Xadrez da confraria dos cultivadores de assassinatos, por Luis Nassif

Por trás do discurso anticomunista e anticorrupção, há muito mais coisas no ar do que aviões da Avianca.

Depois da destruição dos direitos, o país ingressa, agora, na era dos assassinatos endossados pelo Estado, em um sistema absolutamente similar ao que gerou os atentados perpetrados pelos porões da ditadura – de onde saíram os futuros comandantes de milícias.

A entrada definitiva na lei da selva começou com os governadores Joao Dória Jr, de São Paulo, e Witzel, do Rio, estimulando os assassinatos por parte da polícia. Na ponta jurídica, Sérgio Moro propondo a flexibilização das execuções através do chamado excludente de ilicitude, a autorização para matar “no estrito cumprimento do dever legal”.

Finalmente, tomando posse, Witzel anunciou a montagem de um esquema de “snipers” – atiradores de elite – colocados em pontos chave para “atirar na cabecinha” de qualquer pessoa suspeita de estar carregando uma arma.

As redes sociais já divulgaram diversos vídeos de moradores de favelas, mostrando helicópteros sobrevoando as regiões, com atiradores disparando tiros. Agora, reportagens do Extra e outros jornais mostrando cidadãos indefesos sendo assassinados por “snipers”.

Tudo isso acontece em um estado dominado pelas milícias, com a corrupção infiltrada em todos os poros e com o lado mais selvagem organizando-se em milícias digitais e seus discursos de ódio.

Aí, vem a suspeita. Trata-se de um assomo generalizado de selvageria, ou esse ódio disseminado obedece a uma lógica das organizações criminosas? Trata-se de uma suspeita fundada e terrível, das milícias infiltrando-se nos poderes constituídos e valendo-se do poder de Estado para combater organizações criminosas adversários.

Vamos a um conjunto de características envolvendo os principais personagens da violência explícita do Rio de Janeiro e suas relações.

Personagem 1 – o capitão Adriano

Veio do submundo das forças armadas, os integrantes dos porões. É o principal suspeito do assassinato de Marielle Franco. Foi identificado, agora, como o dono do edifício que desabou no condomínio de Muzema, depois de ter sido levantado clandestinamente.

Personagem 2 – Flávio Bolsonaro

O ex-deputado estadual que homenageou os principais matadores das milícias. Empregou mãe e esposa do capitão Adriano. Na Câmara de Vereadores, o irmão Carlos tinha posição ostensivamente agressiva em relação a Marielle. Há um oceano de indícios de ligações com as milícias. Pode ser que não tenha sabido antecipadamente dos planos das milícias para executar Marielle. Pode ser que não.

Personagem 3 – a desembargadora Marília Castro Neves

Ganhou fama depois de atacar a memória de Marielle Franco e propor a execução de Jean Willys. Faz parte de grupos de WhatsApp que juntam juízes e desembargadores do Estado em torno de discursos radicais.

Foi ela quem deu a liminar impedindo o embargo do edifício que caiu. Pode ter sido mera coincidência entre pessoas com afinidades políticas. Pode ser que não.

Personagem 4 – o governador Witzel

Tem relações antigas com Flávio Bolsonaro. Candidatou-se apoiado pela família Bolsonaro e em um partido claramente dominado pelas milícias. Participou de eventos agressivos, como o comício no qual foi rasgada a placa da rua Marielle Franco. E deu o aval para a estratégia de assassinatos.

Assim que terminaram as eleições, marcou viagem a Israel com Flávio Bolsonaro, para negócios obscuros com a industria de armas. Pretendia adquirir drones com capacidade de atirar.

Note-se que há uma disputa pelo controle dos morros entre as milícias e o tráfico. Não se ouve falar em ação sistemática contra as milícias. Pode ser que a ação dos “snipers” seja apenas contra negros favelados. Pode ser que não.

Conclusão

Há afinidades entre os principais personagens dessa trama, de assassinos reais, como o capitão Adriano, a defensores reais de assassinatos, como Witzel, a desembargadora e Flávio Bolsonaro.

Por trás do discurso anticomunista e anticorrupção, há muito mais coisas no ar do que aviões da Avianca.

