Trump e o Holocausto Nuclear, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Trump e o Holocausto Nuclear

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Alguns analistas estão considerando a escalada militar de Donald Trump um beco sem saída que pode acarretar uma guerra nuclear total entre EUA e Rússia (por causa da Síria ou por causa da Ucrânia) ou entre EUA e China (por causa da Coréia do Norte) ou entre EUA e Rússia/China (por causa do unilateralismo criminoso dos EUA). Os norte-americanos certamente podem impor pesadas perdas aos seus inimigos. Mas isto não significa que eles mesmos serão poupados da devastação nuclear.

Desde tempos imemoriais a guerra foi tratada como um negócio. Ela era um negócio extremamente lucrativo para os traficantes de escravos que acompanhavam as legiões romanas e para os negociantes que abasteciam as tropas de Roma onde quer que elas fossem operar. O primeiro contrato de seguro que eu tenho notícia ocorreu por ocasião da II Guerra Púnica. Em razão do poderio naval de Cartago, Roma passou a indenizar os proprietários dos navios carregados com trigo, azeite e vinho despachados para abastecer as legiões na Espanha que eram afundados no trajeto.

As guerras modernas também são extremamente lucrativas para os fabricantes de armamentos. Não por acaso, a partir da II Guerra Mundial as fábricas de aviões, tanques e caminhões passaram a ser regularmente bombardeadas. A mesma lógica levou os aliados a bombardear os fabricantes das peças utilizadas para montar armamentos sofisticados. O capitalismo transformou tanto os meios de guerra quanto os objetivos militares.

Todavia, a guerra nuclear não segue o mesmo padrão de suas antecessoras. Ao contrário das guerras antigas e mecanizadas, que eram longas e desgastantes, mas raramente causavam danos muito além dos locais ou dos países onde eram travadas, assim que começar a guerra nuclear implicará na destruição pura e simples das condições indispensáveis à via biológica no planeta.

Numa guerra nuclear, não há objetivo militar a ser alcançado, nem lucro a ser desfrutado. O prejuízo imposto ao inimigo se torna também um prejuízo imposto à própria população, pois ninguém será poupado do inverno nuclear e da contaminação por radiação. Foi por isto que Robert F. Kennedy disse com muita propriedade que:

“Uma vez iniciada uma guerra nuclear, mesmo entre pequenas e remotas nações, seria extraordinariamente difícil sustar uma progressão gradual que acabaria convertendo uma guerra local numa conflagração geral. Cerca de 160 milhões de americanos e centenas de milhões de outros povos poderiam morrer nas primeiras vinte e quatro horas de um duelo nuclear em grande escala. E, como disse Nikita Kruschev, os sobreviventes teriam invejados mortos.” (Luta por um Mundo Melhor, Robert F. Kennedy, Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1968,  p. 178)

As palavras dele ecoam as de Hannah Arend, que com muita propriedade afirmou que:

“…a guerra deixou de ser a ultima ratio de negociações e seus objetivos determinados no ponto em que estas se rompiam, de modo que as ações militares supervenientes não eram senão uma continuação da política por outros meios. O que está hoje em questão é algo que nunca poderia ser, é claro, objeto de negociação: a mera existência de países e seus povos. É neste ponto – em que a guerra não mais supõe como dada a coexistência de partes hostis e já não busca apenas por fim ao conflito pela força – que ela deixa verdadeiramente de ser um meio de política e, como guerra de aniquilação, começa a cruzar a fronteira estabelecida pela política e a aniquilar a própria política.” (A Promessa da Política, Hannah Arendt, Difel, Rio de Janeiro, 2008, p. 219)

Trump não flerta com a barbárie. Ele flerta com algo muito além da própria barbárie, pois até mesmo entre os bárbaros havia política. Não a política tal como os gregos e romanos a imaginavam, mas certamente aquela que mais convinha àqueles povos cujos territórios eram cobiçados pelos que se autoproclamavam civilizados.

Qual o sentido de aniquilar a Coréia do Norte com armas nucleares – caso a frota dos EUA for afundada por uma bomba atômica norte-coreana – se o vento espalhará as cinzas contaminadas do país destruído pela Coréia do Sul, pelo Japão e pela China? Como os amigos e adversários dos EUA reagirão ao sofrer as previsíveis consequencias nefastas da aniquilação nuclear da Coréia do Norte?

