Gigantes alemãs apavoradas com as novas gigantes americanas, por Paulo Gala e André Roncaglia

Desenvolvimento é uma árdua tarefa de aprender a criar um ecossistema amigável à inovação

Gigantes alemãs apavoradas com as novas gigantes americanas

por Paulo Gala e André Roncaglia

Ainda sobre poder de mercado na fronteira da tecnologia, outro artigo do FT mostrando o receio dos alemães em ficar para trás na corrida tecnológica. A Tesla vendeu 500 mil carros em 2019 e tem o mesmo valor de mercado que a Volkswagen, com vendas de 10 milhões.

O artigo fala das empresas conhecidas como Net States ou “Estados da Rede”, isto é, as “Gigantes da tecnologia dos EUA”. São agentes não estatais digitais desinibidos por fronteiras nacionais e que, em alguns casos, têm mais influência do que os principais governos. Estas empresas se tornaram valiosas ao formar conexões com os clientes quase constantemente.  “Usuários do iPhone verificam seus celulares muitas vezes a cada hora, enquanto Google e Facebook captam dados de consumidores e lucram com isso de maneiras que os usuários não entendem. Esta ideia de que os intermediários dominam aqueles que produzem os bens finais é antiga na indústria da tecnologia. A própria história da Microsoft dominando a IBM é exemplo disso, tão bem retratado no formidável livro do David Warsh, O Conhecimento e a Riqueza das Nações.

A Apple vale o mesmo que a combinação do valor de mercado das 30 maiores empresas da DAX, a bolsa alemã. Apesar de ter tido US$ 55 bi em lucros, a empresa vale US$ 1,4 tri! Este é quase o PIB da Austrália ou Espanha, segundo dados do FMI para 2018. Na visão dos empresários alemães entrevistados, a perda de competitividade alemã se deve a: 1) falta de cultura de ventura capital (ou investimento em capital de risco, principalmente em startups) de grandes fundos de pensão acostumados com o dinheiro fácil dos bonds de governos. 2) As empresas alemãs não contam um ecossistema de apoio dos serviços militares e de inteligência – o que ajudou na ascensão da tecnologia na China, Israel e Coréia do Sul, além dos EUA.

Como discutimos em nosso novo livro, educação formal não é tudo. Alguém aqui dirá que finlandeses e alemães não têm alta escolaridade e instituições políticas e econômicas bem desenvolvidas? Mesmo assim, a Nokia e a Volkswagen estão ficando para trás. Desenvolvimento é uma árdua tarefa de aprender a criar um ecossistema amigável à inovação, o que inclui:

i) escolaridade formal, ii) sistema financeiro apto a investir em projetos de alto risco, iii) política industrial vigilante que reduza o risco de setores estratégicos

O Brasil precisa acordar para a dura realidade que desenvolvimento não vem espontaneamente. É a dura conquista de uma condição de concorrência perpétua entre os grandes. Não há bala de prata! É preciso armamento pesado e muito sofisticado!

Redação

4 Comentários

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  1. Estou achando um pouco precipitada essa análise. Parece-me que o próprio gráfico mostra que a “avaliação de mercado” é bastante volátil, como, aliás, seria de se esperar. Já as vendas revelam um quadro efetivo, embora, é claro, se refira ao passado.

  2. Esta é uma preocupação “real”, mas bolhuda (ou bolhesca?), que tem sido promovida pelo financismo internacional já há bastante tempo, mas que um dia explodirá.
    Sua durabilidade é mantida pelo poder do dinheiro (fim e não meio), mas tal sustentação acabará por desmoronar devido a sua fragilidade sócio-econômica (e lógica). Explico:
    Os investidores acostumaram-se a ganhar com a valorização do valor em bolsa das empresas, sem sequer preocuparem-se com os resultados operacionais e/ou patrimoniais das mesmas.
    Como no boom das tulipas na Holanda, nas crises de 29 e 2008, naquela das “.com” e tantas outras.
    A menos de IPO’s e novas capitalizações, estes cassinos não acrescentam lhufas na operação e resultados das empresas (a menos de alguns indiretos relacionados a prestígio).
    A Apple, por ex. tem tido resultados decrescentes, mas neste ínterim chegou a ser a primeira a alcançar o valor histórico de US$1 trilhão. E daí, a menos daqueles que compraram na baixa e venderam na alta, sem que isso contribuísse para o resultado operacional/ patrimonial da empresa?
    Por esta (i)lógica, uma empresa pode ir do tudo ao nada (valor de “mercado”) por uma mera fofoca, crise ou pânico, ainda que tenha maus resultados no “tudo” ou tenha ótimos resultados no “nada”.
    Em resumo, há um grupo (cada vez mais) privilegiado acostumando-se a ganhar dinheiro com dinheiro, com irrelevante contribuição para a sociedade, embora a míRdia mantenha enorme destaque sobre isso.
    Sabemos (ou deveríamos saber) que a especulação financeira, incluídos os mercados de títulos (reserva de mercado de agiotagem pública) e modernamente os derivativos (especulação matemática!) acabam sendo pouco científicos e muito psico-emocionais, com altas doses de malandragem.
    Logo antes da crise de 2008, a maioria das instituições financeiras que quebraram (com ganhos fraudulentos e danosos à sociedade) eram classificadas como “AAA” pelas tais agências de “rating”.
    E foram todas socorridas com dinheiro publico, das mesmas sociedades que por elas foram gravemente prejudicadas.
    Somos mais de 7 bilhões de seres humanos sendo prejudicados por uma pequena fração de espertos do “sucesso meritocrático do roubo e da herança” que sequer conseguem gastar seus mais 100 mil dólares por DIA! Para toda uma vida!
    Enquanto centenas de milhões vivem na miséria, na fome, no sofrimento, na frustração e desmotivação, sem educação, moradia, saúde, marginalizados e marginalizando-se?!
    Para não continuar com muito blá-blá-blá, apenas fecho o assunto “elegantemente” com a seguinte questão:
    Que m#Rd@ é esta, p#rr@?!

  3. Baboseira total.
    A grande e imbatível alavanca por trás da economia estadunidense (o que é óbvio, favorece as suas maiores empresas) é o fato de sua moeda ser a moeda mundial para trocas, reserva de valor e crime organizado (drogas e armas) por isso podem emitir moeda e se endividar pagando juros baixos sem se preocupar nem com avaliação de risco nem com inflação.
    Ainda, o deles governo injeta continuamente trilhões na economia por intermédio do complexo industrial-militar, com pouquíssima preocupação com eficiência e resultados. É como imprimir dinheiro e distribuir, sem enfrentar questionamentos ou consequências.
    E mais, conta com um mercado cativo para sua indústria de armas, por meio da OTAN, um instrumento para manter europeus e outros aliados no laço. Outras imposições menos conhecidas existem, afinal as 800 bases militares espalhadas pelo mundo devem ter alguma utilidade real.
    Aí vem o articulista com essa conversinha para boi dormir.

  4. “…É a dura conquista de uma condição de concorrência perpétua entre os grandes. Não há bala de prata! É preciso armamento pesado e muito sofisticado!..”MERITOCRACIA E CAPITALISMO? Mas ainda dissertamos dobre Marx e Reforma Agrária Castrista aos moldes dos anos 50 !! A Alemanha é que deve se preocupar? Olhem os zumbis e a indústria da miséria do centro de SP? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

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