Em circunstâncias normais, o federalismo brasileiro – a exemplo do seu modelo, o norte-americano – autorizaria intervenção federal em estados sob suspeita de estarem controlados por organizações criminosas.

Mas jamais o governo de Jair Bolsonaro iria se insurgir contra o governo de Wilson Witzel. E Supremo Tribunal Federal e Procuradoria Geral da República não parecem dispor de força e vontade política para defender a população carioca de um sociopata que assumiu o governo do Estado.

Luis Nassif

28 Comentários

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  1. “E Supremo Tribunal Federal e Procuradoria Geral da República não parecem dispor de força e vontade política para defender a população carioca de um sociopata que assumiu o governo do Estado.”

    Nem força nem vontade política nem vontade não-política nem disposição nem coisa alguma.

  2. Nassif, uma correção: o Flávio Bolsonaro nunca foi vereador. Iniciou sua carreira política como deputado estadual. Vereador (desde os 17 anos) é o pitbull Carluxo.

  3. As milícias são um projeto de poder em que o crime e a violência são o instrumento de controle social e político. Não creio que teriam chegado onde chegaram sem a participação ou permissão do judiciário e forças armadas.

  4. O Brasil está sendo governado pelo crime organizado. Quando os brasileiros honestos vão se organizar e exigir que uma geração de individuos honestos assume o poder.

  5. Se a sociedade brasileira não se insurgir contra essa violência de Estado, não sera com gente como essa que se encontra no poder que tera fim o genocidio do povo pobre, mestiço e negro nas cidades brasileiras. Rio e São Paulo são mais visiveis, mas essa matança tem ocorrido em outras capitais brasileiras, com o total silêncio das autoridades publicas, mais que isso: com o incentivo dessas e com apoio explicito de parte da sociedade brasileira, de gente como essa desembargadora do Rio. Enquanto as classes médias continuar apoiando esse tipo de violência de estado contra a população pobre, os governadores fascistas, presidente fascista, minitros fascistsa, policiais fascistas, todos coniventes com as milicias e com essas mortes. A classe média so vai se mexer no dia em apontarem as armas contra ela.

  6. Mais dois lances para serem observados:
    1 – Quem estava “entrando na área” de domínio político do clã? Ao prestar solidariedade efetiva às famílias de policiais mortos em serviço, em vez de fazer meros discursos demagógicos vazios nos velórios das vítimas e homenagens na Assembléia. Medalhas não consolam ou amparam ninguém.
    2 – Qual a candidatura o PSOL lançaria ao Senado pelo RJ? Arriscaria deixar sem mandato um político veterano e quadro experiente do partido, Chico Alencar, com provável reeleição garantida para o Congresso, ou preferiria preencher a vaga com alguém com mandato assegurado na mão, na Câmara de Vereadores do Rio, que só seria renovado em 2020?
    Observem que a decisão de eliminar a vereadora foi tomada no final de 2017, quando o quadro político estava indefinido, não indicava a onda que se sucedeu na eleição de 2018. Nem a ‘congi’ do cara acreditava na eleição. Alguém acredita que um assassinato com meses de planejamento detalhado foi por mero ódio pessoal?

  7. Carlos é quem é o vereador, Flávio era o deputado estadual que empregou parentes do Queiroz e homenageou Adriano, dê um complemento a este dado aí.
    Essa matéria inclusive merece ser ampliada.
    Outro dado, é que Carlos TB empregou gente ligada ao Queiroz.
    Acho peculiar a proximidade residencial e empregatícia da família do presidente com o mesmo grupo miliciano, além disso essa área é de expansão imobiliária.
    https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/carlos-bolsonaro-empregou-assessor-ligado-a-queiroz/

  8. Este Witzel é a soma de todo que me gera temor: Direito-torto, fanatismo religioso e populismo político. Apesar do autor, repito:Deus proteja esta nação.

