O que mudou na imprensa esportiva entre as lágrimas do Pelé em 58 e as de Neymar no jogo contra a Costa Rica?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Carlos Wagner 

No Observatório da Imprensa

No dia 19 de julho de 1958, Pelé chorou ao marcar seu primeiro gol em Copa do Mundo. No dia 22 de julho de 2018, Neymar chorou no final partida em que o Brasil ganhou de dois a zero da Costa Rica na Copa do Mundo, que acontece na Rússia. A diferença entre esses dois episódios é muito mais do que 60 anos e alguns dias. Nesse tempo, ao redor do mundo e no Brasil, em especial, o futebol se tornou um importante e milionário segmento da indústria de entretenimento. E a mídia esportiva foi deslocada do seu papel de critica para se tornar parte do show. Uma situação em que o legado deixado pelos grandes comentaristas de futebol foi varrido do no nosso meio e substituído por um enfoque que tornou os conteúdos dos noticiários um amontoado de informações de qualidade duvidosa. O que resulta no afastamento dos nossos leitores e na fuga de anunciantes.

O que escrevi não é uma opinião. É um fato. E tenho dito nas minhas palestras para estudantes de jornalismo e nas redações dos jornais do interior do Brasil que não vejo nessa situação uma tragédia para o futuro dos repórteres esportivos. Mas uma grande oportunidade para as novas gerações de repórteres esportivos de reinventar a maneira de fazer a cobertura do futebol. E, com isso, assegurar o futuro da nossa profissão. Sou defensor de que todos os assuntos que fazem parte do cotidiano dos nossos leitores têm que ser tratados por nós com seriedade. No caso do futebol, nós não fazemos parte de torcida organizada. Nós estamos ali para informar o que rolou. Uma hora depois que Neymar chorou, eu recebi uma ligação de um jovem colega de São Paulo.

O colega de São Paulo perguntou a minha opinião sobre a diferença entre o choro do Pelé e o do Neymar. Disse que o motivo do choro do Pelé e do Neymar é um assunto a ser tratado com um psiquiatra, profissional que tem condições de lançar luzes ao que acontece na cabeça de um jogador nesse hora. Uma avaliação que pode interessar ao nosso leitor. O que é necessário para nós é explicar ao leitor como era a indústria do entretenimento nos tempos de Pelé e como é hoje. Nos anos 50, os interesses dos jogadores eram tratados de maneira amadora, não por nada que muitos deles morreram pobres, como um gênio do futebol chamado Garricha. Hoje os jogadores de futebol são representados por empresas especializadas. A imagem deles é cuidada por marqueteiros. Ou seja: as lágrimas de Pelé entraram para a história como a emoção de um jovem e não foram valorizadas no mercado porque a indústria do entretenimento estava engatinhando. As de Neymar têm um valor de mercado porque o futebol é hoje um grande e milionário negócio nos dias atuais. Cada gota de lágrima pode render contratos publicitários milionários. Ou custar a carreira dele. Tudo vai depender de como ele irá se comportar até o final da Copa.

Outra diferença que comentei com o jovem repórter. Nos anos 50, a convivência entre os repórteres esportivos, os representantes dos jogadores e os anunciantes era muito restrita. Lembro que, nos anos 80, conversei longamente sobre o assunto com colegas do Rio de Janeiro durante a entrega de um Prêmio Esso. Hoje essa convivência é muito próxima. E essa proximidade compromete a independência do repórter, que é fundamental para a qualidade do trabalho dele. Depois de terminar a conversa com o jovem colega, abri uma garrafa de vinho e comecei a pensar sobre as informações que havíamos trocado. Lembrei que, quando comecei a trabalhar em redação, em 1979, foram muito importantes para a minha carreira as conversas que tinha com os “putas velhas” – como se chamavam os repórteres velhos. As conversas aconteciam basicamente nas mesas dos botecos, nos intervalos das coberturas dos conflitos, que era a minha área de ação. Hoje as novas tecnologias facilitam essas conversas. O importante é que nós, repórteres, continuamos conversando. Tenho fé que os jovens repórteres vão virar o jogo na imprensa esportiva e voltar a olhar para o leitor.

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Carlos Wagner é repórter.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. A imprensa não mudou, mudou o futebol!

    O futebol sublimou-se para a nuvem financeira e ficou longe do granado, das arquibancadas e dos torcedores. A Copa é comercializada e com viés político, como Argentina em 78; ou de Brasil “ganhar” no Japão em 2002 (trocando pela derrota para França em 98) e “fazer feio” em períodos PT, incluindo2014, quando Brasil vendeu a copa. O time que entra sabendo que não pode ganhar recebe o “seu” 7×1, embora preservando a “moral” de algumas estrelas (vômito do Ronaldo na França, a “lesão” do Neymar em 2014). Alemanha, sabendo que não “podia ganhar” na Rússia, chegou com atitude pronta, recebendo o seu 7×1, que é uma forma oculta de protesto daquele pouco do “esporte” e de vergonha que ainda existe no futebol.

  2. Questão complexa

    Diferença total entre Pele e Neymar (Jr.) .

    Em 58 havia uma democracia e o pais surfava em uma onda de otimismo que foi catalisado por JK e permitiu um avanço sem precedentes no Brasil, apesar da claque da UDN. Hoje, bem deixa prá lá….

    Enquanto Pele era um adolecente com responsabilidade de adulto , Neymar é um adulto que permanece um adolecente, numa “síndrome de Peter Pan” coletiva.

    Finalmente enquanto Pele transparecia credibilidade, Neymar parece ser obra prima de um publicitário megalomaniaco.

