Os canhões e Cilindros de mergulho brasileiros dos anos 80, por Paulo Gala

O Brasil tinha então uma boa infraestrutura industrial, onde a ordem do dia era importar o mínimo e nacionalizar o máximo.

Os canhões e Cilindros de mergulho brasileiros dos anos 80

por Paulo Gala

Um cilindro de mergulho feito no Brasil custava U$300 nos anos 1980, Importado era U$150. Claro que o nosso era muito mais caro, mas estávamos na rota de aprendizagem produtiva. E o “Brazilian buy act” e tarifas e licenças de importação da época nos ajudavam! O Brasil tinha então uma boa infraestrutura industrial, onde a ordem do dia era importar o mínimo e nacionalizar o máximo. O engenheiro da Engesa e mergulhador César Nieto viu aí uma grande oportunidade! Os canhões chamaram a atenção dele como mergulhador por serem cilíndricos e possuírem alta resistência mecânica. Vale a pena ouvir essa historia!

trechos do artigo de Cesar Nieto: (https://www.google.com.br/amp/s/www.brasilmergulho.com/amazon-a-historia-de-um-cilindro-de-mergulho-fabricado-no-brasil/%3famp)

“A atividade do mergulho autônomo sofria pela precariedade dos equipamentos nacionais existentes. Não tínhamos coletes, reguladores, manômetros e cilindros. Os cilindros existentes eram feitos a partir de extintores de incêndio de CO², com pressão de trabalho de 150 bar ou 2200 PSI. Eram pesadíssimos, da ordem de 17.5 Kg e com 10 litros de volume interno e apenas 1500 L de ar, proporcionava uns 20 minutos de mergulho. Esses eram, na época, produzidos pela Atlântida em São Paulo. A Engesa, empresa brasileira da época que produzia tanques, blindados e canhões, possuía uma invejável tecnologia metalúrgica para a produção de chapas de aço blindadas. hoje o Brasil importa a mesma chapa que a Engesa produzia na época”.

“Foi minha inspiração inicial. Na época os melhores cilindros que chegavam ao Brasil Eram de alumínio da marca Luxfer e tinham pressão de trabalho de 200 BAR ou 3000 PSI, dando maior autonomia para o mergulho, com menor peso. Foi aí que surgiu a ideia de elaborar um projeto de cilindro nacional com mais autonomia. o alumínio foi descartado pela não existência de capacidade industrial para produzi-lo. Decidiu-se então por um cilindro de aço liga que batizado de “Alloy Steel”. Feito com aço 4140, comprado da Siderúrgica Mannesman, (com trefilação, a mesma que trefilava os canhões, para diminuir a espessura da parede) . Após o processo de trefila, era então fechado pelo processo de caldeamento, a alta temperatura, obtendo-se já o formato cilíndrico, convexo no fundo e gargalo no topo”

“Esse cilindro fechado era então levado à Combustol para tratamento térmico de tempera e revenimento, até atingir a resistência mecânica desejada. Na mesma empresa, era usinado o gargalo para colocação da válvula “K”, que tinha a marca Dacor, americana. Após o tratamento e usinagem, o cilindro passava por um jateamento interno para remoção de toda oxidação, chegando ao metal branco”

“Após a operação de jateamento, era levado para um banho de níquel químico internamente, o que garantia uma boa propriedade anticorrosão. A última etapa era o teste hidrostático e a pintura de acabamento. Os primeiros testes hidrostáticos foram feitos no IPT da Universidade de São Paulo, onde com homologação para a pressão de trabalho de 210 BAR. A pressão de ruptura foi de 620 BAR. Com isso um cilindro de 10L de volume, que continha 2100L de ar, com um peso de 14.8 kg, pesava praticamente o mesmo que os cilindros italianos da Faber, na época. Todo esse processo ficava muito caro, mas naquela época que não havia alternativa de importação. Era possível vender para alguns órgãos públicos como bombeiros. Como existia um “Brazilian Buy Act”, regra não escrita, mas que justificava aos órgãos públicos, a compra do produto nacional com valor até duas vezes o similar importado, era possível vender”.

Em 92 com a abertura das importações, este cilindro deixou de ser viável. A Competição com os Luxfer de alumínio era impossível. Esse cilindro made in Brasil ficou por aí.

