Depoimento do boca a boca, por Paulo Endo

Foto: Elza Fiúza/ ABr

do Psicanalistas pela Democracia

Depoimento do boca a boca – Há poucos dias da votacão ainda há tempo, mas não muito mais

por Paulo Endo

Prezadas, prezados e caríssimos leitores do PPD

Hoje um dos organizadores de nossa plataforma perguntou sobre o futuro do PPD. Outras conversas virão. Isso me chamou a atenção pelas mudanças profundas que poderão suceder e o quanto devemos nos preparar para elas.

Como muitos brasileiros tenho falado com pessoas, dado entrevistas, ido a manifestações, proferido conferências, aulas, participado de reuniões, gravado programas de rádio e vídeos, escrito artigos a fim de influenciar, informar tentar evitar o pior e posso dizer que a única coisa que me parece poder alterar votos, a única coisa que nos faz sair de nossa bolha, de nosso cubo branco é a panfletagem e a conversa com diversas pessoas nas ruas. Indo e vindo. Pessoas que não frequentam os mesmo lugares que nós, que não pensam como nós, que não acreditam nas mesmas coisas que nós.

Senti nos últimos dias que quando nos aproximamos gentilmente das pessoas, mesmo num contexto de tanta hostilidade e perigo, elas querem nos escutar, elas querem nos ouvir e querem também falar. Das dezenas de pessoas que abordei apenas uma estava completamente fechada ao diálogo e à troca de impressões. Todas as outras estavam dispostas a ouvir, e mais da metade tinha seu voto mais ou menos indefinido.

Muitas dessas pessoas eram trabalhadoras e trabalhadores. Totalmente assoberbadas por uma rotina intensa e exaustiva de trabalho e pouco afeitas às discussões políticas, mas que gentilmente concediam um pouco do seu tempo para ouvir. A maioria dessas pessoas já sabem quem é o #ele nem a pau, embora ainda oscilem entre tudo o que disseram do PT e o candidato monstro.

Para mim o mais importante na última pesquisa do Ibope publicada ontem é que senti exatamente o que foi constatado: a rejeição ao Haddad está menos intensa e a rejeição ao #nunca aumentou consideravelmente. Pude sentir isso entre uma panfletagem e outra. Podemos conquistar essa eleição ainda. São sete pontos para conquistar, mas são milhões de eleitores, então precisaríamos ser milhões nas ruas para esses 4 dias que faltam. Se não conseguirmos colocar milhões de nós nas ruas do Brasil tentando convencer, sobretudo aqueles que serão atingidos pelo candidato #ele jamais, então seremos derrotados.

São quatro dias para convencer milhões de eleitores, mas também para afirmar nossas posições, princípios e sonhos no espaço público. Não sabemos se após as eleições ainda poderemos fazê-lo com a liberdade que conhecemos e estamos a defender.

Considerem restituir ao corpo o espírito do ato fundador da política: o diálogo, a persuasão, a possibilidade de dizer e escutar no espaço público. Vamos exercer nos poucos dias que restam  o melhor de nossas esperanças e gentilezas. Vamos pedir àqueles e àquelas próximas de nós, que acreditam em nós, em nosso trabalho, em nossas ideias que não desistam agora. Vamos formar grupos e ocupar as ruas conversando com todas e todas. Devemos e podemos nos proteger deixando, por exemplo, sempre alguém atento a movimentações, fazendo o papel de segurança, enquanto outros conversam, abordam e panfletam.

Hoje é proibitivo qualquer hesitação porque todos sabemos à exaustão o preço que teremos de pagar por ela. Vamos lutar pela nossa liberdade exercendo-a.

São milhões de votos que só serão alcançados com milhões nas ruas ajudando os indecisos e desinformados a sustentar a pouca democracia que temos.

Muitos tem medo de ir às ruas, esse medo não é despropositado e todos os cuidados são sempre bem vindos, mas há nesse medo também a fantasia de antecipação de um medo pior e real que poderá advir. Esse sim impedirá a ocupação do espaço público; esse sim perseguirá os que divergem; esse sim proclamará “se não está por mim, então está contra mim.” Esse horror não estará em nós, mas fora de nós e, queiramos ou não, teremos de enfrentá-lo.

Penso que ainda não é a hora do abraço dos afogados e todo esforço deve ser feito para que essa hora jamais chegue; ganhando ou perdendo. É a hora de emular a esperança que talvez não tenhamos e inalar o ar puro antes de nosso mais importante mergulho. 

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

E, sim, estamos juntos.

Saudações e esperanças

.

Paulo Cesar Endo. Psicanalista, pesquisador e professor Livre-Docente da Universidade de São Paulo
Pós-graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (FFLCH-Diversitas). Grupo de Pesquisa em Direitos Humanos, Democracia, Política e Memória do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP)
Instituto de Psicologia(IPUSP).

