Desaceleração da China não é um problema: é a solução

Jornal GGN – A economia chinesa ainda enfrenta pressões “relativamente grandes” e são necessários ajustes finos de política em momento oportuno. A frase não vem de um analista de mercado, mas sim, do premiê Li Keqiang, durante uma entrevista a uma rádio estatal nesta sexta-feira (23).

O pessimismo do líder chinês mostra-se justificado: os números do país, enquanto o mundo se encaminha para seus balanços semestrais, não são dos mais animadores. O crescimento econômico anual desacelerou para 7,4% no primeiro trimestre, o que é um balde de água fria na meta de 7,5% definida pelo governo. E para os chineses, uma casa decimal faria toda a diferença: seria a primeira vez, em quinze anos, que o país não conseguiria cumpri-la.
 
Alguns fatores são considerados como cruciais para explicar a questão da desaceleração econômica chinesa. O principal deles é a desvalorização imobiliária, de acordo com analistas. Mas não o único. Os números gerais alcançados nos últimos meses têm deixado o mercado tenso e os investidores, desconfiados.Entre eles, o investimento em ativo fixo, que cresceu apenas 17,3% nos primeiros quatro meses do ano em relação a 2013 – o ritmo mais fraco desde 2011. Há também um alerta em relação à produção industrial, com crescimento de 8,7% em relação ao ano anterior. Embora tenha apresentado melhora, também alarmou o mercado em abril – no mesmo período do ano passado, o avanço foi de 8,9%. Também ficaram abaixo das expectativas as vendas no varejo, que atingiram 11,9% no mês passado.

 
O índice de preços ao consumidor, por sua vez, avançou 1,8% em abril em relação a um ano antes – menor alta em 18 meses -, enquanto o índice de preços ao produtor caiu 2%, a 26ª queda seguida. A preocupação é tamanha em relação a esta “deflação industrial” que, há menos de uma semana, especulava-se sobre em que momento as autoridades afrouxariam sua política monetária ou adotariam novas medidas para deter a perda de ímpeto da segunda maior economia do mundo.
 
“Estamos vivendo uma ambivalência: uma bolha financeira e mobiliária. Excesso de endividamento do setor corporativo. E ao mesmo tempo, uma crença bastante generalizada na capacidade do governo de controlar os acontecimentos. Mas, na minha percepção, o governo já se prepara para um processo de desaceleração – pois, o extraordinário, de fato, é ela nunca ter acontecido”, conta o economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios e membro do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
 
“Não conheço nenhum precedente histórico entre países que apresentem, seja nas revoluções industriais, na reestruturação dos Estados Unidos ou mesmo na recuperação pós-guerra, mais do que 30 anos com taxas de crescimento extremamente elevadas. É inédito. O questionamento correto que devemos fazer é: como é que não desacelerou ainda?”, complementa.
 
Mas como justificar as medidas anunciadas em novembro de 2014, que pareciam convergir para uma manutenção do crescimento constante? “O governo, ao sinalizar que pode crescer somente 5% até 2017, já está dando a sua dica sobre o que pretende com elas. Sustentar o crescimento é importante para o bem estar da população. Por outro lado, você não precisa crescer a 7 ou 8% para todo o sempre para conseguir atingir este objetivo”, diz Frischtak, ressaltando que os 5% em 2017 “serão o que hoje representam os 7 a 10%, especialmente para uma economia do tamanho da chinesa”. 
 
Para Frischtak, o ritmo frenético dos números da China nos últimos 15 anos nem é saudável para as estruturas quase invisíveis do país, que precisam de cuidados. “Sempre existiu uma ambivalência interessante em relação à China. De um lado, você tem uma enorme capacidade do governo local de controlar certos eventos. De outro, os riscos hipotéticos, uma vez que alguns deles nunca ficam completamente claros para o resto do mundo por conta do regime fechado. Não se sabe se eles estão nas finanças, na poluição, no setor energético, no campo – são os problemas que se acumulam debaixo da superfície. No entanto, um ‘supercrescimento’ não pode ser favorável a nenhum destes itens, no longo prazo”.
 
Redação

8 Comentários

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  1. Há uma grande bolha no mundo,

    Há uma grande bolha no mundo, e não é a bolha financeira e o endividamento do setor corporativo.

    É a bolha da produção na sua relação com consumidores e poder de compra.

    O mundo tem produzido mais do que a sua população com poder de compra pode consumir.

    Isso é fruto da concentração de renda.