Informacoes de:

Cesar Corazza Nieto

Engenheiro de profissão e mergulhador desde 1969, formou milhares de mergulhadores e considerado um dos responsáveis pelo avanço do esporte no país.

Ref:

https://www.google.com.br/amp/s/www.brasilmergulho.com/amazon-a-historia-de-um-cilindro-de-mergulho-fabricado-no-brasil/%3famp

Redação

9 Comentários

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  1. Mas a década de 80 foi a pior época da economia brasileira, tanto que ganhou o nome de “década perdida”. Era evidente que o modelo nacional-estatista de substituição de importações estava esgotado, daí que não faz sentido que se sinta nostalgia dele em 2020.

    1. Qualquer coisa mal feita, mal explorada, sabotada ou destruída pelos (des)interessados pode se “esgotar”.
      O pior é (típico dos tucanóides neoliberais) avaliar coisas com frases genéricas, como “modelo esgotado”, sem argumentações e mergulho nos fatos, causas e efeitos.
      Quem não sabe a diferença entre tática e estratégia não pode mesmo ter opiniões consistentes. Aí só resta ficar repetindo bordões cansados.
      A estratégia (de qualquer nação, instituição ou indivíduo) é ser independente, autônomo, sempre que puder (e o Brasil PODE!).
      Ou alguém (exceto o FHC divulgador da “teoria da dependência”) discordará disso?!
      Daí vamos às táticas para tanto, que podem ser diversas.
      Economias desenvolvidas como o Japão, não só protegeram (e protegem hoje) suas indústrias (e economia) como investem nelas (e em pessoas!) e sequer têm pudores em copiar e espionar (o que é também praticado pelos EEUU, Rússia, Reino Unido, China, Alemanha, etc.).
      DESTOANDO deles (e da UE), TODOS protecionistas, nossos “intelecotecotuais” e nossa rasteira elite (hã?) acham que “é melhor não”!
      Ora, se países com poucos recursos e riquezas procuram sua independência (Taiwan, Singapura, Coréias, Vietnam, Israel), imagine países que dispõem de enormes riquezas e recursos, das maiores e melhores do planeta, incluindo mais de 200 milhões de RECURSOS HUMANOS? Gente!
      Só não vai procurar depender de si mesmo se for coletivamente BURRO! Idiotizado.
      E esta BURRICE é a resultante (coletiva) de um imenso vetor de uma medíocre, ínfima e rasteira “elite” intelecotecolóide e um pequeno vetor representado pelo restante, num país de imensa desigualdade e miséria social, similar a de pobres países africanos.
      Num mundo onde somos “gigantes pela própria natureza” e riqueza natural, geoeconômica invejáveis por qualquer outro.
      E aí vem a propaganda diuturna de décadas a nos convencer que “não prestamos”.
      Que é nossa “sina”…
      Que, “tirando um Messias”. somos todos ladrões.
      A serem alvejados e eliminados por “arminhas de dedinhos”, numa “necessária limpeza étnica-moral”.
      Ora colegas de “pátria”, quem atrapalha e faz tudo como na primeira frase deste post são exatamente estes.
      Que se lixam pelas fábricas sociais de bandidos que causam, pois sua produção” pode ser “eliminada” e neutralizada por altos muros e caros blindados.
      Quer querem destruir e jogar todo esse povo “atrapalhante” de sua usurpação, na sarjeta, no lixo, no limbo.
      E não, investir nele.
      Para que pudessem ser a verdadeira elite de um brilhante nação de topo.
      Mas a vida é curta, némêz?

