Os desajustados, por Janio de Freitas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da Folha de S. Paulo
 
Por Janio de Freitas
 
A política de retração de Dilma e Levy conseguiu chegar ao fim de abril com o desemprego elevado a 8%
 
 
A orientação do comando petista aos esperados no congresso do partido, para que não façam críticas a Dilma por sua política de “ajuste fiscal”, não é a mais justa. Dilma não merece silêncio, merece muito aplauso. E seu parceiro Joaquim Levy não pode ser esquecido.
 
Em apenas quatro meses, a política de retração econômica adotada por Dilma e traçada por Levy conseguiu chegar ao fim de abril, como divulgado ontem pela IBGE, com a taxa de desemprego elevada a 8%. Quase, faltando muito pouco, o dobro de outra taxa já obtida pelo atual governo, quando Dilma repudiava a política neoliberal que Levy já rezava.
 
E olha que o novo índice está atrasado. Com perto de um milhão a mais de desempregados entre fevereiro e abril, há ainda, para o total, o contingente dos desempregados de maio. E quando os petistas se reunirem, a partir do dia 11, a defasagem do dado e o desemprego feito por Dilma e Levy serão ainda maiores.
 
O mesmo se pode dizer da queda de consumo das famílias, basicamente o alimentar. Da classe média para cima, não há essa redução. Já se vê quem compra menos alimentos. E assim, na conexão de aumento do desemprego e queda do consumo alimentar, o governo acha que está fazendo combate à inflação.
 
Entre o silêncio e o aplauso para mascarar a opinião, não há diferença no autoritarismo de quem ordena e na sujeição de quem se submete. Se a política neoliberal e o consequente desajuste social não são criticáveis, são aceitos. Se aceitos, aplaudir a veloz e progressiva conquista dos seus objetivos é o lógico e o justo.
 
O PT quer um congresso com censura prévia. Não há por que não a fazer até o fim. Já que não admite sequer crítica, cabe-lhe aplaudir de uma vez o ajuste fiscal que não passa de maior desajuste social.
 
IDEM
 
Arnaldo Madeira é seguido por Alberto Goldman na reprovação às votações do PSDB, na Câmara, contra criações e teses do partido, como a reeleição e o fator previdenciário, ou a favor do distritão. Ambos (Goldman em carta a dirigentes peessedebistas) apontam a falta de debates no partido, opinião também de vários outros.
 
Mas que debate? Debate permanente era a ideia de Franco Montoro e Mário Covas, assim como o revezamento na presidência partidária a cada três meses, ao fundarem o partido promissor de uma linha social-democrata. Nunca mais houve debate, de coisa alguma. Nada mais claro, nesse sentido, do que a decisão pela candidatura de José Serra à Presidência da República, tomada por Fernando Henrique, Tasso Jereissati, Sérgio Guerra e Aécio Neves em um restaurante em torno de garrafas de vinho. E depois a de Aécio, em circunstâncias idênticas.
 
Enquanto os interesses eram os mesmos, o PSDB pôde passar a aparência de unidade nas votações. Quando Eduardo Cunha semeou interesses diversos, os deputados peessedebistas mostraram-se iguais às bancadas de conhecida suscetibilidade.
 
Só o PSDB não sabe que nada mais tem de PSDB. Não é por engano que está em entendimentos para com o PMDB para algo como uma aliança estratégica. É, partindo de posições muito semelhantes, pelas semelhanças a que chegaram depois das diferentes deformações.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

24 Comentários

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  1. Ajuste neoliberal? Assim que

    Ajuste neoliberal? Assim que chamamos gastar menos que se arrecada? A minha família e a de qualquer brasileira são portanto famílias neoliberais.

    1. Razão

      Arrecada-se menos, Zé Borba, porque se resolveu entrar no círculo vicioso de aumentar os juros (SELIC – para nada além de  presentear a banca e os rentistas) e, em consequencia, diminuir a atividade econômica, logo, a arrecadação, enquanto se aumenta o déficit causado pelo aumento dos juros.  Ou o governo muda (inverte) o rumo ou logo voltaremos aos lamentáveis tempos imediatamente anteriores a 2003.

    2. Governos e Familias

      Todos governos no mundo gastam mais do que arrecadam. Governos são diferentes de familias, pois os gastos das familias saem do orçamento familiar e não voltam, enquanto os gastos dos governos saem e voltam.

      O sujeito que recebe seguro desemprego faz compra no supermercado, o supermercado devolve ao governo cerca de 30% do que recebeu do sujeito, sob a forma de impostos embutidos nas suas vendas.

