A política da despolitização, por Alfeu

A política da despolitização, por Alfeu

O cenário visto nas imagens aéreas da Cinelândia, onde uma multidão ocupou esse espaço manifestando com dor e revolta a morte de Marielle, fez com que muitos relacionassem com a do estudante Edson Luís ocorrida em 1968. Nos momentos seguintes, a execução da vereadora do PSOL começa a ter contornos sinistros na narrativa, saídas das empresas de mídia e também através canais da web ligadas a direita golpista; e aí a relação dos fatos tragicos se volta ao Chico Mendes.

A execução do líder seringueiro não teve a repercussão imediata pois a mídia, na sua concepção e no seu interesse político e economico, tinha como prioridade a sua programação. Eram tempos sombrios sem a internet. A verdade é que Chico Mendes era sim um sindicalista, que defendia a Reforma Agrária, com uma intensa atividade política nas matas de Xapurí-AC; mas que ao ser apresentado, já morto, para o grande público que o desconhecia veio com uma imagem pasteurizada e despolitizada de ser apenas um ambientalista. Não se informou que a defesa das matas com que Chico Mendes e seus companheiros lutavam era porque há uma óbvia relação com a atividade extrativista dos seringueiros e o ambiente, o seu local de trabalho, que a duras penas se fazia sob a sombra dos coronéis-fazendeiros da região.

A tentativa de despolitização que se ensaia contra a memória de Marielle, não só com o seu assassinato como também em relação às suas ações em comunidades, movimentos sociais e etc, tem por objetivo de mascarar a sua postura viceralmente contrária à intervenção militar ocorrida nas comunidades carentes, reduto da vereadora, a fim de chancelar essa mesma intervenção apoiada pela mídia-empresa junto com a direita golpista que lançam mão mais uma vez da má-fé com a tentativa de desconstrução de um ser político.

É preciso enfrentar o endurecimento do golpe, que tem se acentuado com o assassinato de lideranças políticas no interior do país e que chega a uma grande cidade na execução da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro submetido à intervenção militar. O enfrentamento deve ser sistematicamente feito contra essa narrativa incubada no submundo da direita golpista atraves da web e principalmente ocupando as ruas manifestando contra o golpe.

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