JFK e Robert F. Kennedy enfrentaram dilemas semelhantes quando da crise dos mísseis em Cuba. Mas ao contrário de Donald Trump eles tinham consciência de que o mal que fizessem se transformaria também no mal que os norte-americanos e seus aliados sofreriam. O atual presidente dos EUA não parece ter consciência de nada além das bobagens que ele escreve no Twitter. Trump não está a altura da tarefa para a qual foi eleito. Pior… todos nós teremos que suportar os resíduos tóxicos das ações dele muito embora não o tenhamos colocado ele na Casa Branca.

Falem-me mais sobre a democracia norte-americana… A mim ela se parece mais e mais a uma tirania fora de controle que coloca em risco o planeta inteiro só para que Trump possa dizer: “Minha vontade prevaleceu…” antes do fim. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

25 Comentários

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  1. O truco nuclear

    Até agora Trump tem se mostrado um péssimo jogador de truco (e, acho, também não seria diferente no poker Texas hold’em). Só berra e nem carta na mão tem.

  2. Tempos duros e balofos…

    Socorro-me no Blog da Boitempo para elaborar esse comentário…eis o texto aqui: 

    https://blogdaboitempo.com.br/2017/04/13/os-tempos-duros-e-balofos-que-nos-foram-dados-para-viver/

     

    Na verdade, colegas do blog do Nassif não há como prever nada, assim como não havia como prever nada do que aconteceria com Kennedy e a crise de Cuba…

    Não incorramos no velho erro teleológico de imaginar que não pudesse haver resultados distintos apenas porque conhecemos um deles que já se realizou…

    trump é um idiota? Claro…

    Mas como Flávio Aguiar diz-nos em eu ótimo texto aí em cima, ele é um espécime replicado e reciclado para parecer pior (e é) do que seus antecessores…

    É a cultura da ultra-obsolescência sendo levada além de todos os limites, se é que entendi o que ele quis dizer…

    trump não é apenas um idiota, ele é também um idiota, justamente aquele tipo que imagina estar sentado sobre a maior máquina de guerra do mundo (e está, apesar de nem sempre isso resultar em vitórias militares) e que pode chantagear o mundo para obedecer seus caprichos geopolíticos, que na verdade, sustentam o modo de vida mais perdulário do planeta, que só aceita tal submissão porque, ideologicamente, inveja esse way of life (em sua maioria)…

    Agressões e tensões muito mais graves já povoaram nossa histeria…

    Ora bolas, os EUA mantiveram Cuba bloqueada até o fim da URSS…

    E a construção de um muro para isolar Berlim, que foi resultado de outra tensa situação, o bloqueio comunista às partes ocidentais…

    reagan não desafiou a todos ao impor seu programa “Guerra nas Estrelas”?

    JFK fez o mesmo jogo de trump, só que ele tinha muito mais charme, isso lá é verdade…

    JFK não tinha percepção de nada, ou tinha uma totalmente equivocada, senão não iria andar de carro aberto em uma praça em Dallas…

    Meus amigos, esqueçam essa noção de conjunção entre capitalismo e sistemas representativos nos EUA, o que nós, eufemisticamente chamamos de Democracia…

    Se houve algum traço de convergência entre Democracia e capitalismo (sim, porque aquela noção de Estado SEMPRE procurou dar contornos “democráticos” a um modelo segregacionista e ultra-hierárquico), ele começou a ser sepultado em 1980, ultrapassou toda a década de 90, com a exacerbação das teses anti-regulatórias dos mercados, e explodiu com a chamada revolução teconológia, que ao mesmo tempo propiciaram aos movimentos de fluxos de capitais uma mobilidade jamais imaginada pelo mais empedernnido e otimista neoliberal…

    Em 2000 (como já mencionei em outro comentário ontem, nesse blog), teve início a junção do capitalismo financista, o complexo bélico-industrial, com os complexos midiáticos e judiciais-parlamentares, tudo junto com os interesses do conglomerado da energia fóssil…

    A fraude pró-bush jr em 2000, com a ratificação da mídia e do judiciário de lá é o início do fim da ideia ocidental de Democracia, que por sua vez jogou o mundo nessa permanente sensação de “guerra entre mundos”….

    trump é o estado da arte desse ambiente, e não uma anomalia dele…

  3. Que viagem. 
    Em caso de

    Que viagem. 

    Em caso de Guerra a Coreia do Norte pode atacar a do sul, a China e o Japao. 

    Jamais os EUA, pq não tem alcance para isso. 

    De forma que se daria uma guerra de todos contra a Coreia do Norte, seria um massacre. 

