É preciso ouvir Taynara, por Gilson Caroni Fº

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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É preciso ouvir Taynara

por Gilson Caroni Fº

Um dos piores males da formação brasileira autoritária é o nosso vezo de ter sempre certeza de tudo. Certezas absolutas não são coisas deste mundo, no qual tudo é relativo, empírico, sujeito à demonstração. O bom senso tenderá, sempre, para São Tomé: é preciso ver, tocar e sentir. E, portanto, na incerteza dos que não formam opinião a partir de manchetes de jornais e revistas, dispor-se a ouvir, juntar cabeças e refletir.

O que temos hoje é uma oligarquia congressual, blindada pela mídia hegemônica e por juízes que ignoram os princípios fundamentais da processualística moderna, preparando a derrubada de um governo legitimamente eleito. Trabalhada por gênios de novela, esta é uma história que ensopará lenços. Grandes arrependimentos não tardarão e serão tão comoventes, tanto mais se forem grandes os arrependidos.

Não se trata de negar que estamos vivendo uma crise econômica. A submissão institucional dos Estados aos ditames do mercado é uma característica do capitalismo contemporâneo. É preciso pensar a ação política a partir de conceitos atuais. Não há reprovações morais a fazer, este é o modo de funcionamento do capital financeiro em uma economia destroçada por ele. Resistir é preciso e para tanto a luta de classes passa pela política econômica que, passando por cima de conciliações e transações por alto, temos que adotar.

As gerações se sucedem e a ladainha ideológica da direita permanece congelada nos anos 1950. Dos conservadores, porque só têm uma corda em seu violino e o arco está sempre na mesma posição ouviremos que só há uma saída: cortar o déficit, suprimir direitos sociais e trabalhistas, entregar a soberania ao mercado e aniquilar a política. A imoralidade e o cinismo desta narrativa estão em buscar na democracia e em suas instituições a razão dos problemas. À esquerda cabe reafirmar que só o aprofundamento democrático, o diálogo permanente com movimentos sociais e atores que ainda não cederam à tentação da ruptura institucional, pode evitar o retrocesso que se avizinha.

Observemos o ato contra o golpe, realizado em diversas capitais, e comparemos com as manifestações golpistas. Que diferença! Não nos referimos ao quantitativo, mas ao qualitativo. No dia 31 de março, quem estava nas ruas sabia o que queria: defesa da democracia; luta contra o ajuste fiscal que penaliza os mais pobres e combate a toda e qualquer forma de intolerância. Foi lindo ver representantes de vários partidos, centrais sindicais e do MST. Comovente a volta do movimento estudantil aos atos políticos e a participação de coletivos de negros e do movimento LGBT. Todos expressando suas demandas no lindo mosaico das avenidas. Bem diferente de manifestações em que os participantes gritam “abaixo a corrupção” (quem é a favor?) “ meu partido é minha pátria”, ” abaixo o comunismo bolivariano” ou ” vai pra Cuba”. A indigência não é gratuita. O ódio não produz palavras de ordem sensatas. Talvez sequer palavras sejam produzidas.

Se costurar acordos é necessário, a prioridade do governo deve ser ouvir os que saem às ruas em sua defesa. Para ilustrar reproduzimos o depoimento da estudante de Jornalismo, Taynara Cardoso, das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), após ter ouvido uma palestra proferida pelo professor e militar legalista, Ivan Proença, símbolo de resistência à ditadura militar:

“Hoje tive o prazer de começar o dia assistindo a uma palestra na FACHA Méier sobre o golpe de 1964, traçando um paralelo com o golpe político atual, e de ouvir pessoas como o grande Proença falarem sobre a realidade da ditadura e dos direitos constitucionais que ela cerceou, além das dificuldades de viver em um país em que os nossos direitos como cidadão não são respeitados. Tive o prazer também de encerrar minha noite dizendo NÃO a um novo golpe. Um golpe que não vem armado ou com tanques, mas que também fere os meus, os nossos direitos. Não luto por mim, nem por partidos. Luto pela DEMOCRACIA!”

Que sua fala seja ouvida. Nela não há descrença ou desespero.

* Debate promovido pelo DCE Vladimir Herzog-Facha-RJ

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Prezado Gilson Boa

    Prezado Gilson

    Boa tarde

    Então temos que desligar o PIG !!!

    Apesar deles não possuirem registro no TSE, a impressão que se passa é que eles assumirão o poder !!!

    Abração

    1. “(…)a impressão que se

      “(…)a impressão que se passa é que eles assumirão o poder”

      Em parte já assumiram.

