Sociedade dividida: Le Monde Diplomatique fala sobre o golpe em curso no Brasil

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Jus Ad Rem

Editorial do Le Monde Diplomatique aborda o Golpe em curso no Brasil:

Sociedade dividida

Por Silvio Caccia Bava

Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil

A campanha sistemática da mídia golpista contra o governo e o PT, estimulando o antagonismo da população contra os “petralhas”, está dando resultado. Os ânimos estão se acirrando, os ódios vêm à tona, aprofundam-se a polarização social e política, a intransigência, a violência, a repressão. Episódios recentes atestam que essa polarização é promovida pela direita. Guilherme Boulos, coordenador do MTST, afirma: “não somos nós, é a direita que está incendiando o Brasil”.

A crise econômica, a paralisia do governo diante das manobras de sabotagem da oposição, e as seguidas denúncias de escândalos de corrupção dão combustível para amplas mobilizações contra o governo e o PT, manifestações de rua pedindo o impeachment da presidenta. Mobilizações integradas principalmente por uma classe média de média idade. O desemprego e o descontentamento com o governo trouxe para esse campo uma parte dos trabalhadores. A redução dos programas sociais, como Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Prouni e outros, é o principal motivo que justifica o engajamento popular na oposição ao governo, o que é muito distinto dos motivos que levam as classes médias às ruas. Estas querem assegurar privilégios; aqueles desejam um Estado forte, capaz de prover políticas sociais.

A campanha midiática levou muita gente à rua, achando que o impeachment solucionará todos os problemas que o país está vivendo. Segundo a pesquisa Datafolha de 17 e 18 de março, 68% dos brasileiros são favoráveis ao afastamento da presidenta pelo Congresso Nacional. Esse número coincide com aqueles que consideram o governo ruim ou péssimo (69%). E 39% consideram que a corrupção é o maior problema do Brasil.

Tudo indica que na aposta do “tudo ou nada”, ou “agora não tem retorno”, declarada por deputados do PMDB, está em marcha um golpe de Estado. O respeito à Constituição e à legalidade democrática fica em segundo plano e abre-se um período de arbítrio e enfrentamentos que pode ter consequências mais sombrias do que muitos pensam.

A polarização social, irresponsavelmente insuflada por parte da mídia, neste contexto, não pode ser refreada. Ela poderá se estender por anos. A democracia será capaz de controlá-la ou entraremos em novos períodos de arbítrio, violência, repressão e perseguições políticas?

Em março, mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas em defesa da democracia, da legalidade e da continuidade do governo Dilma. São expressão de uma parte da sociedade que não aceita o golpe. Essas manifestações da cidadania são organizadas por sindicatos, movimentos sociais, associações profissionais, uma infinidade de entidades que fazem parte do rico tecido organizativo de nossa sociedade. Destaque para a presença da juventude, que percebe a hipocrisia dos falsos moralistas que querem convencer que o PT é o único responsável pela corrupção que corrói as instituições deste país.

A ameaça de golpe traz consigo a perspectiva de políticas de perda de direitos, o que geraria um crescendo de mobilizações sociais e uma escalada da repressão, levando a polarização social e política a outros níveis.

É a luta de classes em sua forma mais clara e dura. Os golpistas afirmam que a Constituição, com os direitos sociais que assegura, não cabe no orçamento da União. É uma ofensiva para rebaixar o custo da força de trabalho: promoção do desemprego, cortes nos reajustes de salários e aposentadorias, na previdência, na saúde, na educação etc. Tudo isso para tornar o Brasil “mais competitivo” na disputa dos mercados mundiais. A questão social não lhes interessa.

Contra esse assalto aos direitos já se criaram frentes populares, como a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, formas de organizar a resistência popular e impedir o golpe. Essas Frentes precisam construir um arco de alianças sociais mais amplo, que quebre a polarização social, envolva setores das classes médias, e  conforme uma nova maioria. A defesa da democracia, da legalidade e do emprego são bandeiras que já vêm sendo utilizadas em manifestações e expressam elementos agregadores de uma opinião pública maior.

O golpe planejado está em curso, mas ainda há obstáculos jurídicos e políticos para que se consume. A continuidade do governo da presidenta Dilma, ou o destino final  das ações visando Lula, dependem da intensidade das manifestações sociais e da capacidade de resistência das forças democráticas. 

Não é demais lembrar 2013: quão amedrontados ficaram os deputados federais que estavam no Congresso Nacional e foram cercados pela população, que ameaçou invadir o prédio. A fragilidade ideológica e programática dos partidos políticos se manifesta no comportamento de seus deputados, que atendem a interesses particulares, não ao interesse público. Uma pressão popular direta sobre eles demonstrou que pode produzir resultados imediatos. Vários projetos de interesse social foram desengavetados e aprovados na tentativa de se restabelecer algum vínculo entre o deputado e suas bases políticas, e sobretudo com a opinião pública.