  9. o Rio de Janeiro dominado pelas milícias tem seu equivalente em SP tomado pelo PCC.

    as denominações podem variar, mas as Famiglias são sempre as mesmas. como no feudo mineiro, capitania hereditária por cujos céus circulam os helicocas enquanto em seus rios escorre a lama tóxica.

    nas Terras do Boi Branco, este milagre da agropecuária de exportação brasileira, recente operação da PF tentou cumprir 55 mandados de prisão, além de apreender 47 aeronaves usadas no transporte de 9 toneladas de cocaína entre 2017 e 2018.

    link: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2019/02/21/policia-federal-realiza-operacao-contra-o-trafico-internacional-de-drogas.ghtml

    qual o desdobramento deste operação? como tantas outras, sumiu do mapa da grande mídia.

    tá tudo dominado, desde muito antes.

    no caso específico do Rio, vivemos o legado maldito dos megaeventos, projetados pelo Lulismo para serem a celebração gloriosa de seu projeto.

    após as sucessivas intervenções militares, o estado de calamidade pública do Rio é a prova tangível do despreparo dos Generais para gerir a complexidade de um Brasil em escombros.

    não haverá nenhuma solução para o Brasil que passe pela inviável restauração de algum mítico centro democrático. ao contrário, já passou há muito o momento de nos livrarmos em definitivo das ilusões com a Democracia Liberal Representativa.

    enquanto afundamos mais e mais no caos, a Teocracia Neo-Pentecostal, inclusive seu ramos militar, acalenta ser parte do Armagedon: a guerra do fim do mundo entre os eleitos de Israel e todos os ímpios da Terra.

    não contem com a misericórdia de Deus. pois Ele está farta de nós.
    .

  10. Bom dia, como é que estou vendo a tudo isso. primeiro é saber que tudo isso faz parte do conjunto do golpe dado no ano de 2016 e segundo ter clareza que este golpe dado não foi na Dilma e muito menos no partido dos trabalhadores. E fundamentalmente na própria classe trabalhadora brasileira e com toda certeza que tinha e como o que já vinha falando e a alguns anos que para eles invadirem a Venezuela necessitariam ter o controle da política interna brasileira. por isso como também tinha dito para muita gente que eles prediriam as eleições de 2014 e independentemente de quem viesse a concorrer pelo bloco da esquerda não seria suportável para eles até o final do mandato teria que ser implementado o golpe. 2018 não seria devolvido o “poder”para a esquerda e de forma alguma e muito mais serio na minha humilde condição de ver as coisas a prisão de Lula se deu para que eles não viessem ter que implementar uma outra política mesmo que desastrosa, mas o jogo era não devolver e ai não só para o PT com Lula candidato o governo e sim para a esquerda brasileira. E quando muitas e muitos de nós falamos do porque não Ciro Gomes, nem a própria burguesia tinha nem uma confiança nele esta é que a verdade, o Ciro não tem depositado confiança e ai nos dois campos tanto na direita e muito menos na esquerda, alguns e dos dois lados tanto da direita como da esquerda ainda tentam se iludir com as falácias dele, Ciro Gomes. afirmo que com a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, e muito mas não bastava só a prisão de Lula e o principal seria evitar que ele fosse o candidato das massas e da esquerda independentemente de qual fosse o partido teriam que não devolver o poder e que evitarem a sua candidatura a qual quer custo, essa era que era a jogada, Lula candidato como mostrava as intenções de voto que ele ganharia de qual quer um e com um grande risco de se eleger ainda no primeiro turno o melhor seria não correr a este risco, mas eles foram até as ultimas cartadas é só ver aceitaram a inscrição da candidatura de Lula com a presença de mais de 50.000 pessoas, ali foi o teste que fizeram, talvez se este numero fosse uma pequena manifestação e que não passasse do povo do MST presente e os grevista de fome que na data já completavam 16 dias eles poderiam até não terem ido para as ultimas consequenciais como foram, mas quero dizer que mesmo que a candidatura fosse o nome de Lula eles não devolveriam o palácio do planalto para a esquerda, este era que seria o jogo, ditadura direta ou indireta dai é que se que a derrota eleitoral de Fernando Haddad, e hoje assistimos a nova foram de implementação de uma ditadura branca. e podemos a qual quer hora termos a Venezuela invadida e até mesmo contando com o apoio direto do governo brasileiro. Só não sei se esse irresponsável chegara a esse ponto.

