Quem apoia o impeachment tem motivos sem base constitucional

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Pesquisa do Ibope foi além de perguntar quem é a favor da saída da presidente Dilma Rousseff. Perguntaram os motivos, e as respostas não sustentam legalmente um impeachment
 
 
Jornal GGN – “Por qual razão algumas pessoas estão apoiando o impeachment? A maioria das respostas aponta razões que podem ser justas, mas não estão previstas na Constituição. Se fosse só por causa delas, não haveria base para impeachment.” A constatação é da coluna de hoje de José Roberto de Toledo, do Estadão.
 
A análise do jornalista mostra que 31% do brasileiros, segundo pesquisa do Ibope realizada na última semana, mencionaram a economia do Brasil como motivo para a saída da presidente. Mais de 27% foram na mesma linha, mas em resposta espontânea, afirmaram a “má administração” como justificativa para o impeachment. E apenas 1% dos brasileiros se referiram às irregularidades das contas, as chamadas pedaladas fiscais – o que mais se aproximaria de uma possibilidade de impeachment.
 
Na coluna, Toledo compara o governo com os jogos de futebol, e a presidente com os técnicos. “Se a população se acostumar a trocar de presidente como troca de técnico a cada trombada da economia, os próximos no poder enfrentarão uma instabilidade política que tende a perpetuar a instabilidade econômica”, afirma. “É ganhar o jogo e perder o campeonato”, conclui.
 
Leia a coluna completa:
 
Pelos motivos errados
 
Por José Roberto de Toledo
 
Do Estadão
 
Pesquisa inédita do Ibope, concluída na semana passada, mostra que 63% dos brasileiros apoiam o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Até aí, pouca novidade. O Datafolha já constatara a ampla maioria antiDilma. A notícia desta pesquisa é que o Ibope perguntou os motivos: “Por qual razão algumas pessoas estão apoiando o impeachment?”. A maioria das respostas aponta razões que podem ser justas, mas não estão previstas na Constituição. Se fosse só por causa delas, não haveria base para impeachment.
 
A principal causa citada pelos brasileiros em geral, e em ainda mais pelos que são a favor da retirada de Dilma do poder, é a economia: 31% mencionaram a situação econômica do Brasil, a inflação, os juros e o desemprego. Não é à toa: preços sobem sem parar, há cada vez mais gente sem emprego, os investimentos sumiram e os juros voltaram à estratosfera. Mas não há artigo constitucional que preveja impeachment por incompetência.
 
E esse parece ser o motivo pelo qual a maioria dos brasileiros quer ver Dilma descendo a rampa do Planalto. Mais 27% disseram espontaneamente ao Ibope que a razão para o impedimento é a má administração, ou, em outras palavras, ela “não está governando o País como deveria”. De novo, é justo, mas insuficiente.
 
É típico do torcedor brasileiro querer trocar o técnico quando o time só perde. Mas, embora a paixão seja a mesma, há mais regras no jogo de poder do que no de futebol. Não fosse assim, a política seria um Brasileirão – um entra e sai de comandantes que não costuma levar ao título, mas ao aprofundamento da crise.
 
Aos 31% e aos 27% somam-se repostas espontâneas e múltiplas que revelam o clima de Fla x Flu: 4% dizem que o impeachment é para tirar o PT do poder, 2% ficaram insatisfeitos com o resultado da eleição, e mais 2% simplesmente não gostam de Dilma. Fora os 8% que defendem a saída da presidente, mas não sabem dizer por que.
 
Além dos descontentes com a economia e dos desafetos antiPT, há um terceiro grupo de respostas que revela um sentimento de traição: 6% dizem que Dilma mentiu na campanha eleitoral sobre a situação econômica do país e traiu a confiança da população. A estas, somam-se 2% de citações à redução de benefícios trabalhistas, e 1% que falam que ela não cumpre o que promete.
 