É hora de trazer de volta o tema da Constituinte independente para a reforma política. Com a falência do sistema político atual, é impossível recompor um espaço de representação e negociação – o espaço da política – para a resolução dos conflitos. As regras do jogo têm de mudar e ser mais inclusivas das representações das maiorias.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

21 Comentários

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  1. Vamos ao conflito…

    Depois deste apoio do cunha ao judiciário condicionada a aprovação do impeachment, eu quero o conflito – que morra eu e mais milhões de brasileiros, mas que no fim nasça uma NAÇÃO JUSTA, DIGNA E LIVRE…

  2. Pela janela, feito ladrões.
     De certa forma essa matéria é uma espécie de “mais do mesmo” que vem saindo diariamente na imprensa mundial. Críticas ao golpe de estado fascista, conduzido pela pior e mais corrupta bancada de criminosos que o Congresso Nacional já teve desde a fundação da República no Brasil (aliás, é sempre bom lembrar que cerca de 500 desses facínoras entraram no congresso nacional pela janela, sem votos diretos). 

  3. Esse editorial é um amontoado

    Esse editorial é um amontoado de bobagens, quando não mentiras mesmo:

    -A campanha sistemática da mídia golpista contra o governo e o PT, estimulando o antagonismo da população contra os “petralhas”, está dando resultado…

    Quer dizer então que existe um conluio entre todos os meios de comunicação para bater no governo? Todos têm o mesmo interesse? Centenas, milhares de jornais e todos contra o PT? Faça-me o favor…

    -Estas querem assegurar privilégios; aqueles desejam um Estado forte, capaz de prover políticas sociais.

    Mentiras!!! Quem disse que classe média quer assegurar privilégio? Que privilégio? Os únicos com privilégio são os aboletados no poder e parte do funcionalismo público, inclusive no Legislativo e Judiciário. E mais: ninguém é contra políticas sociais…

    -Os golpistas afirmam que a Constituição, com os direitos sociais que assegura, não cabe no orçamento da União. É uma ofensiva para rebaixar o custo da força de trabalho: promoção do desemprego, cortes nos reajustes de salários e aposentadorias, na previdência, na saúde, na educação etc. Tudo isso para tornar o Brasil “mais competitivo” na disputa dos mercados mundiais. A questão social não lhes interessa.

    Bem, se os direitos cabem no orçamento da União, não é o que acontece, pois estamos com déficit de 10% do PIB, mesmo com o aumento brutal de impostos que tivemos nas últimas décadas, tornando o Brasil um arrecadador feroz e um desperdiçador pródigo. E pouquíssimo de investimento em infraestrutura, que poderia dar-nos melhor futuro.

    Em resumo, pura enganação, para deleite de nosso governo incompetente, que não governa, e quando o faz, fá-lo cometendo ilegalidades e malversando nosso dinheiro.

     

    1. Só uma coisa, podes falar qualquer bobagem, porém não deves…

      Só uma coisa, podes falar qualquer bobagem, porém não deves mentir.

      A carga tributária brasileira em relação aos países da OCDE estava em 2012 15º lugar.

      De 1996 até 2002 a carga tributária federal subiu de 26,1% do PIB para 32,2%, por coincidência os governos Fernando Henrique foram de 1995 até 2002.

      De 2002 até 2005, fruto do desastroso ajustamento fiscal feito pela dupla Palocci e Meirelles ela subiu ainda até 2005 para 23,4%, sendo que após a saída destes de ela desceu para 22,9% no ano de 2005.

      O problema é que os estados, por incrível os governados pelo PSDB a carga tributária cresceu eliminando a diminuição da federal, resultando estável em torno de 33% (máximo em 2005) para em 2015 ficar em 33,5%.

      Dados de 2012 mostram que no momento, um pico da carga tributária brasileira de 35,9% o Brasil se coloca em 15º lugar atrás dos seguintes países:

      Dinamarca (48%), Bélgica (45,3%), França (45,3%) Itália (44,4%),  Suécia (44,3%), Finlândia (44,1%), Áustria (43,2%), Noruega (42,2%), Hungria (36,9), Luxemburgo (37,8%) Alemanha (37,6%), Eslovênia (37,4%) e Islândia (37,2%).

      Ou seja, não é nas últimas décadas, pois na última década ela se manteve estável!

    2. Nossa, vou jogar fora agorinha tudo o que o Ramonet escreveu!

      Esse Caetano é mais versado que o Ignacio Ramonet, que o Glenn Grennwald, que a maioria do intelectuais e que muitos juristas do Brasil. Vou jogar tudo fora e passar a seguir fielmente tudo o que o Caetano fala… Agora eu sei que a mídia familiar que apoiou o golpe militar fala a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. Preciso ir correndinho assinar o Globo, a Folha, o Estado, a Veja, a Isto é… senão eu vou estar sendo enganada, assim como o Chico Buarque, o Bresser Pereira, o Caetano Veloso, o Gilberto Gil, o Dalmo Dallari… foram manipulados pelo PT. Que gente obtusa, não perceberam que a mídia brasileira é honestíssima?

