Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O Plano Econômico do general Braga, por Andre Motta Araujo

O capital estrangeiro, o mítico "INVESTIDOR", sempre será complementar e nunca o eixo central do crescimento do País e mesmo esse complementar nunca foi grande coisa

Foto: Divulgação

O Plano Econômico do general Braga

por Andre Motta Araujo

São mais de 40 artigos aqui no blog desde 2016 sobre o imperativo de relançar a economia brasileira através de um plano de obras de infraestrutura bancadas pelo Estado. O Brasil está em recessão desde 2016, muito antes da crise do Vírus, o mecanismo mais óbvio seria através do aumento da dívida pública a ser absorvida pelo sistema bancário ou, na falha deste, pelo Banco Central, neste caso usando seu imenso encaixe dos compulsórios ou numa etapa seguinte emitindo moeda gráfica. Novidade?

Nenhuma. Desde a crise de 2008 TODAS as grandes economias vêm fazendo exatamente isso através do mecanismo de “quantitative easing”, em volumes gigantescos, SEM QUE TENHA HAVIDO INFLAÇÃO. No Brasil, o anel de ferro do “mercado” no controle do Ministério da Fazenda e do Banco Central, nunca quis ouvir falar de um processo que o mundo desenvolvido opera com sucesso, as economias centrais mantiveram taxas de crescimento bem acima da brasileira desde 2016.

O problema é cultural, de cultura econômica e de ideologia de mercado. O “anel de ferro” dos economistas que controlam a política econômica brasileira é constituído por dois fatores:

INTERESSE DO MERCADO: O mercado ganha muito mais com a escassez de moeda, que permite valorizar o capital líquido que detém, quando as empresas e os projetos novos têm dificuldade em captar capital, os bancos de investimento são donos do bolo e se valorizam como únicos fornecedores de capital. Para quem já tem dinheiro líquido, a escassez de capital é o melhor dos mundos, favorece a especulação e valoriza os BTG da vida. Corte de gastos, ajuste fiscal, limite da dívida pública é a cartilha.

Ao contrário do que dizem os “de mercado” e seus porta vozes na mídia, a dívida pública brasileira, PARA UM PAÍS SEM INFLAÇÃO, é abaixo da maioria dos países centrais especialmente após uma década de “quantitative easing” e juros negativos, ou quase negativos, em grandes países. Nossa dívida pode subir tranquilamente dos atuais R$ 4 trilhões para R$7 ou 7,5 trilhões, batendo em 100% do PIB, MAS COM CRESCIMENTO, o lastro é o 5º País do mundo em território e imensos recursos naturais.

FALTA DE CULTURA ECONÔMICA: A pobreza intelectual do grande “anel de ferro” dos economistas dominantes e da mídia econômica é algo chocante.

Os conceitos operativos de política econômica mudaram radicalmente em 2008 e 2009, ninguém mais, nos países centrais, fala em monetarismo, Escola de Chicago e outras velharias, aqui está na moda.

A grande revisão do pensamento econômico, a partir da crise de 2008, tornou obsoleto o monetarismo de Friedman, seu legado histórico, porque foi um economista importante e influente a seu tempo, saiu da Universidade de Chicago e se realocou na Carnegie Mellon University em Pittsburgh, aos cuidados de seu discípulo Allan Metzler, hoje o legado é apenas histórico e respeitável, MAS não é operacional à luz da evolução da economia causada pelo globalismo industrial de matriz chinesa, dos deslocamentos das cadeias produtivas globais e de novos instrumentos de financiamento, da concentração de capital e do inédito desequilíbrio social no mundo, até nos Países ricos.

É impressionante se ouvir ainda hoje, de comentaristas econômicos da GLOBONEWS, citações sobre ajuste fiscal, limite da dívida pública e o pior de todos os conceitos (ainda hoje na GLOBONEWS a comentarista Ana Flor repetiu) SE NÃO HOUVER AJUSTE FISCAL O INVESTIDOR NÃO VEM. É simplesmente uma inverdade. Investidor não vem a um País por causa de ajuste fiscal, ele vem SE HÁ OPORTUNIDADES DE LUCRO, o Brasil foi o maior receptor de capital estrangeiro produtivo no mundo entre 1950 e 1980, COM ALTA INFLAÇÃO, DÉFICIT FISCAL CRÔNICO, FRAGILIDADE CAMBIAL (entrou em moratória 3 vezes), MAS COM IMENSO MERCADO DE OPORTUNIDADES.