      O supermercado vai repor o estoque vendido ao sujeito comprando de atacadistas, os quais recolherão ao governo outros 30% da venda feita ao supermercado.

      O atacadista por sua vez vai repor o estoque vendido ao supermercado através de compra das industrias, gerando mais arrecadação para o governo através dos impostos pagos pela industria sobre essa venda ao atacadista.

      E assim por diante. 

      No caminho, familias melhoram seu padrão de vida, empresas mantem ou aumentam o nível de emprego, que por sua vez vai gerar mais receita para a Previdência.

      Faça um favor à Nação e divulque entre seus amigos que também acreditam nessa metáfora do Governo/ Familia vendida pela mídia e seus analistas.

      1. Até a próxima …

        Creio que a maior diferença esteja no fato de que em uma família quando a renda, ou estaciona ou diminuí, ela corta na lista de compra simplesmente porque o dinheiro que entra não cobrirá o que se precisa ou se quer.

        No caso de(o) governo, todos nós, o “todo nós” sempre e só é chamado para complementar a renda já que os gastos são por ele efetuados sem o menor controle.

        Aí então esse mesmo governo te entope de explicações que vai quebrar, acabar, explodir, desintegrar. Em resumo, toca o maior terror e eu, tu, nós somos obrigados a comparecer para que nada do dito “aconteça”.

        Assegurada a renda extra, os gastos extras continuarão sem controles, e ele tocará maior terror de novo para que eu, tu, nós entendamos, compreendamos que, sim, é necessário que haja aumento nas folhas de tudo quanto é orgão estatal, governamental, ou seja lá que nome tenha, pois afinal de contas essa parte estava defasada há muito pelo “controle que o governo sempre exerceu” e agora é a hora de se corrigir essa injustiça. Afinal, uma máquina satisfazida trabalha e tudo corre melhor quando seus integrantes estã felizes.

        E assim seguiremos até a próxima crise já que a da vez já foi “resolvida”.

        Séculos passaram e passarão e esse país nunca mudou ou mudará (Tá bem! sem radicalismos. Afinal cinco milhãoes, num universo de 50, passaram a comer comemoráveis duas vezes ao dia).

         

        1. Existem gastos e gastos

          O gasto publico com aposentadorias, seguro-desemprego, abono do PIS, retorna quase integralmente ao circuito produtivo, gerando o efeito multiplicador que eu comentei acima.

          Já os gastos com juros são na maior parte entesourados pelos rentistas, que simplesmente vão engordando seu patrimonio, pois sua renda já é suficientemente alta para assegurar suas necessidades de consumo, e todo aumento extra de renda tende a se transformar em poupança. O efeito multiplicador desse gasto é mínimo.

          Sem falar no destino externo dessa poupança extra que o Banco Central está engordando, muitas vezes paraísos fiscais, compras em Miami etc…

    3. Comparar o orçamento de uma familia com o do governo

      é de um reducionismo sem tamanho, o pior é saber que até o governo tem feito isso. Mas, se vamos nos apegar a tal falacia, considerando a situação atual e de onde o dinheiro tem sido retirado e para onde tem ido, se o governo fosse uma família, suas atitudes seriam como se o pai retirasse dinheiro da mensalidade escolar das crianças e do remédio da vovó para dar para o tio viciado em jogos ver se ganha uma graninha no bingo para ajustar as contas da casa. Isso é o que se espera de uma presidente do PT?

    4. Caro Ze Borba, minha família

      Caro Ze Borba, minha família não é neo liberal e para não ter problemas monetários, ela prefere não pagar juros exorbitantes aos banqueiros.

    1. Minha querida presidente…

      E ela não parece muito de acordo com o que ele lhe diz. Levy esta convencido de que so ha um caminho. Pena. Mas nem adianta o peessedebistas reclamarem, estariam fazendo a mesma coisa.

       

      1. Hm, não exatamente.
        Estariam

        Hm, não exatamente.

        Estariam fazendo dez vezes a mesma coisa. E tratando de nos convencer que assim é que é bom – não um ajuste temporário para depois retomar uma política “crescimentista”, mas uma espiral infinita rumo ao fundo do poço, proclamada entusiasticamente como um fim em si mesma e como a maravilha das maravilhas curativas do Dr. Humphreys…

  2. Decisão

    Dilma precisa decidir, urgentemente, em benefício dó seu passado. Ou sai do PT e explicita sua aliança (hoje, de fato) com o PSDB, DEM, PPS e outros menos votados da oposição ou suspende a política de desajuste social. 