    Claro que causaria problemas pelo mundo todo. 

    E quem disse que precisa ser nuclear ?

    Os norte coreanos são mulucos, talvez usem armas nucleares, mas os outros paises, para davastá-los não precisarão usar. 

     

  4. Que o Deus Todo Poderoso

    Que o Deus Todo Poderoso injete uma boa dose de juizo na cabeça dos governantes que não se importam com a sorte de boa parte da população do planeta! Uma troca nuclear, mesmo que limitada apenas ao hemisfério norte, trará, pelo menos, o regresso da civilização à idade média. A quem pode interessar isto? Aos homens de negócio? Aos poderosos encastelados em seus bunkers, sem poder sair por um bom tempo? Quem irá governar o que? Após a catástrofe nuclear virá a fome, as endemias sem controle, a violência e o caos. Não faz sentido!!!

    1. Não é possível acontecer esta

      Não é possível acontecer esta injeção de uma boa dose de juizo na cabeça dos governantes que não se importam com a sorte de boa parte da população do planeta, simplesmente pelo fato de que esse ser místico que vc chama de “deus todo poderoso” não existe e não pode fazer nada, a não ser alimentar a mente de esquizofrenicos que ficam aguardando suas ordens e ações. 

    2. dEUS TODO PODEROSO.

      Se o deus todo poderos ñ ouviu as preçes daqueles 50 milhões de desencadernados na 2ª guerra. POR Q OUVIRIA A SUA ?

    3. Caro Mariano,
      Tenho minhas

      Caro Mariano,

      Tenho minhas dúvidas quanto ao auxilio divino, pois trata-se de algo além da minha compreensão. 

      Mas, nesses tempos sombrios, prefiro os apelos da fé à acidez da descrença.

    4. Caro Mariano,
      Tenho minhas

      Caro Mariano,

      Tenho minhas dúvidas quanto ao auxilio divino, pois trata-se de algo além da minha compreensão. 

      Mas, nesses tempos sombrios, prefiro os apelos da fé à acidez da descrença.

  5. Especulação

    Guerra nuclear? Os capitalistas não estão interessados porque pode acabar com seus ganhos e poder. Especulação furada num momento em que os Estados Unidos mostram a mais poderosa bomba criada até agora NÃO nuclear. È esse tipo de guerra que dá lucro. Bombas convencionais com cada vez maior poder de destruição no campo considerado inimigo. O objetivo da divulgação? Mostrar que a terceira guerra já está nos seus ensaios e que não será nuclear. Os Estados Unidos/Europa querem é acesso aos enormes recursos minerais e petrolíferos da Rússia e Ásia em geral.

    1. Falou o defensor dos pobres e
      Falou o defensor dos pobres e comprimidos capitalistas que se esqueceu de um detalhe importante: a I e a II Guerra Mundial foram Guerra a entre capitalistas. Foi um país capitalista que usou uma bomba atômica duas vezes. É este país capitalista que começará uma III Guerra Mundial e perderá o controle do conflito, pois nenhum conflito entre potências nucleares deixará de levar necessariamente ao confronto total indesejado.

  6. Muita bobagem por aqui

    Sugiro que os “gênios” em estratégia que estão comentando este post comecem a ler a imprensa internacional especializada (tanto a mainstream quanto a alternativa) para falarem menos bobagens.

    1. Seguem Links:

      Foreign Affairs (EUA) – https://www.foreignaffairs.com/

      Global Times (China) – http://www.globaltimes.cn/index.html

      Russia Today (RT) – https://www.rt.com/

      Information Clearing House (EUA) – http://www.informationclearinghouse.info/

      New Eastern Outlook (Rússia) – http://journal-neo.org/

      Strategic Culture Foundation – http://www.strategic-culture.org/

      Global Research – http://www.globalresearch.ca/

      Russia Insider – http://russia-insider.com/en

       

      Novas sugestões são mais que bem-vindas!

  7. Trump não precisa iniciar uma

    Trump não precisa iniciar uma guerra para destruir a humanidade.

    Ela ja foi praticamente destruida com a sua eleição para o cargo de presidente da nação mais poderosa do mundo.

    Ele é a expressão maxima da insignificancia, da ignorancia, da decadencia.

    Qualquer observador  desatento ja deve ter percebido que ele  assiste com frequencia filmes sobre Hitler.

    Tem o mesmo gestual, os mesmos tiques nervosos, so falta o bigodinho e uma tintura naquele cabelo ridiculo.

