Brasilianas: os indicadores e a sustentabilidade

Do Brasilianas.org

Integração de dados favorece sustentabilidade

Por Bruno de Pierro

Um equívoco que o senso comum pode cometer é fazer crer que uma única vertente do desenvolvimento de um país pode configurar a salvação dos percalços das outras, desconsiderando o caráter sistêmico dos processos. No caso da dimensão da sustentabilidade, além do fator econômico, compõem-se melhorias na qualidade do meio ambiente e dos índices sociais, o que exige a sistematização de informações de campos variados do conhecimento.

Essa perspectiva facilita a compreensão do fato do país ter evoluído em indicadores de sustentabilidade, mas ainda apresentar significativos impactos ao meio ambiente e desigualdades socioeconômicas. A constatação está presente nos 55 Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2010 (IDS 2010), produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgados nesta quarta-feira, 1 de setembro.

AquaA quarta edição do IDS revela que apesar das melhorias de alguns indicadores ambientais, são grandes os esforços que ainda precisam ser feitos para a superação da destruição de ecossistemas e de perda da biodiversidade. Os indicadores foram divididos em quatro dimensões fundamentais – ambiental, social, econômico e institucional – e apresentam muitos avanços, bem como pontos que devem ser melhorados. 

Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado

Segundo o IBGE, os focos de calor, que indicam queimadas e incêndios florestais, tiveram redução de 63% entre 2007 e 2009. O Acre foi o estado que apresentou a maior redução durante este período, 93%, seguido por Roraima (-85,4%) e Rondônia (-84,2%). Os estados que apresentaram no período aumentos significativos nos focos de calor foram Sergipe (121,3%), Paraíba (56,6%) e Alagoas (41%).

Em relação ao desflorestamento, houve diminuição, apesar de atingir 14,6% na Amazônia Legal. Mais grave, porém, é a situação da Mata Atlântica, da qual restam menos de 10%. Levantamento feito pela ONG SOS Mata Atlântica mostra que, entre 2005 e 2008, foram desflorestados 1.028 km² da mata, que agora conta apenas com 133.010 km² de área remanescente.

Com um percentual de desmatamento maior que o da floresta Amazônica, o cerrado – segundo maior bioma do país – teve sua cobertura vegetal reduzida à metade. De acordo com dados do Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (CSR/Ibama), a área diminuiu de 2.038.953 km² para 1.052.708 km² em seis anos.

Desigualdade social reduz pouco

Entre os indicadores da dimensão social do IDS 2010, destaca-se a conservação das desigualdades sociais, regionais e interestaduais, apesar dos avanços. Em 2008, por exemplo, 57% dos domicílios eram considerados adequados para moradia, ou seja, tinham simultaneamente abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e até dois moradores por dormitório. Nesse sentido, cerca de 25 milhões de domicílios ainda não atendiam a esses critérios.

O IDS deste ano também revela diminuição da população, por conta da fecundidade abaixo do nível de reposição e da queda da mortalidade. De acordo com o indicador, a taxa média de crescimento anual da população brasileira diminuiu 43,3% nas últimas décadas, caindo de 2,89% (entre 1950 e 1960) para 1,64% (entre 1991 e 2000). A partir de 2006, a taxa de fecundidade total (número médio de filhos vivos que uma mulher teria ao fim do seu período reprodutivo) passou a apresentar valores abaixo do nível de reposição da população: dois filhos por mulher. Em 2008, as taxas eram mais elevadas que a média brasileira (1,89) no Norte (2,37) e Nordeste (2,12), e menores no Sudeste (1,63), Sul (1,88) e Centro-Oeste (1,91).

Energia e reciclagem

No âmbito econômico, o IBGE indica bom desempenho macroeconômico e estabilidade nos padrões de produção e consumo. Uma informação relevante diz respeito ao consumo de energia per capita, que, em 2009, atingiu 48,3 gigajoules, o que indica considerável grau de desenvolvimento. Entretanto, a intensidade energética (que mede a eficiência no uso de energia) está estável desde 2005.

Outro indicador que conecta a questão da sustentabilidade com o campo econômico mostra que mais de 90% das latas de alumínio no Brasil são recicladas. Para o restante dos materiais os índices de reciclagem variam em torno de 45% e 55%, todos com tendência crescente ou estável.

Telefonia e Internet

Por fim, os indicadores da dimensão institucional demonstraram que os avanços se concentram no acesso à telefonia e internet. Em 1994, enquanto a telefonia fixa alcançava 86 usuários para cada mil habitantes, a telefonia celular só tinha cinco acessos; dez anos depois, a densidade de acessos a esse serviço entre mil habitantes alcançava 366 usuários, contra 279 da linha fixa, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Em 2008, a diferença era de 306 acessos à telefonia fixa contra 794 do serviço móvel para cada mil habitantes, o que corresponde a um aumento de 259% em quatro anos. Nesse mesmo ano, o país contava com mais de 150 milhões de acessos móveis.

Observa-se ainda que houve um crescimento contínuo do número de domicílios com acesso à Internet. Em 2001, eram 8,6% e, em 2008, 23,8%. Naquele ano, havia 13,7 milhões de domicílios particulares permanentes com acesso à rede por meio de computador. Para o IBGE, os números refletem a desigualdade regional: enquanto o Sudeste tinha 31,5% de domicílios conectados, a região Norte contava com 10,6%.

O IDS 2010 traz dados estatísticos do levantamento feito pelo IBGE de tal forma que é possível conectar as quatro dimensões (ambiental, social, econômico e institucional) responsáveis pelo chamado desenvolvimento sustentável. 

Para acessar o IDS 2010, clique aqui

Luis Nassif

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