No Governo JK, com finanças públicas destroçadas por causa da construção de Brasília, TODAS AS GRANDES MARCAS DE AUTOMÓVEIS E CAMINHÕES se instalaram no Brasil, além de centenas de fábricas de máquinas, turbinas, compressores, químicas e farmacêuticas, autopeças, eletrônicas, a IBM tinha no Brasil seu 3º mercado mundial, TUDO ISSO COM FINANÇAS PÚBLICAS EM COMPLETA DESORDEM.  É o investimento produtivo que interessa ao Brasil e não a dos especuladores de Nova York, ligadíssimos à turma do “mercado” no Brasil e que JÁ NÃO VEM PARA CÁ HÁ CINCO ANOS. E ainda essa gente apregoa que o Brasil precisa deles, quando todos os recursos para nosso crescimento estão dentro do Brasil, na capacidade ociosa de sua indústria, na imensa reserva de mão de obra, nos recursos naturais do País.

O capital estrangeiro, o mítico “INVESTIDOR”, sempre será complementar e nunca o eixo central do crescimento do País e mesmo esse complementar nunca foi grande coisa no Brasil do Século XXI, ele só é importante para as contrapartes desses especuladores dentro do Brasil, é o investidor de porta giratória, vem ao Brasil em Janeiro para ir embora em Julho, não acrescenta nada, não gera um emprego, a não ser nos bancos de investimento.

O PLANO DE RECUPERAÇÃO ECONOMICA dos militares do Planalto é um clássico plano keynesiano, ainda bem modesto. Minha sugestão, nos artigos, era um plano de R$2 trilhões em 4 anos, bancado pelo Estado, mas ai há uma condição fundamental: uma equipe econômica NEOLIBERAL vai bloquear qualquer plano keynesiano, é perda de tempo esperar uma mudança de ideias, só muda quem tem inteligência e dúvidas sobre crenças e dogmas, o tipo de gente que forma a equipe econômica não muda nunca.

Para a implantação de PLANO é, portanto, crucial uma outra equipe econômica pois os instrumentos de manejo financeiro da União serão necessários para implantação de um plano desse tipo. Eles vão se rebelar contra esse PLANO e usarão todas suas forças para torpedeá-lo. Eles ainda acreditam que as carências de um País das dimensões do Brasil, com uma população pobre de 150 milhões, se resolverá com “privatizações e concessões”, mera transferência de ativos que não geram um emprego.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

6 Comentários

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  1. Boa tarde, André. Te acompanho desde quando vc começou a contribuir com o blog do Luis Nassif, li todos os seus artigos postados aqui. Admiro seu vasto conhecimento sobre economia, política e história do Brasil e da humanidade. Considero vc um dos mais extraordinários intelectuais brasileiro. Parabéns pelo sua dedicação ao Brasil! É o tipo de homem que deveríamos ouvir, mas infelizmente no Brasil quase não se valoriza os intelectuais brasileiros, pelo contrário, é comum aqui elevar qualquer debiloide estrangeiro em economista fantástico. Os próprios economistas brasileiros são cooptados pelo discurso (e não a prática) da austeridade fiscal ou equilíbrio fiscal defendido pelos países centrais, até economistas como Mônica de Bolle, que teria uma visão mais “progressista”, dá demonstração de apego a esse mantra do “limite de gastos”, da “confiança”.

    Recentemente assisti uma live dela em que ela fala que o governo deve gastar (diante a crise do coronavírus), mas com limite para não abalar a confiança. Para mim essa história da confiança é irmã da ideia de que o orçamento do Estado é igual ao orçamento de uma família. Ou seja, são duas balelas imensuráveis! Não consigo entender como mestres e doutores em economia defendem esse tipo de terraplanismo econômico em pleno século XXI. Para quê estudar tanto? Se vai continuar preso as correntes da caverna da alienação. Escrevi um texto na área de comentários do canal dela, mas fui ignorado. Basicamente ela defendia que o equilíbrio fiscal é um ponto essencial para manter a tal “confiança”. Discordo dessa premissa, como procurei demonstrar, acredito que a austeridade ou o equilíbrio fiscal não são um valor, o valor está no crescimento econômico, principalmente quando acompanhado com distribuição de renda.

