Mídia afina narrativa e perde oportunidade no dia 26, por Fernando Augusto Pinto

A cobertura dos protestos do domingo (26) foi uma decepção, e deveria servir de alerta para quem acredita que os jornalões e a Globo vão contribuir para unir novamente o centro democrático do país

do Medium

Mídia afina narrativa e perde oportunidade no dia 26

por Fernando Augusto Pinto

Diversos balanços menos apaixonados das manifestações bolsonaristas deste domingo, 26, as classificam com efeito de neutro a negativo para o governo. Não foram um fiasco de público, mas, ao mesmo tempo, não aumentam significativamente o capital político do Executivo para atropelar o Congresso e, provavelmente, vão gerar ainda mais desgaste na relação com os parlamentares do chamado “Centrão”.

Parece claro que o ambiente político vai continuar agitado, com a família Bolsonaro incitando seu público contra as instituições, enquanto o Presidente faz o jogo do morde e assopra com o Congresso, sempre se utilizando da metáfora do namoro com Rodrigo Maia.

No entanto, outro fator a ser observado com atenção é a manutenção do consórcio empresarial-midiático formado sobretudo após 2013 e que teve seu ápice durante todo o processo do impeachment de Dilma Rousseff. Quem observou bem isso foi Fernando Haddad, que hoje pela manhã postou em seu tuíter.

Durante a campanha eleitoral, a mídia colocou PSL e PT como dois extremos, falsa simetria que beneficiou Bolsonaro. Já nos primeiros meses do governo, até pela profunda inabilidade política do governo, vieram as críticas. Aí parte da esquerda entrou numa lua de mel com a imprensa, sobretudo com a Folha de S. Paulo.

Sob esse ponto de vista, a cobertura dos protestos do domingo (26) foi uma decepção, e deveria servir de alerta para quem acredita que os jornalões e a Globo vão contribuir para unir novamente o centro democrático do país. Ora, a proliferação de pautas antidemocráticas nas faixas e cartazes era a oportunidade para mostrar à maioria da população para onde Bolsonaro quer nos levar: a ruptura democrática ou a uma ditadura disfarçada ao estilo húngaro.

No entanto, o que foi propagado, principalmente ao longo do dia na TV, não traduz o que foram as manifestações. A narrativa afinada entre os grupos de mídia e os projetos dos dois principais ministros do governo, Guedes e Moro, impediu que a ampla maioria das pessoas fossem alertadas sobre as intenções de Bolsonaro.

Em nome da Reforma da Previdência e de um pacote de leis totalmente avesso a estudos técnicos sobre combate a criminalidade, o establishment continua a priorizar o imediatismo em detrimento da própria democracia liberal.

Redação

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