      1. Poliglota

        Manda ele tomar no pescoço 

        se for químico, no Cobre da tabela periódica 

        Tem que ser sutil com certas pessoas 

        Je sui porrada daqui pra frente  

         

      2. Ana Lú, não entendeste de novo! Como estás burra!

        Para o nosso amigo Ricardo Cavalcanti-Schiel somente o Globo, a Veja, A isto É e demais sabujos é que tem coerência nas suas diversas edições.

        E agora o pior, é curtinho o francês dele! Pobrinho!!!

        1. Oi, esterco!

          Você por aqui, fazendo comentário sobre a minha ironia em francês??!!

          De fato, ironia é para poucos que entendem. Quem não entende, dança.

          Agora, o engraçado do seu desespero difamatório é imputar invencionices aos seus desafetos, sobretudo quando eles lhe sapecam contundentes surras intelectuais.

          Por que você não volta lá ao meu artigo sobre “Feitiçaria, golpe e fim de ciclo” para fazer a tão esperada tréplica ao comentário em que você foi desancado nas suas “verdades” e imbecilidades? Se você quiser, pode até responder em francês. kkkkkk

          A mediocridade governista está realmente ficando patética. Parece que o patetismo é a única maneira que vocês têm de responder aos fatos.

          Na política, vocês já estão comendo cocô, bichos prepotentes!

          1. Tao pedante, mas tao grosso… Quede a “finesse”?

            E ainda chama os outros de prepotentes… Nao tem espelho em casa.

      3. Não, querida!

        Você chegou atrasada. Você chegou depois que a redação do GGN corrigiu o título da matéria.

        A chamada original da matéria dizia que “editorial do Le Monde comenta o golpe em curso no Brasil”.

        Acho que eles farejaram a ironia velada do meu comentário, colocaram no Google pra traduzir, e aí corrigiram.

        1. Recuperei o cache da página no Google pra você

          Mesmo que o “cache” esteja meio fragmentado, dá pra perceber:

          1. Agora note, Dona Anarquista!

            Note como a postagem do meu comentário se deu exatamente entre o horário da postagem original da matéria e o da sua atualização.

            Você acabou fazendo uma ilação errônea sobre a “respeitabilidade” dos jornalões simplesmente porque levou uma rasteira editorial da redação do GGN.

          2. Era pra ser velado

            É que não era pra desancar muito escancaradamente o erro primário do plantonista do GGN que botou a matéria no ar.

            Tinha algo de glacê, com um gostinho de ironia, como quem sugere: “Imagine um gringo vendo uma coisa dessas, tal como foi postado! Como ele reagiria?”

            Se você não se dedicasse tanto a me perseguir nas páginas do blog do Nassif, a discrição ainda teria sido mantida. Rsrsrs.

            Se eu tivesse voltado a esta matéria e visto a correção que fizeram, eu teria apagado o meu comentário, mas acabei entretido em responder às estultices do Maestri e outras similares em outra matéria. Antes que voltasse aqui, a tropa de choque dos governistas, com toda sua sanha persecutória, chegou primeiro. Rsrsrs.

  4. Beware, if you disagree with

    Beware, if you disagree with someone who is against Dilma, they can yell and even hit you …

    Attention, si vous n’êtes pas d’accord avec quelqu’un qui est contre Dilma, ils peuvent crier et même vous frapper …

    Hüten Sie sich vor, wenn Sie mit jemandem nicht einverstanden sind, die gegen Dilma ist, können sie schreien und Sie selbst treffen …

    当心,如果你与别人谁是针对不同意迪尔玛,他们可以叫喊,甚至打你?

    당신은 지 우마에 대해 사람에 동의하지 않는 경우, 그들은 소리, 심지어 당신을 공격 할 수 조심 …

    Pas på, hvis du er uenig med nogen, der er imod Dilma, kan de råbe og endda ramme dig …

    Ten cuidado, si está en desacuerdo con alguien que está en contra de Dilma, pueden gritar e incluso le golpeó …

    Προσοχή, αν διαφωνείτε με κάποιον που είναι ενάντια Ντίλμα, μπορούν να φωνάζουν και ακόμη και να σας χτυπήσει …

    היזהרו, אם אתה לא מסכים עם מישהו שהוא נגד Dilma, הם יכולים לצעוק ואפילו להכות אותך …

    Let op, als u het niet eens met iemand die tegen Dilma, kunnen ze schreeuwen en zelfs je raken …

    Attenzione, se siete in disaccordo con qualcuno che è contro Dilma, possono urlare e persino colpire …

    注意してください、あなたはDilma反対している誰かに同意しない場合、彼らは叫ぶとも、あなたを打つことができます…

    Strzeż się, jeśli nie zgadzają się z kimś, kto jest przeciwko Dilma, mogą krzyczeć, a nawet uderzyć …

    Остерегайтесь, если вы не согласны с кем-то, кто против Дилма, они могут кричать и даже ударил вас …

    खबरदार, अगर आप कोई है जो डिल्मा के खिलाफ है से असहमत हैं, वे चिल्लाना कर सकते हैं और यहां तक कि आप मारा …

    Akta dig, om du inte håller med någon som är emot Dilma, kan de skrika och även träffa dig …

    Aqui todos nós sabemos o que isso significa…

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