  11. corajoso artigo…
    as milícias estão no poder, isso parece evidente….
    temos de sair às ruas para combater
    esse estado de exceção…

  12. Brilhante Nassif como sempre. O primeiro parágrafo do seu artigo diz tudo. Já pesa do tempo que precisávamos dizer que todos males como: milícias, estupros, sequestros, torturas e outros tipos de violência teve início com o golpe de 1964. Só os mentecaptos não querem lembrar

  13. Esta história do Witzel (e porque não dizer também a do Dória) é muito parecida com a do Rodrigo Duterte, atual presidente de Filipinas.
    Mesmas inspirações.

  14. Corajoso,valente,destemido,desassombrado,bravo,eis alguns dos adjetivos que obrigatoriamente constam da biografia do jornalista Luis Nassif,certo.Ele mais que ninguém,sabe que o Estado Brasileiro foi capturado pelo crime organizado,por uma especie de omertá Tupiniquim,são bandidos,assassinos da mais alta periculosidade.Entendo que para se manterem no poder,não hesitarão em tomar medidas extremas enquanto e para manter a Organização Criminosa ou os Escritorios do Crime dando as cartas,inclusive mandando executar jornalistas.A conta deve ser debitada as três figurinhas carimbadas:Luis Roberto Barroso,Carmen Lúcia e Luis Edson Fachin,capturados por eles.Ao senhor editor,recomendo-lhe cautela,muita cautela.

  15. Flávio Bolsonaro nunca foi vereador, mas, sim, por 16 anos, deputado estadual. Portanto, ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado, e, não, na Câmara de Vereadores da capital. Vereador foi e ainda o é, Carlos Bolsonaro. Não se pode bobear nesse tipo de informação. É o básico.

  16. O que antes era obscuro passou a ocorrer às claras: a violência desenfreada contra o povo abandonado à própria sorte, tudo com o suporte do judiciário e da grande mídia, por isso mesmo pior que a ditadura de 64.

  17. Tudo coerente. Da covardia dos tribunais superiores a alavancagem das candidaturas favoráveis, quiçá subordinadas, ao crime organizado, passando pelos MP’s da vida e com cumplicidade do pacote do Moro. Faltou apenas relacionar empresas que bancaram candidaturas suspeitas atraves de financiamento para disparos no Whatsapp e outros meios.
    Mas o pior disso tudo e saber que não podemos contar nem com as forças armadas.

  18. Os eleitores de Bolsonaro estão sendo enganados,estava conversando com Bolsonaristas da família e quando falei das supostas ligações com as milícias ,q até eu achava q Bolso era evangélico e acabei descobrindo q Jair era CATÓLICO NÃO PRATICANTE, simplesmente ARREGALARAM OS OLHOS E QUASE ENGASGARAM, IMPAGÁVEL A REAÇÃO DELES(faz arminha faz,o q tem haver este comentário meu no parênteses com o tema ou o meu próprio comentário!?Sei lá! )

  19. ADVERTÊNCIA AOS ALÉRGICOS A TEXTO POR METRO: CONTÉM TEXTÃO, DIGRESSÃO, PT, LADAINHA E UM POUCO DE FARISAÍSMO. SÓ FALTOU O AMENDOIM, RS.