  3. Lambança

    Nassif,

    Esta guinada sabidamente desastrosa na política econômica deverá arrebentar com o que ainda resta do prestígio de DRousseff.

    É incompreensível que ela tenha engolido, com chifre e tudo, este movimento pirotécnico de Joaquim Levy, persona que certamente está causando influência em atitudes deste BC acéfalo. E graças à marcha em curso virá o inevitável banho de sangue, com taxa de desemprego superior a 10%, inflação anual supeior a 8%, o tamanho do PIB encolhendo uns 2% aa e, de brinde, as empresas retraídas a aguardar que se chegue ao fundo do poço e parte da sociedade safada da vida.

    E ainda pode ter redução da maioridade penal, terceirização,reforma política ao gosto do evangélico inteligente ECunha, parlamentar que está fazendo da Câmara o seu quintal particular. É muita, mas muita lambança ao mesmo tempo.

  4. Ou a presidente entra no pt

    Ou a presidente entra no pt ou o pt sai da presidente, senão babau, se essa politica desvairada der certo, vai ser com muito sangue da parte mais fraca, será que isso será suficiente? Pra marta não foi, mesmo fazendo um governo bem avaliado perdeu, pra erundina não foi, o haddad cheio de boas intenções enfiou o pé na jaca por causa das sacolinhas, de boas intenções que nos furam os olhos estamos cheios; e no final esse governo sempre gostou disso aí, pib fraco, aumentos pifios de salario, e arrocho para o funcionalismo, enquanto gasta a rodo com os endinheirados, quando foi diferente no governo dilma?

  5. Simples de entender

    Existem dois tipos de governos. Um age a longo prazo, pensando no bem do país, pensando até mesmo em voltar a governar num futuro. Este era o Lula, que não por acaso, abaixou os juros.

    O outro tipo de governo, só pensa a curto prazo, tipo em terminar o seu mandato, de preferência com os bolsos cheios, e não está nem um pouco preocupado com o país, muito menos ainda com o povo. FHC era deste tipo, Dilma também.

     

    A estratégia de Dilma ao subir os juros, é simples de entender. Ao subir os juros, ela “cai no agrado” da elite rentista, e com isto terá a benção desta para ficar no cargo mais três anos e meio. Assim ela afastou a ameaça de golpe. Ela acabou com o futuro do país, e com o futuro do PT também, mas o importante é que ela terá a presidência garantida por mais três anos. É o poder pelo poder, e pelo dinheiro. Uma governança ao estilo FHC. e o povo que se vire.

    A governança ao estilo Lula, era fazer o melhor, para o povo, sem se preocupar com golpes, afinal, Lula tinha popularidade suficiente para que o povo fosse às ruas e impedisse qualquer golpe.

    Tudo foi premeditado por Dilma. Ela fez relativamente um bom governo no primeiro mandato, pois precisava vencer as eleições; agora ela não tem eleições nenhuma a frente dela, talvez pelo resto de sua vida, e pensa estar em seu direito de pensar só em si mesma. E o PT pelo jeito, também pensa junto com ela, pois faz vista grossa, diante do desemprego.

    O povo foi enganado. Provavelmente Lula também. Dilma prometeu um mundo cor de rosa, e entregou um mundo neo liberal. O país pagará o pato por esta traição por décadas. O povo por anos vai ficar desconfiado de qualquer político que aparecer. Um país sem confiança, dificilmente terá amálgama para crescer, mas um dia irá se restabelecer.. Mas pior ainda será o destino do PT, que talvez não se restabeleça jamais, com a pecha de neoliberal..

     

     

      1. Caríssimo Fraga

        Bobagem?

        Bobagem seria ignorarmos o sofrimento de milhões de desempregados, e fingirmos que não vemos uma política de juros totalmente irresponsável.

        O verdadeiro objetivo de aumentar os juros, defendido pela “elite” é aumentar o desemprego, e com isto achatar os salários. Vão quebrar o país, e nós devemos abençoar?

         

        Uma presidente que mentiu sistematicamente em sua candidatura, prometeu manter juros baixos, agora deveria ser apoiada? Vamos contar para nossos netos um dia que apoiamos um governo neoliberal e cínico, que arruinou o Brasil, apenas por que ainda tinhamos um emprego?

