Falsa homenagem em viaduto encoberta mesquinhez e preconceito contra Marisa

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Ricardo Stuckert

Jornal GGN – Ricardo Miranda publicou no portal Os Divergentes, nesta quarta (13), apontando que a homenagem que a Câmara de São Paulo fará colocando o nome de Marisa Letícia em um viaduto, na verdade, esconde “mesquinhez e preconceito” contra a ex-primeira-dama.

“Um desavisado dos tramites do projeto pode achar uma linda homenagem à mulher casada com Lula por 43 anos, morta em fevereiro deste ano, após um acidente vascular cerebral. A verdade é que a aprovação, em segundo turno, só ocorreu depois que vereadores concordaram com uma radical mudança no local. Para evitar polêmica com batedores de panela da Zona Sul de São Paulo, tiraram o nome de Marisa Letícia do local original da homenagem, a avenida na Chácara Santo Antônio, bairro nobre da capital – prolongamento da avenida Chucri Zaidan -, trocando-o por um viaduto em obras na região do M’Boi Mirim”, apontou.

Por Ricardo Miranda
 
Em Os Divergentes
 
Em bairro nobre não, Marisa!
 
O prefeito tucano João Dória, que carrega na estampa e nas ações sua origem na elite paulistana, sancionará em breve um projeto de lei que, na aparência, homenageia a ex-primeira-dama, Marisa Letícia. Na verdade, o ato esconde um preconceito. A Câmara de São Paulo aprovou na segunda, 11, projeto que dá o nome de Dona Marisa Letícia a um viaduto no extremo sul da capital. Um desavisado dos tramites do projeto pode achar uma linda homenagem à mulher casada com Lula por 43 anos, morta em fevereiro deste ano, após um acidente vascular cerebral. A verdade é que a aprovação, em segundo turno, só ocorreu depois que vereadores concordaram com uma radical mudança no local. Para evitar polêmica com batedores de panela da Zona Sul de São Paulo, tiraram o nome de Marisa Letícia do local original da homenagem, a avenida na Chácara Santo Antônio, bairro nobre da capital – prolongamento da avenida Chucri Zaidan -, trocando-o por um viaduto em obras na região do M’Boi Mirim.
 
O projeto de lei original, assinado pela bancada do PT, ficou parado por quase 9 meses em razão da resistência de demais vereadores. Moradores do bairro pressionavam contra a aprovação do projeto porque não queriam a homenagem a Marisa Letícia em uma via de destaque da Chácara Santo Antônio. Diante do impasse, o presidente da Casa, Milton Leite (DEM), e o vereador Paulo Batista dos Reis (PT) apresentaram substitutivo que dá o nome de Marisa Letícia ao viaduto que se inicia na Estrada do M’Boi Mirim e termina na confluência da avenida Luiz Gushiken – outro nome ligado ao PT, ex-deputado federal e ex-ministro, morto em 2013 – com a rua Adilson Brito. O projeto de lei foi aprovado de forma simbólica pelos vereadores – sem votação nominal.
 
No último dia 9, antes do acordo geográfico, o vice-presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), por orientação do Palácio do Anhangabaú, derrubou a sessão que votaria o chamado PL 81/2017 em segundo turno. “Fiz isso para evitar o constrangimento do prefeito em vetar”, admitiu Tuma, na época. Daí veio a ideia do acordão para desterrar a homenagem para bem longe. Talvez os nobres vereadores tenham achado que era um local mais apropriado para a mulher que nasceu em uma casa de pau-a-pique, no bairro dos Casa, sobrenome de seu avô, que tinha um sítio no interior de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
 
É simbólico que, na mesma votação, foi aprovado projeto de decreto legislativo de autoria do vereador Milton Leite para conceder a medalha Anchieta ao ex-ministro de Michel Temer, agora ocupando uma cadeira no Supremo, Alexandre de Moraes. A medalha é a maior condecoração do município. Os legisladores paulistanos têm mesmo seus critérios de Justiça.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1. Os pobres ignorantes

    A mediocridade e a maldade dessa gente não tem limites. Pois bem, acho que dona Marisa Leticia ficara melhor representada la onde colocarão seu nome. Não que ela não mereça ser nome de uma rua ou viaduto em qualquer bairro “chic” de São Paulo. Acho que é essa gente que não a merece.

    “A arrogância, irmã gêmea da mediocridade, é o veneno mais contundente da alma e do espírito, ela pode ferir sua vítima, mas seu dano maior será para si próprio no decorrer de sua miserável existência”.

    Ivan Teorilang

  2. Não sei porque ainda existe

    Não sei porque ainda existe quem se preocupe com aqueles batedores de panelas. Eles mesmos já se sabem imbecis ante os motivos que encontraram para bater panelas, quando o fizeram contra Dilma e o PT. O mundinho deles caiu logo a seguir do seu acesso de imbecilidade. 

