Jorge Alexandre Neves
Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.
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Desalento generalizado, por Jorge Alexandre Neves

Enquanto afunda o país e arma uma bomba-relógio de longo prazo, o ministro da economia aproveita para culpar os pobres pelos problemas econômicos do país.

Desalento generalizado

por Jorge Alexandre Neves

Do início da década passada até 2014, o Brasil era um país que vivia um processo de formação de uma “sociedade de classe média”. Um processo semelhante àquele vivido pelos EUA logo após a segunda guerra mundial. Os dois momentos desses dois países tinham dois importantes pontos de convergência: a) um processo de expansão do mercado de trabalho, com a geração de empregos de melhor qualidade (no caso do Brasil, de crescimento da formalização, embora os empregos criados não tivessem salários muito altos) e; b) um forte investimento público no financiamento, a fundos perdidos, do ensino superior (a GI Bill, nos EUA, e o ProUni, no Brasil, além da expansão do ensino superior público, no caso brasileiro).

Ao contrário, portanto, de muitos sociólogos, penso que o Brasil caminhava para se tornar uma “sociedade de classe média”, pois essa se consolidaria, em função de que não era apenas uma ascensão de renda que se observava, mas uma cristalização de status (gostos, preferências, percepções de mundo, etc.). Há uma enorme quantidade de exemplos de jovens e adultos que conseguiram realizar mobilidades intrageracionais e intergeracionais, por terem sido beneficiárias de bolsas integrais do ProUni (1). O triste é que esses casos irão se tornar cada dia mais raros.

Já faz três anos que o número de inscritos no ENEM vem despencando. E essa queda não é consequência de um processo demográfico, mas do desalento educacional que está tomando conta dos jovens brasileiros. A rápida degradação do mercado de trabalho e a redução das oportunidades de acesso ao ensino superior, em função, principalmente, da redução das bolsas integrais do ProUni (mas não só desse, o “Novo FIES” é um completo fracasso de público), estão levando os jovens a uma situação de profunda desesperança (ver o gráfico, abaixo) (2). A tendência é uma explosão do número de Nem-Nem, ou seja, daqueles jovens que nem trabalham e nem estudam, partindo de um patamar já muito elevado de pessoas nessa situação. O custo disso no longo prazo será enorme!

De um lado, essa queda – por desalento – da procura pelo ensino superior. De outro, o problema da histerese (3) da força de trabalho, resultante também do desalento, este do mundo laboral. Por uma, a redução do investimento em capital humano oriundo da formação educacional. Por outra, a profunda depreciação do capital humano advindo do treinamento da mão-de-obra e de sua experiência laboral. Isso tudo e misturado numa economia com estagnação da produtividade.

Enquanto afunda o país e arma uma bomba-relógio (4) de longo prazo, o ministro da economia aproveita para culpar os pobres pelos problemas econômicos do país. A estes faltaria disciplina para poupar (5). Afinal, para aqueles que sobrevivem com até R$ 413,00 mensais (6), o hábito da poupança será facilmente desenvolvido com a busca de uma boa educação financeira.

Se economistas neoliberais como Paulo Guedes tivessem estudado um pouco de história saberiam que o chamado “período de ouro” do capitalismo ocidental se deu entre 1945 e 1975. Nesse período, as economias capitalistas ocidentais cresciam a elevadas taxas, com baixos níveis de desigualdade socioeconômica. O segredo? Para o sucesso do capitalismo faz-se necessário que o Estado use a poupança dos ricos para financiar o consumo e o bem-estar dos pobres. Sem isso? Desalento, desesperança, desespero e revolta!

Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997.  Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.

1 Comentário

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  1. Caríssimo Professor,
    Como vamos resistir a isso? O que podemos fazer? Concordo com sua análise: Mad Max é pouco perto do que está por vir!
    Como vamos lutar com o monstro que emergiu do golpe? Ele tem acesso a todo tipo de arsenal, nós trabalhadores, não.
    Honestamente, me vêem a mente oro ou outra uns impulsos suicidas…
    Na ditadura era Brasil, Ame-o ou Deixe-o. Agora parecer ser: Vamos obrigá-lo a nem amar e nem deixar, queremos mesmo é te matar! Como é que pode isso, um governo que quer exterminar seu próprio povo? E como todo mundo aceita isso e vota e apóia essa aberração?
    O que quer esse Pilantra Guedes? Matar todos nós de fome e de doença? Não seria melhor um tiro na nuca?
    O que vai parar isso? Quem vai parar os demônios capitalistas e impedir a destruição do mundo?
    Pior do que a derrota é a sensação de impotência absoluta.

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