O Brasil em liquidação, por Rui Daher

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Por Rui Daher

O Brasil em liquidação

Na CartaCapital

Veio da África Equatorial e da Índia. Não se sabe quem chegou primeiro, o africano ou o asiático. Mais provável o primeiro. Provam-no as maratonas e corridas de São Silvestre. Pouco exigente, amorenado, vai bem em várias regiões do Brasil.

Do ornamental ao sabor azedo, passa pelos benefícios à saúde. Vitaminas, fibras, compostos orgânicos. Atua como antioxidante e anti-inflamatório. É eficaz para aqueles com dificuldade de fazer o intestino funcionar em privadas alheias.

Pode ser comido ao natural, diante de caretas não apreciadoras, ou na forma de doces, sucos, sorvetes, licores. Não sei se os dez frutos que mergulhei em boa cachaça melhorarão a minha saúde. Certo é que me alegrarão.

Uma árvore de tamarindos pode atingir 25 metros e durar de 80 a 200 anos produzindo. Como foram Manoel de Barros e o Oliveira para a poesia e o cinema, a permanecerem por muitos séculos.

Por que esta Andança Capital? Ao comprar no supermercado uma pequena bandeja do fruto lembrei-me de Afrânio, município pernambucano distante 100 km de Petrolina.

Lá conheci uma plantação de tamarindeiros. Mais precisamente no povoado de Caboclo, região de caatinga, onde há dez anos, em agosto, acontece a Festa do Tamarindo. Cursos, plantios, shows, artesanatos, sempre relatados pelo bendito e azedo fruto.

Mais não digo. Deixo Caboclo aos cuidados dos leitores. Acabam de me lembrar que o Brasil é apenas soja, cana e boi.

No barato

Deu barato no Brasil. Perceberam? Nem sabemos ´baseado´ em quê.

A política, por exemplo. Quarteirões executivos, legislativos e judiciários, largados em esquinas programáticas firmes como geleias, soltam argolas de fumaça, que a legião analista das folhas e telas cotidianas transformará em fatos para consumo popular.

É chato, um saco, incomoda. Poucos percebem que tais exageros ajudam fazer do Brasil um país barato, fácil de ser comprado. E não se iludam: ninguém irá querer as tranqueiras, mas sim os filés.

A moçada sestrosa e valente do “mercado” baba ao lembrar que é nas crises que surgem as melhores oportunidades de investir, comprar, adquirir, fundir, f…. Decretados falidos, abrimos portas e portos aos bons e maus servidores das bacias das almas.

Nesta mesma CartaCapital, economistas e analistas sérios acham nosso estado longe do terminal. Egoísta como sou, tenho puxado a agro brasa para as minhas saborosas sardinhas, divididas com vocês em colunas anteriores.

A deixa para o barato começa com a estilingada do câmbio. De abril de 2013 até hoje, o dólar saiu de uma faixa de R$ 2,00 para R$ 3,20. Valorização de 60% que faz, na moeda norte-americana, nossos ativos valerem bem menos.

Crise, panelaços, ratings ameaçados, Petrobras na berlinda, commodities em queda, ajuste fiscal sobre ombros trabalhadores e aposentados, mais dois anos sem crescimento, inflação indomável. O que acontece? Aceleram a podridão, vira liquidação, e o neófito empresariado nacional tira o time para regiões, digamos, mais Floridas.

Exceção aos viciados em jogos rentistas, sempre a brincar de arbitragem (imaginem com o BC independente, como querem os primeiros-ministros Cunha e Calheiros), os demais, ajudados por cães farejadores nacionais, munidos de balas verdinhas abaterão suculentos filés.

Os carentes de amor irão preferir noivas lindas e enfeitadas. Receberão um book com uma penca de “atrizes e modelos”: milhões de hectares de terras agricultáveis, clima subtropical, expressiva produção e exportação de itens para segurança alimentar, fontes renováveis de energia, diversidade de biomas e de culturas agrícolas, agroindústria avançada, democracia estabilizada, legislação confusa e procrastinadora, folhas e telas cotidianas domesticadas em mãos de poucas famílias ou grupos de comunicações.

Eu poderia ir mais longe, mas deixo a tarefa expansionista para os leitores no “FB Caboclo”.

