Estudo revela: estamos mais preconceituosos na internet

Jornal GGN – De acordo com um relatório da ONG SaferNet, o preconceito na rede atingiu níveis alarmantes em 2014. Foram relatados mais de 86 mil casos de racismo (envolvendo negros ou outras etnias), em mais de 17 mil websites. O aumento na comparação com 2013 foi de 34,15%.

Além disso, a xenofobia aos cidadãos nordestinos cresceu 365,46%. Ainda assim, o número absoluto ainda é menor: 9.921 casos, em 6.275 endereços. “No dia após as eleições, processamos 10.376 casos de preconceito de origem, a maioria contra pessoas do Norte e do Nordeste”, disse Thiago Tavares, presidente da SaferNet.

No total, o número de páginas denunciadas chegou a 58.717, 8,29% a mais do que em 2013. Mais de sete mil foram retiradas do ar devido aos conteúdos impróprios.

Relatório detalha em números explosão de preconceito na internet em 2014

Por Sérgio Matsuura

Do O Globo

Discriminação contra nordestinos, racismo e pornografia da vingança tiveram crescimento substancial, segundo Safernet

A Miss Ceará, Melissa Gurgel, que foi alvo de declarações preconceituosas por ser nordestina em 2014 – Divulgação

RIO — Se a internet é um espelho da sociedade, está difícil encarar nossa própria imagem de frente. O número de denúncias de racismo e preconceito de origem — sobretudo contra nordestinos e nortistas — disparou no ano passado, segundo relatório da ONG SaferNet divulgado nesta terça-feira, Dia da Internet Segura. Mais de 86,5 mil casos de ódio a negros e outras etnias foram relatados em 17.291 sites, aumento de 34,15% em relação a 2013. Mas foi o cômputo de menções ofensivas a pessoas do Nordeste que viveu uma explosão: 365,46% de crescimento, com 9.921 casos em 6.275 endereços. As páginas denunciadas por todos os tipos de crime somaram 58,717, ou 8,29% mais do que no ano anterior. Delas, algo mais que 7 mil foi retirado do ar.

As eleições presidenciais e a Copa do Mundo tiveram forte influência nos números, segundo a ONG. O pleito presidencial, do qual saiu vencedora Dilma Rousseff, com expressiva votação Nordeste, teve recorde de preconceito de origem. Já o Mundial de futebol se destacou pelo total de denúncias de tráfico de pessoas, outro dos crimes monitorados. Em 2014, 1.821 sites foram associados à questão, crescimento de 192,93% em relação a 2013.

— No dia após as eleições, processamos 10.376 casos de preconceito de origem, a maioria contra pessoas do Norte e do Nordeste — afirma Thiago Tavares, presidente da SaferNet. — Antes, durante a Copa do Mundo, registramos muitos casos de páginas de aliciamento de mulheres, inclusive adolescentes, para a prostituição nas cidades que sediaram o evento.

Para além dos picos relacionados ao evento, o que a explosão no número de denúncias evidencia é o preconceito social e racial profundamente arraigado entre os brasileiros, avaliam especialistas no problema.

— O fenômeno das redes sociais jogou luz sobre um comportamento que sempre existiu no Brasil — analisa Diana Calazans Mann, chefe da unidade de Repressão aos Crimes de Ódio e Pornografia Infantil da Polícia Federal. — Nossa cultura é de violência, de discriminação. Antes da internet era mais fácil ocultar o racismo, mas a rede ecoa essa faceta da nossa sociedade. Os internautas precisam entender que a liberdade de expressão tem limites, e um deles é a lei que define os crimes de preconceito.

ATAQUES À MISS CEARENSE

O preconceito contra nordestinos não se restringiu à corrida eleitoral. Fato marcante no ano que passou foi a enxurrada de ataques à Miss Brasil, Melissa Gurgel, natural do Ceará. Após sua vitória, internautas encheram as redes sociais com mensagens discriminatórias. “Miss Ceará é bonita até abrir a boca e vir aquele sotaquezinho sofrível”, escreveu usuário do Twitter, um entre milhares que a ofenderam na época.

O cenário preocupante leva a SaferNet e a Polícia Federal a bolar estratégias para monitorar a rede. Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, haverá uma coordenação especial para coibir crimes cibernéticos, sobretudo associados a tráfico de pessoas e xenofobia.