      1. Complementando a seção “táticas”:
        O que se tem que fazer, além do todo já mencionado acima, é investir em EDUCAÇÂO (não militar, pois não precisamos nem temos vocação expansionista ou ameaças vitais), o que exige um mínimo de condições SOCIAIS (saúde, moradia, segurança, cultura, esportes, LAZER, etc.). Ou seja, investir em GENTE.
        Formar (por ex.) engenheiros como a China (centenas de milhares por ano) e toda sorte de pessoas preparadas com TODO o espectro do conhecimento humano (incluindo artes, filosofia, sociologia, além de direito, medicina, física, TI&C, astronomia, engenharias, etc.). O que estamos formando é eminentemente um imenso contingente de “crentes” religiosos “contribuintes”.
        Mas não adianta formar, por ex., milhares de engenheiros navais e destruir a indústria (que já foi das maiores mercantes do mundo) onde eles iriam trabalhar e forçá-los a trabalhar na XP investimentos ou, pior, dirigir Uber.
        É inacreditável que consigam deturpar a cultura politica do braZil para ser exatamente o OPOSTO do que devemos buscar EVIDENTEMENTE como nação.
        A ponto de elegermos como presidente um deputado de baixo clero, claramente ligado a partidos corruptos e milícias bandidas que nada de consistente ofereceu em décadas, além de polêmicas ridículas.
        E ele aparelhar o estado com seus anti-ministros e quetais.
        Espero que deste contingente de zumbis, o último a sair acenda a luz.

        1. É bom apontar algumas diferenças entre o Brasil e a China. Ambos têm aproximadamente o mesmo tamanho e dispõem dos mesmos recursos, mas a população da China é de mais de um bilhão. Então, o PIB per capita da China é de terceiro mundo (inferior ao do Brasil) mas o PIB bruto é de primeiro mundo, o que significa que se eles necessitam de alguns bilhões para um mega projeto tecnológico, eles têm. Mas esse progresso todo só beneficia uma parcela da população autorizada a viver e trabalhar em algumas grandes cidades. De modo geral, o povo chinês continua com um padrão de vida muito baixo.

          Em tempo: as escolas “militares” que estão em voga não ensinam guerra. São escolas de currículo padrão, só que dirigidas por militares. Por isso que o povão está correndo para essas escolas, pois sabem que lá bandido não entra e a disciplina vai fazer seus filhos renderem bem nos estudos. Bolsonaro ganhou o eleitorado porque foi o único que prometeu algum endurecimento contra a bandidagem que aterroriza as periferias, coisa que o PT nunca fez.

      2. Li em algum lugar que o Japão se tornou autossuficiente na produção de arroz, alimento de primeira hora naquele país, após a fome ter grassado em época de guerra devido a bloqueio da importação do produto. Hoje, embora o produto nacional tenha custo de produção exageradamente superior ao importado, que não sofreria qualquer restrição à importação, eles continuam produzindo o alimento por segurança alimentar. Como os japoneses são “burros” e praticam um modelo “esgotado”, hein !?

      3. No atual mundo globalizado, procurar ser autossuficiente em tudo é tolice. O importante é produzir para exportação, como fazem Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e outros que “deram certo”. Aqui no Brasil a indústria produzia para empresas estatais que eram obrigadas a comprar produto nacional. Eu me lembro bem da década de 80, tinha a reserva de mercado e todos os computadores eram brasileiros, na verdade cópias descaradas de computadores estrangeiros vendidos muito mais caro. Quem podia comprava um computador no Paraguai. Finda a reserva de mercado, não sobrou nenhum fabricante nacional de computadores.

        O objetivo de todo país é ser independente? Isso não tem a ver com a cultura do empresário nacional, para quem a fórmula do sucesso é o bom relacionamento com gente do governo, e não a qualidade e o preço de seu produto. Essa mentalidade vem desde os tempos anteriores à abertura dos portos em 1808, quando todo empreendimento dependia de alvará do rei, que concedia monopólios a seus protegidos. Todo empresário nacional sonha em voltar a esses tempos.

        E não adianta culpar os tucanos, que na década de 80 nem existiam. Quem naufragou o barco foram os desenvolvimentistas mesmo.

