Lula discursa em Joanesburgo sobre papel do Brics nas relações multilaterais

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Sobre expansão, Lula se deteve a dizer que interesse de outras nações em integrar o bloco é retrato da consolidação do Brics

23.08.2023 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão plenária ampliada da XV Cúpula do BRICS. Sandton Convention Centre, Joanesburgo - África do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR
23.08.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante sessão plenária ampliada da XV Cúpula do BRICS. Sandton Convention Centre, Joanesburgo – África do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou nesta quarta-feira (23) na cúpula ampliada do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, defendendo uma solução de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia para fortalecer a abordagem das novas relações multilaterais do bloco perante o mundo. 

Nas contas de Lula, estão os seguintes números: o Brics representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 18% do comércio internacional. O Brics pode ter uma moeda única para o seu comércio fazendo frente ao dólar. 

No discurso de Lula, o Brics é forte o suficiente para tratar das falhas das instituições globais evidenciadas não só pela guerra na Ucrânia, mas por invasões contra vários países ao longo das últimas décadas, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

“A guerra na Ucrânia evidencia as limitações do Conselho de Segurança. Os países do Brics devem atuar como força pelo entendimento e pela cooperação. Nossa disposição está expressa nas contribuições da China, da África do Sul e de meu próprio país para os esforços de solução do conflito na Ucrânia. Muitos outros conflitos e crises não recebem atenção devida mesmo causando vasto sofrimento para as suas populações. Haitianos, iemenitas, sírios, líbios, sudaneses e palestinos, todos merecem viver em paz”, ressaltou.

Sobre a expansão do Brics, Lula se deteve a dizer que o grande interesse de outras nações em integrar o bloco é retrato da consolidação do Brics no cenário internacional.

Desigualdade a combater 

O foco em conflitos militares, segundo Lula, é um dos fatores que resulta na ampliação da desigualdade no mundo. Para ele, é inaceitável que gastos militares globais em um único ano ultrapassem 2 trilhões de dólares, enquanto a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) indica que 735 milhões de pessoas passam fome todos os dias no mundo.

Para o presidente, a questão se reflete também em outras agendas, como as do desenvolvimento sustentável, do financiamento aos países em desenvolvimento e o enfrentamento das mudanças climáticas.

“Vemos o maior aumento da desigualdade entre os países em três décadas. Em 30% das metas da Agenda 2030, estagnamos ou andamos para trás. É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, a pobreza e outras violências”, completou Lula.

Banco do Brics

Nas questões ambientais, fechando a tríade temática nas intervenções de Lula pelo mundo – multilateralismo, combate à desigualdade e fome e o meio ambiente -, Lula enfatizou que o desenvolvimento sustentável e a descarbonização das economias são meios para combater as mudanças climáticas. 

Lula disse entender que essa trilha deve levar em consideração o bem-estar das populações, com empregos dignos. E cobrou dos países ricos o cumprimento de promessas de investimento e financiamento.

“Precisamos de um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda a implementarem mudanças estruturais”, afirmou.

Para o presidente, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do Brics é uma das peças fundamentais para oferecer alternativas de financiamento adequadas às necessidades do Sul Global. 

Voltou a citar a possibilidade de criação de uma moeda específica para transações comerciais e de investimento entre membros do bloco. “Aumenta nossas opções de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades”, disse. 

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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