Conexões – espiritualidade, política e educação - Dora Incontri
Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora
[email protected]

Natal com Jesus e sem papai noel! por Dora Incontri

Como pode alguém se afirmar cristão e concordar com a guerra, com a violência, com o armamento, com a tortura?

Religião Brasileira de Tarsila

Natal com Jesus e sem papai noel! por Dora Incontri

Então, é de novo Natal. E o povo que se diz cristão invoca o Papai Noel, criado pela Coca-cola, para incentivar o consumo e a comilança. Mas, milhões no mundo sequer têm água, sequer tem comida, sequer sabem o que é o Natal… E a Coca-cola anda se apropriando da água de todo o planeta!

No Brasil, onde a maioria se afirma cristã, e em que o Natal é feriado, temos aqueles que se empanturram de bichos criados com antibióticos e trocam presentes caros e temos cada vez mais uma multidão sem trabalho, sem teto e sem Natal. E temos os remediados, cada vez mais sem remédio, tentando não cair totalmente na pobreza, e terão nesse ano um amigo secreto barato e uma grande preocupação com o ano que vem.

No bairro burguês (e nem tão burguês) em que moro, apareceram mensagens no Whatsapp, dizendo que se alguém precisasse de um “serviçal” esperto e com iniciativa, para servir durante as festividades, que havia um disponível…  Só faltou dizerem que tinha dentes fortes e estava sendo leiloado. A Casa Grande continua firme em seu paradigma escravocrata.

Em suma, de Jesus, o aniversariante, temos muito pouco no Natal, no mundo, no Brasil, no coração das pessoas.

Porque Natal deveria ser um marco de fraternidade, de comunhão, de elevação pela prece, de troca de afeto entre os que se amam e de entrega para quem precisa, guardando-se nos outros dias do ano, a consciência de que é preciso fazer uma sociedade mais justa, mais ajustada ao preceito máximo que Jesus trouxe: amar ao próximo como a si mesmo!

Como pode alguém ter esse amor ao próximo e se dizer seguidor de Jesus, exercitando o racismo, o egoísmo social, a discriminação, a divisão profunda de classes, a indiferença pela saúde e educação do povo?

Como pode alguém se afirmar cristão e concordar com a guerra, com a violência, com o armamento, com a tortura?

Jesus ainda não nasceu no coração da maioria. Jesus ainda não conseguiu se fazer entender pelo povo da Terra. Jesus tem muito poucos seguidores comprometidos com seu programa de implantação do Reino de Deus no planeta. Reino de Deus não se faz com Cruzadas, cavaleiros armados, sacerdotes que exploram o povo, arminhas na mão e ódio na boca e no coração… Tudo isso é traição ao Reino, tapa na cara de Jesus menino, farisaísmo de quem usa o nome de Cristo, para semear a maldade e auferir lucros.

O Reino de Deus se faz com preocupação e cuidado com a necessidade do próximo (e isso tanto individual como coletivamente), se faz com serviço desinteressado ao bem coletivo, se faz com amparo à infância, respeito à mulher, acolhimento às diferenças e desprendimento dos interesses pessoais, financeiros, de poder e de ego…

Mas… para quem é evolucionista, reencarnacionista como eu, ainda haverá tempo. Não esperamos um juízo final (apesar do aquecimento global anunciar coisas mais apocalípticas que a Bíblia)… esperançamos um amadurecimento geral, ainda que tardio, ainda que lento, uma conscientização dos justos para mais ação engajada e dos injustos para menos ou nenhuma injustiça. As dores que atravessamos – e haverá ainda muitas dores e para sabermos disso não precisarmos ser profetas, nem médiuns, nem astrólogos – devem nos servir para finalmente sabermos que só há uma solução para o mundo: o caminho do amor, o caminho da fraternidade universal.

Mas enquanto esperançamos, estejamos a postos, na resistência e no bom combate, como dizia Paulo de Tarso, fazendo de tudo para que esse amadurecimento coletivo se acelere, essa consciência humana brote cristalina e possamos, enfim, viver em paz!

Saibamos ter um Feliz Natal: com o afeto dos que amamos, com música e oração!

Conexões – espiritualidade, política e educação - Dora Incontri

Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador