O debate sobre o modelo de crescimento

Desde 2012 há um intenso debate na imprensa brasileira sobre o modelo de crescimento. O relativo sucesso das políticas de inclusão social não ofuscou a necessidade de se buscar dar uma maior ênfase nos investimentos produtivos, aumentando sua participação na composição do PIB. Não podemos desconsiderar a persistência da crise econômica global, algo que já impactou no crescimento potencial dos países emergentes.

O Brasil melhorou em alguns aspectos gerais na última década, porém persistem entre nós grandes desigualdades sociais e regionais. Segundo o levantamento consolidado pelo instituto Data Popular (julho/2013), 68% dos integrantes das manifestações sociais de junho reconheceram que melhoraram de vida ultimamente. Interessante notarmos que 87% acreditam ter melhorado de vida por conta própria. Não nos deveria causar espanto, portanto, que as instituições de Estado e as políticas públicas tenham sido questionadas nas ruas. Viveremos muito provavelmente nova onda de protestos dessa natureza em 2014.

Chamou minha atenção um artigo de Edmar Bacha publicado em O Globo (O Pibinho e a Pnadona, 08/10/2013). Ao inverter a famosa frase do general-presidente Médici, “a economia vai bem, mas o povo vai mal”, Bacha questiona a sustentabilidade do processo de inclusão social em um país que não superou a armadilha da renda média. A síntese da argumentação é a seguinte: “A realidade é que desde 1980 o país está parado no meio do caminho, incapaz de sair da renda média para se tornar um país rico. A distribuição da renda melhorou a partir da estabilização em 1994 e especialmente nos anos da bonança externa da década passada. Mas essa melhora só foi suficiente para o Brasil deixar de ser o país com a pior distribuição de renda do mundo e continuar no grupo dos países mais desiguais do planeta”.

Outro artigo merece destaque. Em texto publicado no blog do Fundo Monetário Internacional (How Emerging Markets Can Get Their Groove Back, October 7, 2013), Kalpana Kochhar e Roberto Perrelli abordam a desaceleração e os desafios do crescimento para os países emergentes. A síntese dos argumentos aponta para o fato de que a “análise atribui parcialmente a desaceleração às forças cíclicas, incluindo uma menor demanda externa e, em parte, aos gargalos estruturais domésticos – infraestrutura, mercado de trabalho, o setor de energia” (tradução livre). Essa desaceleração dos emergentes ocorreu em um contexto de termos de trocas ainda favoráveis, condições financeiras fáceis e com políticas macroeconômicas domésticas pró-sustentação da demanda agregada.

Estimativas mais recentes do FMI apontam para um encolhimento do potencial de crescimento das economias emergentes. De acordo com Kochhar e Perrelli: “esses países terão de identificar as prioridades de reformas institucionais para eliminar gargalos do lado da oferta, aumentar a produtividade média e mover suas economias nas cadeias de valor. Isso significa enfrentar as persistentes barreiras ao crescimento de longo prazo, avançar no investimento em infraestrutura e melhorar o ambiente de negócios. Políticas anticíclicas de gestão da demanda de consumo não farão a grande diferença” (tradução livre). Este debate é muito relevante para o Brasil.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)  

Rodrigo Medeiros

5 Comentários

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  1. Para se saber se um país é

    Para se saber se um país é rico ou pobre, basta resolver esta questão: qual a taxa de juro que nele vigora (…) A baixa do juro ou restrição da usura é causa primária e principal da riqueza de uma nação.
    Josias Childs, séc. XVII,

  2. O debate sobre o modelo de crescimento

    Ou seja, o FMI e a banca internacional também estão sem soluções, repisando nas soluções do passado que levaram a essa crise…

  3. Caged: geração de 211.068 mil postos de trabalho formais em 2013

    Caged registra geração de 211.068 mil postos de trabalho formais em setembro de 2013

    É a maior geração para o mês de setembro nos últimos 3 anos. No acumulado do ano foram gerados 1.3 milhão de empregos

    Brasilia, 16/10/2013 – Assessoria de Comunicação Social – MTE(Ministério do Trabalho e Emprego)

    Os dados do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta quarta-feira (16) pelo Ministério do Trabalho e Emprego apontam a geração de 211.068 postos de trabalho com carteira assinada no mês de setembro. O resultado do mês, um crescimento de 0,52%, aponta para uma reação do mercado de trabalho formal, sendo o melhor desempenho em setembro dos últimos 3 anos.
     