    Portanto, com neoliberalismo o mundo não sairá da crise.

     O mundo grita chega de crescer.

    Chegou a hora de repartir o bolo que fizeram crescer  como prometeram e não cumpriram.

    É o mundo cobrando a justiça e as promessas.

    1. Assis
       
      Voce tocou em um

      Assis

       

      Voce tocou em um ponto interressante. Se houver maior distribuição de renda, o consumo irá aumentar.E como dar condições de todos terem um nível de consumo elevado? Não estou contra a distribuição e não defendo concentração de renda, mas esta questão é dura e real. O Brasil promoveu melhorias de distribuição de renda de sua população, o consumo explodiu e agora temos inflação. Não sou economista e até tenho dificuldades de entender sobre economia mas pra mim tem uma equação que não fecha:

      Número de pessoas consumindo – Aumenta

      Oferta de produtos – Não aumenta proporcionalmente ao consumo

      Resultados =Aumento de  Importação e contas públicas deteriorando  ou inflação comendo o aumento de renda proporcionado artificialmente.

      Ou seja fomos enganados, tivemos melhorias que agora me parecem artificiais. A renda só pode ser aumentada se houver contra partida de aumento da produtividade/produção.

      SDS

      1. Carlos

        Você já imaginou que a inflação no Brasil pode ser irreal, manipulada?

        Não vejo faltar produtos e nossas fabricas operam com ociosidade acima da média.

        Nossa produção de alimentos é uma das maiores do mundo.

        O consumo aumentou ainda no governo Lula e a inflação se manteve dentro do estipulado pelo BC e muito abaixo dos nossos índices históricos.

        1. Assis
          Nao compactuo com sua

          Assis

          Nao compactuo com sua colocação. A inflação é real e só não está maior porque o governo está manipulando os preços administrados. Segurar estes preços artificialmente é insustentável no longo prazo. Portanto a inflação está muito maior que a real. Minha opiniã]o é clara…Sem aumento de produtividade e Produção o máximo que o Brasil conseguirá é dar com uma mão e tomar com a outra. As coisas artificiais não funcionam…. veja só o caso da energia, o governo deu com uma mão e o tesouro cobrir os rombos. Isto se chama populismo…. enganar o povo.

           

          SDS

  2. As vezes acho que as analises

    As vezes acho que as analises economicas dos chamados especialistas do mecado em muito se assemelham com o mabiente das redes sociais, sempre frases de efeio, coisas apelativas para o fim do mundo, ou mesmo para um novo eldorado; tudo com os nervos a flor da pele. Isso eh intrigante. Uma passagem me chamou a atencao, ” 5% em 2017 serao 7-10% de hoje”. Ou seja, por que esse temor? O Mercado eh movido a espectativas? Sim, mas parece que os investidores sao em sua maioria sensiveis a  qualquer propagacao de fim do mundo. Efin, pessoal estressado demais.

    1. Eles tem que ser estressados

      Se você (ou qq um) vai decidir entre comprar um TV de 32 ou de 40 polegadas, a expectativa não é tão importante, mas se vc vai investir 1 bilhão em vinte anos, então expectativa é tudo…

  3. Uma vez falei isso sobre nosso “pequeno crescimento”

     e me olharam estranho, cada 1% de hoje é mais que o de 5 anos atrás, isso porque é calculado com base no ano anterior, você fala isso mais mas não tem efeito diante da repetição dos bordões dos pessimistas, agora tenho esse Frischtak pra me dar razão.

       Na verdade, se você mantem o percentual de crescimento anual, o crescimento real se dá em progressão geométrica , ou seja, não só o PIB cresce como cresce cada vez mais, pode se dizer que em ritmo maior a cada ano apesar da manutenção do percentual. Isso pode ser válido até para um percentual ligeiramente  menor, ainda mais se você comparar o crescimento de anos já distantes mesmo que tenham uma taxa alta de crescimento.

       Dessa forma vemos que manter um mesmo percentual de crescimento eternamente não só é um delírio, como é desnecessário, é como querer acelerar um carro a uma velocidade infinita, mas não existe método seguro de ser prever até quando se sustentará os números num determinado patamar, como no caso da China, no Brasil a tendencia é aumentar a taxa de crescimento agora que se resolvem os problemas de infra-estrutura, lembrando que esse crescimento terá um impacto bem maior que o de anos atrás mesmo que  percentuais divulgados anualmente não deixem isso claro.

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