Quem ganha com a historinha da propinocracia petista?, por Celso Rocha de Barros

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Na Folha desta segunda (19), o colunista Celso Rocha de Barros levanta a questão: quem ganha politicamente quando a Lava Jato credita a Lula e o PT a responsabilidade por toda a corrupção já vista no governo federal? Não seria o mesmo que dizer que, encerrado o julgamento da Lava Jato, acabou a corrupção?

“Vender essa história de melhoria sistêmica como uma história de degradação petista é, do ponto de vista da Procuradoria, chutar contra o próprio gol. Se as denúncias sumirem após a queda do PT, os novos governantes poderão dizer que isso é normal, pois a grande organização criminosa já terá sido derrotada.”

Por Celso Rocha de Barros

Na Folha

Dizer que esquema foi montado para perpetuar o PT no poder é ridículo

Tudo indica que Lula recebeu favores das empreiteiras, e as autoridades estão cumprindo seu dever quando investigam a natureza desses favores. Mas a história mais ampla sobre política brasileira que foi contada na quarta-feira é muito ruim. Ela parece ser a base para a acusação de que Lula era o “comandante supremo” da “propinocracia”. Isso não vale.

Na visão do procurador Deltan Dallagnol, o PT montou um sistema de distribuição de cargos e propinas que garantiu uma “governabilidade corrompida”, visando a “perpetuação criminosa” do PT no poder. No centro do esquema estaria Lula: sem ele, nenhum dos envolvidos teria sido nomeado para seus cargos. A roubalheira teve como fonte propinas cobradas do cartel das empreiteiras.

Se Lula estivesse no centro do esquema, como argumentou o procurador, poderíamos supor que sua presença nessa rede fosse fundamental para manutenção. Talvez isso seja eventualmente demonstrado, mas os dados disponíveis não o sugerem.

Tanto o cartel das empreiteiras quanto os aliados que venderam seu apoio ao PT já estavam no ramo antes de 2003. O cartel financiou a campanha de todos os partidos esses anos todos. Só o PT lhes ofereceu favores em troca? Os fisiológicos apoiaram FHC por oito anos, deslocaram-se em massa para o PT até recentemente e agora passaram todos para o lado de Temer. Foi só durante a era petista que essa necessidade de proximidade com a máquina pública foi motivada por interesses escusos?

É inteiramente legítimo responsabilizar o PT por ter participado disso, mas dizer que o sistema foi montado para perpetuar o PT no poder é ridículo. O sistema já estava ali e, aliás, nunca perpetuou ninguém no poder, justamente porque se adapta facilmente a mudanças de presidente.

Mas o principal problema da explicação do procurador não é a injustiça cometida contra o Partido dos Trabalhadores, que já tem culpas suficientes sem essa. O problema é quem ganha com a historinha sobre a propinocracia petista.

A alternância no poder representada pela eleição de Lula em 2002 fortaleceu os órgãos fiscalizadores. Nem tanto porque o governo do PT, de fato, tomou algumas boas medidas nesse sentido. Muito mais porque alternância, em si, favorece a autonomia dos fiscalizadores.

Os petistas jogaram o jogo enquanto o jogo dava um salto de qualidade e se tornava mais transparente. Eventualmente, foram pegos. Seus adversários só começaram a governar sob as novas regras, sob a luz mais forte, recentemente. Estão brilhando?

Vender essa história de melhoria sistêmica como uma história de degradação petista é, do ponto de vista da Procuradoria, chutar contra o próprio gol. Se as denúncias sumirem após a queda do PT, os novos governantes poderão dizer que isso é normal, pois a “grande organização criminosa” já terá sido derrotada.

A Lava Jato é um esboço de um Brasil novo. O tipo de conversa que ouvimos na última quarta-feira pode torná-la só um instrumento na disputa política do Brasil antigo.

Seria uma pena. Esse é o pior momento possível para a esquerda e a Lava Jato brigarem. Quando a direita tentar matar a operação, ainda vai poder embrulhar o pacote como bipartidário, mesmo que, como é provável, só um dos lados consiga salvar seus mandatos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. A esquerda só está brigando

    A esquerda só está brigando com a lava-jato na hora errada pq era para ter brigado há muito tempo !!!!

    Se só um lado vai salvar seus mandatos é pq a esquerda não brigou antes !!!!

    A LAva-Jato nunca se preocupou em combater a corrupção da direita, e agora que isso é evidente, não faz sentido nenhum defendê-la. OS mandatos da direita já estão salvos !!!! A Lava-jato é e sempre foi um instrumento de perseguição política. 

    A Lava-Jato já destruiu o futuro do Brasil. A única coisa que pode ser feita agora é manter a esquerda fora da cadeia para tentar um esforço desesperado para salvar o futuro  do país…

    1. E qual o lado da Lava Jato

      Esquerda brigando com a Lava Jato?

      Não seria o contrário?