    No acumulado do ano, o mercado formal gerou 1.323.461 empregos, um crescimento de 3,35%. Se considerado os últimos 12 meses, a elevação foi de 2,47%, um acréscimo de 984.573 postos. No período de janeiro de 2011 a setembro de 2013 houve uma geração de 4.7 milhões de empregos formais. Para o ministro Manoel Dias, o resultado positivo do mês demonstra o reaquecimento do mercado de trabalho. “Estamos gerando emprego, mesmo que num processo menos acentuado. Os dados de setembro demonstram que o mercado está reagindo às iniciativas do governo para alavancar postos de trabalho. A expectativa é que essa tendência continue”, avaliou.
     
    O total de admissões no mês de setembro atingiu 1.805.458 e o de desligamentos alcançou 1.594.390, ambos os maiores para o período. O desempenho favorável  decorreu da expansão quase generalizada dos setores de atividade econômica. Os destaques absolutos foram o setor de serviços, (+70.597) – um saldo superior ao registrado em setembro  de 2012 (+55.221 postos; a  Indústria de Transformação (+63.276 postos), o Comércio  (+53.845 postos), com saldo superior ao registrado em setembro de 2012 (+35.319) e de 2011 (+42.373) e ainda da média de 2003 a 2012 (46.043 postos). A Construção Civil, com geração de  29.779 postos, saldo acima  de 2012 (+10.175 postos) e de 2011  (+24.977 postos).  A Agricultura ( -10.169 foi o setor que registrou queda, devido a presença de fatores sazonais.
     
    O bom desempenho do setor Serviços ocorreu pela expansão generalizada dos ramos que o integram. Os serviços de alojamento e alimentação geraram 22.616 vagas (0,40%); seguido do comércio e administração de imóveis – geração de 20.246 novos postos (0,43%); ensino, que gerou 9.865 postos (0,63%); serviços médicos odontológicos que teve um saldo recorde, gerando 9.134 novas vagas no mês (0,52%); e o serviços de transporte e comunicações, que gerou 1.286 postos de trabalho (0,19%).
     
    Crescimento generalizado – Os dados revelam também que em todas grandes regiões houve a expansão no nível de emprego formal, com destaque para a região Nordeste com geração de 78.162 postos de trabalho (1,22%) e Sudeste que gerou 72.612 novas vagas de emprego formal (0,63%). O conjunto das nove áreas metropolitanas apresentou crescimento do emprego de 0,47% em setembro, equivalente a geração de 77.341 postos de trabalho, com destaque para São Paulo (26.891) e Rio de Janeiro (11.720), crescimento de 0,40% e 0,41% respectivamente.
     
    Assessoria de Comunicação Social – MTE
    URL:
    http://portal.mte.gov.br/imprensa/caged-registra-geracao-de-211-068-mil-

  4. “Interessante notarmos que

    “Interessante notarmos que 87% acreditam ter melhorado de vida por conta própria.”

    Como melhorar por conta própria sem o crescimento no espaço do tempo?

    Se não existir o dinheiro você não tem importância, porque o modelo de futuro (dinheiro) está centrado, antes do presente, no endividamento futuro do governo. Se o governo se recursar a se endividar não existirá investimento (troca do seu futuro pelo presente) e você não vai acontecer em lugar nenhum do país.

    Só há tempo, por conta própria, enquanto a divida pública abre um espaço para a ação em que alguém estará embutiido num futuro. Quem é o que não faz ele mesmo existir no passado ou no futuro. Por isso não existe crescimento no país.

    Existe dinheiro em si mesmo!!!

    Quem vive não tem o futuro; nem o termo crescimento é o que fazes no tempo, se o tempo é o cumprimento das dividas.

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