    Não há mais razão para que sequer os levemos em consideração – eles próprios já se reconhecem no âmago de sua mediocridade como imbecis – podem crer.

    Deixem-nos curtir sua faina de tentar inutilmente desvencilharem-se de sua estupidez – ela é deles, só deles e eles sabem muito bem disso. O fato de não quererem aceitar o que são já lhes dói imensamente e vai estar dentro deles, como chaga e destino que se lhes atribuíram.

    Eles não têm cura, sabem bem disso, mas a certeza de sua estupidez é um castigo eterno que se atribuíram. Vão morrer não se tolerando a si próprios – apenas fingirão eternamente que não reconhecem o que fizeram.

    Mas o seu ego os castigará eternamente – e isso é muito bom!  

  3. Tá certo. Em bairro nobre as

    Tá certo. Em bairro nobre as avenidas e locais públicos poderiam se chamar Mussolini, Göring, Vlad, etc.

    Na periferia, seriam batizadas de Mandela, Luther King, Gandhi, Frida Kahlo, etc.

  4. Homenagem
     

    Fosse perguntada Marisa por certo preferiria ter seu nome associado ao povo, nomeando  um viaduto  onde seu espírito pairaria em  proteção dele, o povo,   em vez de  ser prolongamento de uma avenida chucra onde ninguém se lembraria de quem ela foi.

  5. Onde pensam humilhar, exaltam

    Mesmo com a melhor das intenções na análise, e que a decisão de fato revela o esnobismo torpe e excludente das chamadas “áreas nobres” – a própria forma de falar já lhes reconhece uma virtude que não têm; nobre por que? dinheiro nobilita alguém ou algum  lugar? -, considerar que o nome da primeira-dama Dona Marisa Letícia em uma região que simboliza tudo que ela e seu companheiro sempre combateram – a exclusão e a concentração de riqueza, renda e privilégios – seria uma homenagem mais digna do que em uma região menos badalada porque mais pobre, considero uma forma até perversa de validar a pretensão dos coxinhas do bairro  nada nobre de serem melhor do que o resto da cidade. Não são, e por saberem reagem histéricos a qualquer proximidade com a pessoa comum que se recusam a ser e que o curso da natureza não desmente.  Quanto à localização do logradouro como demonstração do valor da pessoa que o nomeia é uma questão interessante que reflete a dominação simbólica do espaço físico e geográfico, um ingrediente presente na especulação imobiliária em relação à composição étnico-sócio-econômica dos habitantes : alguém imagina que Guimarães Rosa, que nomeia uma ruazinha estreita na Consolação ao lado de um elevado com o nome do ex presidente golpista militar João Goulart, certamente lugar mais conhecido por motoristas do que a ruela, seja menos importante, de maneira positiva, para o país do que o vizinho? 

    Os nomes de ruas e outros logradouros em São Paulo, e talvez no resto do país, em relação à sua localização, não têm proporcionalidade honesta com a importância de seus/suas “homenagead@s” e a história do país e das cidades – nesse sentido, considero mais simbólico o nome de Dona Marisa em bairros de São Bernardo do Campo e nas periferias de São Paulo (pra ficar no estado coxinha de são paulo) – , sendo ao contrário quase sempre resultado de lobbies e da disputa simbólica para perpetuar nomes na narrativa histórica prevalecente, para vaidade de alguns e para lavagem cerebral de muitos. 

    Dona Marisa não precisa virar nome de rua ou de viaduto para fazer parte da história do país e da luta das mulheres na política e na vida cidadã que se constrói nos lares e nas comunidades, não menos importante que a chamada vida pública – no seu caso, até sua vida particular se tornou pública, por razões, algumas legítimas e outras criminosas. 

    Quem precisa virar nome de rua na zona sul dessa cidade cinza? Gente como o Vanglória e tantos outros imbecis que povoam nomes de rua e que sequer sabemos quem foram, enquanto a estátua de Carlos Drummond de Andrade é sempre vandalizada no Rio, e em São Paulo, plutocratas/velhacocratas da comunicação dão nome a grandes avenidas e pontes  que sempre são citadas nos boletins de trânsito – por exemplo, eu não sabia até pesquisar para confirmar, que a famosa Ponte Estaiada, que aparece nos noticiários globélicos paulistanóides, se chama Ponte Octávio Frias de Oliveira, em conjunção carnal de concreto e aço com a Avenida Jornalista Roberto Marinho. Simbólico, não? 

    A disputa por terra, no campo e na cidade, não está desvinculada da disputa simbólica por poder e influência. Coisa de que Dona Marisa e seu lindo marido, nosso presidente, não precisam, porque a História é feita de outros valores e está sempre sendo reescrita; e nome de rua, pra mim, só serve mesmo para informar endereço – eu mal conheço o  nome de muitas ruas no bairro onde resido, e por onde ando pela cidade, conheço os lugares muito mais por referência geográfica e de relação de proximidade entre locais do que por nome de rua. 

