Os cães ladram e a caravana de Guedes e seus acepipes passa: Afya Maria!!!, por Frederico Firmo

Afirmar que uma entidade privada pode gerenciar melhor a coisa pública, é mais do que um erro, é uma profunda má fé.

Os cães ladram e a caravana de Guedes e seus acepipes passa: Afya Maria!!!

por Frederico Firmo

As manchetes da grande mídia  mostram  que, enquanto os cães ladram a caravana passa. Dia sim e dia não a caravana do estado mínimo, continua sua marcha de destruição, deixando flagelos por toda parte. Os latidos mobilizam boa parte das manchetes e TV. Na voz do  presidente bobagens interessadas, manifestações autoritárias, frases assustadoras enquanto ministros correm para justificar os latidos: o astronauta tão silencioso agora se manifesta em defesa do chefe e o ex-juiz tão falante ora silencia. Salles mais esperto aproveita  Noronha. Mas ao largo a caravana guiada por Guedes e seus acepipes continua em marcha  vandalizando tudo que estiver a frente.  No momento o foco é o acepipe  Weintraub com seu plano de negócios Future-se. Usualmente a  caravana,fora das manchetes,  passa  quase desapercebida na secção Mercado ou Economia ou nas colunas de Opinião. É nestas secções que podemos ver o laborioso trabalho de através de medidas provisórias, e regulamentações ir imprimindo nas leis o direito de espoliar e servir ao deus Mercado. Nestas secções sempre se encontra  algum comentário “desinteressado” de algum economista do Insper. Mas não podemos nos esquecer  dos  Editoriais.

Ecoando Weintraub  o editorial da Folha de São Paulo  ataca com a frase:

“Em seu principal movimento na área da educação até aqui, o governo Jair Bolsonaro (PSL) lançou um programa destinado a ampliar a captação de recursos privados por universidades federais.”

Chamar isto de principal movimento é chocante, afinal o que foi apresentado não foi uma proposta para a Educação, mas sim um plano de negócios. Aliás um plano de captação de recursos públicos para o setor privado. Sem adiantar com clareza o tal plano, o editor   elogia a iniciativa afirmando que é  certa em seus objetivos , e continua,

“Como demonstra à farta  experiência internacional, instituições de ensino superior que ASPIRAM à excelência não devem depender exclusivamente de dinheiro público.”

Além de não mostrar nenhum dado  para justificar tal afirmação, o editor usa  o imaginário social criado por esta obsessão conjuntural por corte de gastos. Mas observem que  a frase contem o termo  aspirar, indicando que não temos instituições de excelência.  Existe um problema com esta  frase pois  não diz quem vem primeiro o ovo ou a galinha.

Uma universidade de excelência como  MIT (http://ir.mit.edu/research-expenditures)  atrai investimentos  das indústrias   porque é de excelência, mas ela  não é de excelência por causa dos investimentos privados. Segundo os dados  do site do próprio MIT, apenas 20% da pesquisa se deve à investimentos da indústria, o restante vem de dinheiro de organismos governamentais federais e estaduais. National Science Foundation, Department of Energy, Department of Defense , recursos municipais e estaduais , Nasa . Há também um percentual pequeníssimo de dinheiro da própria universidade demonstrando que mensalidades não contribuem para a ciência e tecnologia.  E também recebem  dinheiro de fundações sem fim lucrativo.

Parece que o editor  sabe disto, pois considera:” um otimismo que parece exagerado acerca da potencialidade dos meios aventados.”

Mas se inicialmente os meios aventados pareciam estar ligados a uma maior proximidade  entre a universidade e empresas, o texto que se segue vai nos mostrar outra coisa.

Depois de um lero lero sobre   investimentos privados o Future-se vai explicitando seus objetivos, quando propõe   numa canetada  que  as universidades serão “livres” para  buscar patrocínios, receitas de aluguéis e parcerias para diversificar fontes de verbas. (Que tal venda de bottons?) E finalmente  o elogiado plano chega aos negócios, quando prevê a existência de um fundo de NATUREZA PRIVADA, formado a partir da venda de bens e imóveis ociosos da União. Em outras palavras o plano deixa explícito a captação de recursos públicos para uma  empresa privada.

E os rendimentos seriam revertidos para os estabelecimentos , ( notem que universidade virou estabelecimento ), que “COMPETIRIAM” por eles. Isto é depois de ceder todos os bens e imóveis da União, as universidades teriam  que competir pelos recursos. Algo assim como você deposita o dinheiro no banco e o banco estabelece uma competição para ver  se você merece ou não o rendimento.