    A imprensa? Sempre possuiu as suas mazelas. Sempre houve os que torceram a realidade para impor seus fatos, só que  hoje a lavagem cerebral é mais impiedosa, insidiosa e desmedidamente mais ganaciosa!

  3. Se eu fosse Neymar diria isso

    Se eu fosse Neymar diria isso a Galvão: “MENOS, GALVÃO”. 

    Galvão Buenos, tal como fazia ao tempo de Ronaldo, se fixa naquele jogador, de tal forma, que mesmo ele não fazendo nada que preste, só dá ele. Podem aparecer mil garrinchas, milhões de outros mais importantes no campo, e na hora, que os olhos do sujeito só se voltam pro mesmo do mesmo.

    Essas exibições de Neymar não lhe fazem nenhum bem. Ontem ouvi um relato de Pepe Escobar, que como jornalista independente, se fixa nas regiões da Euroásia, Ásia e Oriente Médio, a dizer que a maioria desse povo ama Messi, mas torce a cara quando o assunto é Neymar, justamente por essas aparições esquisitas dele, de jogador muito vaidoso, que cai com um sopro, etc.

    Pelé deixou rolar lágrimas sentidas quando fez seu primeiro gol, aos 17 anos, tão longe de casa e de sua família. Pra começar, Neymar pode, hoje, se dar ao luxo, como fez ontem, de passar um bom tempo olhando pra plateia, após o término da parida, pra encontrar os seus e lhe mandar beijinhos. Aquilo poderia ser coisa normal, mas fica parecendo mais uma de suas exibições, porque o moleque adora se exibir.

    Não me sinto monstra por julgar Neymar assim. Ele, pra mim, adora umas esquisitices, que só lhe fazem mal, como aquela tiara na cabeça com 100% Jesus – coisa muito ridícula -, afinal, quer se dizer evangélico, e tem o corpo cheio de tatuagem; frequenta alatas baladas, e tudo mais que os evangélicos condenam. Se jogasse o que sabe, e desprezasse um pouco esse jeito espetaculoso de ser, seria, de fato, um Garrincha, um Pelé, um Maradona, ou estaria em pé de igualdade com os outros ícones do futebol. 

  4. A imprensa é um detalhe. A
    A imprensa é um detalhe. A grande diferença está nos dois personagens. Um era ainda naquele momento apenas um adolescente negro e pobre que caiu de paraquedas no centro do mundo do futebol. O outro, um jogador adulto tarimbado no futebol internacional, podre de rico que trafega de Paris para o Rio no seu jato executivo particular e paga a peso de ouro assessorias de imprensa e profissionais de imagem.
    Entre um e outro uma distância abismal.

  5. Essa mudança na atitude da

    Essa mudança na atitude da mídia não ocorreu apenas no esporte, mas, principalmente, na política e na economia, em que os grandes grupos midiáticos são partes integrantes e fundamentais da estrutura de poder que domina o País e direciona as políticas públicas para os seus interesses. No futebol, isso não deixa de se refletir sobre o comportamento de alguns jogadores, ainda mais nesses tempos de mercantilização total do esporte, sendo Neymar um caso típico, assim percebido pela maioria dos torcedores. Daí a grande rejeição ao seu comportamento, principalmente dentro de campo, refletida na enxurrada de críticas e memes divulgada na mídia e nas redes sociais. Por isso, sincero ou não, o seu choro foi recebido com suspeitas por grande parte dos que o presenciaram. Aliás, no jogo de ontem, a sua atitude mudou bastante, o que sugere que alguém (provavelmente, o próprio Tite) lhe deu uma oportuna chamada de atenção. Como disse Tostão em sua coluna de hoje, ele jogou bem, sem dar chiliques, reclamar, discutir nem simular. Pelo bem da seleção, esperemos que continue assim.

  6. ATE ALEMÃO CHOROU

    Assistimos ate alemão chorando depois do jogo, o que não é nada comum, mas continuamos discutindo o choro do Neymar.

    So Freud pode explicar.

    O Brasil esta num buraco. Estão roubando o nosso petroleo, entregando nossas riquesas, tirando direitos conquistados, mas continuamos falando do choro do Neymar.

    Para sair dessa situação, não basta escolhermos o presidente certo. Teremos que tratar de todas essas questões, inclusive a fixação no choro do Neymar.

    Bom começo para tocar no assunto seria uma reflexão sobre a entrevista de Elieser Batista, publicada no blog do Nassif.

    Nela, ele narra uma conversa com um membro do comite do premio Nobel, quando lhe foi explicado que o Brasil nunca ganhou aquela medalha, porque era considerado um pais que destroe seguidamente seus idolos, seus herois.

    É isso que fazemos o tempo todo.

    Prendemos nosso maior lider politico, vaiamos João Gilberto, tentamos dizer, a todo momento, que o Tom não era tão grande assim ou que o Neymar é um covarde, que não sabe jogar futebol.

    Talvez o comite sueco tenha razão. Se escolhessem um brasileiro para o premio, estariam entregando mais um para  a forca.

    Agora,tentam ate comparar o choro do Pele com o de Neymar. Não entenderam que Copa do mundo é lugar de grandes emoções. Bilhões choram e outros bilhões sorriem.

    A Copa, como dizem muitos, não é um circo que destroe o mundo

    Alias é mesmo um grande circo, o maior de todos. A humanidade precisa de pão, trabalho e muito mais, inclusive desse grande circo para lhe trazer momentos de alegria e emoção.

    Aceitem ou não alguns brasileiros, Neymar é uma das estrelas do espetaculo.

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