A volta da era do petróleo

Da Folha

RODOLFO LANDIM 

Mares de almirante 

Não há no mundo empresa com mais experiência que a Petrobras em exploração e em produção “offshore”

NA SEMANA passada, a exemplo de todas as primeiras semanas de maio, ocorreu a OTC (Offshore Technology Conference), maior evento mundial direcionado à atividade de exploração e produção marítima de petróleo. Nesse período, a cidade de Houston (Texas, EUA), reconhecida mundialmente como a capital da indústria do petróleo, fica sempre um pouco brasileira. Bem mais do que um encontro técnico, a ida à OTC também se tornou para a comunidade brasileira do petróleo um grande evento social e de “networking”. São tradicionais e imperdíveis algumas reuniões, como o famoso churrasco dos brasileiros no domingo que antecede o início do evento ou a recepção organizada pela Petrobras America, cujos convites são disputadíssimos. 

Em um ambiente cercado de grande informalidade e descontração, é possível abordar os altos executivos do setor e resolver, em poucas horas, problemas que demandariam várias semanas para serem solucionados no aguardo de espaço nas agendas sempre repletas de compromissos. 

Apesar de o congresso ter maior foco nos avanços tecnológicos da atividade “offshore” em todo o mundo, não faltaram trabalhos e debates sobre outros importantes temas ligados ao setor. Foram quatro dias de painéis, apresentações técnicas e visitas ao salão de exposições onde se encontravam os estandes dos principais fornecedores de bens e de serviços da indústria. 

São várias as conclusões que podem ser tiradas a partir dos trabalhos técnicos -e algumas delas apenas vêm reforçar o senso comum. O mundo continuará sendo, por várias décadas, altamente dependente de petróleo. Novas tecnologias têm propiciado o acesso cada vez maior da humanidade a recursos petrolíferos não convencionais, criando assim uma oferta adicional, mas que ainda não parece ser capaz de superar a enorme demanda prevista pelo contínuo crescimento do consumo mundial liderado pelos países emergentes. 

Esse é o caso do fantástico e relativamente recente aumento da produção de “shale gas” nos Estados Unidos, que permitiu enorme redução do preço do gás natural no país, que, tudo leva a crer, veio para ficar. 

São fatores que amenizam, mas não revertem o quadro global. 

Também geraram curiosidade os informes sobre projetos de geração de energia elétrica a partir do potencial geotérmico fruto do gradiente de temperatura existente entre a superfície aquecida pelo sol e o fundo dos mares. O potencial de geração é gigantesco, principalmente nas faixas entre os trópicos. 

Mas o maior interesse recaiu mesmo sobre os novos projetos “offshore” e, nesse particular, a grande estrela da OTC continua sendo, como há alguns anos, a Petrobras. 

As apresentações da companhia parecem fazer parte da classe “hors-concours”, sendo até mesmo algumas delas organizadas paralelamente ao evento, em locais próximos, como foram os casos das duas proferidas pelo seu presidente e pelo gerente-executivo do Cenpes. 

Os motivos são vários. Não existe companhia no mundo com mais experiência acumulada em exploração e em produção “offshore”. Mais de um quarto de toda a atividade marítima em águas profundas no mundo está sendo realizada pela Petrobras. Além disso, existem as excelentes perspectivas futuras do pré-sal, do qual a Petrobras será a única operadora das áreas ainda não licitadas e seu plano plurianual contempla níveis de investimento em atividades “offshore” muito maiores que seus concorrentes. 

E os valores ainda deverão ser reforçados para incluir os dispêndios com as áreas do pré-sal obtidas no ano passado através do processo de cessão onerosa ainda não contempladas na versão atual. 

Outra boa notícia é que os planos da Petrobras e demais companhias operadoras, somados às regras de conteúdo local, parecem ter definitivamente despertado o interesse das empresas supridoras de bens e serviços da indústria para se fixarem no Brasil, seja diretamente ou através de parceiros nacionais. A tal ponto que as três maiores empresas do ramo decidiram também instalar centros de pesquisas no país. 

Ao que tudo indica, mares de almirante nos esperam. 


RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna. 

Luis Nassif

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