Mas  o editor vai mais longe e afirma que apesar de elogiável, o plano  tem uma falha fundamental pois  não introduziu a cobrança de mensalidade. Para o editor esta  falha foi um deslize  populista. Num lance quase que de provocação o plano introduz a lei Rouanet.

Afirmar que a adesão ao programa pelas universidades será voluntária é uma falácia. Afirmar que a contratação de uma Organização Social  privada irá  melhorar a administração das atividades de ensino e pesquisa e extensão é uma piada de mal gosto.  Qual OS saberia gerenciar pesquisa, ensino e extensão. Não existe nenhuma organização social com experiência melhor do que a própria universidade. O editor usa o velho mantra, afirmando  que a gestão da universidade é ineficiente. Mas não apresenta nenhum dado que comprove esta ineficiência. Ficaria surpreso se fizesse um estudo detalhado. Mas se o parâmetro  de profissionalização   é dado pelos atuais gestores da educação e da  economia brasileira, com certeza eu prefiro amadores.

Com mais um mantra liberal o editor   afirma que as resistências da universidade são devido ao corporativismo e a politização excessiva, isto é, o editor chama para o debate, mas desclassifica o debate  de partida, e toma partido  da farsa da consulta pública. Do que vale uma consulta pública sem uma consulta prévia.  Sem jamais ter conversado com o conjunto de reitores e com a universidade em geral, este ministro, que é um acepipe de Guedes,   dá  poucos dias para se realizar a consulta publica, e implementar o plano. Ma segundo o editor,

“Felizmente há pela frente o período de consulta pública e o escrutínio pelo Legislativo, oportunidade para um já tardio debate em torno da educação superior no Brasil.”

Não sei de onde ele tirou o tardio, afinal a educação superior vem sendo debatida  e paulatinamente modificada há décadas.  Mas provavelmente o editor acha que depois da eleição tudo é novo.

Há que se deixar claro que a proposta não é sobre a  educação superior, mas sim um plano de negócios escondido numa reforma administrativa  da educação superior. A  proposta saída da cabeça de planilha de um pequeno grupo,  pretende destruir a universidade pública como conhecemos e como foi construída historicamente no país, transformando-a numa empresa privada que apenas demagogicamente se chama de Organização Social. Organização Social privada é um contradição em termos.

Afirmar que uma entidade privada pode gerenciar melhor a coisa pública, é mais do que um erro, é uma profunda má fé. Afinal já vimos os grandes profissionais de entidades privadas em ação em Mariana,  Brumadinho, e em tantas falências e ou atos de corrupção.  O editor acusa a resistência ao plano,  de corporativismo, mas seu texto é claramente uma defesa de  interesses de corporações privadas. O mentor de tudo isto, Guedes que   não demorou a lucrar  lançando no mesmo dia  a sua companhia “Afya” :

” A companhia brasileira Afya, de educação médica, abriu capital na Nasdaq, em Nova York, nesta sexta (19/07/2019). A oferta inicial de ações (IPO) levantou mais de US$ 300 milhões, com papéis sendo negociados a US$ 22,90, acima do preço base de US$ 19 definido pela empresa.

A empresa pretende usar os recursos para comprar escolas, entrar em novos mercados e desenvolver produtos, segundo o prospecto da oferta. Além de programas tradicionais de graduação, a Afya oferece educação médica continuada por meio de canais digitais e físicos.

Bank of America, Goldman Sachs, UBS, Itaú BBA, Morgan Stanley, BTG Pactual e XP Investments lideraram a operação.”

Como se pode notar Guedes deve ter lucrado, segundo os jornais, milhões de dólares através de uma simples oferta de ações na Nasdaq. O lançamento conjunto do Future-se e da Afya, pode ter sido apenas uma coincidência, mas já vejo a Afya interessada em gerir a tal da Organização social.  Alguns idiotas dirão que uma empresa com ações na bolsa é a mais capacitada para gerir toda esta dinheirama do espólio da Universidade brasileira. Aliás  Guedes sempre defendeu tudo pelo social. No momento deve estar ansioso pelo lançamento da  capitalização da previdência, quando talvez lance a companhia “brasileira” ” Faca Amolada”.

Depois disso ele provavelmente renunciará e voltará mais rico para sua terra adorada.

Redação

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