    O Trump em si mesmo ja significa a destruição da humanidade, sua falencia.

    Não fomos capazes de evoluir, mesmo diante de tanta tecnologia, internets, filmes, livros, museus, universidades.

    A historia não nos ensinou nada.

    No fundo Trump não é tão culpado assim.

    É o resultado.

    É o resultado de uma humanidade, que ao inves de abolir divertimentos crueis, como lutas de boxes, inventou outra mais sangrenta, como essa tal de mma.

    Que outro futuro poderia ter uma humanidade, que depois de seculos recria as arenas romanas para ter prazer de assistir homens chutando a cabeça do outro, quebrando ossos ao vivo?

    Ha poucas decadas, as estrelas dos noticiarios eram os grandes artistas, hoje,  as midias falam  da vida e das ferraris de jogadores de futebol semi analfabetos e da bunda da “socialite” de terceira categoria.

    A decadencia humana é total, basta um olhar sobre o que acontece aqui ao nosso redor.

    Temos um socia do Trump na nossa presidencia, talvez um pouco mais sinistro.

    Temos um povo totalmente adormecido mentalmente por uma lavagem cerebral, que ainda acredita existir uma categoria social mais pura que a outra, capaz de sozinha lavar a jato as impurezas da sociedade.

    E ainda outros  confiando que os militares, especialistas em canhões, bombas e guerras, são os mais preparados para gerir um pais com tantos complexos problemas.

    Fazemos parte de um pais que escutava as palavras de um Vinicius de Moraes e  hoje faz plateia para um lobão ou para outros mais ignorantes ainda.

    Fazemos parte de um pais onde os empresarios, os donos do dinheiro tinham como candidato para representa-los alguem sobre quem recaia a desconfiança de ter habitos estranhos na intimidade.

    Passamos pelas agruras de um caçador de marajas e caminhamos para os braços do caçador de marajas 2.

    A historia não nos ensinou nada.

    Assistimos passivamente politicos envolvidos com as maiores falcatruas, mesmo sem a legitimação dos votos, entregarem o patrimonio publico ao estrangeiro e retirar todos os direitos dos cidadão, adquiridos em decadas de lutas.

    Trump, berluscone, temer, joão doria são personagens do mesmo filme de terror.

    São a propria bomba atomica.

    Ela ja foi lançada.

    1. E qual era a Alternativa, um

      E qual era a Alternativa, um que se dizia contra o confronto contra a Russia ou um que estava extremamente desejosa disso, sera que eles imaginam que vão ganhar um confronto deste, me explique?

       

  8. o fim

    Acredito que apenas o planeta terra ganhará com o fim da humanidade, em função do genocídio nuclear irrestrito e total. Para o planeta, nenhum sofrimento, por mais árduo, penoso e doloroso que seja lhe trará tantos benefícios do que a ausência quase total da raça humana em seu corpo celeste. O fim da tortura, a qual o planeta se vê submetido diariamente pela ganância e ambição do gênero humano, consagraria ao nosso planeta o tempo necessário para sua recuperação física e para a sua regeneração ambiental.

    No boletim da civilização humana só enxergamos notas vermelhas marcadas pelo sangue da maldade, pela banalidade da violência, pela estupidez da poluição, pela insensatez da devastação, pela busca bestial do poder, pela fanática adoração a riqueza, pela desmedida luxúria e pela ingrata degradação prestada a condição humana.

    O anti-Cristo é a busca alucinada do poder e do dinheiro, é o homem contra o homem, é o mal contra o bem.

  9. A guerra não era a prioridade

    A guerra não era a prioridade de Trump. Era a prioridade inabalável de Hilary Clinton. Quem acompanhou a campanha eleitoral dos EUA sabe disso.  Mas como Trump ganhou, e como Trump era contra a guerra, a mídia e os neocons, que eram a favor,  encontraram um meio de pressioná-lo de tal forma que ele estava já quase sem condições de governar. O meio de pressão que usaram foi acusá-lo de não apenas ser benevolente com os russos, mas chegaram ao cúmulo de chamá-lo de “lacaio de Putin”. Aos olhos do povo influenciável pela mídia, Trump já aparecia como a figura acabada do traidor da Pátria. Quase um caso sem jeito.