        Caríssimo Fraga, o maior erro do PSDB, foi continuar apoiando FHC, mesmo quando este começou a fazer asneiras de grande magnitude, e afundar o país, e por isto o PSDB nunca mais retornou ao poder.

        Agora o PT está na mesma encruzilhada que o PSDB passou, e tem a mesma decisão em mãos.

        A cada ponto percentual do aumento dos juros, sobe um tanto o nível de desemprego. Quando os juros chegarem a 18%, 20%, a que nível estará o desemprego? Que desculpas teremos de inventar então para justificar os desmandos de Dilma?

        Se o PT não se importa mais com os trabalhadores, devia mudar sua sigla para “PE”, partido dos especuladores, pelo menos ficaria mais bonito e sincero.

         

    1. Ameaça de golpe

      Não acredito que a Dilma vise deixar a presidência com os bolsos cheios.

      Acredito mais que ela foi obrigada a adotar a ortodoxia para evitar o golpe e completar seu mandato.

    2. Ameaça de golpe

      Não acredito que a Dilma vise deixar a presidência com os bolsos cheios.

      Acredito mais que ela foi obrigada a adotar a ortodoxia para evitar o golpe e completar seu mandato.

      1. Completar o mandato para que

        Se Dilma faz o que faz por dinheiro, ou por que motivo seja, o resultado é o mesmo, ela está arruinando o futuro do Brasil,  do PT e da esquerda neste país..

        Agora a pergunta, completar o mandato para quê, se o mandato dela está sendo altamente nocivo para o povo brasileiro?

        Quem está lucrando com o mandato de Dilma? Os desempregados? As milhares de famílias arrochadas por sua política anti inflacionária?

         

        E tem outra, um ajuste leva à necessidade de outro ajuste ainda maior. Quando Dilma terminar seu mandato, a dívida pública estará tão grande por conta dos juros altos, que vai dizer que mais direitos precisarão ser cortados. E nunca ela cogita em cortar o bolsa especulador, Selic, pois o mercado é muito mais importante do que o bem estar do povo, para ela.

         

        A verdade é uma só, se Dilma realmente se importasse com este país, com este povo, sacrificaria seu mandato, ou até mesmo sua vida, como fez Getúlio Vargas, mas não entregava a rapadura.

         

        Fazer o jogo do capital especulativo, mesmo prejudicando gravemente o país, só para permanecer no poder, é o poder pelo poder.

  6. Mas a presidenta parece ser a

    Mas a presidenta parece ser a mesma que baixou drasticamente os juros e injetou uma quantidade absurda de dinheiro, via BNDES. O que acho interessante são as explicações porque não deu certo, e o pior é a tentativa de uma parte da comunidade esquerdopata em dobrar a dosagem do remédio. Dilma é mesmo muito mais inteligente que a esquerda.

  7. Nem de longe concordo com o

    Nem de longe concordo com o plano de ajustes desse governo,mas temos que ver o seguinte: tem muita gente ainda,alienada pedindo ou que pediram demissão para receberem o seguro desemprego,acho que no máximo daqui a quatro meses esses números melhoram,não apostaria o contrário,sem falar que houve as demissões dos trabalhadores temporários nesses primeiros meses. O desemprego aumentou,mas não tanto como dizem. Eu mesmo estava trabalhando sem carteira assinada,não para receber o seguro,mas pelo motivo da empresa está começando agora,passei dois meses trabalhando assim.

  8. A política monetária do BACEN

    A política monetária do BACEN recebe fortes críticas no blog. Por esse motivo, realizei alguns gráficos com o intuito de contribuir na discussão, e formulo algumas conclusões e perguntas que surgem da observação dos mesmos e da história recente do Brasil e do mundo.

     

    Tomei os dados a partir de 2007 pelos seguintes motivos: a) Lula ainda estava no poder; b) o nível das expectativas com o Brasil era altíssimo, tanto dentro como fora do país; c) a crise internacional ainda não havia sido deflagrada (começou em agosto de 2007 com a quebra do fundo Black Rock de subprimes) d) os juros americanos estavam no seu patamar mais alto desde 2000

     

    Os dados foram tirados dos seguintes sitios: Board Of Governors of the Federal Reserve (Fed Rates), Bureau of Labour Statistics (CPI, inflação americana), Séries Temporais do Banco Central do Brasil (SELIC e IPCA), Banco Mundial (Juros internacionais)

     

    O primeiro gráfico plota a taxa Selic e o IPCA.  