Querem amostras recentes? Venda de participação acionária de grande empresa nacional do setor de fertilizantes para duas multinacionais, uma marroquina outra canadense; grupo holandês ING amplia financiamento a empresas ligadas à exportação de commodities agrícolas; Banco Mundial, através do IFC, foca na agroindústria brasileira para financiar compras de terras e empresas. Em 20/03/2015, o jornal Valor publicou: “Antes represado, capital chinês já inunda o mundo”.

Em 2014, as aquisições do Império do Meio atingiram 70 bilhões de dólares. Entre elas, terras, imóveis, empresas. Com tamarindos e baratos, lembro e sugiro ouvirem os Racionais Mc’s: “somos o que somos, cores e valores”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Os que obrigaram franceses e

    Aqueles que obrigaram franceses e russos a fazerem brutais revoluções em 1789 e 1917 pagaram caro por acreditarem que seria barato super-explorar a França e a Rússia O mesmo poderá ser dito de alguns brasileiros em breve. 

  2. Temos cada vez mais “landlords” para obedecer e pagar

    Cada vez mais seremos inquilinos neste torrão varonil.

    Amanhã, 12/4/15, teremos milhares de alienados em defesa deste cada vez vez mais inalienável “direito” que nos resta.

    E na resultante final, como sapos em água para ferver, sequer percebemos.

  3. QE na veia, Fiat Dollar no samba do criolo doido

    Alguém tinha dúvida que os Dólares do QE não viriam atrás de ativos reais?

    É só o começo.

    A Lei de Terceirização é a última pá de cal na Indústria Nacional.

    Corporação Brasil, logo logo na constituição.

  4. as zelites pátrias

    Brasileiro é Brasil quando a seleção ganha, brasileiro do 7×1 é descendente de raça superior e provisoriamente por estas bandas enquanto o apto em Miami estiver em construção.

    O mais lúcido dos comentaristas deste blog, André Araujo repete diariamente até a náusea a falta do sentido da “Razão de Estado” em praticamente todas as assim ditas lideranças. Bate ele forte no judiciário jabuticaba a pinçar sentenças e justificativas pra qualquer ato. Bate forte nesta instituição provinciana, vaidosa e deslumbrada do próprio poder e os refletores da imprensa a amplificar e amparar as melhores besteiras. Os juízes de Curitiba estão no mundo do autista, o mundo é demais para as ambições pequeno burguesas que enxergam.

    O poder é global, o tio Sam sabe como governa-lo. O tio Sam está levando para a sua jurisdição os conflitos societários globais onde os seus interesses sempre são respeitados. O tio Sam agradece sempre a ajuda dos deslumbrados da fama dos 15 minutos. O tio Sam não permitiu a venda de uma petroleira USA para os chineses. O tio Sam aceita a petroleira Petrobras e o senado americano dará um premio de alguns milhões de dólares (papel colorido) em troca de produto estratégico. O tio Sam depois dos seus interesses ainda vai cuidar dos seus interesses.

    A possibilidade da imprensa, do judiciário, do sistema político atuarem nos EUA como aqui seriam enquadrado e perseguido como Snowden, que se diga apenas falou a verdade, e Guantánamo seria a colônia de férias permanente dos traidores, como tio Sam define quem contraria os interesses da nação.

  5. Corretores famosos o Brasil

    Corretores famosos o Brasil tem, infelizmente. Como aquele que vivia com o martelo dos leilões na privataria tucana e que, ultimamente, tem prometido o céu, quer dizer, o sal do pré-sal à Chevron. E no congresso, a turma dos corretores (ou lobistas) aumentou. A mídia nacional encabeçada pelo plim-plim, essa é igual a Judas. Diz que protege o povo brasileiro e suas instituições e vende qualquer naquinho de riqueza por alguns tostões. Sim, porque falindo do jeito que está, não vem lucrando ultimamente. E tem gente nativa  que vai derreter com o futuro prometido por esses agentes, que ainda teima em virar escada de granfino em passeatas  de uma aquarela que está longe de ser brasileira. No máximo representa a corrupta CBF, aqueles que ganham, mesmo o Brasil perdendo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador