O estranho caso do delegado que prendeu Garotinho, por Joaquim de Carvalho

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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O delegado da PF Paulo Cassiano Júnior

Jornal GGN – A possibilidade de existir algum traçoi de perseguição política – ou, no mínimo, partidarismo declarado – na prisão do ex-governador Anthony Garotinho repete o que aconteceu na Lava Jato, quando delegado e oficiais da Polícia Federal foram flagrados pela imprensa em campanhas contra o PT de Dilma Rousseff e Lula. No caso, o delegado Paulo Cassiano Junior, o algoz de Garotinho, teria apoiado o adversário político do ex-governador, preso essa semana acusado de compra de votos com um programa social.

Por Joaquim de Carvalho

No Diario do Centro do Mundo

Não tenho motivo para defender o ex-governador Anthony Garotinho, preso sob acusação de chefiar um esquema de compra de votos através de um programa social de Campos.

Mas, depois que escrevi aqui que a prisão dele era suspeita — casos explícitos de uso do poder econômico para manipular resultado de eleição não teve repercussão judicial, caso do prefeito eleito de São Paulo João Dória, acusado pelos próprios correligionários de comprar apoio para ser indicado candidato –, recebi algumas mensagens de leitores que me chamaram a atenção.

“Você precisa saber o que acontece em Campos”, disse uma leitora a respeito da atuação do delegado da Polícia Federal que prendeu o ex-governador depois de comandar o inquérito que apurou supostas irregularidades no programa social Cheque Cidadão, um tipo de Bolsa Família local que tem raízes anteriores ao próprio programa do Governo Federal.

O delegado da PF, Paulo Cassiano Júnior, teria feito campanha para o candidato que derrotou o grupo de Garotinho na cidade.

Achei difícil de acreditar.

Mas fui verificar através de links que ela me mandou e vi que, no dia 12 de setembro do ano passado, quando as pesquisas indicavam uma disputa apertada na cidade, saiu do celular (22) 99981-9922 a seguinte mensagem:

“Amados amigos, a corrente do bem não para de crescer. Aproxima-se o dia em que Campos será libertada da escravidão e devolvida e devolvida aos seus legítimos usufrutuários: os campistas. Vai ser diferente!!!”

A última frase – “Vai ser diferente” – era o slogan da campanha de Rafael Diniz, do PPS, o candidato que acabaria derrotando o candidato de Garotinho.

O celular (22) 99981-9922 era um dos números pessoais utilizados pelo delegado da PF.

Paulo Cassiano Júnior foi denunciado à Justiça eleitoral por suspeição na condução do inquérito que, afinal, apurava crime eleitoral.

Mas a mesma Justiça que determinou a prisão de Garotinho ignorou a denúncia. E o delegado, questionado pela imprensa local, não quis responder:

— Só falo sobre as provas dos autos.

Mas ontem, depois da prisão, disse às emissoras de TV:

— Garotinho chefia uma organização criminosa.

Campos já foi uma das maiores produtoras de cana de açúcar e estive lá em 1996, para uma reportagem sobre trabalho infantil que acabaria recebendo o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

Encontrei crianças no canavial, comandada por feitores que se deslocavam de cavalo, enquanto elas, de facão na mão, deitava as canas, sob sol inclemente.

Algumas delas tinham dois anos de escolaridade. Foram justamente os anos em que vigorou na cidade um programa patrocinado por uma fundação alemã, em parceria com a prefeitura de Campos.

A prefeitura repassava aos pais dos alunos um dólar doado pela fundação alemã para cada dia de frequência das crianças na escola. Graças a isso, pais tiraram os filhos do canavial e a colocaram no banco da escola.

Fiz as contas e escrevi que era relativamente barato tirar as crianças do trabalho – 22 dólares por mês. O assunto ganhou repercussão nacional e o bolsa escola, pioneiro em Campos, já em vigor no Distrito Federal, se expandiu até virar o bolsa família.

O prefeito que fez esse convênio com a fundação alemã era Garotinho, que depois se elegeria governador do Rio de Janeiro – programa social dá voto. O prefeito que veio em seguida não deu sequência ao programa, naquela ocasião.

O que aconteceu em Campos agora, com a prisão de Garotinho e o engajamento do delegado da PF na campanha eleitoral, é o reflexo do que acontece num plano maior.