      Aliás, seria muito despropositado classificar a Lava Jato como de direita? Ou, ao menos, como um instrumento da direita?

      1. Considerando que a direita

        Considerando que a direita que se livrar da Lava Jato e a esquerda , idem, conlui-se que a referida operação tá desagradando a ambas… o que, por si só, já excelente coisa!

        1. A direita?

          A direita não tá nem aí para mega farsa da vaza-jato, pois sabe que jamais será atingida por ela, que foi criada com objetivo único de destruir Lula e o PT. Que o digam Eduardo Cunha e família, que a esta hora já devem estar gastando a grana no exterior.

    2. Demorou para acordar!!

      Há anos  o próprio PT vem sendo atacado, a redes sociais estavam cheias de discurso de ódio, a direita através das grandes mídias também o fazia, obviamente a esquerda criticava o governo(e o deveria mesmo)e assim foi indo, basicamente “cozinharam o galo”, mas uma hora o galo cozinha! acredito que demoraram demais para acordar!, mas nunca é tarde para rever os erros e recomeçar!

      1. Nunca é tarde ??? Esse país

        Nunca é tarde ??? Esse país está acabado. Depois que os contratos lesa-pátrias forem assinados e a PEC 241 for aprovada, o Brasil estará eternamente condenado !!!

        Obrigado MPL e Troskada !!!

  2. Quer saber?

    Minha suposição: O tal apresentador curitibano estaria utilizando o procedimento “jogar no verde para colher o maduro”. Claro, não o da Venezuela, e sim teria apresentado algumas “hipóteses de trabalho da LJ”, para testar as reaçõs da sociedade e, com suas manifestações obter o caminho a seguir. 

  3. A corrupção era maior ou menor depois do Lava-Jato?

     

    Celso Rocha de Barros,

    O texto é excelente. É texto do mesmo quilate da época do blog Na Prática a Teoria é Outra, mas como PTista das antigas e que transita bem entre PSDBistas também das antigas não gosta de ir a fundo nas questões perigosas. Aqui há duas. A primeira é saber se depois da Lava-Jato a corrupção aumentou ou diminuiu. A segunda questão que na verdade não precisa da primeira consiste em saber se havia mais corrupção quando o Brasil crescia a taxas elevadas ou agora que está com o PIB em queda.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 19/09/2016

  4. Por fim da Lavajato

    Por fim da Lavajato entenda-se, fim da operação anti-PT.

    A corrupção continuará, da mesma fora que existia antes de 2003.

    Ou seja, denúncias todas engavetadas.

    A operação Lavajato destinava-se, a princípio, a prender corruptos, depois se transformou para prender o Lula.

    Ora, por uma questão de lógica bem simples, acessível até a uma criança de 5 anos, acabar com corruptos não acaba com a corrupção.

    Como ficou claro quando Temer assumiu como interino, ser corrupto parecia ser quase uma condição sine qua non para que alguém ocupasse um cargo no seu ministério.

    Quando a Lavajato acabar, com a prisão ou inabilitação do Lula, todos esses honrados cavalheiros estarão livres para continuar praticando a corrupção, e até mesmo aperfeiçoar seus métodos. Moro se recolherá às sombras. Talvez um pequeno número de coxinhas fiquem indignados com isso, mas como não aparecerão no Jornal Nacional, não existirão.

    A única solução será o povo sair – e permanecer – às ruas. Como na praça Tahrir.

  5. O problema do mentiroso

    é ter que confirmar a mentira apesar dos fatos começarem a contradizê~lo, insistentemente.

    Bem parcecida com a máfia de Nova York nos anos 70, a quadrilha da Petrobrás não tinha um “capo di tutti i capi”: eram famílias que se organizavam e dividiam o butim, como qualquer cartel. A lava-jato chegou aos responsáveis no início de 2015.

    Mas como o objetivo oculto dos procuradores era destruir o PT e seu legado, criaram a versão fantasiosa do “chefão”, do “big boss”, muito ao agrado da imprensa sensacionalista e da imprensa golpista. Isso de fato serviu para a mobilização de mundos e fundos ($$$), até que a presidente Dilma fosse afastada. Sem essa perseguição contínua, o impeachment não teria ocorrido.

    No início, miraram em José Dirceu, até então considerado o gênio do mal pela Veja. Alvo logo abatido, trataram de procurar o grande prêmio de todos os grandes prêmios (é esse termo que eles usam nos States mesmo, nos intercâmbios de investigação penal).

    Eu, particularmente, acho que já ganharam pelo menos três grupos: os empresários que fizeram colaboração premiada e já foram soltos, os políticos da era FHC que mamaram na Petrobrás, mas que, como se trata de outra organização criminosa que deu baixa em cartório, não será investigada, e por fim os políticos que assumiram o poder e que logo venderão o patrimônio nacional, enquanto nós trabalhadores estaremos ocupados lutando contra as reformas previdenciária e trabalhista, e catando justificativas para o desastre que ocorreu.

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