    Parece que a guerra contra a Rússia e talvez também contra a China, nestes últimos dez anos, deixou de ser o grande objetivo dos falcões democratas e republicanos, para ser uma causa sagrada também para a chamada grande mídia. Essa mídia tenta arrastar para a guerra todo o povo americano, sob a premissa de uma demonização radical da “satânica ameaça russa”, que vem se aprofundando aceleradamente. A Síria, assim com a Ucrânia, seria apenas um caminho para os guerreiros ocidentais chegarem até o confronto com a Rússia, destino inexorável e inescapável dos EUA. Nesta perspectiva que passa rapidamente de longo para médio e curto prazo, Trump surgiu como um ponto fora da curva, um obstáculo inesperado que era preciso ou eliminar, através de um impeachment, ou cooptar para a causa divina, a causa da guerra. A vitória de Hillary seria o destino tranquilamente posto em marcha. A vitória de Trump foi um incidente que caberia corrigir para que o país retomasse sua marcha belicista imposta pelo destino. Se Hilary tivesse sido eleita, o destino correria normalmente para o confronto inevitável, contando com a entusiasmada participação de seus colegas europeus (França, Inglaterra e Alemanha), todos eles enlouquecidos de tanta vontade de guerrear contra a Rússia. Mas o eleito foi Trump. Trump, cujas promessas de campanha incluíam conversar e até colaborar com a Rússia em certos aspectos (suprema heresia!), destruir todos os grupos terroristas (que combatem Assad e assim, são naturais aliados dos EUA) e acabar com as “guerras externas” para se voltar inteiramente para os graves problemas internos dos EUA. Para isso, enfrentou e desafiou destemidamente a mídia corporativa durante toda a campanha eleitoral.

    Mas acabada a campanha, a realidade se mostrou completamente diferente. Trump não pôde resistir à enxurrada de ataques midiáticos contra ele, mentiras e armações que de repente se transformavam em verdade absoluta, tais como o nunca nem de longe provado rackeamento de informações do Partido Democrata por russos, para ajudar na eleição de Trump. E Trump tentou reagir à pressão da mídia como pôde, mas nem a descoberta de que Obama havia, ele sim, hackeado sua torre de escritórios para obter informações de efeito eleitoral, nem isso pôde barrar a guerra movida pela mídia contra ele. A mídia ignorou solenemente a espionagem de Obama e foi em frente, empurrando Trump para um beco aparentemente sem saída.

    Já tendo queimado o cartucho da espionagem governamental contra ele, sem obter nenhum resultado concreto, a única saída encontrada (ou que levaram-no a encontrar) por Trump foi encenar uma peça de teatro bélico composta em  dois atos. O povo, levado pelo canto de sereia da mídia, queria guerra, e só atos de guerra poderiam aplacar o desejo do povo. O primeiro ato foi um suposto ataque aéreo com armas químicas levado a efeito contra os arredores de uma cidade dominada pelos jihadistas. E o segundo ato foi um castigo rápido e unilateral aos supostos autores do tal ataque químico. Trump não esperou que o Conselho de Segurança da ONU examinasse a questão.  De seus navios ancorados na costa síria, mandou despejarem sobre uma base aérea uma carga de mísseis de cruzeiro tão intensa que, em seu conjunto, ultrapassou em duas vezes o potencial explosivo lançado sobre Hiroshima.

    Para a grande imprensa corporativa americana, não interessou saber que, no primeiro ato, caberia perguntar que tipo de idiota lançaria gás sobre um inexpressivo bairro de uma cidade de não bastante grande interesse estratégico? Ainda mais em uma guerra que ele está vencendo? Certamente Assad não é esse idiota. Mas o grande público americano ignora isso. E há outra pergunta: Como foi lançada essa carga de gás, já que todo especialista militar sabe que o gás só pode ser lançado por obuses e não por carga aérea? E quanto ao segundo ato, há também perguntas a serem feitas: Como é que se castigou uma base de onde teria saído um ataque de gás, e lá não há o mínimo vestígio de gás? E por que a pista da base não foi danificada? E por que só aviões fora de uso foram danificados? E por que de 59 foguetes só 26 atingiram o alvo e de uma maneira pouco destrutiva e de nenhuma eficácia militar direta? E por que, além de nove mortos civis atingidos perto da base por engano, só houve mortos (5) na tentativa de apagar o incêndio causado numa cantina? E por que nenhum russo foi atingido, já que os russos estão por todas as bases sírias prestando orientação militar e assistência técnica? E por que o Secretário de Estado não cancelou sua visita a Moscou logo depois do ataque à base síria?

