito matar o tirano como é equitativo e justo. Quem toma o gládio é digno de matar pelo gládio….”.

Vou parar por aqui pois o texto é longo, porém uma conclusão é clara, aqueles teólogos que aceitam o tiranicídio não aceitam a conspirações palacianas, mas sim a voz divina orientando o executor da sua vontade.

Como diz sabiamente o autor, leiam com cuidado o texto e “a conclusão para os senhores.”

Redação

1 Comentário

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  1. O fascista é o tirano do capitalismo por excelência.
    Não é uma questão de escolha. Se os fascistas se fortalecem, a saída para combatê-los é a violência, pois é única linguagem que entendem.
    Se o seu ṕovo não o fizer, outro povo terá que fazê-lo, como o resto do mundo fez com os nazistas alemães e fascistas italianos e japoneses na 2a guerra.
    Quando se tornam fortes, os líderes fascistas devem ser assassinados, é simples assim.

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