Redação

5 Comentários

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  1. Consegui fazer o estagiário

    Consegui fazer o estagiário da minha área mudar de idéia (ele votou no “coiso” no primeiro turno).

    Fiz isso conversando, pasmem, sobre um seriado da Netflix sobre 2a Guerra Mundial.

    Fui comentando sobre todos os antecedentes históricos que culminaram na ascenssão de Hitler, como foi feito o trabalho de demonização dos judeus, a tática de Göbels (utilizando apenas cinema e rádio), etc.

    Quando ele me questionou como o povo alemão não percebeu a manipulação, comecei a traçar o paralelo com os dias atuais.

    Expliquei que o método é exatamente o mesmo, a mentira tomada como verdade, a escolha do inimigo interno, a desumanização do mesmo, e, por fim, a tragédia.

    Expliquei que mudou-se a tecnologia, mas o método está inalterado.

    Estou seguindo a dica de que não adianta esculachar o eleitor do Bolsonaro (o enganado, não o reaça). Temos que ser bem amistosos e sempre colocar dúvidas em suas convicções, ou seja, fazê-los pensar por si próprios.

    Se cada um de nós conseguirmos convencer 2 pessoas, precisaríamos de um batalhão de ao menos 3,5 milhôes de pessoas.

    Temos muito pouco tempo.

    1. Um voto virado…

      vira outro voto.

      Se formos pra rua, a matemática vai junto. 

      Não precisamos de 3,5milhões. Pecisamos de um batalhão catalisador de, no máximo, 200mil panfletadores. Isto corresponde a menos de 10% de filiados do PT. Acho que nosso exército tá na rua. 

      Pode começar a tremer, Bolsonaro. As urnas vão tremer e o sol há de brilhar mais uma vez!!

       

       

    2. Quem desconhece a história está condenado a repetí-la

      As pessoas não sabem o que é fascismo, não sabem o que é nazismo. Estão construindo-o sem saber do que se trata. Estão dando um tiro no próprio pé.

      Um povo ignorante ´instrumento de sua própria destruição.

  2. Reforçando a mensagem

    Também me transformei em um panfletador e queria só acrescentar aos que sairão às ruas:

    levem panfletos de sobra pois sempre encontro pelo caminho pessoas dispostas a espalhá-los como a gente está espalhando. 

    É nítido a curva ascendente de Haddad. O ângulo de inclinação precisa de aumentar. Depende agora só de nós.

    Tá na hora de mudar o futuro. 

     

     

     

  3. Primeiro eu consegui fazer uma eleitora do Bolsa anular seu voto

    Eu consegui fazer uma eleitora do Bolsonazi anular seu voto. Em seguida eu consegui fazer com que ela declarasse que votará no Haddad.

    Ela é garçonete mas está desempregada. Vinha de uma audiência trabalhista contra seu ex-patrão. Perguntei se fizeram acordo. Ela disse que o ex-patrão nem compareceu na audiência. Perguntei-lhe: “Em quem tu vais votar?”.  Ela disse ia votar no Bolsonaro. Perguntei se ela sabe que a equipe do Bolsonaro pretende acabar com o décimo terceiro salário e com o terço constitucional de férias. Ela disse que não sabia. Eu continuei: “Já que tu agora estás sabendo, tu ainda vais votar nele?”. Ela disse que não. Pedi-lhe: “Vota no Haddad”. Ela disse que todos os políticos são iguais, são todos farinha do mesmo saco e que, portanto, não ia votar em ninguém. Eu perguntei a ela se ela sabe em quem seu ex-patrão votou no primeiro turno e em quem ele vai votar no segundo turno. Ela responde que sabe, sim, que ele votou no Bolsonaro no primeiro turno e vai votar nele no segundo turno. Questiono-lhe: ” Será que ela não vai votar no Haddad no segundo turno?”. Ela disse que ele jamais votaria no Haddad. Perguntei-lhe: “Você é igual ao seu patrão?”. Ela disse: “Claro que não, ele é rico e explorador, eu sou pobre e explorada”. Então eu argumentei: “Se o Haddad fosse igual ao Bolsonaro seu ex-patrão poderia votar no Haddad, já que, segundo você, eles são iguais. Como seu patrão jamais votaria no Haddad, isso quer dizer que o Bolsonaro e o Haddad não são iguais, pois se fosse, os ricos votariam no Haddad, mas em geral eles não votam no Haddad. Parece que você é que é igual ao seu ex-patrão”. Ela disse-me: “Eu tava brincando contigo, besta, eu vou votar é no Haddad”.

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