O delegado que chefia a Lava Jato, em Curitiba, participava de um grupo no Facebook, antes da eleição presidencial de 2014, chamado Organização de Combate à Corrupção, que tinha como símbolo a caricatura de Dilma e uma faixa vermelha com a frase “Fora, PT!”.

Um subordinado desse delegado postou foto ao lado de um alvo cravejado de balas. No centro do alvo, o rosto da então presidente da República.

Quem pensa que a Lava Jato era um assunto local, restrito a Curitiba, se enganou. Quem acha que Garotinho é um assunto paroquial, restrito a Campos, também pode estar equivocado. A caça já começou. Quem será o próximo alvo?

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. [email protected]

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1. Tenham cuidado com mensagens

    Tenham cuidado com mensagens via celular para concluir.

    Já vi mensagens sendo enviadas à mãe de um menino, pelo celular do pp, pós morte.

     

  2. Essa reportagem do Joaquim de Carvalho é devastadora.

    Prezados,

    Eu fiquei impressionado com a eficiência, com a rapidez e tino demonstrados pelo repórter Joaquim de Carvalho. Poucas horas depois da prisão de Anthony Garotinho, ele conseguiu produzir esta reportagem demolidora, devastadora, provando que o delegado que pediu e executou a prisão do ex-governador fluminense é um militante político e ferrenho adversário de Garotinho, assim como os delegados aecistas, que hostilizavam Dilma e Lula e faziam campanha pra Aécio Cunha. 

    Marcelo Auler é outro jornalista que quebrou as pernas, desmascarou e desnudou a SR/DPF/PR, denunciando e provando diversas ilegalidades criminosas da Fraude a Jato, numa série de reportagens publicadas no blog dele; hoje temos a certeza de que a Fraude a Jato é uma ORCRIM institucional. O trabalho de valentes repórteres como esses que citei é indispensável e um serviço público de inestimável valor.

    A Globo agora tripudia e se vinga de Garotinho (por quem não tenho qualquer simpatia), que teve a coragem de denunciar a sonegação fiscal bilionária, através dos microfones câmeras da própra TV Globo. Uma boa sugestão aos leitores é difundirem de forma viral o vídeo em que Garotinho denuncuia a Globo, através da própria Globo. O DCM republicou o vídeo hoje. 

  3. Impunidade
    O dia que o serra, aécio, alkmim, clésio, nunes, richa,
    moreira, jucá, eliseu forem presos vou tentar acreditar
    nas intensões da justiça.

  4. Eu não acredito.
    Tanta

    Eu não acredito.

    Tanta matéria  negativa sobre o delegado.–inclusive que é antipetista.

    Não foi ele que prendeu Garotinho. Foi o juiz que ordenou.

    Ele apenas cumpriu ordem.

    Será que é difícil entender ?

    Critiquem o juiz, ora pois.

      Até a ignorância tem limites.

      Ou não ?

     

    1. O juiz mandou “prender” mas

      O juiz mandou “prender” mas quem chamou a midia ,e deixou os cameras e os fotografos fazerem as fotos e imagens mais ridiculas para veicular em seus respectivos meios ?Sem falar que pelo grau de integração da “força farefa” não é possivel afirmar com absoluta certeza qual é o nivel de influencia de cada (delegados da PF ,ministerio publico e juiz)um nas decisões supostamente judiciais .

  5. De uma coisa tenho certezaa

    De uma coisa tenho certezaa absoluta: o próximo NUNCA será um tucano.

    A parceria psdb/mídia/judiciário e seus penduricalhos vai destruir o brasil.

    Espero que estes fdp se ferrem junto.

  6. Esse delegado da PF foi

    Esse delegado da PF foi retirado de Florianópolis por ter sido responsável por uma ridícula “operação” supostamente contra o tráfico de drogas na UFSC, que prendeu estudantes com dois baseados, em 2014. Não esperava pela reação estudantil e do diretor do CFH, e da Reitoria, que não concordaram com a ação, e chamou a tropa de choque, causando a maior confusão, forçando crianças da creche universitária a cheirar gás lacrimogêneo. Aliás, o diretor do CFH levou spray de pimenta nos olhos. Ainda encheu o saco depois com tentativa de processar os diretores do CFH. Pelo papo do delegado, de direita, parece que seu intento (político) era o de difamar a reitora e os diretores com essa confusão, a pretexto de uns baseados estudantis, além de se autopromover.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=2PS9xqOEW7Q%5D

    1. Só de olhar a cara do sujeito

      Só de olhar a cara do sujeito dá para perceber que se trata de mais um concurseiro decoreba.