    Tocou na ferida. E só uma parte da infecção generalizada que o país herdou da ditadura mal curada cujos despojos-zumbis estão no controle.
    O que me veio imediatamente ao pensamento ao ler o artigo foi que há tanta gente qualificada e interessada, informação e conhecimento para mobilizar ações efetivas e esclarecer a questão de fundo – a transformação invisível do Estado brasileiro em meio às disputas políticas, sociais e econômicas, desde sua constituição aqui mas principalmente após Getúlio-ditador e Getúlio-“democrata” levado ao suicídio por causa de “forças” até hoje pouco discutidas – e simplesmente não chegamos a lugar nenhum porque está todo mundo disperso – os motivos são muitos e precisam ser entendidos e superados, se quisermos nos salvar desse esgoto movediço -, cada um no/a seu/sua quadrado/quebrada, fazendo sua manifestação temática como catarse performática e burocrática mas sem efeito – falta intenção? – para mudar as coisas ou ao menos sinalizar o que queremos no médio prazo. Ficaremos em compasso de espera até quando?
    A menção à falta de intervenção federal é, perdoe-me a sinceridade, inaceitável: pois não foi exatamente a intervenção federal no RJ que entregou o estado oficialmente nas mãos do grupo de milicianos? Não foi o Exército que fez uma histórica demonstração de violência, letalidade, irresponsabilidade e despreparo em plena zona urbana – sabemos da selvageria que há no campo e nas favelas cariocas em grande parte devida à invisibilidade e nossa indiferença – numa tarde de domingo e sem qualquer indício de confronto?
    Me lembrei de imediato da professora Jaqueline Muniz e estou vendo seu vídeo sobre a intervenção, que viralizou na época mas estranhamente todo mundo bem ou mal se adaptou ao fato absurdo: por que?
    Sr. Nassif, que é bom de organização, acho que precisamos de muitos encontros temáticos e depois contextuais, gerais e setoriais para juntar pessoas e ideias, sobre os problemas mais urgentes sob desmonte flagrante e deliberado (o DoJ é bom de destruir países, veja o Iraque e agora a Líbia): segurança pública, saúde e educação, economia popular, comunicação pública e organização institucional do Estado, e formas eficazes de mobilização da sociedade civil. E não apenas para fazer um happy hour no final, mas para falar de maneira clara e propositiva sobre os assuntos e ser divulgado massivamente pelos meios de comunicação possíveis.
    Como tudo de ruim que acontece no mundo tem no Brasil um intencional reflexo – para as coisas boas, que dependem de iniciativa coletiva autônoma, como as greves pelo clima, nada… -, não é por acaso que o país está sendo destruído: ainda há estudiosos que não consideram o que está acontecendo no país, o Golpe, como parte da estratégia dos USA de manter seu império, pois viram que não adianta dar golpe e manter a estrutura funcionando, como aconteceu em 1964, porque nosso país demonstrou capacidade admirável de recuperação (depois de mais de 20 anos do golpe de 1964-1985, apenas uma década de governos gradativamente populares e democráticos mostraram aos Yankees o tamanho do seu concorrente continental, outrora chamado República Federativa do Brasil). A história aqui vai ser como no Oriente Médio, game over.
    Tentarei resumir meu pensamento
    1 – Temos que partir de uma constatação óbvia mas que não se faz com a clareza do que significa: o Golpe não foi dado apenas pelo pré-sal, como se pensou no início, mas como parte de uma estratégia de longo prazo de anulação da concorrência pelos USA em todo o mundo, e nós fomos, e somos, o alvo como liderança econômica, política e diplomática na América Latina – repito um de meus mantras: coincidência o ataque dos USA à Rússia e China após o Golpe aqui em 2016, e que estes dois tenham sido parceiros do Brasil nos BRICS? coincidência a destruição da estrutura multipolar da região, agora com a saída do país da Unasul? coincidência que Lula continue preso mesmo após as eleições – o primeiro objetivo – e que o STF esteja na mira da Lesa-Pátria? – precisamos entender melhor por que, se continua tão obediente…, que o rábula seja o responsável pela área de implementação jurídica da anexação do Brasil aos USA, que inclui mudanças legislativas e controle de informações sigilosas sensíveis sobre movimentação financeira – este para garantir aquelas? que apenas o sistema financeiro, que foi um aliado chave na decisão de dar o Golpe, esteja ganhando dinheiro e não haja reação do sistema produtivo – ainda existe depois da Lesa-Pátria?
