Sobre filhos de velhos farmacêuticos, por Cecilia Benassi

Por Cecilia Benassi
comentário no post No Dia dos Pais, enfrente os Bolsonaro, em nome das famílias brasileiras, por Luis Nassif

Nassif, muito lindo.

Tirando a história de mudanças para o exterior e depois ser naturalizado brasileiro, participar de clubes de filantropia, nossas histórias são muito parecidas.
Meu pai, formado em farmácia pela hoje UNESP, em Araraquara, trabalhou por 54 anos na farmácia. Isso, na época que não tinha PS, nem farmácia noturna.
Levantava várias vezes por noite e, muitas vezes, tinha que fazer o remédio.

Precisou vender porque iria falir.

No tempo da inflação de 80%, como não houve acordo entre os donos de farmácia, cada um tomou suas providências mas ele não. Recebia uma conta de três meses atrás pelo preço de três meses atrás.

Nunca ninguém ninguém saiu da farmácia sem o remédio, se a pessoa não pudesse pagar.
Até um fogão pequeno eu levei pra um desses casos.

Mas, o que reavivou muito a memória de lavar vidros.

Como eu sempre ia à farmácia, perguntava se podia ajudar, criança ainda.

O serviço era lavar vidros, que ficavam de molho no sábado em pó.

Ô coisa chata! ?

Vai fazer seis anos que ele se foi e já não sendo dono da farmácia mas, o farmacêutico responsável, até hoje, as pessoas compram na farmácia do seo Albertinho. Tb, muita gente ainda vem chorar comigo.

Meu pai pousava nas casas de pessoas em estado terminal, para o caso de precisar de morfina.

Era plastimodelista: aviões de primeira e segunda guerras mundiais. Uma cultura enorme, incomparável.

Essa é uma parte da minha história com meu pai, que tinha minha mãe, como gerente da casa, tb artista em várias modalidades.

O incentivo ao estudo, à literatura, à música era total. Pra mim e minhas filhas.

Gratidão e saudade eterna.

Nós fomos sortudos!

Redação

3 Comentários

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  1. Linda farmácia! Como sempre o farmacêutico fazendo a diferença. Se puder leia “O Poder e a Peste” de Lira Neto. A história de Rodolfo Teófilo também farmacêutico. Um grande abraço.

  2. Ouch! Lavei vidros em uma farmacia uma vez, era ao lado do Sparta e pertencia ao meu cunhado, e… nunca vi tanto poh na minha vida!

    (sinto, mas nada tenho a adicionar ao assunto em si, meu pai usava bigodinho de Hitler ate 70 ou 71. Nao me deixou nem saudade nem ressentimento)

  3. Prezada Cecília,
    Seu texto, tão delicado e saudoso, me fez lembrar em muitos aspectos a farmácia e o comportamento de meu pai, farmacêutico formado em Ribeirão Preto, hoje USP. Muita saudade! Meu pai tinha um humor excelente e era um tenor primoroso! Colecionou os bilhetes que as pessoas traziam pedindo remédios, elas tentavam acertar os nomes que são muitas vezes esdrúxulos, e, portanto, ficam engraçados. Ele jamais receitava sem necessidade, pois reconhecia que os efeitos colaterais poderiam ser terríveis. Sua frase final é perfeita, me sinto assim também: Fomos sortudas! Muito sortudas! Abraço.

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