— O fenômeno é extremamente negativo, mas o fato de as denúncias terem aumentado mostra que o cidadão está atento — diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet. — No caso do tráfico de pessoas, o problema é que existem aliciadores que enganam as vítimas, ocultando a prostituição.

A pornografia infantil continua liderando, pelo nono ano consecutivo, o ranking por número de páginas denunciadas. Em 2014, foram 51.553 comunicações de crime, em 22.789 endereços na internet, dos quais 3.283 foram removidos. Apesar disso, o resultado é comemorado, pois houve uma queda de 8,82% em relação ao ano anterior.

CASOS DE ‘SEXTING’ DOBRAM

Por outro lado, entre os 1.225 pedidos de orientação psicológica que chegaram à SaferNet, 222 eram relacionados ao vazamento de fotos íntimas. O aumento desse tipo de ocorrência foi de 119,8%. As vítimas do chamado sexting são, em sua maioria, do sexo feminino (81%) e com até 25 anos (53%), sendo que um em cada quatro casos envolveu menores. Os casos de cyberbullying foram 177, a maioria com pedidos de ajuda para lidar com situações de humilhações repetitivas pelas redes sociais.

No ano passado, os aplicativos de troca de mensagens anônimas, como o Secret, viraram febre no país. Após inúmeros casos de bullying e vazamento de fotos íntimas de menores, eles chegaram a ser proibidos pela Justiça.

Aliás, o aumento no volume de denúncias foi acompanhado pelo incremento nas ações de repressão pelo governo. Diana explica que a principal mudança foi a unificação das unidades de crimes contra os direitos humanos e de crimes cibernéticos, que trouxe ferramentas mais sofisticadas para as investigações.

Dessa forma, a Polícia Federal lançou no ano passado, pela primeira vez, uma operação contra a pedofilia na chamada web profunda, que resultou na prisão de 54 pessoas.

Hoje, a PF tem cerca de 2.780 inquéritos abertos relacionados aos crimes cibernéticos. O objetivo, explica Diana, é que os internautas comecem a perceber que há punição em tais situações. O aparente anonimato não existe, nem mesmo na web profunda. Ano passado, 126 pessoas foram presas em flagrante, contra apenas 47 em 2012.

— O nosso foco é o uso de ferramentas de inteligência. Os criminosos se sofisticam, mas nós também. Estamos conseguindo pegar o criminoso no momento em que o delito é cometido, o que facilita a fase processual para a condenação — diz Diana.

Redação

10 Comentários

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  1. Ignorantes e teleguiados

    Tudo isso em nome da “consciência política” e da “participação”…

    Taí o resultado da onda conservadora que tem na desinformação proposital por parte dos veículos de imprensa sua causa maior.

    Não, não foi o fim da maluquice da paridade real dólar que segurava a inflação permitindo mais restaurante, viagem e vinho e manteiga importada nem o aumento dos serviços pessoais que fizeram a tal “classe média tradicional” se sentir “liberada” para fazer um papel cada vez mais ridículo e boçal. Não foram somente “as condições materiais de existência”, não: foi a propaganda; a propaganda contra as políiticas sociais  e contra a ampliação de direitos de minorias envolta na disputa pelo poder conquistado, conquistado legitimamente nas urnas por um governo trabalhista que fez essa turma achar que o ódio é chique. Afinal, nos cursos de MBA, nos livros de auto ajuda e em todos meios de comunicação social grosseria e falta de educação pessoal e intelectual viraram sinônimo de “valentia” e determinação.

    Acreditam que o dinheiro dos impóóóstos não retorna em serviços por causa de um governo corrupto que “compra” votos com demagogia… Acreditam que trabalham para “sustentar” vagabundos e “degenerados”

    Sim, pra eles pobreza não é falta de dinheiro, não: é degeneração.

    Os imbecis ignoram que dos impóóóstos deles metade vai para o setor financeiro, depreciando por décadas os serviços públicos; obrigando-os, inclusive, a pagar dobrado por saúde e educação.

    Otários. Pura massa de manobra golpista.

  2. Três coisas nas quais os direitistas adoram acreditar…

    1) Não existe racismo no Brasil, pois somos uma pátria miscigenada. Pode até existir, em alguns casos, preconceito social, mas não racial;

    2) Não existe homofobia no Brasil, os gays são vítimas da violência “geral” a que todos estamos expostos. O problema é que existe uma ditadura gay no país!