  2. Em 1957, época em que ainda poucos tinham automóvel na pátria amada, meu pai tinha um (hoje clássico) Chevrolet Bel-Air ’57 “hardtop” sem coluna, automático (um raríssimo “turbo-glide”), com direção hidráulica, motor V8 “de Corvette” com 264 HP. Trocado anteriormente por um Hudson Hornet 8 em linha (outro clássico).
    Pra não esticar, 2 anos depois ele o trocou por um obsoletíssimo Aero-Willys ’59, fabricado no Brasil por uma indústria com sucatas trazidas dos EUA (WOB).
    Apesar de incomparáveis, comprar um carro nacional trazia um tanto de orgulho e satisfação para incentivar nosso começo de massificação automobilística. Nenhuma vergonha!. Era aquela coisa (consciente!) do “o meu é pior, mas fui eu que fiz”…
    Este era o Brasil em que cresci, num ambiente de “yes, we can … we will”, cujo desenvolvimento era admirado pelo mundo, construindo uma cidade (capital!) em cerca de 40 meses, hidrelétricas monstro, estradas, indústrias de todo tipo e evolução invejável do PIB.
    Note-se ainda o olho do mundo em nossa música, arquitetura, cinema, artes em geral.
    Ou seja: desenvolvimento de corpo E alma!
    Novamente para não esticar mais, veio a ditadura que, por inércia, continuou o desenvolvimento (decrescente) do “corpo”, mas começou a atrofiar nossa alma, criando gerações que aí estão, fazendo o que estão, das artes à política, com saudosistas (sem tê-la vivido) de “intervenção militar constitucional” (!) e tudo.
    A destruição do Brasil começou já no fim da ditadura, com a desmoralização diuturna pela miRdia (à serviço) de tudo que é(ra) nacional (palavra derivada de nação, país mais seu povo).
    Aí chegaram os fernandos, das carroças, da pá de cal, da privataria, dos aposentados vagabundos.
    Com uma “alma” animada pelo retorno à “democracia” do voto direto, a comemoração não nos deixou perceber o atrofiamento “em definitivo” de nossas capacidades e a alienação cada vez maior de nossas riquezas (aos nossos concorrentes e seus representantes), das quais nunca o povo brasileiro pode desfrutar, apenas uma parte desprezível (nos dois sentidos).
    Foi nesses tempos que descobri que democracia é muito mais que voto!

    Tudo isso para observar que, relacionado ao post, este braZil tem uma das maiores reservas E produções de MINERAIS de alumínio do mundo (bauxita e alumina) e produção renovável e barata de energia elétrica (intensiva na produção de alumínio), chegou a ser a sexta maior nação produtora de alumínio primário, e hoje deve estar lá atrás em 15o, no seu mínimo, ao invés de ter avançado. Ainda assim isto tudo feito por estrangeiros que aqui se instalaram para aproveitara energia elétrica de Tucuruí, que LHES atendia eminentemente e não às populações locais, para produzir e EXPORTAR (Alcan, Alcoa, Alumar/Alunorte e a “pequena CBA dos de Moraes).
    O post demonstra que, contra todo este quadro, ainda conseguimos criar e produzir!
    Quando deixam…

    1. Esse tempo de otimismo ingênuo passou. Foi a época de JK, e depois o “milagre” dos militares. Mas nos anos 80 a conta chegou. Os robustos índices de crescimento escondiam um desastre financeiro. O crescimento foi sustentado com dinheiro de banco imobiliário. Os ganhos salariais que os trabalhadores obtinham com o pleno emprego eram prontamente anulados pelo surto inflacionário que vinha em seguida. Assim o país reuniu alto crescimento com pouca ou nenhuma inclusão social, tornando-se um dos mais desiguais do mundo.

      Não foi a mídia que desmoralizou o país. A mídia simplesmente ecoou o que todos estavam vendo com seus olhos: o modelo desenvolvimentista não funcionava mais, nossos carros eram carroças porque as fábricas estavam proibidas de importar ítens eletrônicos, a indústria nacional produzia para empresas estatais obrigadas a comprar produto nacional, o que, para o país, é o mesmo que tirar dinheiro do bolso direito e botar no bolso esquerdo. Como qualquer dono de botequim sabe, o que o enriquece é o dinheiro que sai do bolso do freguês e entra no dele.. Isso estavam fazendo oa países da Ásia hoje ricos, que produziam para exportação.

      1. Cada um conta a estória que quer, do jeito que quer. Esta á internet. Em 80 a gradiente era maior, mais eficiente e mais criativa que a atual LG. Em 86 a unitron conseguiu a proeza de copiar um macintosh, algo impensável. Em 80 a atual hyundai era algo como a nossa gerdau. Não há ingenuidade nisso. Há interesses.

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