Medo de quê?, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Ando pesquisando e sonhando com o momento de clinicar em psicologia, atender pessoas e ajudá-las a enfrentar a vida. Numa dessas pesquisas, que dá conta de fatores paralisantes, encontrei o medo como arma fudamental para o afundamento psicológico – que também se manifesta na depressão.

“Ai, que assunto chato pro final de ano!”.

Chato, chato mesmo, é o dado que dá conta do aumento significativo de suicídios e tentativas de nesta época.

Uma razão das mais simples é a atmosfera de festas ~todo mundo está feliz, menos eu~ e, claro, a listagem dos compromissos para o próximo período.

Você já ficou encarando uma folha de papel, ali, branquinha, esperando para escrever um ou dois planos e sonhos e simplesmente travou? Não conseguiu transferir uma ideia de prosperidade que seja ali, da ponta do lápis pra vida real? Eu já. E, acredite, fiquei bem preocupada quando isso aconteceu. 

Outra coisa sobre terapia é que pouca gente, pouqíssima gente mesmo, tem coragem de realizar processos completos. Medo, coragem – palavras que vêm da mesma família, perceba. Isso acontece porque fatalmente, em algum momento do tratamento, a pessoa tropeça em algo que tem um quê de dolorido demais, profundo demais ou complexo demais e, pronto, melhor seguir a vida assim. 

Mas você já chegou neste nível, o de não conseguir traduzir um só sonho, desejo ou vontade em uma palavra, atitude, impulso? Eu já. E demorei demais pra dar conta, até porque, terapêutica que sou, sabia que vascuhar os campos deste subconsciente traria um quê de dolorido demais, profundo demais e complexo demais. 

Fato sobre mim: sou apaixonada por canetas e caderninhos. Preciso contextualizar pra explicar que minha caminhada rumo às beiradas de mim mesma começou com este embate: o de não mais conseguir ânimo pra escrever sobre um sonho ou dois. Opa, peraí: eu tinha sonhos, tinha motivos, tinha contas da vda real me chamando. Só que não conseguia, simplesmente não conseguia expressar nada. Nadica de nada – e isso me levou a pesquisar sobre a paralisia que o medo traz. 

Um amigo querido outro dia me falou: “entrar em depressão é fácil, difícil mesmo é sair”. E é. Até porque dependendo do tipo de personalidadde que a pessoa tem, até o diagnóstico fica mais complicado. Nem todo mundo se afunda no travesseiro e fica sem comer, sem dormir, sem amar. Algumas pessoas – como eu – continuam sorrindo aqui e acolá, mas estagnadas em um looping interno que reforça o fracasso como único resultado possível. Isso também é depressão, e tem tratamento.

Encontrei na minha terapeuta um porto seguro de troca de informações, de estímulo, de aplausos para minhas conquistas – e isso foi importantíssimo especialmente no que diz respeito ao corte no looping do fracasso. Hoje consigo sentir minhas vitórias e minhas batalhas têm rumo certo. Também me dispus a um tratamento lento, com medicação homeopática, acompanhada por um dos melhores médicos-bruxos de São Paulo (sabendo que há diagnósticos onde a homeopatia interfere bem e outros que necessitam de ação mais rápida, tradicional psiquiatria). A medicação homeopática, quando bem empregada e, na minha opinião em conjunto com o atendimento clínico-terapêutico, tem resultados profundos e duradouros, que não cessam com o desmame. Com todo o respeito e carinho, 2015 foi o ano de encarar meus medos – e o principal deles era ser/estar deprimida – eu simplesmente não podia ceder, cair ou desacelerar: a cobrança era exatamente no sentido oposto: fique firme, suba e acelere, só falta você.

Um ótimo ingrediente para minha recuperação foi o humor – mesmo que vez ou outra ácio demais. Saber que mais e mais pessoas enxergavam a depressão como algo que, enfim, acontece, e não como uma doença contagiosa que segrega o indivíduo do mundo foi uma dos fatores que me deu coragem para prosseguir e assumir pra mim mesma que era hora de me tratar. 

O Papo de Homem trouxe essas tirinhas que apresentam medos banais, mas medos medrosos que as pessoas são capazes de ter e que, dependendo da intensidade, travam a vida. Vale olhar cada quadrinho com atenção e tentar imaginar onde mora seu medo mais profundo. 

Medo não é brincadeira, é um monstrinho faceiro e traiçoeiro que não gosta de ser esquecido. Depressão afasta pessoas de uma pessoa que, olha só, já se sente sozinha. Minha dica: mesmo que a solidão esteja plantada por aí, vá procurar sua turma. Mude de amigos, mude de trabalho, mude de terapia. Mude, porque seus medos podem ser surreais pra quem te escuta, mas são reais pra você – e paralisam, vai por mim. Mas tem muita gente no mundo, gente diferente e capaz de ajudar a movimentar essa vibra parada por aí – use aquela mini-força do seu dia para procurar por esta pessoa e, então, peça ajuda. Depressão é normal (sério, muita gente tem!) quando é um processo, com começo, meio e fim – não é normal passar a vida no modo sem energia, combinado? 

Pro medo há alguns remédios que eu, cansada de não usar mais minhas canetas, caderninhos e meus sonhos tão coloridos, tenho experimentado: terapia, que alivia; homeopatia, que me leva pro meu centro e me faz sentir segura de que aquilo não é maquiagem química; e coach, no segundo processo pra lembrar que a realização depende tanto mais de esforço, organização e compromisso do que de simplesmente sonhar – o que é fundamental pra começar tudo isso. 

Carinho também.

Num dos episódios de Grey’s Anatomy – viva Netflix! – uma médica em crise pede aos dois médicos que a acompanham na sala de cirurgia para abraça-la, pois o contato físico de um corpo com outro corpo promove a liberação de substâncias neurológicas naturalmente calmantes. A gente devia saber disso desde que o mundo é mundo e aprender com os bebês sobre segurança e contato físico amoroso, mas esse é papo pra outro post, num ano que certamente vai começar com mais nuances – pra mim e, espero eu, pra você também. 

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. Importantíssimo
    Matê,
    post muito importante. Excelente tua abordagem. O medo em geral, e do futuro em particular, é talvez o maior incapacitante com que nos deparamos em nossa trajetória. Não é o outro, mas esta emoção em nós, a nos tornar aleijões no ânimo, na força, na vontade.
    Já passei por um período de depressão e “funcionava” perfeitamente: profissional atuante, bem sucedida, tudo “beleza”, mas não avançava sobre meus sonhos. A “normose” me mantinha aceita, enquadrada mas não me permitia sair em busca do que eu queria. Estava encapsulada numa zona de conforto que me mantinha “segura”, mas girando sobre meu eixo, sem sair do lugar.
    Perfeito teu convite ao afeto. O Amor liberta e ampara a caminhada; saber-se amado é um grande motivador. A depressão é um estado; não define uma pessoa, assim como seus erros também não a definem. O importante é não parar!!!!
    Obrigada pelo post. Não poderia ter sido mais fraterno com os que estão em processo. Apoio incondicional a eles, sempre!
    Boas Festas!
    Anna.

  2. Excelente texto, fala de um
    Excelente texto, fala de um assunto tão real e que as vezes tratamos de forma tão sul real..medo…depressão… Falta de vida..

  3. Excelente texto, fala de um
    Excelente texto, fala de um assunto tão real e que às vezes tratamos de forma tão sul real..medo…depressão… Falta de vida..

  4. legal, depois que li freud,

    legal, depois que li freud, esses assuntos sempre me ajudam muito…

    mas como dizia drummond,talvez o pior seja o medo de ter medo….

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