CNBB diz que apoia protestos sem “violência e destruição”

Em nota, entidade afirma que apóia protestos, ‘desde que pacíficos’.
Para CNBB, repercussão poderá encolher Jornada Mundial da Juventude.

 
21/06/2013 14h38 – Atualizado em 21/06/2013 14h57 

Nathalia Passarinho

Do G1, em Brasília

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota nesta sexta-feira (21) na qual afirma que apoia as manifestações realizadas pelo país, mas destacou que “nada justifica a violência e a destruição do patrimônio público”.

Nesta quinta (20), protestos reuniram 1,25  milhão de pessoas em mais de 100 cidades, no maior dia de manifestações desde o início das passeatas. Na maior parte dos casos, os atos foram pacíficos, mas houve confrontos com a polícia em diversas cidades. Em Brasília, parte dos manifestantes ocupou rampas e invadiu o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.

“O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência”, diz nota da CNBB, lida pelo secretário-geral da confederação, Leonardo Urich Steiner, no encerramento de reunião do Conselho Permanente da entidade.

Para o presidente da entidade, cardeal Raymundo Damasceno Assis, as manifestações mostram que o país não está “adormecido”. “Nós precisamos ouvir esses sinais, os sinais dos tempos. A sociedade tem uma linguagem. Os manifestantes querem nos transmitir uma mensagem,  temos que identificar os valores que essas manifestações estão nos trazendo”, afirmou.

Leonardo Steiner destacou que a maioria dos jovens integrantes dos protestos critica a corrupção. “Nós vemos que a falta de uma pauta de reivindicação incomoda muita gente. Mas é importante que os jovens, a sociedade se manifeste. Estamos vendo manifestações muito fortes contra a corrupção, a PEC 37 [que reduz o poder de investigação do Ministério Público]”, afirmou.

Na nota lida por Steiner, a CNBB afirma também que as manifestações revelam que “não é mais possível viver num país com tanta desigualdade”. Para a confederação, as mobilizações são “testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com a participação de todos”.

Jornada Mundial
A CNBB admite que as mobilizações, sobretudo os atos violentos, poderão reduzir os participantes da Jornada Mundial da Juventude, evento católico que reunirá milhares de jovens de várias partes do mundo no Rio de Janeiro, em julho, com a presença do Papa Francisco.

“Evidentemente que a violência no nosso país afasta o turista, seja qual for o motivo da vinda. Sempre que vamos a um país queremos ser bem acolhidos, saber que há uma segurança e que não seremos perturbados por violência e grandes manifestações”, disse o cardeal Raymundo Damasceno Assis.

Ele afirmou, porém, que não haverá alteração de data e programação do evento católico. “Pode afastar, mas creio que não será uma grande motivação. Talvez não tenhamos um número tão grande de estrangeiros.”

O cardeal ressaltou que cabe ao estado brasileiro garantir a segurança da Jornada Mundial da Juventude, em julho. “Esperamos que a jornada se dê de maneira calma e tranquila, acolhendo os jovens que virão de todas as partes do Brasil e outros países, para que eles se sintam bem acolhidos e possam passar esses dias aqui sem nenhum transtornos. Que o Estado dê garantias a eles de tranquilidade em todos os sentidos, com todos os serviços, garantia de movimentação nas ruas.”

Dilma
O cardeal também disse acreditar que a presidente Dilma Rousseff fará algum pronunciamento público sobre as manifestações. Nesta quinta, Dilma se manteve em silêncio enquanto milhares de pessoas protestavam em todo o país. Ele e a presidente têm audiência marcada para a tarde desta quinta, no Palácio do Planalto.

“Imagino que ela deverá fazer um pronunciamento. Ela deverá é claro trazer uma palavra ao país, talvez um pronunciamento oficial, em rede nacional, talvez o Planalto resolva por esse caminho. Mas isso cabe a ele”, disse Raymundo Damasceno.

Leia abaixo a íntegra da nota da CNBB.

Ouvir o clamor que vem das ruas

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.

Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”

Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.

O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.

Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!

Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.

Brasília, 21 de junho de 2013

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

Luis Nassif

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