Cada macaco no seu galho, por Heraldo Campos

Resíduos urbanos e restos de vegetação, arrancada pelas fortes chuvas, acabam indo para no mar e, posteriormente, são depositados nas praias.

Galheira e resíduos urbanos depositados na Praia do Iperoig, próximo da desembocadura do Rio Grande em Ubatuba, Litoral Norte do Estado de São Paulo. Data: 10/03/2024. Autor: Heraldo Campos.

Cada macaco no seu galho

por Heraldo Campos

Digamos que não é de hoje que os rios vêm sendo violentados e os mares e as praias acabam levando um roldão. “Recolher a tranqueira de resíduos em uma curva de rio (limpeza), escolhendo seu destino correto como, por exemplo, a reciclagem para o material que ainda permitir um processamento, pode ser um caminho, mas, enquanto as fontes industriais não mudarem radicalmente o tipo de “envelope” dos seus produtos lançados no mercado, os impactos aos corpos d’água continuarão existindo por causa do comportamento inadequado do poder público e de parte da população.” [1]

Enquanto isso não acontece, resíduos urbanos e restos de vegetação, arrancada pelas fortes chuvas de verão, dessa estação que está terminando e marcando esse ano extremamente chuvoso de 2024, acabam indo para no mar e, posteriormente, depositadas nas praias.

As mudanças climáticas estão aí e a coisa está ficando feia. “(…) Observa-se com certa frequência, restos de folhas e de galhos de árvores associado aolixo urbano variado, composto de pneus, calotas de automóveis, garrafas pet, latas de cerveja, sacos plásticos, entre outros materiais, que podem ter sido muito bem lançados diretamente na praia pelas pessoas ou nas suas proximidades, ou jogados no Rio Grande, por exemplo, localizado na parte central da cidade de Ubatuba, e terminando com a “devolução” pelo próprio mar, para formar um cordão de resíduos, no decorrer das suas variações de níveis de marés.

Com as chuvas intensas de verão, o volume desse tipo de material tende a aumentar provocando o entulhamento das calhas dos rios sejam eles de pequeno porte ou de grande porte, aumentando, sensivelmente, o risco para as inundações e os alagamentos urbanos. Vários bairros de munícipios do Litoral Norte do Estado de São Paulo sofrem com esse tipo de transtorno há décadas. A impermeabilização do solo pelo asfalto viário, o avanço de condomínios residenciais em áreas da orla marítima que não deveriam ser ocupadas, a ausência de sistema de drenagem urbana compatível com o volume de água de chuvas excepcionais, são alguns dos fatores que colaboram com esse tipo de situação, fazendo com que muitas praias acabem indo para o beleléu.” [2]

“Mas como atenuar esse grave problema dos resíduos urbanos impactando os rios e os corpos d´água? Há cerca de um ano, pelo menos nas praias do centro e nas mais urbanizadas de Ubatuba, a prefeitura andou espalhando algumas caçambas para receber lixo orgânico e o material reciclável. A intenção funciona mais ou menos, porque as pessoas, muitas vezes, jogam seus resíduos urbanos (quando não diretamente nos rios e no mar) em qualquer caçamba, misturando tudo e dificultando a separação posterior do popularmente chamado lixo.” [3]

Por outro lado, se essa medida não está funcionando a contento, segundo informações locais, após a retirada da galheira na praia esse material é transportado e pois limpo dos resíduos urbanos misturados (plásticos, metais, vidros, etc.). Num passo seguinte, é depositado em área apropriada para dar uma “descansada”, num processo de compostagem, para servir de adubo natural em terrenos adequados para o plantio de árvores frutíferas e de hortaliças. Como esse material, com galhos e troncos de árvores ficou boiando por um tempo na água salgada do mar, antes de ser depositado na praia, talvez necessite de alguma correção para o sal impregnado. Assim, se esse manejo adequado do material orgânico estiver acontecendo de fato, é um bom caminho.

Para concluir, o provérbio popular “cada macaco no seu galho” parece bastante apropriado nesse caso. Os resíduos urbanos devem ter seu destino adequado, passando pela reciclagem de materiais e, quando possível, o material orgânico sendo aproveitado como adubo natural na agricultura.

Espera mil anos e verás que será precioso até o lixo deixado atrás por uma civilização extinta.” (Isaac Asimov).

Fontes

[1] “Tranqueira” artigo de 17/02/2021 – https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2021/02/tranqueira.html?view=magazine

[2] “Praias indo pro beleléu” artigo de 31/01/2024 – https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2024/01/praias-indo-pro-beleleu.html?view=magazine

[3] “Cidades dormitório de lixo” artigo de 05/02/2024 – https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2024/02/cidades-dormitorios-de-lixo-heraldo.html?view=magazine

Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

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