Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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The Intercept e o jornalismo investigativo, por Maíra Vasconcelos

O jornalismo investigativo, e suas características um tanto detetivescas e independente de qualquer instituição, com o único dever de servir à sociedade

Foto: Pixabay

The Intercept e o jornalismo investigativo

por Maíra Vasconcelos

“A culpa não é de quem não sabe, é de quem não informa”, Caco Barcellos.

Caberia aos grandes meios de comunicação, caso trabalhem com a informação e o jornalismo, informar devidamente ao público consumidor que o The Intercept está fazendo um trabalho de jornalismo investigativo dos mais relevantes e abrangentes de que se tem notícia, desde o caso Snowden, segundo o próprio site.

O jornalismo investigativo, e suas características um tanto detetivescas e independente de qualquer instituição, com o único dever de servir à sociedade, é quase inexistente, hoje, nos veículos de comunicação. Ao que parece, Caco Barcellos é e será representante máximo dessa categoria, e Tim Lopes permanecerá como exemplo do perigo que o jornalismo investigativo oferece aos poderes vigiados.

Dentro do jornalismo e suas especificidades, o trabalho do jornalismo investigativo deve ser transmitido e explicado ao público. O termo “jornalismo investigativo” deve, sem exceção alguma, ser dito quando se trata de informar que esse tipo trabalho foi realizado. O jornalismo do The Intercept não pode passar pela agenda pública como trabalho de “espias”, hackers, grampos ou interceptações telefônicas duvidosas, e demais possibilidades técnicas que podem apenas embasar e servir de ferramenta para um extenso trabalho jornalístico investigativo. Não se trata aqui de uma operação da PF, onde se poderia discutir o uso de grampos ilegais, que chegaram a anular operações como a Satiagraha, por exemplo. O caso Intercept Moro-Dallagnol trata-se de reportagens de jornalismo investigativo.

Faz-se necessário esclarecer as distorções interesseiras e o desmerecimento que parte do meio jurídico, o governo e os grandes veículos de comunicação possam vir a atribuir ao trabalho realizado pelo The Intercept, que desenvolve uma atividade investigativa específica dentro do jornalismo. O aparecimento das reportagens #VazaJato clareiam tudo que seja o seu oposto, como toda publicidade jornalística que será feita para tentar resgatar o que possa sobrar da Operação Lava Jato.

Se não há educação para consumo dos meios de comunicação, o mercado de mídia continuará servindo desinformação e deseducando a massa de consumidores guiados para fora do debate sobre o direito à informação. Sobre o direito de se saber que determinado juiz-ministro e juristas estão sendo revelados e questionados, em uma trama de corrupção e crime, por um sério trabalho de jornalismo investigativo.

É necessário combater com jornalismo e informação os “questionamentos” políticos interesseiros – principalmente por parte do governo e da grande imprensa – durante o andamento de qualquer atividade jornalística investigativa. Falar em jornalismo investigativo é informar sobre a importância social deste trabalho e daquilo que está sendo denunciado, como, porquê, e a credibilidade que se deve atribuir ao exercício do jornalismo. Toda estrutura de poder social – do Executivo ao narcotráfico – dormirá tranquila se pouco ativo estiver o trabalho do jornalismo investigativo. O jornalismo obriga todo e qualquer poder social, que esteja calado ou camuflado por conveniências diversas, a acordar, falar e dar explicações à sociedade.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

2 Comentários

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  1. Tudo o que ele falou, as esquerdas, os progressistas e demais pessoas decentes, já falam faz tempo.
    Mas o peso do jornalista é gigantesco. Já assustou e muito o que ele já falou, que ele tenham mais o que falar, e tem, o Brasil vira de ponta de cabeça.
    Eu, assim como muitos, estamos a mil por hora, se já estávamos antes, agora nos sentimos reabastecidos.
    O animal de ultra direita está ferido, mas não acuado.
    Isso acirrou mais a greve do dia 14.
    Vida longa ás novas reportagens.

  2. vi uma foto da associação dos jornalistas
    investigativos chefiada por um
    cara da globo que defendia o moro e a lava-jato…
    parecia o retrato do que ocorre atualmente no brasil….
    chamam de investigação a copia do que é
    feito oficialmente….
    e ainda tgem a cara d pau posar
    heroicamente de jornalistas investigativos….
    baita ironia….

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