      Temos de fazer algo urgente para acabar com os concurseiros antes que eles acabem com o brasil.

    2. Muito bem lembrado

      Jair Fonseca,

      Parabéns por relembrar este caso, pois assim você mostra para certos comentaristas – pretensos sabichões – que tentam justificar a ação do delegado, alegando que ele ‘apenas’ cumpriu uma decisão judicial. Aliás, um desses pretensos sabichões, ardoroso defensor do sérgio moro e seus métodos inquisitoriais, costumava tirar onda e tentar dar lições de pretensos cnhecimentos jurídicos, aqui no espaço de comentários do GGN; ele e alguns outros trolls foram desmascarados e há mais de um ano andam murchinhos,  mudos e calados.

  7. Delegado autoritário na prática quis aplicar a pena de morte
    Todo este festival de horrores e truculência contra o ex-governador Garotinho são consequências da onda autoritária que tomou conta deste país. Na prática tanto o delegado fascista como o juizeco sem noção quiseram aplicar a pena de morte ao investigado Garotinho. Retirar um paciente cardiopata de um hospital para leva-lo a um presídio sem condições de atendimento é colocar em risco de morte o paciente.

  8. Não nutro simpatia alguma por

    Não nutro simpatia alguma por Garotinho e nem por Sergio Cabral. Mas daí a aplaudir o linchamento moral a que estão 

    sendo expostos vai uma grande distancia.

    Vi na TV uma exposição dos “honrados” senhores promotores e me ocorreu a seguinte pergunta que nenhum reporter

    teve a coragem ou ideia de fazer:

    – Está certo, tanto o Garotinho e o Sergio Cabral são ladrões e merecem o repúdio da sociedade. Mas quem garante que

    os senhores sejam mais honestos? Suas vidas e intenções são mais limpas? 

    Ternos impecáveis e nós de gravata bem feitos não garantem honestidade de ninguém.

  9. Mas é isso ,poucos quiseram

    Mas é isso ,poucos quiseram se revoltar quando da ocasião do golpe ,achando que a grande vitima do golpe era Dilma !KKKKK.Agora cada um vai sofrer sozinho , a parte do golpe que lhe atinge .Dilma se livrou de um fardo pesado .E nós vamos precisar de anos para entender como era bom o governo Dilma , e como ela estava se sacrificando por esse povo e notadamente por uma classe media, tão burra ,que não merece sacrificio algum por parte dela.Os pobres ainda vao levar um tempo pra entender o que lhes atingiu(quando não houver reajuste da salario minimo e do bolsa familia ), mas quem vai pagar a maioria da conta  são as classes medias: nova (classe C) e tradicionais( classe media media, e baixa) e merecidamente,do ponto de vista da sua covardia histórica e incapacidade de se organizar para defender seus proprios interesses.

  10. De fato, concordamos e

    De fato, concordamos e infelizmente constatamos que quando policias, forças militares e judiciais, principalmente, atuam com viés político, suas atribuições ficam totalmente deformadas, comprometidas e largadas ao léu. Isso teve início marcantemente com os militares no golpe de 1964. Dali em diante várias instituições importantes foram deformadas, e hoje apresentam-se beirando a delinquência, tomadas que foram por indivíduos dominados pelo poder político, verdadeiras vedetes. Hoje, temos uma criminalidade fantásticamente organizada diversificadíssima e infiltrada na sociedade, decorrente e andando de braços dados com policias militares, forças armadas, grande imprensa, juizes, com a grande maioria dos políticos e mais outras entidades e orgãos importantes, inclusive até “igrejas”. Por causa disso, estamos novamente numa ditadura, agora mais hedionda ainda, que começou a ser entabulada no mensalão do  PT. Por isso, fora temer e todos os golpistas ditadores! Queremos o nosso voto, e o direito de votar sem ser roubado novamente, de volta! Queremos a devolução da democracia e o fim dessa ditadura hedionda!

  11. A cascavel de vereda chocalhou o guiso. Não foi falta de aviso

    Quando a cascavel chocalhou o guiso, era hora de eliminá-la. Agora, que ele inoculou sua peçonha, benção de macaco

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