Pesquisa mostra que o Brasil não deu cheque em branco a Bolsonaro, por Orlando Silva

Ora, não há sinais robustos de recuperação econômica para 2019 e, ao contrário, o desemprego tem se mostrado resiliente

Pesquisa mostra que o Brasil não deu cheque em branco a Bolsonaro

por Orlando Silva

Engana-se quem leu a pesquisa CNT/MDA como uma chuva de pétalas sobre o Palácio do Planalto. Ao contrário, uma leitura mais ampla dos resultados mostra que, até o momento, grande parte da população está de pé atrás com o governo.

É verdade que os números conferem legitimidade política ao presidente. Bolsonaro aparece positivamente avaliado por 57% dos entrevistados, a melhor posição desde 2013, quando o país foi sacudido pelo tsunami das ditas “jornadas de junho” – até então, Dilma gozava 59% de aprovação. Mas expressivos 28% o reprovam e 14% não responderam.

De lá pra cá, vivemos em permanente crise, principalmente após a oposição não reconhecer o resultado eleitoral, em 2014, e apostar todas fichas no impeachment fraudulento de 2016, gerando o fracasso do governo Temer – o mais rejeitado desde que se tem notícia.

De certa maneira, portanto, é natural que um presidente eleito “contra tudo isso que está aí” goze de relativo beneplácito, ainda mais que sequer completou dois meses de mandato.

Mas as boas notícias para Bolsonaro ficam por aí. Vamos, então, ao copo “meio vazio”. Apenas 38,9% dos brasileiros consideram positivo o início do governo, sendo que só 12% o identificam como ótimo, mas 19% como ruim ou péssimo. De acordo com pesquisas análogas em gestões anteriores, o início do governo é o pior na percepção popular se comparado com os mandatos inaugurais de FHC (57%, em 1995), Lula (56,6%, em 2003) e Dilma (49,1% em 2011).

Há ainda outros problemas para o Planalto: a confusão entre público e privado que reina no clã Bolsonaro é uma ameaça real à imagem do presidente. Já ficou evidente para a maioria do povo que os filhos interferem nas decisões governamentais (56,8%) e 75% são contrários à ingerência indevida. Se o presidente não colocar as crianças de castigo, pode se ver castigado pela opinião pública.

As medidas iniciais do governo são controvertidas. Se questões como a lei anticrime (um populismo criminal absurdo) e o enxugamento de ministérios têm certo apelo popular, por outro lado, a flexibilização da posse de armas e a fixação do salário mínimo em R$ 998 são majoritariamente criticados.

A reforma da Previdência, de acordo com o levantamento, é repudiada por 45,6% e aceita por 43,4%. Mas como ficarão esses números quando estiver claro para a população que o governo propõe cortar a aposentadoria de idosos carentes (o BPC) de um salário mínimo para 400 reais e ampliar o tempo de contribuição dos trabalhadores rurais, mas se recusa a enviar projeto que mexa em certos privilégios dos militares? Vale lembrar que o ponto alto da unidade popular e da oposição a Michel Temer foram a greve geral contra a reforma da Previdência.

Por fim, em grande medida a aceitação a Bolsonaro está ligada a uma fluida expectativa de melhoria de vida. O mesmo percentual de pessoas que hoje aprova o presidente é idêntico ao que acredita que ele vai melhorar a vida dos brasileiros – 57%. Esse número se desdobra em esperança de melhoria no emprego, na segurança, etc. Essa turma parece ter imposto um prazo fatal ao governo – 30,3% dão até um ano e 34, 8% até dois anos para que Bolsonaro mude suas vidas para melhor.

Ora, não há sinais robustos de recuperação econômica para 2019 e, ao contrário, o desemprego tem se mostrado resiliente. O conjunto de medidas contra o povo que o governo procura impor só tende a agravar a já trágica situação social do país, fazendo com que a oposição no parlamento e nas ruas ganhe cada vez mais força. Some-se a isso a quantidade de erros primários e trapalhadas que o presidente e seus ministros cometem dia sim e outro também.

Em suma: seja por seu programa perverso contra os pobres, seja por sua própria incapacidade, o governo não viabilizará as mudanças positivas para o país com as quais iludiu o povo. E a conta vai chegar, porque definitivamente os brasileiros não deram um cheque em branco a Bolsonaro.

Orlando Silva – Deputado federal por São Paulo e líder do PCdoB na Câmara.

Redação

7 Comentários

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  1. “Ora, não há sinais robustos de recuperação econômica para 2019 e, ao contrário, o desemprego tem se mostrado resiliente”
    Nos dois primeiros meses do primeiro mandato de Lula houve “sinais robustos”…?
    “A primeira pesquisa feita pelo Datafolha para medir a avaliação do presidente junto aos brasileiros, três meses após a posse, nos dias 31 de março e 1º de abril de 2003, mostrava que 43% consideravam o desempenho do petista ótimo ou bom e 40% classificavam-no como regular.”
    http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2006/12/1222248-ao-final-do-primeiro-mandato-lula-e-aprovado-por-52-dos-brasileiros.shtml

  2. E olha que a mídia corporativa em geral ajuda (sim a Globo e a Folha ainda estão “acertando” ponteiros”. Ex:
    No site do Terra a manchete: “Desemprego interrompe sequência de baixas”.
    Confuso não? Para um distraído fica a dúvida: melhorou ou piorou?
    O mais simples e claro para a redação não seria:
    “Desemprego volta a aumentar” ou “Desemprego volta a piorar”?
    Tudo depende do “comprometimento do Editor Chefe, né?

  3. Claro que Deu !! PEsquisa de opinião não fala nada sobre isso !!!
    O povo deu a Bolsonaro 90% do senado.

    Se a esquerda vencer em 2022 e fizer uma boa eleição no Senado, ainda assim não governará !!!

    O povo garantiu que o pesadelo Bolonarista durará até 2026, ainda que tenhamos u mexecutivo de esquerda a partir de 2022 (E que não chegará a 2026).

  4. Tem uma certa recuperação de setores que estavam muito deprimidos, mas a partir de bases muito baixas, como no caso da indústria automobilística. No entanto, a capacidade ociosa é enorme, tanto que Ford e GM estão fazendo as malas e eu aposto que outras vão segui-las. Não acho que dessa vez seja chantagem para ganhar subsídio.
    Outro ponto é esta alardeada melhora do emprego, em relação ao mesmo período do ano anterior mas com redução em relação ao último trimestre. É uma melhora do subemprego, do emprego por conta própria, do sem carteira assinada. Aumentam os postos, mas piora a qualidade, já vem ocorrendo isso há algum tempo.
    Aqui no Centro do Rio, os estabelecimentos comerciais não param de fechar as portas. Esse pessoal que comprou um carro a prestação e votou no Bolsonaro para não perder “seu capital”, agora virou escravo do aplicativo e do banco. Ganham salário mínimo, sem férias, décimo, nem FGTS e tem que pagar a manutenção, o combustível, a prestação, as multas e ainda correm o risco de acidentes. Avante Brasil, logo seremos todos Uber!

  5. Esses ministros são os maiores cabos eleitorais para os partidos de esquerda. Por isso não se iludam, não haverá eleições nos próximos anos, a CIA já trabalha em algum evento que justifique a perpetuação dos americanistas (fardados ou não ) no poder. Voces verão, eles conseguiram dominar essa parte sul da America Latina e não largarão o osso, e isso explica a invasão criminosa da Venezuela.

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