O quarto grupo de respostas é o segundo em tamanho. São os que mais se aproximam de apontar um motivo previsto na Constituição para o impeachment: 21% citam corrupção (genérica) no governo, 12% falam especificamente da Lava Jato e de roubos na Petrobras e 3% se referem a um suposto envolvimento pessoal de Dilma com corrupção. Mesmo assim, não é por nenhum desses motivos que a presidente pode perder seu mandato. As razões que a oposição tenta emplacar são outras – e que praticamente ninguém conhece.
 
Apenas 1% dos brasileiros se referiram às irregularidades das contas do primeiro mandato de Dilma, as chamadas pedaladas fiscais – algo que está para ser julgado pelo Tribunal de Contas da União e que o PSDB trabalha para virar processo na Câmara. Menos de 0,5% lembraram de que – nas palavras categóricas do ministro Gilmar Mendes -, “ao que parece, havia, supostamente, entrada ilegal de recursos públicos” na campanha à reeleição.
 
Se Dilma for impedida por obra do TCU ou do TSE, muita gente vai comemorar. Mas menos de 2% saberão o motivo que permitiu tal comemoração. E daí? O que importa é o resultado, certo? Sim, nisso a política se parece cada vez mais com o futebol: os fins justificam os meios. Mão na bola é só do adversário, para o time mais popular é sempre bola na mão. Há um porém. 
 
Se a população se acostumar a trocar de presidente como troca de técnico a cada trombada da economia, os próximos no poder enfrentarão uma instabilidade política que tende a perpetuar a instabilidade econômica. É ganhar o jogo e perder o campeonato.
 
* José Roberto de Toledo é coordenador do Estadão Dados
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Desde quando Ibope é uma fonte confiável?

    Quem acredita nas pesquisas do Ibope e DataFolha, deve também acreditar nas mentiras da revista Veja. Como Roberto Requião diz “Se eu quero comprar peixe, vou à peixaria. Se eu quero comprar pesquisa, vou ao Ibope”.

  2. Caro Luna, amigos

    Caro Luna, amigos leitores,

     

    ficou faltando  o percentual daqueles que simplesmente querem voltar ao poder, deles como sempre foi, por direito divino.

     

    Abraços.

  3. Quanta bobagem, meu Deus! E

    Quanta bobagem, meu Deus! E para tornar críveis e palatáveis essa baboseiras, tomem números e percentuais. Mas não se impressionem, leitores. O uso de pesquisas por veículos da imprensa é uma da mais manjadas técnicas de conferir credibiliade a notícias falsas ou que não se podem provar. E um jornal em estado comatoso como OESP pede a um dos mais renomados articulistas para escrever sobre pesquisas de aprovação/reprovação do governo e da presidente DIlma ou dos que são favoráveis ou contrários ao impedimento do mandato presidencial, para encher páginas e, com o uso de números e falácias matemáticas, ludibriar e manipular a opinião dos leitores. A pesquisa que vale é  das urnas; e nela Dilma conseguiu 52% de aprovação, em 26 de outubro de 2014. E mesmo dentre os que se abstiveram ou votaram em outro candidato, pelo menos 30% não defendem o impedimento. Ora, com base nessas informações já podemos questionar se realmente 63% dos brasileiros defendem o impedimento da presidente. Mais ainda: como foi feita a pesquisa?; qual o universo pesquisado?; qual questionário foi apresentado? Dependendo do teor e da manira como se faz a pergunta, o instituto de pesquisa induz e manipula a opinião do eleitor pesquisado. Desconfiem leitores! Não se deixem enganar emanipular por falácias matemáticas!

    Sugestão de leitura: “Os números (não) mentem”, do matemático e jornalista estadunidense Charles Seife

  4. Vejam  o que escreveu o sr.

    Vejam  o que escreveu o sr. José Roberto de Toledo: os preços sobem sem parar, há cada vez mais gente sem emprego, os juros voltaram à estratosfera, até parece que isto só aconteceu na administração da Dilma. No governo do PSDB do Fernando Henrique tudo isto aconteceu e com percentuais muito maiores. Tem que ser jornalista  do Estadão. 

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