Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Parlamento Europeu, um ecossistema em risco de extinção, por Felipe Bueno

Visitar o Parlamento Europeu, tal qual uma área de preservação ambiental, passará a sensação de contemplar um ecossistema em risco de extinção

Parlamento Europeu
Parlamento Europeu. Foto: Freepik

Por Felipe Bueno, do Observatório de Geopolítica

Estrasburgo, conexão de caminhos distintos desde a Alta Idade Média, encanta pela arquitetura e pela história, e tem uma catedral que vale a visita. Caso não esteja em algum dos seus próximos roteiros de viagem, sugiro que você dedique a ela alguma dose de atenção nos próximos meses, ainda que à distância.

Estrasburgo tem história suficiente para representar boa parte dos sonhos e pesadelos europeus. Está numa região estratégica disputada no passado por franceses e alemães – e seus antecessores. Hoje, uma linha de bonde atravessa o Reno e liga os dois países. Não por coincidência, nessa cidade carregada de símbolos e valores, está sediado o Parlamento Europeu.

Produto de uma época de esperanças e reconstrução, logo nos primeiros anos do pós-segunda guerra mundial, o Parlamento Europeu naturalmente ganhou visibilidade com o nascimento formal da União Europeia, no fim do século XX.

A Guerra Fria havia passado, dando a sensação, do lado europeu, de que uma visão de mundo havia sido vencedora e que tempos de estabilidade estavam por vir.

Mas o mundo revelou-se maior que Maastricht, para o bem e para o mal: Oriente Médio, África e América seguiram sendo palcos de instabilidades, e o próprio território europeu desmentiu as expectativas de paz, primeiro com o desmonte da Iugoslávia, depois com o até hoje incerto papel da Rússia no quebra-cabeça das relações internacionais. Em paralelo com as mudanças constantes e cada vez mais rápidas trazidas aos olhos europeus pelo noticiário mundial, um tema local foi sendo conduzido, produzindo mais questionamentos que certezas: a identidade europeia.

Britânicos fora, o sonho do continente segue metamorfoseando-se em pesadelo com frequência por radicalismos internos que ainda têm voz na Alemanha, na França, na Itália, na Holanda, na Áustria, na Hungria… e não para por aí.

Isso e muito mais num mundo em que instituições e valores “ocidentais” avalizados pela realpolitik europeia vão sendo cada vez mais colocados contra a parede: ONU e OTAN seriam hoje faróis de longa distância com lâmpadas queimadas? Nesse clima serão disputadas – o verbo é adequado – as eleições legislativas de junho.

Ao percorrer o site do Parlamento Europeu você lê que é bem-vindo e pode contemplar presencialmente “a democracia europeia em ação”.

Talvez seja melhor então repensar os planos das próximas férias e se apressar para fazer uma visita ao prédio que fica na Allée du Printemps. Tal qual em uma área de preservação ambiental, a sensação será a de contemplar um ecossistema em risco de extinção.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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