No Maranhão, índios kaapor declaram guerra às madeireiras ilegais

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A Folha traz matéria que afirma estarem os índios em pé-de-guerra. Segundo o jornal, os índios da etnia kaapor, no Maranhão, se cansaram da falta de interesse do governo e resolveram pegar em armas para decidir e agir por conta própria. Itahu Kaapor, da Terra Indígena Alto Turiaçú, representante indígena, declarou que não “aguentavam mais” pedir ajuda, por isso criaram um ‘exército’ de 150 integrantes e que farão nova investida contra madeireiros este mês.

Os índios kaapor expulsaram madeireiros ilegais de suas terras, no Maranhão, há um mês e Itahu disse que ficaram muito machucados, mas que não sabe o quanto, por não ter participado da ação. Segundo ele, os problemas com madeireiros aumentaram muito nos últimos anos. Leia a matéria que se segue ao texto.

Uma rápida pesquisa no site do CIMI – Conselho Indigenista Brasileiro, dá uma pequena ideia do que se passa na região. Em outubro de 2005, o CIMI já denunciava a situação do Alto Turiaçú, e também de Araribóia e Caru. Em Araribóia, por ocasião da denúncia, saíam 30 caminhões de madeira retirada ilegalmente, por dia. Davam por foco de invasão as redondezas de Amarante, entrando por uma fazenda chamada Rondominas, e o outro foco em Arame, na região de Grajaú. O CIMI clamava por ajuda para resolver o problema, pois já não existia quase floresta no estado do Maranhão e que o destino dessas árvores era o de virar carvão para alimentar os fornos das siderúrgicas.

da Folha

Índios criam ‘exército’ contra madeireiros

Líder da etnia kaapor diz que indígenas decidiram pegar em armas e agir sozinhos por não aguentarem mais pedir ajuda

Grupo que extraía madeira em reserva no MA apanhou muito e saiu quebrado, diz integrante de tribo

LUCAS REIS

DE MANAUS

Os índios da etnia kaapor que agrediram e expulsaram madeireiros ilegais de suas terras há um mês, no Maranhão, dizem que não “aguentavam mais” pedir ajuda e que, por isso, resolveram agir por conta própria.

A afirmação é de Itahu Kaapor, 32, que representa os quase 2.000 kaapor da Terra Indígena Alto Turiaçu.

Segundo ele, os índios criaram um “exército de selva” com 150 integrantes e farão nova investida contra madeireiros neste mês.

“Estamos em guerra. E nós enfrentamos [os madeireiros] mesmo, porque ninguém quer nos ajudar. A gente não aceita mais isso. A Funai [Fundação Nacional do Índio] nos deixou há meses, então resolvemos agir. Estamos fazendo o que o poder público deveria fazer”, disse o índio.

No início de agosto, 16 madeireiros que trabalhavam ilegalmente na terra indígena da etnia kaapor foram amarrados, agredidos e tiveram membros fraturados por 50 índios guerreiros.

Procurada para comentar o caso, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República não respondeu.

“Eles [madeireiros] nem falavam nada, só mostravam ter medo. [Os índios] bateram muito neles, muito. Saíram quebrados, com braço e perna quebrado. Soltaram na floresta. Não sabemos se sobreviveram”, disse Itahu, que diz não ter participado da ação.

O líder kaapor disse que os problemas envolvendo madeireiros aumentaram nos últimos dois anos, com ameaças, agressões e outros episódios violentos. Em janeiro deste ano, índios foram recebidos a tiros e dois se feriram.

Um processo que se arrasta desde 2008 na Justiça Federal obrigou Funai, Ibama e União a patrulhar a região para evitar o avanço da exploração ilegal de madeira –todos recorrem da decisão.

 

O Ibama diz que recorre porque “o Judiciário não pode pedir a criação de postos sem que exista orçamento”. Diz ter feito quatro operações na área após o alerta da Procuradoria. A Funai afirma que tem fiscalizado a região. Informou ainda, sem citar a razão, que recorre da decisão judicial, e que o número de agentes é “insuficiente para atender a demanda”.

BASE DE TREINAMENTO

Em fevereiro, o Ministério Público Federal no Estado alertou os órgãos sobre a iminência de conflitos na área.

“Ninguém vigia nada, e os madeireiros começaram a entrar em todo lugar. Então criamos uma aldeia que serve de base de treinamento para nossos guerreiros”, afirmou Itahu, por telefone.

Desde então, começaram a traçar táticas e aprofundar o treinamento de jovens indígenas de 18 a 25 anos.

O confronto do mês passado começou, disse Itahu, quando um dos índios ouviu o barulho de máquinas e localizou a área desmatada.

Em poucas horas, armados com flechas e paus, os índios cercaram e espancaram os 16 madeireiros. Queimaram seis caminhões, quatro tratores e a madeira encontrada.

O líder ironiza o fato de não terem acionado a polícia. “Para quê? Eles levam para a cidade, soltam e no outro dia estão de volta”, afirmou.

A próxima investida, diz o índio, será neste mês, para fechar as duas últimas estradas ainda usadas por madeireiros dentro da terra kaapor.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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