    O discurso que o equilíbrio fiscal é um ponto essencial para manter a tal “confiança” e não produzir inflação cai por terra quando verificamos que os EUA possuem uma dívida de mais de 100% do PIB. Mas ela diz que os EUA possuem o dólar e, portanto, por ter a reserva de valor internacional, possui essa vantagem. É um bom argumento, contudo, é apenas parcialmente verdadeiro, uma vez que a dívida do Japão ultrapassa de 220% do PIB e nada de inflação, a dívida do Reino Unido passa de 100% do PIB, e mais uma vez, nada de inflação. Assim como também a dívida da UE é de mais de 100% do PIB. Para não ficar só nos países centrais, vamos citar Singapura, com mais de 100% de dívida em relação ao PIB. Ou seja, a TQM é um engodo, como já admitiu o seu xará André Lara Rezende em artigo no Valor intitulado: “O equívoco dos juros altos”.

    Então porque esses países continuam tendo “confiança” do mercado. A resposta está na capacidade desses países de atrair divisas, os EUA são a nação que reúne o maior conjunto de mecanismos capazes de atrair recursos e gerar riquezas para seu povo, logo, é a que gera mais confiança. Essa credibilidade está alicerçada na sua vanguarda tecnológica, na sua força militar, na sua liderança política, e, principalmente, na sua própria moeda (mas não só por isso, como disse a Mônica), por ser a reserva de valor da economia global. Isso responde porque mesmo numa situação de crise, a economia americana continua sendo confiável. O mesmo ocorre com o Japão ou a UE, que apesar de estarem atrás do EUA em alguns aspectos, possuem fatores semelhantes que favorecem a confiança em suas economias, tais como: sólido sistema de ensino, domínio de alta tecnologia, setores econômicos diversificados e de grande complexidade.

    Outro ponto que pode gerar confiança é o conjunto de recursos naturais que o país possui e que possa ser mobilizado e convertido em riqueza, nisso o Brasil é campeão. No entanto, não se utiliza dessa vantagem. A capacidade de pagamento não está apenas no Orçamento Público, mas também nas riquezas naturais que o país pode mobilizar e transformar em riqueza econômica e financeira. Para isso é preciso elevados investimentos em educação, ciência, tecnologia e infraestrutura.

    Esse é o nosso grande erro, não fazer os investimentos que o país precisa. Nós somos a Nação mais rica do mundo, ninguém reúne tantas riquezas como nós, temos tudo aqui: o Sol, a água, a terra, o capital humano e os recursos minerais. Das cinco maiores nações do mundo em extensão territorial, o Brasil é o que possui as melhores condições para mobilizar suas riquezas. A Rússia é grande, mas boa parte do seu território é coberta por gelo na maior parte do ano, idem para o Canadá que quase todo gelo, assim como também a China e os Estados Unidos possuem grande extensões de seus territórios cobertos por desertos e cadeias de montanhas. Existe algo que nenhuma escola econômica contesta: não existe crescimento sem investimento. Então é isso, precisamos investir e mobilizar as riquezas da maior potência do mundo, o que nos está faltando são homens de coragem para fazer o que é preciso.

    Crescimento e distribuição de renda são os pilares para nos tirar do atraso, não existe corte de gastos que traga confiança em um ambiente de recessão, como não existe dívida que cause preocupação em um ambiente de crescimento. A questão está em definir um plano de crescimento claro, objetivo e transparente para Brasil. Baseado num amplo programa de infraestrutura, não é simplesmente expandir a base monetária e entregar nas mãos de meia dúzia de oligarcas (ou promover aumentos para cúpula do funcionalismo público).

    Em países periféricos como o Brasil, a única variável capaz de produzir confiança é o crescimento econômico, achar que cortando investimentos vamos conquistar o respeito do mundo, beira a ingenuidade, para não dizer outra coisa. Então, é isso! O discurso da confiança (difundido por nossos comentaristas econômicos) é muito parecido com o discurso da meritocracia, muito bom! Desde que eu seja rico e bem-sucedido. Não é o caso do Brasil, o que nós precisamos mesmo é de crescimento, a confiança é consequência. O crescimento precede a confiança, assim como a igualdade precede a meritocracia.

    1. Agradeço o seu denso comentario, pleno de reflexão, a questão da confiança é realmente uma cortina de fumação, o governo JK não tinha nenhum dos elementos de confiança que o mercado requer e o Brasil recebeu naqueles cinco anos um recorde historico de investimentos estrangeiros.