    Alguns jornalistas americanos independentes defendem que esta peça de teatro bélico foi encenada por outros para o consumo de Trump. Já outros jornalistas, acham que ela foi encenada com a participação central de Trump para o consumo do público e de seus adversários. A verdade é que Trump, depois da peça encenada, da noite para o dia virou o grande herói de toda a mídia que o atacava ferozmente até a véspera. A euforia tomou conta dos meios de comunicação como se eles nunca houvessem tido em mente nada que não fosse a deflagração da terceira guerra mundial, com os EUA numa posição de ataque. E quando Trump anunciou que um porta-aviões estava seguindo para a península coreana para dar uma lição definitiva à atrevida Coréia do Norte com seus arroubos nucleares, aí então a mídia e o povaréu atiraram os chapéus para cima e deliraram de tanta emoção. A guerra para os americanos parece ser como o futebol para os brasileiros. Só que talvez Trump não tenha desistido de suas metas de campanha. Quem falava que Trump era imprevisível, e não foram poucos durante a corrida eleitoral que disseram isso, tem acertado em cheio. Mas quem sabe? O imprevisível talvez esteja além do que se possa imaginar. Talvez ele esteja só dando um brinquedinho para distrair as velhas crianças loucas adoradoras da guerra, e depois irá finalmente se voltar para suas grandes promessas de campanha, que incluem a paz mundial, o crescimento interno sem subterfúgios estatísticos e o resgate do orgulho dos trabalhadores hoje humilhados e desempregados.

    1. Maravilha… Faço a mesma

      Maravilha… Faço a mesma leitura. Todo aparato jornalístico da grande imprensa ocidental é suspeito, uma vez que esta se comporta 24 horas como se estivesse em campanha de guerra fazendo lavagem cerebral em seu público. Do mesmo modo, vejo em todas estas atitudes aparentemente emotivas ou irracionais de Trump um imenso teatro. A campanha contra a Síria foi absolutamente ineficaz em termos militares e a pavonice na Coreia do Norte findará por fortalecer os laços diplomáticos com China e Rússia, uma vez que estas serão chamadas para tutelar um acordo com o regime de Pyongyang. Não podemos imaginar que neste imenso jogo de xadrez da política interna e da geopolítica norte-americana Trump esteja no tabuleiro com um time de amadores sem qualquer estratégia racional para alcançar aquilo que se propuseram. 

  10. Não entendo como

    Não entendo como comentaristas inteligentes (inclusive o Nassif) deste blog ainda dão pelota para esse maluco sem noção Fábio Oliveira Ribeiro, um cara completamente fora do tempo. A visão de mundo desse sujeito beira a paranóia.

     

    1. Ao se limitar a fazer um

      Ao se limitar a fazer um ataque pessoal você desqualificou apenas uma pessoa: você mesmo.

      Vá trollar em outro lugar, idiota. 

  11. Opinião 1) Bobagem. A

    Opinião 1) Bobagem. A doutrina da Destruição Mútua Assegurada garante que não haverá um conflito nuclear iniciado por grandes potências. Pode haver uma explosão causada por um grupo terrorista (é até difícil não classificar alguns Estados como terroristas…), mas um ataque entre nações, não acontecerá.

    E o pessoal assiste muito filme. Vocês acham mesmo que uma detonação nuclear depende exclusivamente da vontade do Trump? Que basta ele acordar de pá virada ou com ressaca e pegar uma maleta, digitar os códigos e disparar os mísseis? Vocês realmente acham que é tão simples assim? 

    Opinião 2) Análise correta. Simulações já indicaram que um, conflito nuclear localizado, por exemplo, India x Paquistão, poderá escalar rapidamente para um conflito global, mesmo considerando a doutrina da Destruição Mútua Assegurada, indicada na opinião 1.

    Ninguém quer ser o primeiro a disparar os mísseis. Mas, se alguém disparar, os demais não vão ficar inertes com os mísseis à disposição, esperando acontecer alguma coisa. 

    – – –

    O Coronel Russo Stanislav Petrov salvou o planeta de uma guerra nuclear em 1983, quando o sistema de alerta computadorizado deu o alerta que 1 míssel norte-americanos teria sido disparado contra a União Soviética. Ele teve sangue-frio e deduziu que era um erro do computador, baseado no fato que os norte-americanos não disparariam APENAS 1 míssel. Concluiu pelo alarme falso, e não ordenou a retaliação. O sistema voltou a informar que outros mísseis teriam sido disparados (4 ou 5) e o Coronel continuou confiando em seu instinto, acreditando que os Estados Unidos não lançariam um ataque com somente esse número reduzido de mísseis. 

     

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