O caso dos taxistas assassinados no Rio Grande do Sul

Do Zero Hora

“Nunca havia visto nada parecido”, diz psiquiatra forense sobre assassinato de taxistas

Jovem que disse ter matado seis taxistas é descrito como educado, mas nem sempre tranquilo

Marcelo Gonzatto

O psiquiatra forense Rogério Cardoso, ex-diretor do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), afirma que o assassino confesso de taxistas parece se adequar a vários critérios que configuram um psicopata, como frieza e ausência de apreço pela vida dos outros — embora esse tipo de diagnóstico exija um exame pessoal para ser confirmado. 

Habituado ao relato de crimes brutais, o especialista garante que nunca testemunhou nada semelhante à onda de mortes que Luan Barcelos da Silva produziu no prazo exíguo de duas noites de horror. Confira, a seguir, trechos da entrevista concedida por telefone desde a Argentina, onde se encontrava em viagem:

Zero Hora — Pela maneira como ocorreram as mortes e o número de vítimas, pode-se dizer que se trata de um psicopata?

Rogério Cardoso — Como hipótese, é bem razoável, mas é necessário fazer uma avaliação pessoal para confirmar um diagnóstico. Deve preencher critérios como não ter sensibilidade ou pesar pela vida do outro, ter prazer em matar, e matar sem ponderação ou remorso. Não se pergunta se a vítima é pai, ou se vai deixar a mulher sozinha. Tem de ser muito frio e ter uma intenção muito prejudicial. Nesse caso, o rapaz poderia ter roubado e não ter matado. Esse caráter perverso pode configurar um psicopata.

ZH — Mesmo para um psicopata, é comum matar tantas pessoas em tão pouco tempo e em sequência?

Cardoso — Uma coisa que muitas dessas pessoas (psicopatas) dizem é que, até matar a primeira vítima, não sabiam que era tão fácil. Qualquer pessoa que mata outra acidentalmente fica arrasada. Mas, quando alguém mata e não fica (arrasado), acha que é fácil, encontra uma predisposição, uma facilidade, não tem um freio que a impeça de fazer isso de novo. Se tem uma motivação, que pode ser financeira, junta o desejo de lucro com essa facilidade para matar. A ausência de apreço pela vida alheia talvez explique, em tese, como uma pessoa mata seis vítimas em um prazo exíguo e, aparentemente, sem necessidade.

ZH — O senhor já havia visto algo parecido?

Cardoso — O que choca, nesse caso, é a sequência de mortes em uma espécie de ritual, em que ele matava um taxista, roubava, partia para outro e repetia tudo de novo. Esse roteiro, esse ritmo de mortes é algo inédito, eu nunca havia visto nada parecido. No Estado, tivemos recentemente o caso do Titica (Paulo Sérgio Guimarães da Silva), de Rio Grande, que matava casais e depois ficava assistindo ao trabalho da polícia. Mas era diferente desse de agora.

ZH — O fato de matar apenas taxistas se deve a uma questão prática, de facilidade, ou pode ter alguma motivação pessoal específica?

Cardoso — O taxista trabalha à noite, carregando valores, tudo isso é facilitador. É diferente de entrar na casa de alguém, que tem porta, grade. Torna esses trabalhadores muito vulneráveis. Pode ser por isso, pela facilidade de chegar às vítimas. Para saber se há alguma motivação pessoal, somente fazendo uma entrevista pessoal.

ZH — Segundo a polícia, havia DVDs de filmes violentos na casa do assassino confesso. Isso reforça a hipótese de que ele tinha uma patologia?

Cardoso — É difícil responder. Muitas pessoas gostam de violência. Tem gente que gosta de lutas violentas na TV. Infelizmente, o gosto pela violência é inato no ser humano. Por si só, não torna alguém psicopata ou homicida. Então, temos de relativizar isso, embora possa ter relação com alguém que gosta da violência para se divertir.

ZH — Se se tratar de um psicopata, é provável que ele tenha dado algum indício, em seu comportamento, do que estava por vir?

Cardoso — Geralmente, é uma coisa que vem crescendo. Começa com pequenos atos de delinquência que vão ficando cada vez mais violentos, ou a pessoa vai tirando mais vantagens dessa violência, usando-a para tirar vantagem econômica, sexual ou de prestígio.

VÍDEOS:

Imagens divulgadas pela polícia mostram suspeito entrando em táxi de Porto Alegre na noite em que motoristas foram mortos:

Luis Nassif

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