    3) Não existe discriminação contra a mulher no Brasil, o problema são essas “feminazis” que se ofendem com qualquer coisa.

     

    1. Eu penso que exuste as 3

      Eu penso que exuste as 3 situações citadas por vc.

       Podemos até ameniza´las, mas eliminar jamais.

        Veja bem: O gordo,o estrábico,o taciturno, o anti esporte e milhares de etc tbm sofrem preconceitos.

             Como sofre o escritor não reconhecido, o ator, o pintor , o artista em geral. Ou pensa que sofre preconceito.

                 Eu desafio qualquer pessoa que não tenha uma unha de preconceito.Ou atua como tal .Ou se acha perseguido por preconceituosos.

                     Porque o dia que nada disso existir, estaremos em outra dimensão, ou dimensão alguma, mas não naTerra.

                           O preconceito é tão natural como  o nascer do sol.

                              A diferença está , até aonde vc se invoca com isso ou tira de letra.

                            Mesmo que vc tire de letra( louvado seja) , sempre estará enrustido dentro de vc,

                                   Normal.Vc é humano.

  3. Não somos mais

    Não somos mais preconceituosos na internet.

      Acontece que a internet é uma terra sem lei, aonde cada um  se expressa a vontade,

            Nós fomos, somos e seremos preconceituosos até o final dos tempos.

             Mas um dado é fundamental pra enteder isso:

                Todo preconceituoso sofre alguma espécie de preconceito.

                       Por isso que o preconceito não acabará nunca.

  4. Comparo a esse fenômeno a uma

    Comparo a esse fenômeno a uma suposta situação em que de repente nós poderíamos, sem nenhuma interdição de ordem ética ou consequência prática, dizermos, vituperarmos TUDO o que pensamos sobre certas situações e principalmente acerca dos nossos semelhantes. 

    Imaginemos, então, o que ocorreria: viveríamos em conflitos constantes, e por consequência, jamais o processo dito civilizatório teria sido deslanchado exatamente por que este só emerge a partir do momento que refreamos nossos instintos ou mesmo nossa VONTADE de ferir, humilhar, enfim, de exercitar o nosso natural egoísmo. 

    De certa maneira, a internet condedeu-nos essa oportunidade, essa chance de “colocar para fora” essa condição humana inata. Nesse sentido, o anonimato ou o simples distanciamento é uma prova de fogo para a Moral. 

     

     

  5. Corajosa

    Diana Calazans Mann: “…a liberdade de expressão tem limites…”

    Já vão encontrar qualquer unha encravada para transformar em escândalo e “denunciar” a delegada no JN, Veja, FSP…

  6. A internet e a extrema direita

    Podem haver outras explicações plausíveis: a mídia, o clima cultural geral, até mesmo explicações psicanalíticas sobre a liberação dos impulsos distrutivos do inconscientye. Mas há também um fato. Em 1985, ainda não existia a internet tal como conhecemos hoje, a WWW. Mas já havia redes de comunicação não integradas e sem abrangencia mundial, uma proto-internet. Um news release da ADL (anti-defamation League, um grupo de direitos humanos americanos que monitora a extrema direita nos EUA) de 24 de janeiro de 1985 denunciava o uso de rede de computadores pela extrema direita. Os primeiros parágrafos do documento são os seguintes:

    “O discurso de ódio entrou na era do computador com extremistas de direita empregando a tecnologia para difundir a intolerancia racial e religiosa(…)””DE acordo com o relatório da ADL duas ‘redes de ódio’ acessadas por computadores domésticos e um moden estão operando hoje nos EUA”.

    A extrema direita chegou antes, muito antes dos direitos humanos, dos liberais e da esquerda na internet. Toda uma geração foi criada na ‘on line’ quando a extrema direita ja estava lá há uma ou duas décadas. Se não é ela que cria o ódio na internet certamente é o grupo mais bem organizado nela para ampliar, difundir e tirar proveito do ódio. Não é por um acaso que o crescimento da extrema direita no mundo todo e no Brasil acompanha o crescimento do ódio na internet e da própria internet. O ovo do serpente foi chocado na internet.

     

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