     

     

    O que podemos observar é que: a) a média linear da SELIC é cadente e a do IPCA é ascendente; b) a trajetória da SELIC desde 2013 até hoje interrompeu a queda de longo prazo, ao superar o recente ciclo de aperto monetário o topo de 2011; c) A inflação não parece responder apenas à SELIC. O atual pico inflacionário acontece em meio a um ciclo de aperto monetário iniciado em 2013. A princípio a inflação pareceu ceder até 2014, sem superar o topo de 2011, para depois romper em 2015 o teto anterior de 7% registrado em meados de 2011.

     

    O segundo gráfico, derivado do primeiro, plota a taxa de juros real, isto é, a SELIC, descontado o IPCA. Tomei a licença de destacar 3 fatos políticos no gráfico: A eleição e reeleição de Dilma, e as manifestações de 2013. Fiz isso pois se bem não acredito na correlação absoluta entre os juros e o clima político do país, acho que algo de correlação existe. 

     

     

    A taxa de juro real, cadente na era Lula, mas sempre positiva, foi elevada no ano da eleição de Dilma, até promediar 5% a.a. Em 2012, a taxa foi diminuindo até chegar nos inéditos 0,66% reais em Março de 2013. 2 meses depois, o descontento de parte da população explodiu nas manifestações de rua, e o juro real voltou a subir, até alcançar novamente o promedio de quase 5% a.a.

     

    O terceiro gráfico mostra o o spread puro entre a taxa de juro brasileira e americana (linha azul), sem descotar inflação, IOF, IR nem spreads de compra/venda, e o juro realmente auferido após 12 meses, levando em conta a cotação do dólar. Ou seja, quanto juro renderam 100 dólares convertidos em reais, aplicados a taxa SELIC, e convertidos novamente em dólares 12 meses depois.

    A zona rosa mostra rendimentos negativos, a verde, positivos. Como ainda não sabemos a cotação do dólar em 2016, fiz as projeções com o mesmo valor de 1/6/2015, ou seja, R$3,18.

     

     

    Como podemos observar, durante os governos de Lula, apenas em 2008 a arbitragem foi um mal negócio. Após a crise, a arbitragem, por conta da constante valorização do Real, rendeu até inacreditáveis 54% em dólares em um ano. Já a partir do governo Dilma, com a política de redução de juros e desvalorização do Real, a arbitragem deixou de ser negócio (lembrar que o gráfico não mostra a incidência de IOF ou de IR, o que deixa a conta bem pior).

     

    Até aquí, as minhas conclusões são as seguintes: 1) A tendência durante os 12 anos e meio de governo do PT era de queda dos juros. Essa tendência parece ter chegado ao fim. 

    2) A SELIC não serve mais como instrumento de combate a inflação no curto prazo, vide o repique da mesma dentro de um ciclo de aperto monetário

    3) A redução da taxa SELIC trouxe como resultado a desvalorização do Real e o fim da arbitragem internacional de juros brasileiros

    4) O atual ciclo de aperto monetário visa recuperar o atrativo dos juros em função da necessidade de financiamento do déficit em conta corrente. O aperto ainda deve durar mais uns meses, já que o FED balizou um aumento de juros no curto prazo (Setembro), o que derruba o spread. Se os capitais voltarem a entrar com força, o dólar deve se apreciar, e a inflação ceder por conta do efeito dos importados na economia, mais a recessão que juros altos provocam.

    5) O país não consegue sair da armadilha dos juros altos. Haja relação direta ou não, quando o juro cai até o terreno negativo, as forças políticas anti-governo se mobilizam.

     

    O último gráfico mostra o juro real de vários países: os BRICS, EUA, México e a Argentina. Incluí este último pelo fato de ser a todas luzes, o país caloteiro por excelência (junto com a Grécia). Argentina pratica juros negativos, como os EUA, e os BRICS. E o Brasil paira na estratosfera.

     

     

    Fica aquí a pergunta: porquê? O argumento de que o Brasil já deu calote no passado não tem fundamento algum. A Argentina tem inflação de 25% a.a., deu o maior calote da história em 2001, está as turras com os buitres, tem um ministro da fazenda com pinta de rockeiro marxista… Mas Cristina tem 40% de aprovação, e o país, fora a inflação, se encontra menos estagnado que o Brasil, e cresceu mais durante o decênio 2000-2009. E tem um PIB per cápita maior. Brasil é muito mais economia que a Argentina. Porquê o Brasil não consegue equilibrar suas taxas de juros com o resto das economias emergentes? 

     

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