Evangélicos, Democracia e Coronavirus na América Latina, por Marcos V. de Freitas Reis

Vivemos crise econômica, política e saúde sem precedentes e talvez nunca vista na história do nosso amado país.

Religião e Sociedade na Atualidade

Evangélicos, Democracia e Coronavirus na América Latina

por Marcos Vinicius de Freitas Reis

Na coluna desta semana aqui no Jornal GGN – Jornal de Todos os Brasis – gostaria refletir a relação dos evangélicos, politica e a questão da atuação do coronavirus nestas últimas semanas. Até porque a grande mídia e outros órgãos não tem dado destaque a participação dos grupos religiosos na formulação das politicas públicas no combate ao COVID-19

Os evangélicos sem dúvida são um dos principais grupos religiosos interessantes a serem estudados no Brasil. O seu crescimento em número de adeptos e influência na sociedade (principalmente na política) é algo recente e carece de muitas explicações para quem pesquisa o fenômeno religioso. Há quem diga que o Brasil daqui a duas ou três décadas será de maioria evangélica superando os católicos no número de fiéis (isto já é uma realidade em alguns municípios da região amazônica).

Infelizmente não temos espaço suficiente para discutir as razões pelas quais os evangélicos cresceram muito no Brasil nos últimos anos. Em termos gerais o que os especialistas dizem sobre a expansão dos evangélicos (pentecostais ou neopentecostais) são: excelente acolhida em suas atividades, capacidade de desenvolver linguagem adaptada ao público alvo, presença nos meios de comunicação, proselitismo, influência na política, dentre outras razões. Uma coisa é certa. A população que mais fez a adesão pela proposta religiosa evangélica foram as pessoas mais pobres deste país.

Em tempos de crise como este que vivemos no Brasil é natural que as pessoas recorram a ajuda religiosa para melhor lidar com as situações adversas da vida. Vivemos crise econômica, política e saúde sem precedentes e talvez nunca vista na história do nosso amado país. Em tempos de dificuldade como foi supracitado a relação entre religião, democracia e evangélicos acaba aparecendo e gerando polêmica.

O ato, publicado no Diário Oficial da União (DOU) do dia 26 de março de 2020, decreto autorizado pelo atual presidente da república que coloca as atividades religiosas como essenciais. Cabe aos estados e municípios adotarem ou não o decreto em suas circunscrição administrativa. Certamente o referido decreto foi atendido por apelos e pressão de líderes religiosos, entre eles representantes da bancada evangélica do Congresso Nacional. Medida perigosa uma vez que a abertura de cultos ou missas ou outro evento religioso que possa reunir aglomerações pode contribuir para aumento da disseminação do novo coronavirus.

No Estado do Amazonas algo similar ocorreu. Em sessão ocorrida no dia 06 de maio de 2020, Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) aprovou a reabertura de igrejas e templos religiosos por meio do projeto de lei nº 136/2020 de autoria do deputado estadual João Luiz (Republicanos). Não podemos esquecer que o partido Republicanos possui estreitas ligações políticas com instituições religiosas evangélicas e de outras denominações. Com certeza foi apelo de setores de políticos religiosos e líderes religiosos que necessitam que suas igrejas reabram para que suas atividades possam a voltar a oferecer os serviço religiosos. Não podemos esquecer que o Estado do Amazonas vivem caos político e sanitária.  O sistema de saúde do país colapsou, o governador enfrenta impeachment e rebeliões nos presídios acontecendo.  Uma situação caótica vivida. Será que é o momento oportuno de abrir igrejas? Penso que não.

Na terça-feira (dia 28 de abril de 2020), a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, reconheceu que houve “exageros” contra a liberdade religiosa durante o isolamento imposto por prefeitos e governadores para evitar o contágio do Covid-19. Criticou prefeitos e governadores de não inserir as religiões como serviços essenciais e ainda chamou atenção que muitos gestores municipais aplicam multas altas a religiosos que querem desenvolver trabalhos sociais junto as comunidades carentes. Pode ser que até a multa de fato seja alta.

Sabemos também que as pessoas não estão respeitando o isolamento social e por isso não estamos conseguindo achatar a curva do contágio do vírus. Será que de fato é contra a liberdade religiosa? Acreditamos que a primeira preocupação é a saúde do povo brasileiro. No momento certo naturalmente as atividades religiosas voltaram a funcionar e terão todo o apoio das autores políticas e outros setores da sociedade. O posicionamento da ministra é explicado pelo fato dela ser pastora de uma grande Igreja Evangélica no Brasil e logicamente utiliza o espaço político para defender os interesse de uma parcela da bancada evangélica em um governo que claramente tem o apoio deste ramos religiosos.