  2. Sem dúvidas, a iniciativa do General é bem vinda neste momento de crise que o país atravessa e, por lembrar tardiamente que, uma nação nunca será forte, sem um mercado interno dinâmico e sem um povo com poder aquisitivo capaz de atender suas necessidades básicas, que assegure a sobrevivência digna de sua família e, investimentos estratégicos, de preferência, distribuído por regiões do país, de acordo suas necessidades. Esses recursos circulantes e geradores de emprego e renda, geram benefícios crescentes ao comércio, à indústria ao fisco e forma um círculo virtuoso do bem, diferente, dos recursos imobilizados nos bancos e nos rentistas.
    Nos deixa triste e indignado como cidadão, no entanto, assistirmos o desmonte e enfraquecimento das Políticas Públicas, especialmente, as sociais, de segurança e de inovação e de ciência&tecologia, por preferências e interesse do mercado externo, dos rentistas e bancos, além de concorrem para a susceptibilização do Brasil e, do empobrecimento gradual de seu povo, a partir de 2016, principalmente ( https://brasil.elpais.com/b… ).
    À luz de tudo isso, como ao que parece, muitos cidadãos, mesmo discordando disso e, tendo consciência do que vê, não tomam atitude cidadã como deveriam. De nossa parte, gostaria de que, quem domine e conheça essa história moderna ampla de nosso país ( https://jornalggn.com.br/br… ) e, queira nos instrui didaticamente, para nossa atualização de conhecimentos e, para que estudantes, professores e demais cidadãos brasileiros que tenham interesse em conhecer essa verdade, aproveitem.
    Cabe-nos também saber como cidadão se, Somos ou não somos, uma democracia amparada no estado de direito e por isso, perguntamos: Por que os dirigentes do Congresso Nacional, do Poder Judiciário, das Forças Armadas e da Procuradoria Geral da República, todas essas Instituições dos Poderes constituídos com responsabilidades constitucionais de assegurarem o respeito à CF e às leis constituídas, ao estado democrático de direito, ao bem-estar e à paz social, apesar do país dispor de uma das melhores Constituições do mundo, essas autoridades nomeadas nos termos do §Único do Artigo 1º da CF, que assim diz: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, deixaram e consentirem que o Brasil e seu povo, chegassem onde chegou, apesar do que dispõem o Artigo 3º e outros afins da CF; a Lei de Crimes Contra o Estado e a Ordem Política e Social – Lei 1802/53; e as demais Leis afins em vigor?
    Que a verdade, o amor ao próximo e a justiça imparcial inspirada por Nosso Senhor Jesus Cristo, toquem os corações dessas pessoas más dos 03 Poderes do Brasil e, transformem-nas, em pessoas boas, éticas, corretas e comprometidas com o bem-estar e com justiça imparcial para o povo que nelas confiou e, faça com que seus atos de hora em diante, se realizem e se transformem em boas obras e atos justos e corretos e, que sejam positivos, construtivos e, voltados sim, plenamente, para o bem-estar comum, à paz social, à justiça social e fiscal através de um Salário Mínimo em torno no mínimo, de U$ 800,00 (oitocentos dólares americanos), à geração de emprego, de renda e de segurança das famílias brasileiras.
    Da mesma forma, que seus atos e ações, sejam voltadas à eliminação da pobreza, da miséria e da desigualdade e através de investimentos produtivos estratégicos, de acordo com as necessidades/potencialidades e peculiaridades regionais e também, que o fortalecimento do mercado interno do país tenha prioridade em relação às imposições e vontades do mercado internacional, tendo em vista que as necessidades do povo brasileiro são prioridades que, não devem se sujeitarem a nada de fora do Brasil, etc, pois esse, é o segredo para a nação vencer essa crise e seguir sua vocação natural de potência econômica sustentável, independente, soberana e não alinhada ideologicamente, para satisfação e segurança da sua população e, para o pleno desenvolvimento do Brasil (2Tm 3,1-17) e da América Latina.
    Como cidadão do povo brasileiro que, nos termos do §Único do Artigo 1º da CF, é o patrão de todos, pergunta-se: quando, onde e quem e como essas pessoas, serão responsabilizados por tudo isso de ruim, que fizeram com a nação e com o povo brasileiro
    São as nossas preocupações, considerações e sugestões ao bem do Brasil.
    Paz e bem
    Sebastião Farias
    Um cidadão brasileiro Nordestinamazônida

  3. Nada obstante nem sequer vá tocar no teto de gastos, o PLANO DE RECUPERAÇÃO ECONOMICA dos militares do Planalto é um clássico plano keynesiano.

    Como é que se estimula a demanda sem gastar?

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