    Em relação a nomear logradouros e construir estátuas, uma questão delicada que esteve em pauta em São paulo na gestão Haddad com a alteração de nomes de logradouros vinculados à ditadura militar 1964-1985, no projeto Ruas de Memória; e nos EUA com a disputa por retirada ou permanência de estátuas de escravocratas em algumas cidades de intensa história de escravidão e cotidiano de violência racial e étnica, pessoalmente acho que é o caso de discutir a finalidade e os critérios éticos que deverão nortear os atos simbólicos de nomeação e revogação de homenagens. 

    Mas não se pode perder de vista que, como disputa eminentemente simbólica e política e como retrato, mutante, dos  consensos éticos e públicos sobre a história que se quer preservar e reverenciar, devemos considerar os valores que aplicamos às análises sobre, por exemplo, Dona Marisa ser avaliada pelo PIB do lugar onde seu nome será oficialmente um marco da cidade, como critério de in/validação. 

    Como metáfora, e naturalmente guardadas as devidas proporções, mas considerando o simbolismo da mensagem transmitida como alegoria histórica e mística, já que estamos às vésperas do Natal, em que se lembra  e comemora o nascimento de Jesus Cristo – e não o papai noel da propaganda e dos comerciantes -, é necessário lembrar que ele nasceu em uma manjedoura em meio aos animais de um estábulo e não em palácios onde morava, por exemplo, o infanticida cuja caçada imposta às famílias de crianças menores de 2 anos levou a família de Jesus a fugir logo após seu nascimento – segundo o Evangelho de Mateus. Nasceu, viveu, lutou e morreu como, por e entre os mais pobres, excluídos e perseguidos, assim como sua devota, Dona Marisa. 

    Dos realmente grandes, como Dona Marisa Letícia e seu exemplo de resistência, discrição e autenticidade, a história e o mérito são construídos em outros lugares que não as placas de rua e viaduto. E àqueles que destas dependem para garantir a posteridade, que a ética de cada tempo e lugar decida seu valor e espaço no presente passageiro de cada época. 

     

    SP, 13/12/2017 – 18:22

    1. Começou lindamente e o

      Começou lindamente e o sentido geral está corretíssimo. É isso mesmo: homenagem coerente a Marisa tem de ser na periferia ou em SBC. A Lula, imagino, nas imediações do Itaquerão. (lembrando que não há uma grande via Getúlio Vargas na cidade de SP).

      Mas não há necessidade de afirmar várias vezes a mesma coisa.

      De todo modo, só escrevo porque, até onde tive paciência de ler, há um engano grave: chamar João Goulart “militar golpista”. 

      A passagem é esta: “alguém imagina que Guimarães Rosa, que nomeia uma ruazinha estreita na Consolação ao lado de um elevado com o nome do ex presidente golpista militar João Goulart, certamente lugar mais conhecido por motoristas do que a ruela, seja menos importante, de maneira positiva, para o país do que o vizinho?” 

      Creio que a ideia era escrever general Costa e Silva, mas na hora os dedos dedilharam o nome do presidente eleito desposto em 64. Acontece.

      Nota mental: criar uma bolsa para cursos de redação objetiva (a primeira contemplada será Eliane Brum, depois…)

  6. SP

    Acho o povo de São Paulo asqueroso. Não respeitam o Lula, família do Lula, nada. E nem sabem votar, olhem a pesquisa aí, Celso Russomano na frente, gostam de gente como Alckimin, Dória, etc

  7. Se os moradores eram contra,

    Se os moradores eram contra, qual o problema em mudar o local? Ou agora a esquerda só aceita homenagens em ruas de bairros “chiques”? Coisa mais pequeno-burguesa…

    Quando eu lembro que aqui no Rio a Av. Dom Helder Câmara e a Av Martin Luther King ficam no subúrbio… 

  8. A verdade é que os bairros

    A verdade é que os bairros “chiques” de São Paulo não merecem um viaduto com o nome de Marisa Letícia.

    Sugiro “Suzanne Richtofen”, “Marquesa de Santos”, “Eva Braun”, “Margareth Thatcher”, “Regina Duarte”, algo assim. Combina mais com o ambiente.

  9. Por que esta homenagem?

    Qual seria a razão que homenagear alguem que chamou o povo de coxinha, o que esta Sra. fez de importante na area social quando primeira dama? Mulheres merecedores são Dna Zilda Arns, Irmã Dulce, Ruth Cardoso, Professora Heley Batista que salvou crianças no incendio da creche e demais mulheres anonimas que fizeram algo pelo proximo e não esta Sra. que apenas foi esposa de um condenado da justiça.

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