      E é aqui onde entra o pior dos mundos: em 1964, um grupamento, coeso, disciplinado e forte tinha um norte claro, preciso; em que pese cheio de poréns. A turma de hoje tem só um interesse: tirar o PT pra saquear à vontade enquanto a casa está desarrumada. Ocorre que, com a falta da força coesa e de norte abrangente, a baderna se instalará de forma quase irreversível, retroagindo o país a antes de 1930. 

      O projeto do PIG, em conluio com a banca, é assaltar o país; e o projeto de seus seguidores… não há. E o ladrão, sempre que pratica o roubo leva seu pêmio para outras plagas.

  2. “ Bem diferente de

    “ Bem diferente de manifestações em que os participantes gritam “abaixo a corrupção” (quem é a favor?).”

    Texto muito bom, mas uma observação: Os hipócritas que estão fingindo combater a corrupção, são totalmente à favor dessa mesma CORRUPÇÃO, identificados aqui principalmente pelos 26 hipócritas corruptos da lista, que querem derrubar um governo legitimamente eleito em conluio com o judiciário.

    De propósito, omiti os dez, que são a favor do governo, que entraram no esquema principalmente por acreditarem que sempre foi assim e se quisessem ganhar eleição, tinham que fazer parte do esquema, ( se até “ministro do Supremo” segurou processo, pois queria impor a doação de empresas para campanhas eleitorais, e continuar no atacado a roubalheira)

    Ou encontra-se uma maneira de mudar tudo, e aí entra a resistência referida pelo texto, ou pelo menos vamos evitar o PIOR: OS CORRUPTOS DO GOLPE, ENCABEÇADOS POR, aécio corruptos.

    Lista da Odebrecht tem 26 congressistas pró-impeachment e 10 contra 

    http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/lista-da-odebrecht-tem-25-congressistas-pro-impeachment-e-9-contra/ 

    A lista de supostas doações ilegais da Odebrecht é ecumênica. Há gente de 18 partidos e, em relação ao possível impeachment de Dilma, também é dividida. No total, 41 parlamentares são citados na lista. Desses, 26 são favoráveis ao impeachment, cinco estariam indecisos e dez são contrários.

    A relação se baseia em uma comparação entre os documentos revelados pelo blog de Fernando Rodrigues e o Mapa do Impeachment, divulgado pelo movimento Vem Pra Rua. Entram na lista tanto deputados federais quanto senadores, igualmente.

    Leia mais:

    Moro decreta sigilo de lista da Odebrecht

    Richa aparece em lista

    Ratinho têm nome em lista de empreiteira

    Além dos parlamentares citados diretamente, há alguns outros implicados diretamente. Parentes de congressistas, por exemplo, são citados. Caso de Arthur Virgílio, Jarbas Vasconcellos, Leonardo Picciani e Ronaldo Caiado. Também há doações que, segundo a lista, que teriam sido feitas por indicação de Mendes Thames, do PSDB.

    Veja a seguir a lista:

    A favor ( quem não conhece os podres, desses à seguir? – nota minha)

    Aécio Neves (PSDB-MG) 

    Afonso Hamm (PP-RS)

    Ana Amélia (PP-RS) ( indicou Paulo Roberto Costa para cargo de confiança na Petrobras, indicação endossada por fhc, o resto foi consequência – nota minha)

    Beto Mansur (PRB-SP)

    Bruno Araújo ((PSDB-PE)

    Celso Russomano (PRB-SP)

    Daniel Coelho (PSDB-PE)

    Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

    Heráclito Fortes (PSB-PI)

    José Agripino (DEM-RN)

    José Carlos Aleluia (DEM-BA)

    José Otávio Germano (PP-RS)

    José Serra (PSDB-SP)

    Julio Lopes (PP-RJ)

    Luciano Ducci (PSB-PR)

    Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)

    Mandetta (DEM-MS)

    Mendonça Filho (DEM-PE)

    Nelson Marquezan (PSDB-RS)

    Otávio Leite (PSDB-RJ)

    Paulinho da Força (SD-SP)

    Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)

    Raul Jungmann (PPS-PE)

    Roberto Freire (PPS-PE)

    Rodrigo Maia (DEM-RJ)

    Rogério Marinho (PSDB/RN)

    Indecisos ( o jucá citado abaixo, também já se decidiu contra o governo, a barganha corrupta com certeza foi grande – nota minha)

    Clarissa Garotinho (PR-RJ)

    Garibaldi Alves (PMDB-RN)

    Luiz Fernando Faria (PP-MG)

    Romero Jucá (PMDB-RR) 

    Silas Brasileiro (PMDB-MG)

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