    2 – O crime organizado paraestatal no Brasil – milícias, tráfico de drogas e de outras coisas, como influência, rs – representa no Brasil o que os grupos terroristas representam nos territórios invadidos pelos USA: têm suas demandas e dinâmicas próprias, e se fortalecem ou passam a se organizar como grupo profissional (na República do Paraná, o grupo de lobby de um certo padrinho/advogado/lobista, por exemplo) depois da invasão, e se a situação for propícia, como agora, podem ser cooptados como mercenários na lucrativa indústria da violência e da repressão, física ou judicial ou qualquer que seja o instrumento de coação, contra qualquer movimento popular e civil de verdadeira restauração de alguma ordem democrática.
    3 – A comunicação é um fator essencial nesse jogo: nos USA e na Europa, emissoras públicas têm se tornado menos independentes e empresas jornalísticas estão sendo compradas por grandes grupos de bilionários (no Brasil, a disputa familiar na Folha de São Paulo entre um rentista e uma jornalista, ainda que ambos sirvam ao interesse dos poderosos de sua classe, é um caso para estudo do reflexo daquele fenômeno no Brasil e da encruzilhada shakespeariana do jornalismo praticado como negócio). O que temos no Brasil? O jornalismo acabou nas empresas comerciais que exploram a atividade – o que resta é um memorial do que já não é -, a blogosfera reproduz a superficialidade e o polemismo vazio e cliqueiro das redes sociais, ou é um gueto que não pretende falar com um público amplo (refúgio de jornalistas independentes ou expulsos da estrutura empresarial), e quem pretende superar esses dois problemas sofre com a falta de financiamento – se depender dos usuários, com a crise econômica, vai viver de escambo, rs, ou ter que participar daquilo que critica, o uso de anúncios sobre os quais não tem controle, decididos pelas Big Techs.
    É como participar de uma corrida pelado/a – se você não for nudista, rs -, tendo que proteger o que for possível diante de uma multidão de voyeurs insaciáveis. A imagem não é das melhores, mas é como se tivéssemos totalmente indefesos e ainda assim, tendo que correr porque, quanto mais desajeitados e derrotados e expostos a cada movimento de fuga, é a única chance de encontrar um cenário menos ameaçador e humilhante – o Golpe foi um revenge porn dos USA contra o Brasil por ter ousado se tornar independente e sabemos como predadores imperiais tratam quem diz não. Nosso país, nossas regras. Será?
    Não ao soberanicídio, não ao latinicídio, não ao povocídio, não ao naturicídio! Hands off Brasil! Não é não!
    Como fazer isso?
    Acho que o primeiro passo começa pelo último item: as pessoas estão insatisfeitas mas a mamadeira de piroca que a Globélica ofereceu por anos demonizando a esquerda e o PT é o que paralisa até a esquerda mais “radical” que, tendo perdido seu assunto preferido como responsável por todas as mazelas*, não consegue oferecer nenhuma explicação ou saída para o que estamos sofrendo. Estamos num beco sem saída pior que o Brexit. Aqui, é o Brasil-over.
    E agora as pessoas não confiam mais em notícias, ou estão confortáveis em sua alienação passivo-evitativa – afinal, são todos iguais, e ninguém presta – ou mergulham na alienação excitada-superativa de redes sociais onde cada um cria o mundo que lhe convém. Sem um sistema de comunicação digno que rompa essa cacofonia e estabeleça um diálogo público e coletivo mínimo, responsável, crítico e propositivo que faça diferença positiva na vida do/a cidadã/o comum, estamos f* (calma, eu quis dizer ferrados, rs). E um sistema tal que lide com a memória de maneira responsável e histórica, porque a estória de que o jornal de hoje embrulha o peixe amanhã tem um efeito perverso de nos fazer perder algo fundamental como seres humanos, e agentes políticos: a capacidade de entender o fluxo do tempo e das ações que realizamos nele. A hiperfragmentação do tempo, do espaço, das relações e das reflexões serve a quem?