Contudo, o episódio mais polêmico O Ministério Público Federal do Estado de São Paulo, nesta semana, deu cinco dias para que o YouTube excluísse o material do ar que o Pastor Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, aparece prometendo que quem comprar o feijão vendido por ele conseguiria a cura do coronavirus.  Quem dera que fosse fácil a cura assim. Estaríamos salvo deste nefasto coronavirus. O que mais queremos agora é uma solução para esta terrível crise de saúde. Estamos vivendo tempos sombrios. Mais atrapalha do que ajuda. Cuidado com as falsas promessas.

Chamo atenção aqui da responsabilidade dos líderes religiosos em meio à crise de saúde do Brasil. O que a população brasileira precisa que as igrejas orientem seus fieis de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e as autoridades politicas locais. Não temos vacina ou medicamentos comprovado para a cura do COVID-19. O que sabemos que o isolamento social é a arma mais eficaz para diminuir a taxa de contaminação. Orientação diferente deste á caracterizada como irresponsabilidade, anticientífica, delirante, maluca e que atende apenas o interesse de pessoas que querem o lucro e não preocupam com a saúde do outro.

Acredito que o papal das igrejas neste momento não é questionar a ciência (como alguns segmentos fazem). Estamos em um estado de guerra contra inimigo que mal conhecemos. Necessitamos de mascaras, respiradores, luvas, investimento em pesquisa, e orientações públicas para que as pessoas que possam fiquem em casa. CUIDEM das pessoas que você ama. Este tempo passará. E teremos muito tempo para nos reunirmos e agradecermos pela vida que temos.

Marcos Vinicius de Freitas Reis – Professor da Universidade Federal do Amapá.  Membro Permanente do Mestrado em História Social – PPGH – UNIFAP. Membro Permanente do Mestrado em Ensino de História – PROFHISTORIA – UNIFAP. Líder do Centro de Estudos Políticos, Religião e Sociedade (CEPRES). Coordenador da Região Norte da Associação Brasileira de Teologia e Ciência da Religião – SOTER. Articulador da criação do Observatório da Laicidade no Estado do Amapá. Contato: [email protected]

Redação

3 Comentários

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  1. O poder das igrejas evangélicas no Brasil pode ser explicado a grosso modo por dois fatores.

    Primeiro, os evangélicos colocam como “virtuoso” ser rico, que quem é rico é por “merecer” (fazendo vista grossa para o sangue derramado ao fazer essa riqueza).

    E segundo, os padres evangélicos chegam muito perto de obrigarem os fiéis à entregar quantidades expressivas de dinheiro na forma de dízimos e doações em troca de “favor divino”, o que faz essas igrejas evangélicas terem muito dinheiro nos cofres. E dinheiro como vocês sabem é poder.

    Aliás, pensando melhor sobre a situação não me causa espanto que em um país de cultura medieval como o Brasil ainda tenha o equivalente a igrejas “vendendo terrenos no céu” como acontecia na Idade Média, e usando esse dinheiro para tomar o controle do reino.

  2. Não há inimigo maior da religião que a paz e a prosperidade.
    A política sabe disso.
    Quando a miséria chega, a religião se fortalece, faz líderes carismáticos “vencedores” em meio a crise, convencendo os sofredores de que eles poderão ser tão vencedores quanto seus líderes.
    Mas, como sabemos, não há aglomerações no topo.
    A fé, sendo cega, conduz multidões de cegos ou cega os conduzidos que queiram enxergar.
    A política não pode perder esse apoio enquanto se mantiver o consenso de que “o poder é do povo” e de que é ele que elege “os seus representantes”
    Os líderes evangélicos, raramente pessoas inteligentes, cultas ou razoáveis, são os ressentidos oportunos para satisfazer sua frustração de pobreza, aceitação social ou realização de poder, e esses, abundam nesta república de bananas.
    Enquanto houver crise, haverá fé cega, religiões e partidos políticos fundamentalistas.

  3. Independentemente de tudo o que possa haver de bom, verdadeiro e belo nas denominações evangélicas, os EUA utilizaram/utilizam os evangélicos/protestantes para a criação e difusão de ideologias que os favorecem, interna e externamente (geopolítica).
    Há muitas décadas vem ocorrendo a penetração sorrateira de “missões” evangelizadoras estadunidenses em toda a região amazônica. No restante do país é igualmente antiga a ação de escolas, colégios, faculdades e universidades controladas pelos evangélicos dos EUA.
    Os nacionalistas e progressistas não souberam/puderam/quiseram confrontar essas cabeças-de-ponte estabelecidas em nosso território.
    É mais uma peça no mosaico de nossa condição de povo explorado pelo império anglo-sionista.

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