    *outro dia, falei que é incompreensível a paralisia das pessoas porque o que está sendo destruído não é o legado dos governos do PT, e da sociedade nesse período “vermelho”, apenas, mas de toda a sociedade no século XX – a reforma trabalhista, por exemplo, com a CLT da Era Vargas. O problema não é que não ligam porque odeiam o PT, mas porque é o único partido que ainda tem estrutura para gerenciar o país – até que a esquerda “radical” e esclarecida, ou quem se habilite e que não tenha ódio ao país, faça sua parte mobilizando a sociedade para novas formas de organização e exercício do poder. O espantalho do PT – obra das oligarquias, suas mídias, de oportunistas políticos e de uma esquerda imatura – que elegeu a milícia ainda está em vigor, mas como diz o professor Luís Felipe Miguel, o debate está interditado e sem que seja fluidificado e irrigado pelo país adentro, os milicianos jogarão a partida sozinhos por falta de adversários querendo virar o jogo.

    Sampa/SP, 16/04/2019 – 17:04

    1. Eu e meus problemas básicos de redação dissertativa:
      O trecho
      “Sr. Nassif, que é bom de organização, acho que precisamos de muitos encontros temáticos e depois contextuais, gerais e setoriais para juntar pessoas e ideias, sobre os problemas mais urgentes sob desmonte flagrante e deliberado (o DoJ é bom de destruir países, veja o Iraque e agora a Líbia): segurança pública, saúde e educação, economia popular, comunicação pública e organização institucional do Estado, e formas eficazes de mobilização da sociedade civil. E não apenas para fazer um happy hour no final, mas para falar de maneira clara e propositiva sobre os assuntos e ser divulgado massivamente pelos meios de comunicação possíveis.”, pode ficar assim:

      “Sr. Nassif, que é bom de organização, vive falando de conciliação, tem experiência e bom trânsito entre jornalistas, políticos e sociedade civil, e tem visão estratégica, poderia colocar tudo isso numa ação civil pública de comunicação, rs, porque acho que precisamos de muitos encontros temáticos e depois contextuais, gerais e setoriais para juntar pessoas, ideias, projetos em andamento ou em pensamento, sobre os problemas mais urgentes cujas áreas estão sob desmonte flagrante e deliberado (o DoJ é bom de destruir países, veja o Iraque e agora a Líbia, porque não é outro o projeto USeiro do Golpe ora gerenciado pela famiglia, a destruição do Brasil): segurança pública, saúde (o que foi feito do projeto da dra. Zilda Arns de combate à desnutrição infantil, com sua multi-mistura, por exemplo? agora que o Estado para os pobres acabou, temos que voltar logo a algum tipo de ação social emergencial como redução de danos; o que será das próximas gerações nas periferias, abandonadas enquanto a burguesia pode se dar o luxo de esperar o melhor momento para agir contra o fascismo? matar de fome é uma forma eficaz de genocídio dos indesejados, e me irrita que na blogosfera as tretas de twitter sejam mais importantes do que a miséria que cresce diariamente), educação, meio ambiente, economia popular – enquanto o país míngua, o povo precisa comer e sobreviver e aprender a lidar com o dinheiro e sua falta; lembro de iniciativas dos anos 1990 aqui e na Argentina, de economia solidária e novas formas de organização, de geração de emprego e renda, para driblar a economia especulativo-rentista -, formas e meios de comunicação e espaço(s) social(is) de opinião e debate (e os efeitos de sua mercantilização), organização institucional do Estado, e formas eficazes de mobilização da sociedade civil. E não apenas para fazer um happy hour no final, mas para falar de maneira clara e propositiva sobre os assuntos e ser divulgado massivamente pelos meios de comunicação possíveis.”

      E se não for pedir muito, rs, que seja possível editar comentários no blogue, uma das muitas coisas que trazem saudades do passado.

      Sampa/SP, 16/04/2019 – 21:30

  20. O vídeo da professora e pesquisadora Jaqueline Muniz na Globélica-acabo sobre a intervenção militar, um prenúncio do que sairia das urnas e do esgoto. Foi apenas há um ano e quem se lembra?

    Especialista em Segurança Pública Jaqueline Muniz fala sobre Intervenção Federal no Rio Globo News
    https://www.youtube.com/watch?v=v97Z3RKns7E

    Sampa/SP, 16/04/2019 – 17:26

  21. Tudo indica que o projeto é transformarem as PMs em milícias. Esse é o perigo real. E o Marreco de Maringá, além de não interferir ainda tenta colocar no papel essa possibilidade. Imaginem as PMs de todo o país patrulhando durante a semana e cobrando, na sexta, o resultado do patrulhamento. Vai ser igual comprar via net. Se não depositar a grana não atende o chamado. Isso não acontecerá nas periferias, ali poderá ser utilizado a caça. Estão testando no Rio de Janeiro essa prática. BO e laudo do IML poderão deixar de conter a verdade. E não adianta apelar para deputados, pois os eleitos estão aplaudindo já que estão fora do alcance dos tiros e das cobranças. Quando o Bozo fez arminha com as mãos mandou o recado: Me aguardem. Tá feia a coisa e vai piorar.

  22. Marcos A. Se quiser fazer um comentário sobre um texto é necessário que saiba ler e interpretar. O jornalista fala:” o irmão, Carlos….

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